OPA pouco provável
Instabilidade política leva Merrill Lynch a baixar recomendação para EDP
A Merrill Lynch reviu em baixa a recomendação da EDP de «compra» para «neutral», depois de ter reduzido o preço-alvo para 2,40 euros. A casa defende que as recentes declarações de Sócrates sobre o sector poderão travar ainda mais a incursão no negócio do gás, criando também incertezas sobre a actual equipa de gestão.
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Pedro Carvalho
pc@mediafin.pt
Evolução da EDP no último ano
A Merrill Lynch reviu em baixa a recomendação da EDP de «compra» para «neutral», depois de ter reduzido o preço-alvo para 2,40 euros. A casa norte-americana defende que as recentes declarações de Sócrates sobre o sector poderão travar ainda mais a incursão no negócio do gás, criando também incertezas sobre a actual equipa de gestão.
Num estudo divulgado hoje, a Merrill Lynch baixou a recomendação para as acções da Energias de Portugal (EDP) [Cot] de «comprar» para «neutral».
A equipa de analistas liderada por Paul Rogers cita o valor mais baixo obtido no modelo de avaliação da soma-das-partes, o maior grau de incerteza em relação ao cenário político em Portugal e as estimativas de resultados «pró-forma» mais baixas.
Potencial de valorização fica-se pelos 8%
Ajustando o modelo de avaliação soma-das-partes, a Merrill Lynch reviu em baixa o preço-alvo de 2,49 euros para os 2,40 euros.
Paul Rogers aumentou em 624 milhões de euros o valor dos activos de geração da EDP, reduziu em 550 milhões de euros o valor dos activos de distribuição (devido à revisão das tarifas nesta área); e descontou no modelo 300 milhões de euros relacionados com o efeito de diluição da recente emissão de direitos para financiar o reforço na Cantábrico.
Em relação a 2004, a Merrill Lynch espera agora que os lucros líquidos da EDP se quedem nos 444 milhões de euros, contra os 457 milhões anteriormente estimados. A previsão para o EBITDA (resultados antes dos juros, impostos, depreciações / amortizações) desceu de 1,946 mil milhões de euros para os 1,904 mil milhões.
Declarações de Sócrates sobre tarifas não foram bem recebidas
Na semana passada, num encontro com imprensa estrangeira, o líder do Partido Socialista disse que «vamos fazer uma reestruturação no sector energético».
Sócrates não detalhou os planos que têm para o sector energético português, mas avançou que quer «mais concorrência, para beneficiar os portugueses, as empresas portuguesas, de modo a ficarem mais eficientes», com tarifas eléctricas mais baixas.
Estas declarações não foram bem recebidas pelos analistas da Merrill Lynch que, no documento, referem que «com o Partido Socialista a liderar as sondagens, teremos de ter em conta um Governo com uma menor empatia» para com o sector eléctrico.
Sobre o Partido Social Democrata (PSD), a Merrill Lynch diz ter sido um «apoiante forte da EDP e responsável pela nomeação do actual CEO, João Talone».
«Um governo menos apoiante poderá travar ainda mais as opções da eléctrica no negócio do gás, nomeadamente com a Gás de Portugal; poderá tornar mais difícil o caminho para as Centrais de Ciclo Combinado; podendo ainda criar incertezas sobre a gestão da empresa», conclui o banco.
Merrill Lynch diz fusão entre iguais no Península pouco provável
Recentemente, o presidente da REN defendeu, em entrevista ao «Diário de Notícias», que no âmbito da decisão de Bruxelas [veto à absorção da Gás de Portugal], a «EDP está fragilizada no mercado ibérico perante as suas principais concorrentes, que poderão facilmente – quer a Iberdrola quer a Endesa – fazer um ‘takeover’».
O facto da Iberdrola ter aproveitado o aumento de capital da EDP para aumentar a sua posição de 5% para 5,7% veio aumentar ainda mais os rumores de OPA sobre a eléctrica.
O banco de investimento afasta este cenário, já que o Estado, directamente e através da Caixa Geral de Depósitos, controla cerca de 25% da empresa.
No entanto, Paul Rogers não afasta completamente cenários de fusão na Península Ibérica, mas afirma que uma junção com a Gás Natural (que complementa, com o gás, o negócio da EDP) faria mais sentido do que uma aproximação a uma Iberdrola ou a uma Endesa.
As acções da EDP reagiam em queda a este «research», cedendo 0,45% para os 2,23 euros.