Trajectória do défice corrente é insustentável
DE com Lusa
O vice-presidente do Sistema da Reserva Federal (Fed) dos EUA, Roger Ferguson, afirmou hoje que a trajectória do défice corrente norte-americano é insustentável, ao discursar na Universidade da Carolina do Norte.
Esta consideração, que disse ser consensual entre os economistas, reflecte a lógica simples de que o défice está a provocar um aumento do endividamento da economia dos EUA superior ao do rendimento.
Em 1985, precisou, os activos estrangeiros dos norte-americanos igualavam os seus passivos estrangeiros, mas em 1995 os passivos excediam os activos no equivalente a 4,0% do produto interno bruto (PIB), diferença que se agravou para o equivalente a 25,0% do PIB em 2004.
O saldo corrente consolida os saldos das balanças de bens e serviços, rendimentos e transferências unilaterais.
No caso dos EUA, em que este saldo atingiu um recorde de 6,0% do PIB em 2004, o défice das trocas comerciais explica a quase totalidade do valor total.
O acordo que se verifica entre os economistas quanto à insustentabilidade do défice já não se verifica quanto às causas nem naturalmente quanto às soluções, acrescenta Ferguson.
A divisão concretiza-se na apreciação da responsabilidade de factores internos e externos e, em consequência, na identificação dos agentes prioritários para a correcção, se o Estado, se o mercado, se as economias estrangeiras.
Roger Ferguson passa em revista as cinco causas mais apontadas para a dimensão do défice corrente dos EUA, a saber, o aumento do défice orçamental, o declínio da taxa de poupança das famílias, o aumento da produtividade, a contracção das exportações e a melhoria na intermediação financeira internacional, para identificar factores fundamentais da degradação do défice.
De fora ficou, voluntariamente, a subida dos preços do barril de petróleo, apesar de a factura norte-americana com as importações ter aumentado 165% de 1999 para 2004, ao passar de 68 mil milhões de dólares para 180 mil milhões.
Da primeira explicação, o vice-presidente da Fed diz que faz sentido em termos teóricos, mas que já houve épocas em que o défice corrente aumentou apesar de o saldo orçamental ser positivo.
Da mesma forma, a segunda é menorizada, uma vez que não afecta as exportações.
Já em relação à terceira, Ferguson dá mais crédito e entende que explica mais do que a combinação das duas anteriores.
O aumento médio anual da produtividade foi de cerca de 3,0% desde 1995, o que compara com valores situados entre 1,0 e 1,5 nas duas décadas anteriores.
Esta intensificação do ritmo de crescimento da produtividade aumenta as taxas implícitas de retorno dos investimentos feitos nos EUA, o que atrai capitais estrangeiros, em consequência do que o dólar aprecia.
Depois, estas maiores taxas de retorno esperadas aceleram o consumo interno e, por fim, as expectativas de maiores rendimentos fazem crescer as cotações bolsistas, a riqueza das famílias e a percepção de rendimentos elevados durante um período prolongado de tempo, em resultado do que sobe o consumo e baixa a taxa de poupança.
Ferguson também realça o papel da quarta explicação, a redução da procura externa, que afecta as exportações dos EUA.
A quinta causa - a melhoria na intermediação financeira internacional - também é vista pelo dirigente da Fed como tendo exercido "uma influência importante".
Após a revista de estas cinco causas, Ferguson salienta que a interligação entre vários factores impede que a correcção do défice corrente seja possível apenas com uma acção em uma delas.
Considera que é assim improvável que a situação melhore apenas com a redução do défice orçamental ou o aumento da taxa de poupança privada.
Sem escamotear a importância do contributo do Estado para o processo de ajustamento, Ferguson entende porém que o primeiro ímpeto para o ajustamento do défice corrente norte-americano deverá vir dos mercados, mas envolverá sempre uma multiplicidade de factores.
Entre as várias possibilidades apontou a recuperação da procura estrangeira, a subida da poupança norte-americana ou a decisão dos investidores estrangeiros de diversificarem as suas carteiras de divisas, provocando mudanças nas taxas de câmbio, taxas de juro e outros preços de activos que conduzam à redução do défice.
DE com Lusa
O vice-presidente do Sistema da Reserva Federal (Fed) dos EUA, Roger Ferguson, afirmou hoje que a trajectória do défice corrente norte-americano é insustentável, ao discursar na Universidade da Carolina do Norte.
Esta consideração, que disse ser consensual entre os economistas, reflecte a lógica simples de que o défice está a provocar um aumento do endividamento da economia dos EUA superior ao do rendimento.
Em 1985, precisou, os activos estrangeiros dos norte-americanos igualavam os seus passivos estrangeiros, mas em 1995 os passivos excediam os activos no equivalente a 4,0% do produto interno bruto (PIB), diferença que se agravou para o equivalente a 25,0% do PIB em 2004.
O saldo corrente consolida os saldos das balanças de bens e serviços, rendimentos e transferências unilaterais.
No caso dos EUA, em que este saldo atingiu um recorde de 6,0% do PIB em 2004, o défice das trocas comerciais explica a quase totalidade do valor total.
O acordo que se verifica entre os economistas quanto à insustentabilidade do défice já não se verifica quanto às causas nem naturalmente quanto às soluções, acrescenta Ferguson.
A divisão concretiza-se na apreciação da responsabilidade de factores internos e externos e, em consequência, na identificação dos agentes prioritários para a correcção, se o Estado, se o mercado, se as economias estrangeiras.
Roger Ferguson passa em revista as cinco causas mais apontadas para a dimensão do défice corrente dos EUA, a saber, o aumento do défice orçamental, o declínio da taxa de poupança das famílias, o aumento da produtividade, a contracção das exportações e a melhoria na intermediação financeira internacional, para identificar factores fundamentais da degradação do défice.
De fora ficou, voluntariamente, a subida dos preços do barril de petróleo, apesar de a factura norte-americana com as importações ter aumentado 165% de 1999 para 2004, ao passar de 68 mil milhões de dólares para 180 mil milhões.
Da primeira explicação, o vice-presidente da Fed diz que faz sentido em termos teóricos, mas que já houve épocas em que o défice corrente aumentou apesar de o saldo orçamental ser positivo.
Da mesma forma, a segunda é menorizada, uma vez que não afecta as exportações.
Já em relação à terceira, Ferguson dá mais crédito e entende que explica mais do que a combinação das duas anteriores.
O aumento médio anual da produtividade foi de cerca de 3,0% desde 1995, o que compara com valores situados entre 1,0 e 1,5 nas duas décadas anteriores.
Esta intensificação do ritmo de crescimento da produtividade aumenta as taxas implícitas de retorno dos investimentos feitos nos EUA, o que atrai capitais estrangeiros, em consequência do que o dólar aprecia.
Depois, estas maiores taxas de retorno esperadas aceleram o consumo interno e, por fim, as expectativas de maiores rendimentos fazem crescer as cotações bolsistas, a riqueza das famílias e a percepção de rendimentos elevados durante um período prolongado de tempo, em resultado do que sobe o consumo e baixa a taxa de poupança.
Ferguson também realça o papel da quarta explicação, a redução da procura externa, que afecta as exportações dos EUA.
A quinta causa - a melhoria na intermediação financeira internacional - também é vista pelo dirigente da Fed como tendo exercido "uma influência importante".
Após a revista de estas cinco causas, Ferguson salienta que a interligação entre vários factores impede que a correcção do défice corrente seja possível apenas com uma acção em uma delas.
Considera que é assim improvável que a situação melhore apenas com a redução do défice orçamental ou o aumento da taxa de poupança privada.
Sem escamotear a importância do contributo do Estado para o processo de ajustamento, Ferguson entende porém que o primeiro ímpeto para o ajustamento do défice corrente norte-americano deverá vir dos mercados, mas envolverá sempre uma multiplicidade de factores.
Entre as várias possibilidades apontou a recuperação da procura estrangeira, a subida da poupança norte-americana ou a decisão dos investidores estrangeiros de diversificarem as suas carteiras de divisas, provocando mudanças nas taxas de câmbio, taxas de juro e outros preços de activos que conduzam à redução do défice.