O adeus do engenheiro
26/01/2005 14:06
O adeus do engenheiro
Dito de outra forma: o «timing» só lhe pertence a si.
A história do BCP, de certa forma, confunde-se com a história do próprio país. Se avaliar as últimos duas décadas, os progressos são notáveis e inquestionáveis. Partiu do zero e criou um império.
Os anos recentes trouxeram o nevoeiro. Também os problemas sérios, logo a contestação. Em surdina. À portuguesa. Muito capital foi consumido numa estratégia que se revelou desastrosa. O banco não soube reagir. Preferiu encontrar inimigos externos: a imprensa, os mercados, os reguladores, enfim...
Mas o rumo foi reencontrado. Soares dos Santos, que passou por uma experiência igualmente penosa, elogia em Jardim Gonçalves a capacidade de reconhecer que estava errado. E, sobretudo, de não ter desistido.
O adeus do engenheiro vira uma página na história da instituição, da banca e da economia portuguesa. Os críticos centram-se no desnorte. Os indefectíveis enaltecem a obra de uma vida. Entre uns e outros, sobram interrogações que o tempo se encarregará de esclarecer.
São dúvidas que a própria passagem de testemunho não esclarece: porquê agora? porquê desta maneira? e porquê esta pessoa?
Paulo Teixeira Pinto tem qualidades inegáveis. Mas até ontem ninguém o sentava na cadeira da presidência do maior grupo privado português.
Mesmo que conheça a casa profundamente, pois há cinco anos é secretário-geral. Mesmo sendo da Opus Dei. Mesmo sendo brilhante. Teixeira Pinto era um sucessor improvável.
Não é necessariamente mau. Mas não o liberta do método dinástico: não chegou lá pelos méritos de uma profissão que nunca exerceu, mas por ter sido aquele que o engenheiro escolheu.
Porquê agora? A casa está muito mais arrumada. Jardim fez questão de conduzir o grupo ao sítio de onde nunca deveria ter saído: o negócio bancário.
A venda de activos melhorou consideravelmente os rácios de capital. Mas a operação bancária estará realmente arespirar a saúde que o impressivo crescimento dos resultados, 17%, quer à primeira vista fazer parecer?
Sem as mais-valias de operações financeiras, os lucros em vez de crescer, estagnavam. A margem financeira volta a cair 3%. Será um privilégio para Teixeira Pinto ser o segundo presidente do BCP. Está longe de ser um mar de facilidades.
Resta «porquê desta maneira?». Ao ocupar a presidência do Conselho Superior, Jardim mantém-se entre os seus pares, os accionistas que nunca o abandonaram. Mas, ao manter-se no banco, o «seu» banco, a sombra não desaparece.
Será este o derradeiro teste à sua invulgar capacidade de liderança: abdicar dela. De facto. Senão, Teixeira Pinto será o Carvalhas do BCP.
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26/01/2005 14:06
O adeus do engenheiro
Dito de outra forma: o «timing» só lhe pertence a si.
A história do BCP, de certa forma, confunde-se com a história do próprio país. Se avaliar as últimos duas décadas, os progressos são notáveis e inquestionáveis. Partiu do zero e criou um império.
Os anos recentes trouxeram o nevoeiro. Também os problemas sérios, logo a contestação. Em surdina. À portuguesa. Muito capital foi consumido numa estratégia que se revelou desastrosa. O banco não soube reagir. Preferiu encontrar inimigos externos: a imprensa, os mercados, os reguladores, enfim...
Mas o rumo foi reencontrado. Soares dos Santos, que passou por uma experiência igualmente penosa, elogia em Jardim Gonçalves a capacidade de reconhecer que estava errado. E, sobretudo, de não ter desistido.
O adeus do engenheiro vira uma página na história da instituição, da banca e da economia portuguesa. Os críticos centram-se no desnorte. Os indefectíveis enaltecem a obra de uma vida. Entre uns e outros, sobram interrogações que o tempo se encarregará de esclarecer.
São dúvidas que a própria passagem de testemunho não esclarece: porquê agora? porquê desta maneira? e porquê esta pessoa?
Paulo Teixeira Pinto tem qualidades inegáveis. Mas até ontem ninguém o sentava na cadeira da presidência do maior grupo privado português.
Mesmo que conheça a casa profundamente, pois há cinco anos é secretário-geral. Mesmo sendo da Opus Dei. Mesmo sendo brilhante. Teixeira Pinto era um sucessor improvável.
Não é necessariamente mau. Mas não o liberta do método dinástico: não chegou lá pelos méritos de uma profissão que nunca exerceu, mas por ter sido aquele que o engenheiro escolheu.
Porquê agora? A casa está muito mais arrumada. Jardim fez questão de conduzir o grupo ao sítio de onde nunca deveria ter saído: o negócio bancário.
A venda de activos melhorou consideravelmente os rácios de capital. Mas a operação bancária estará realmente arespirar a saúde que o impressivo crescimento dos resultados, 17%, quer à primeira vista fazer parecer?
Sem as mais-valias de operações financeiras, os lucros em vez de crescer, estagnavam. A margem financeira volta a cair 3%. Será um privilégio para Teixeira Pinto ser o segundo presidente do BCP. Está longe de ser um mar de facilidades.
Resta «porquê desta maneira?». Ao ocupar a presidência do Conselho Superior, Jardim mantém-se entre os seus pares, os accionistas que nunca o abandonaram. Mas, ao manter-se no banco, o «seu» banco, a sombra não desaparece.
Será este o derradeiro teste à sua invulgar capacidade de liderança: abdicar dela. De facto. Senão, Teixeira Pinto será o Carvalhas do BCP.
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