Sangue, Suor e lágrimas
António Amaro de Matos
Quando Winston Churchill se apresentou, em 13 de Maio de 1940 na Câmara dos Comuns e propôs uma nova política aos parlamentares e ao povo inglês não escondeu as dificuldades:
“I have nothing to offer but blood, toil, tears, and sweat” (”sangue, trabalho duro, lágrimas e suor” simplificado ficou para a história como “sangue, suor e lágrimas”). Não prometeu nada agradável de ouvir, e não pintou com cores suaves a situação: “We have before us an ordeal of the most grievous kind. We have before us many, many months of struggle and suffering”. A simplicidade e força impressionantes com que descreveu a brutal verdade são atributos de um líder verdadeiro, capaz de motivar e conduzir um povo. E libertá-lo, após uma inevitável e dura provação. Luta e sofrimento não faltaram ao povo inglês, tal como não faltou ânimo. E não foram apenas meses, foram longos anos.
Este conceito de líder não está presente entre nós. Mesmo perante a longa e dura provação por que teremos de passar até nos libertarmos do peso da situação actual. E atingirmos novamente níveis de progresso que satisfaçam legítimas ambições.
Os dirigentes dos nossos principais partidos concorrem entre si, descrevendo em tons primaveris os dias risonhos, alegres e despreocupados que se seguirão às eleições se o seu partido for o escolhido pelos portugueses. Refira-se como excepção o Dr. António Vitorino mas que não é o líder do PS.
A diversão e a festa das campanhas constituem verdadeiros insultos aos cidadãos conscientes. Agravados por promessas e previsões de um optimismo delirante. E pelas frases vazias de sentido, estudadas para se transformarem em slogans de campanha. Haverá de tudo, dependendo da imaginação dos ficcionistas de serviço: baixas de IRS, baixas de IRC, eliminação definitiva da pobreza, aumento das pensões mínimas, novos benefícios fiscais, isenções nas SCUTs, propinas congeladas, mais e melhores empregos, mais professores colocados, menos trabalho temporário, mais direitos, mais reivindicações satisfeitas, etc. Faltou nesta enumeração o choque tecnológico, um passe de mágica que colocará rapidamente as empresas e os nossos trabalhadores na vanguarda da UE. E as inúmeras apostas na educação - paixão atraiçoada, agora apenas uma prioridade entre muitas - sem que ninguém sugira sequer que educação implica esforço e não é uma forma diferente de entretenimento. Como os estudantes descobrem com surpresa à chegada à universidade.
Os portugueses ambicionam - como a Inglaterra em 1940 - uma vitória que não se afigura fácil. Falta-nos o político que ao assumir a luta pelo mando se qualifique como líder, sem medo da verdade por brutal que ela seja. Que não receie dizer que, a curto prazo, não tem a propor aos portugueses senão trabalho duro sem recompensa no imediato. Que o alívio do sofrimento que para tantos têm representado estes últimos anos de crescimento insuficiente - e mesmo de recessão com desemprego a aumentar - vai tardar, e não será medido em meses, mas sim em anos. E que não haverá excepções.
O estatuto da função pública, por exemplo, é fonte de rigidez insustentável. O quadro actual da segurança social (CGA incluída) exige também intervenção de fundo. Talvez mais tarde se possam voltar a discutir interessantes questões ideológicas, mas esta não é a altura. Direitos, certamente. Mas obrigações também. O mais sagrado dos direitos é o de que os portugueses tenham, no seu País, condições para viverem com satisfação e segurança. Implica muitas obrigações da generalidade dos cidadãos, geralmente esquecidas e vai levar tempo.
Não obstante, vou votar. Vou votar PSD. Tenho a esperança de que nenhum partido chegue à maioria absoluta e não haja coligação estável para a formar. Isto é, que das eleições à vista não saia um governo viável. E que isso leve o senhor presidente a usar da sua capacidade para forçar os dois maiores partidos (com outros dirigentes?) a um entendimento sério que dure quatro anos e tenha como único desígnio o da recolocação do País no caminho do crescimento económico e da convergência acelerada. Sem fantasias. Os dois juntos têm poder para isso.
Não termino sem lembrar que daqui a poucos anos se vão sentir no Ocidente, começando pela Europa, as consequências do crescimento das economias asiáticas. India e China estão para chegar, talvez em menos de 10 anos. Temos um tempo reduzido para convergir para a UE sem que perturbações seriísimas se atravessem no caminho. Não dá para experiências.
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António Amaro de Matos
Quando Winston Churchill se apresentou, em 13 de Maio de 1940 na Câmara dos Comuns e propôs uma nova política aos parlamentares e ao povo inglês não escondeu as dificuldades:
“I have nothing to offer but blood, toil, tears, and sweat” (”sangue, trabalho duro, lágrimas e suor” simplificado ficou para a história como “sangue, suor e lágrimas”). Não prometeu nada agradável de ouvir, e não pintou com cores suaves a situação: “We have before us an ordeal of the most grievous kind. We have before us many, many months of struggle and suffering”. A simplicidade e força impressionantes com que descreveu a brutal verdade são atributos de um líder verdadeiro, capaz de motivar e conduzir um povo. E libertá-lo, após uma inevitável e dura provação. Luta e sofrimento não faltaram ao povo inglês, tal como não faltou ânimo. E não foram apenas meses, foram longos anos.
Este conceito de líder não está presente entre nós. Mesmo perante a longa e dura provação por que teremos de passar até nos libertarmos do peso da situação actual. E atingirmos novamente níveis de progresso que satisfaçam legítimas ambições.
Os dirigentes dos nossos principais partidos concorrem entre si, descrevendo em tons primaveris os dias risonhos, alegres e despreocupados que se seguirão às eleições se o seu partido for o escolhido pelos portugueses. Refira-se como excepção o Dr. António Vitorino mas que não é o líder do PS.
A diversão e a festa das campanhas constituem verdadeiros insultos aos cidadãos conscientes. Agravados por promessas e previsões de um optimismo delirante. E pelas frases vazias de sentido, estudadas para se transformarem em slogans de campanha. Haverá de tudo, dependendo da imaginação dos ficcionistas de serviço: baixas de IRS, baixas de IRC, eliminação definitiva da pobreza, aumento das pensões mínimas, novos benefícios fiscais, isenções nas SCUTs, propinas congeladas, mais e melhores empregos, mais professores colocados, menos trabalho temporário, mais direitos, mais reivindicações satisfeitas, etc. Faltou nesta enumeração o choque tecnológico, um passe de mágica que colocará rapidamente as empresas e os nossos trabalhadores na vanguarda da UE. E as inúmeras apostas na educação - paixão atraiçoada, agora apenas uma prioridade entre muitas - sem que ninguém sugira sequer que educação implica esforço e não é uma forma diferente de entretenimento. Como os estudantes descobrem com surpresa à chegada à universidade.
Os portugueses ambicionam - como a Inglaterra em 1940 - uma vitória que não se afigura fácil. Falta-nos o político que ao assumir a luta pelo mando se qualifique como líder, sem medo da verdade por brutal que ela seja. Que não receie dizer que, a curto prazo, não tem a propor aos portugueses senão trabalho duro sem recompensa no imediato. Que o alívio do sofrimento que para tantos têm representado estes últimos anos de crescimento insuficiente - e mesmo de recessão com desemprego a aumentar - vai tardar, e não será medido em meses, mas sim em anos. E que não haverá excepções.
O estatuto da função pública, por exemplo, é fonte de rigidez insustentável. O quadro actual da segurança social (CGA incluída) exige também intervenção de fundo. Talvez mais tarde se possam voltar a discutir interessantes questões ideológicas, mas esta não é a altura. Direitos, certamente. Mas obrigações também. O mais sagrado dos direitos é o de que os portugueses tenham, no seu País, condições para viverem com satisfação e segurança. Implica muitas obrigações da generalidade dos cidadãos, geralmente esquecidas e vai levar tempo.
Não obstante, vou votar. Vou votar PSD. Tenho a esperança de que nenhum partido chegue à maioria absoluta e não haja coligação estável para a formar. Isto é, que das eleições à vista não saia um governo viável. E que isso leve o senhor presidente a usar da sua capacidade para forçar os dois maiores partidos (com outros dirigentes?) a um entendimento sério que dure quatro anos e tenha como único desígnio o da recolocação do País no caminho do crescimento económico e da convergência acelerada. Sem fantasias. Os dois juntos têm poder para isso.
Não termino sem lembrar que daqui a poucos anos se vão sentir no Ocidente, começando pela Europa, as consequências do crescimento das economias asiáticas. India e China estão para chegar, talvez em menos de 10 anos. Temos um tempo reduzido para convergir para a UE sem que perturbações seriísimas se atravessem no caminho. Não dá para experiências.
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