Os Maridos Que Batem nas Esposas
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Os Maridos Que Batem nas Esposas
Os Maridos Que Batem nas Esposas
Por JACOB RYTEN*
Terça-feira, 01 de Fevereiro de 2005
a sequência do trabalho que o meu colega Ivan Fellegi e eu fizemos para o Instituto Nacional de Estatística (INE), José Mata - o presidente do Instituto - tem-me mantido regularmente informado acerca das ocasiões em que o INE tem aparecido nas primeiras páginas dos jornais. Nos últimos recortes de imprensa que me enviaram, vi que o INE foi "chamado à pedra" pelo presidente da Câmara de Celorico de Basto, por se ter deixado "manipular politicamente" e alterado as suas estimativas do "ranking" de concelhos, de forma a envergonhar algumas personalidades de quem o Instituto não gostaria. Para além dos pecados mortais de que é acusado, o INE é também ameaçado com um processo judicial por, alegadamente, ter induzido em erro o público português e humilhado os habitantes de Celorico de Basto.
Independentemente da conta em que tenho os padrões profissionais e morais do INE - e tenho-os em alta conta - não tenho opiniões sobre a qualidade da informação que resulta do cálculo do poder de compra concelhio. Mas tenho uma aversão visceral à demagogia e a injustiças. Acusar uma instituição profissional de ser manipulada politicamente sem ter o mínimo de provas que apoiem tal acusação é logicamente equivalente a perguntar ao marido estupefacto quando é que ele deixou de bater na sua esposa. É claro que, se o INE tivesse abandonado a sua integridade profissional às pressões politicas, ninguém poderia fazer fé nos seus desmentidos, assim como ninguém poderia fazer fé nos desmentidos dum marido capaz de crueldade física com a sua esposa.
As estatísticas oficiais são divulgadas ao público para que sejam usadas. Ao longo do tempo, a sua qualidade torna-se tanto maior quanto mais intensivo for o seu uso, e quanto mais questionadas forem. Mas este questionar das estatísticas não deve ser inspirado por preconceitos ou demagogia. Como produtor de estatísticas, sou um defensor da transparência dos métodos, da franqueza na explicação acerca do modo como se obtiveram os resultados e do cuidado em manter protegidos do público apenas aqueles dados que possam identificar empresas ou indivíduos e invadir a sua privacidade. Como utilizador de estatísticas, creio que cada vez que um número publicado me parece ser surpreendente ou contra-intuitivo, é meu dever, no exercício da uma cidadania bem informada, pedir uma explicação acerca dos métodos que levaram a tais conclusões. E tenha Deus pena do dirigente do instituto de estatística que não seja capaz de explicar os métodos ou que revele que considerações subjectivas se sobrepuserem à teoria estatística...
No Canadá, de onde venho, acreditamos que devemos questionar os métodos e pedir que os números sejam explicados de forma simples e convincente. Mas acreditamos de forma igualmente convicta no respeito por processos apropriados, e a nossa aversão a discursos teatrais impede-nos de atribuir intenções ilegítimas a estatísticos profissionais, a menos que haja provas objectivas que sustentem uma tal possibilidade. Estava convencido de que considerações semelhantes se aplicariam no Portugal democrático do século XXI.
Certamente que aqueles que, nos órgãos de comunicação social, deram conta de uma possível iniquidade do comportamento do INE têm o dever de descobrir como é que o poder de compra concelhio é estimado e como é que os concelhos são posteriormente ordenados. Sei que os jornalistas foram convidados a fazê-lo pela direcção do INE. Estou certo de que aqueles que vierem a concluir que ganharam com a visita, em virtude de terem dela saído mais esclarecidos, sentirão que o seu dever para com o público e para com os padrões da sua profissão os obrigará a dissipar qualquer sombra de dúvida criada pelas alegações despropositadas dos autarcas do concelho.
*ex-vice-presidente do INE do Canadá
Por JACOB RYTEN*
Terça-feira, 01 de Fevereiro de 2005
a sequência do trabalho que o meu colega Ivan Fellegi e eu fizemos para o Instituto Nacional de Estatística (INE), José Mata - o presidente do Instituto - tem-me mantido regularmente informado acerca das ocasiões em que o INE tem aparecido nas primeiras páginas dos jornais. Nos últimos recortes de imprensa que me enviaram, vi que o INE foi "chamado à pedra" pelo presidente da Câmara de Celorico de Basto, por se ter deixado "manipular politicamente" e alterado as suas estimativas do "ranking" de concelhos, de forma a envergonhar algumas personalidades de quem o Instituto não gostaria. Para além dos pecados mortais de que é acusado, o INE é também ameaçado com um processo judicial por, alegadamente, ter induzido em erro o público português e humilhado os habitantes de Celorico de Basto.
Independentemente da conta em que tenho os padrões profissionais e morais do INE - e tenho-os em alta conta - não tenho opiniões sobre a qualidade da informação que resulta do cálculo do poder de compra concelhio. Mas tenho uma aversão visceral à demagogia e a injustiças. Acusar uma instituição profissional de ser manipulada politicamente sem ter o mínimo de provas que apoiem tal acusação é logicamente equivalente a perguntar ao marido estupefacto quando é que ele deixou de bater na sua esposa. É claro que, se o INE tivesse abandonado a sua integridade profissional às pressões politicas, ninguém poderia fazer fé nos seus desmentidos, assim como ninguém poderia fazer fé nos desmentidos dum marido capaz de crueldade física com a sua esposa.
As estatísticas oficiais são divulgadas ao público para que sejam usadas. Ao longo do tempo, a sua qualidade torna-se tanto maior quanto mais intensivo for o seu uso, e quanto mais questionadas forem. Mas este questionar das estatísticas não deve ser inspirado por preconceitos ou demagogia. Como produtor de estatísticas, sou um defensor da transparência dos métodos, da franqueza na explicação acerca do modo como se obtiveram os resultados e do cuidado em manter protegidos do público apenas aqueles dados que possam identificar empresas ou indivíduos e invadir a sua privacidade. Como utilizador de estatísticas, creio que cada vez que um número publicado me parece ser surpreendente ou contra-intuitivo, é meu dever, no exercício da uma cidadania bem informada, pedir uma explicação acerca dos métodos que levaram a tais conclusões. E tenha Deus pena do dirigente do instituto de estatística que não seja capaz de explicar os métodos ou que revele que considerações subjectivas se sobrepuserem à teoria estatística...
No Canadá, de onde venho, acreditamos que devemos questionar os métodos e pedir que os números sejam explicados de forma simples e convincente. Mas acreditamos de forma igualmente convicta no respeito por processos apropriados, e a nossa aversão a discursos teatrais impede-nos de atribuir intenções ilegítimas a estatísticos profissionais, a menos que haja provas objectivas que sustentem uma tal possibilidade. Estava convencido de que considerações semelhantes se aplicariam no Portugal democrático do século XXI.
Certamente que aqueles que, nos órgãos de comunicação social, deram conta de uma possível iniquidade do comportamento do INE têm o dever de descobrir como é que o poder de compra concelhio é estimado e como é que os concelhos são posteriormente ordenados. Sei que os jornalistas foram convidados a fazê-lo pela direcção do INE. Estou certo de que aqueles que vierem a concluir que ganharam com a visita, em virtude de terem dela saído mais esclarecidos, sentirão que o seu dever para com o público e para com os padrões da sua profissão os obrigará a dissipar qualquer sombra de dúvida criada pelas alegações despropositadas dos autarcas do concelho.
*ex-vice-presidente do INE do Canadá
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