Publicado 20 Fevereiro 2005 21:54
Sérgio Figueiredo
Um país novo
sf@mediafin.pt
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Decidiram fazer outra vez história. Os portugueses voltaram a fazer história nas eleições de ontem (hoje). Apesar das reservas, este texto baseia-se em projecções e não em resultados finais [estes estão numa segunda edição, com hora de fecho mais tardia, única forma de evitar que você, que é nosso assinante, não recebesse só amanhã o jornal de hoje]... NR: Nas bancas estará a 2ª edição e não esta.
Apesar das reservas, este texto baseia-se em projecções e não em resultados finais [estes estão numa segunda edição, com hora de fecho mais tardia, única forma de evitar que você, que é nosso assinante, não recebesse só amanhã o jornal de hoje], apesar disso é possível, e é muito bom, repetir várias vezes: os portugueses voltaram a dizer que, nos momentos difíceis, são eles que fazem questão de decidir. E estes são momentos difíceis...
Decidiram, principalmente, votar. Assim decidiram dizer aos partidos que se enganavam, aos jornalistas que se enganavam, às sondagens que se enganavam, quando, todos juntos, esperavam que a abstenção subisse. E a abstenção baixou...
Decidiram dar a maioria absoluta que os socialistas nunca haviam alcançado. Decidiram, portanto, simplificar o mais possível: o eng. Sócrates não depende de ninguém; também não tem desculpas. De outra forma, os portugueses estão a dizer aos socialistas que, desta vez, não podem falhar.
Decidiram, por contra-ponto, remeter o PSD para uma posição de secundaríssimo plano. Os sociais-democratas perdem muitos votos, perdem muitos deputados e perdem influência. Vão perder o líder – facto que o país, e a maioria do próprio partido, encara como uma grande vitória.
Os portugueses decidiram, por fim, provocar uma pequena revolução nas margens do sistema partidário. Decidiram afundar o PP com os três anos de governação em que este partido participou. E decidiram retirar o Bloco de Esquerda daquele seu estatuto, confortável, do anti-sistema. O doutor Louçã, que já era parte do sistema, não pode continuar a disfarçar.
Uma grande conclusão sai destas legislativas: ontem nasceu um país novo. Um país em que a esquerda nunca teve tanta força. Um país que, depois de Cavaco Silva, volta a ser governado por uma única força partidária.
Há um país a expressar massivamente um protesto. É importante dizer que este castigo é justo. A coligação merece a violência desta expressão e só pode queixar-se de si própria.
Porque Durão Barroso apontava um caminho, mas não fazia reformas. Porque, para piorar, veio Santana Lopes a prometer reformas, mas perdeu por completo o rumo.
A grande dúvida é se este novo país é um país melhor. Sócrates e PS obtêm uma grande, uma imensa vitória. A responsabilidade é maior.
A crise que atravessamos não se vence com as facilidades que, sem excepção, todos andaram a prometer na campanha eleitoral. A crise não se vence com um país de braços caídos e povo cabisbaixo. A crise não se vence com uma classe dirigente a dar maus exemplos.
O PS tem de mobilizar, de seguir medidas duras, mas explicar o sentido dos sacrifícios, dizer onde quer chegar. Não pode, obviamente, contar com o país de Louçã e Jerónimo. Não pode, para maiorias de 2/3, contar com o PSD, que entra em crise de identidade. Pois é, não lhe resta outra alternativa e ainda bem: só conta com o povo. Foi para isso que recebeu tanto voto. Só há uma retribuição possível: em quatro anos, um país melhor.