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MensagemEnviado: 12/1/2005 0:49
por marafado
Previsões e Incertezas
Subida das temperaturas, queda dos mercados e ecrãs plasma muito mais baratos

John Willman


Que caixinha de surpresas será 2005? Os jornalistas do FT consultam as suas bolas de cristal e traçam um perfil das questões que deverão marcar o ano na arena política e económica, na esfera científica, no desporto e nas relações internacionais.

A arte das previsões é extremamente delicada, em particular tratando-se do futuro. É esta, pelo menos, a opinião de Nils Bohr, o dinamarquês a quem foi atribuído o prémio Nobel. Curiosamente, todos os nossos colaboradores que se aventuraram pelo mundo das previsões há exactamente um ano, podem, agora, manter-se de cabeça erguida, orgulhosos com as suas análises.

David Gardner escreveu que o Iraque iria recuperar a soberania, após o trabalho de um governo interino na preparação de eleições para a assembleia constituinte. Osama ben Laden continua a monte, conforme previu Mark Huband, protegido por apoiantes e pela ausência de delatores. No que toca à China, a moeda nacional - o iuan - manteve-se indexada ao dólar, acentuando as dificuldades inerentes a essa política em termos de estabilidade monetária. Nada que Martin Wolf não tivesse previsto. Num ano marcado por eleições, o mundo assistiu à recondução de George W. Bush na presidência dos EUA, tal como vaticinara Gerard Baker, bem como ao segundo mandato de Vladimir Putin no Kremlin - uma vitória antecipada por Stefan Wagstyl. Philip Stephens, por sua vez, provou estar certo quando declarou que o governo de Tony Blair sobreviveria às hecatombes parlamentares e ao relatório Hutton sobre a morte de David Kelly, inspector de armamento no Iraque.

Kerin Hope baralhou os mais cépticos ao garantir que Atenas estaria a postos para receber os Jogos Olímpicos. Já Daniel Dombey soube ler nas entrelinhas, quando afiançou que a Comissão Europeia não impediria a França de “salvar” a Alstom. Se pensarmos nos três grandes bancos privados alemães, concluiremos que mantiveram a sua independência precisamente pelas razões invocadas por Charles Pretzlik. Dificilmente se descortinam, aliás, bons motivos para adquirir qualquer um deles.

John Plender augurou que as bolsas de valores sofreriam quedas em 2004 ou 2005 e foi, de facto, o que aconteceu. Todavia, o futuro é ainda mais difícil de prever ao nível dos mercados do que noutras áreas. Se Nils Bohr fosse economista, teria chegado a esta conclusão. Como se dedica à física, tem mais em que pensar…

Quem votará contra o novo Tratado Constitucional da UE?
A aprovação do novo tratado constitucional da União Europeia não será propriamente linear. Dez dos 25 estados membros garantiram que iriam submeter o mesmo a referendos nacionais, apesar das sondagens serem favoráveis à sua ratificação - salvo na Grã-Bretanha. Todavia, o “Não” pode levar a melhor em países como a Dinamarca, França e Holanda.

O “Sim” teria mais força em França se o partido socialista mostrasse o seu apoio inequívoco ao Tratado, no entanto, a possibilidade da Turquia poder vir a integrar o clube pode engrossar os votantes do “Não”. O mesmo pode acontecer na Holanda, onde o apoio à UE tem perdido terreno. À laia de balanço, porém, tudo aponta para uma vitória do “Sim” nos dois países. Esta leitura pode também aplicar-se ao resultado dos referendos na Polónia, República Checa e, inclusive, na Dinamarca, onde os euro-cépticos se têm remetido ao silêncio após o seu desastroso desempenho nas eleições europeias. Assim, o Reino Unido arrisca-se a ser o único estado membro a rejeitar o novo tratado, em 2006, depois de todos os outros 24 estados dizerem “Sim”. Quentin Peel

Haverá eleições no Iraque?
Sim. A 30 de Janeiro, os iraquianos irão eleger uma assembleia incumbida de elaborar a nova constituição e de nomear um governo provisório, até que possam ser realizadas eleições gerais. A actual situação no terreno poderá dificultar o exercício do voto em algumas províncias, a par da ameaça de boicote por parte da minoria sunita, denunciando a mágoa de uma derrota antecipada e da perda da hegemonia política. Protelar o escrutínio seria, porém, exacerbar os ânimos já exaltados da maioria xiita, que anseia pacientemente pela sua ascensão ao poder desde a invasão do Iraque pelas forças norte-americanas.

Os verdadeiros vencedores serão, pois, os partidos Islamistas, que encabeçam a lista apoiada pelo Grande Ayatola Ali al-Sistani. Muito embora nem os primeiros nem o segundo subscrevam o estilo governativo da República Islâmica do Irão, a sua vitória será um desenlace que pouco ou nada agradará ao Pentágono e à Casa Branca. David Gardner

Irá George W. Bush pôr termo ao unilateralismo no seu segundo mandato?
Sim. Os Estados Unidos encontram-se, actualmente, a combater em três frentes, ou seja, no Afeganistão, Iraque e na “caça global” aos terroristas. O exército chegou ao limite, o número de militares na reserva é residual e ninguém quer reintroduzir o recrutamento militar obrigatório. O presidente é alvo constante de pressões económicas e políticas, bem como logísticas, sendo que o cerco se apertará mais no segundo mandato devido ao gigantesco défice que terá de gerir. Além do mais, os EUA perderam muitos dos seus tradicionais aliados.

Isto não invalida que Bush tente prosseguir uma política externa musculada, a par da procura de novas alianças dispostas a acatar as suas regras. Condoleezza Rice, a nova secretária de estado dos EUA, será, talvez, a figura que poderá conferir um lado mais humano às políticas do presidente. Lionel Barber

Irão os mercados encerrar em baixa em 2005?
No ano que findou, as economias japonesa e norte-americana despertaram para a retoma. Era, pois, preciso saber se a correcção dos desequilíbrios financeiros dos EUA não iria impedir um crescimento global do valor das acções. Com o passar dos meses, porém, a política de contenção da Fed e a desvalorização do dólar acabaram por tranquilizar os mercados.

Entrados em 2005, verificamos que se mantém uma política de “gradualismo”. Apesar das taxas de juro norte-americanas estarem abaixo da fasquia neutral, tudo indica que a economia norte-americana acompanhará o crescimento da economia mundial. O crédito às famílias norte-americanas vai continuar a crescer, as instituições financeiras vão aproveitar o bom desempenho da rentabilidade e aplicá-lo na especulação, muito embora a dívida tenda a crescer. O principal senão será o abrandamento dos lucros empresariais e a deterioração da qualidade do crédito. Inicialmente, as acções serão alvo de oscilações, mas o número de operações vai aumentar. O realismo obriga, contudo, a que esta retoma financeira, ainda incipiente, leve os mercados a encerrar o ano em baixa. John Plender

Irá a China proceder à revalorização da sua moeda?
A China será fortemente pressionada para avançar com a revalorização do iuan, em 2005, no entanto, as autoridades chinesas não quererão fazê-lo por acharem que os benefícios da operação não compensam os custos.

A manutenção do cenário actual acarreta algumas dificuldades: as reservas em moeda estrangeira cresceram para mais de 500 mil milhões de dólares (367 mil milhões de euros) e a economia registou um sobreaquecimento. As autoridades acreditam, contudo, que os custos podem ser geridos - as taxas de juro norte-americanas são muito próximas das chinesas, o que limita o custo da manutenção de reservas e o impacto monetário de uma eventual intervenção, e os controlos administrativos sobre o crédito bancário são cada vez mais eficazes.

No fundo, um pequeno ajustamento cambial pouco efeito prático teria. O contrário, sim, poderia reduzir em muito a competitividade e obrigar a economia a regredir para um estado de deflação. O abandono da política de indexação ao dólar seria o mesmo que perder a “âncora monetária” da economia. Mais, um ajustamento cambial poderia, igualmente, danificar o frágil sistema financeiro chinês.

Fica por saber qual a melhor alternativa à indexação. O que se sabe é que a China se irá agarrar com firmeza para evitar as consequências da incerteza. Martin Wolf

Será o Pacto de Estabilidade e Crescimento alvo de reformas?
A Comissão Europeia (CE) apresentou, recentemente, uma proposta para reformar a decrépita política orçamental da zona euro. Não obstante algumas dissenções sobre certos detalhes, há fortes probabilidades de entendimento no caso de um Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) revisto e melhorado.

O principal problema é não ter qualquer impacto relevante nas políticas orçamentais nacionais, visto prevalecer a rigidez das normas do tratado de Maastricht. As duas grandes metas da política orçamental europeia passam pela fixação do rácio anual do défice em 3% do PIB e do rácio dívida pública/PIB em 60%. A zona euro terá, assim, de crescer a uma taxa nominal anual de 5% para poder compatibilizar as duas metas - o que obriga também a um crescimento muito superior ao actual.

A regra dos 3% é extremamente restritiva a curto prazo e demasiado branda a longo prazo. Segundo as propostas da Comissão, a dívida e a sustentabilidade a longo prazo serão
as grandes prioridades. A CE visa, com a aplicação do Pacto, dar maior relevo às necessidades específicas a cada estado membro. O mais importante será, talvez, supervisionar os longos períodos de baixo crescimento. A priori, a crescente flexibilidade é uma boa notícia, mas pouco mudará na prática. Wolfgang Münchau

Irá Tony Blair ser reeleito?
Sim, todavia, o que mais interessa é o que irá acontecer depois das eleições. Afinal, o governo de Tony Blair não tem a popularidade como trunfo. A guerra do Iraque, as quezílias de gabinete e a arrogância de certos ministros ensombraram as suas conquistas na área da gestão económica e na mudança do debate em torno do serviço público. Apesar de tudo, o primeiro-ministro britânico parece fadado para um terceiro mandato, muito pela ausência de uma alternativa credível do lado dos conservadores. Fica por responder, porém, se Tony Blair conseguirá cumprir todo o seu mandato. Amigos e aliados de Gordon Brown diriam que não. O referendo do novo tratado constitucional europeu poderá, assim, ser a verdadeira desforra de Tony Blair. Philip Stephens

O Japão será poupado à deflação em 2005?
Não. Com efeito, assistiremos a alguns meses de inflação à medida que o Japão procurar salvar-se do atoleiro deflacionista, no entanto, não se prevê uma evolução sustentada com um aumento positivo dos preços nem um cenário de inflação para todo o ano. O Banco do Japão esteve à altura das dificuldades pela mão do seu governador, Toshihiko Fukui, mas encontra-se, agora, sem alternativas credíveis à vista. Apesar da economia estar hoje mais saudável - graças, em grande parte, aos esforços feitos para equilibrar os balancetes dos bancos -, o crescimento sofreu uma quebra significativa nos últimos meses do ano. O enfraquecimento do dólar coloca novos desafios aos exportadores japoneses, que têm sido os principais responsáveis pela recuperação da economia em 2004, muito embora os lucros empresariais não se tenham reflectido nos salários, contribuindo para a fraca procura e consumo internos. Se a isto acrescentarmos o risco de eventuais erros políticos, não será prudente depositar grandes esperanças numa subida dos preços no Japão. John Ridding

Chegará o barril de petróleo aos 50 dólares no final do ano?
Não. A procura deverá regressar aos níveis normais, não ultrapassando a expansão da economia mundial de 2003/04, altura em que, pela primeira vez em 30 anos, o consumo de petróleo praticamente igualou o crescimento económico, devido à forte procura da China. O crescimento económico chinês vai desacelerar em 2005, mas a subida dos preços fomentou maior investimento em novas jazidas, pelo que poderá colmatar algumas lacunas na produção, que deverão afectar ainda por algum tempo países como o Iraque, Venezuela, Nigéria e Rússia. Sublinhe-se que o preço do barril só deverá disparar acima dos 50 dólares no caso de uma crise no Médio Oriente, como um ataque dos EUA às instalações nucleares iranianas ou uma revolução na Arábia Saudita. David Buchan

Continuarão os preços das mercadorias a aumentar?
Os preços das mercadorias são particularmente voláteis. Dois anos de subida contínua dos preços dos metais base e três anos de escalada dos preços do ouro, levam-nos a concluir que os preços das mercadorias estão próximos de um máximo histórico. No entanto, tudo indica que se deverão manter em alta ao longo deste ano. Apesar do aumento da produção de metais base, os preços deverão manter-se elevados no médio prazo, devido à intensa procura de matérias-primas por parte da China. Kevin Morrison

Continuarão os ‘hedge funds’ a atrair avultadas somas?
Sim. Embora 2004 fosse um ano fraco para os ‘hedge funds’, não foi propriamente um ano calamitoso. Os retornos foram positivos em quase todos os sectores e não houve falências com a dimensão do Long-Term Capital Management. Os fundos de pensões e os indivíduos com elevado valor líquido, que estiveram mais expostos a acções do mercado optimista nos anos 90, foram especialmente penalizados entre 2000 e 2003. Apesar de tudo, uma das principais aliciantes dos ‘hedge funds’ continua a ser a sua elevada rentabilidade. O sector ainda precisa, contudo, de algum tempo para convencer os investidores do seu desempenho. No caso dos fundos de pensões, é preciso persuadir não só ‘trustees’ como os consultores que os orientam. Mas o processo já começou e, salvo em caso de escândalo financeiro, não deverá parar no curto prazo. Philip Coggan

Quais as derradeiras novidades tecnológicas?
O televisor convencional vai, decerto, desaparecer das salas de estar. Em 2004, o preço dos televisores de ecrã plano baixou para metade devido à concorrência entre tecnologias rivais e ao facto do mercado ter sido inundado por ecrãs de cristais líquidos, vulgo LCD. Em 2005, este mercado deverá crescer ainda mais, fazendo com que um ecrã de 30 polegadas baixe para mil dólares ou menos - o que bastará para fazer do ecrã plano um fenómeno de massas. A Electronics Industries Association do Japão estima que serão vendidos, em 2005, cerca de 16 milhões de LCD e televisores plasma, isto é, mais do dobro do total de vendas em 2004.

Estudos de pesquisa de mercado conduzidos pela Consumer Electronics Association dos EUA indicam que as máquinas fotográficas digitais foram o presente mais comprado nesta quadra festiva. Isto não impede, porém, que a prenda mais desejada pelos norte-americanos seja um televisor plasma gigante. Quem sabe no próximo Natal esse desejo não será realidade. Simon London

Será possível reatar o processo de paz para o Médio Oriente?
É muito possível que se possa “reatar” um dado processo em 2005, todavia, não podemos pensar que a paz falará mais alto. Com a morte de Yasser Arafat e a vitória quase certa de Mahmoud Abbas nas eleições deste mês, Israel não poderá invocar a ausência de um parceiro para dialogar. Não obstante, o debate centrar-se-á, este ano, no plano de retirada de Israel da Faixa de Gaza e não na instituição de um Estado palestiniano ou numa solução definitiva para o conflito.

Israel avançou com um plano unilateral de retirada dos colonos da Faixa de Gaza e prepara-se agora para concertar a sua aplicação com a nova liderança palestiniana. Paralelamente, Ariel Sharon estará envolvido em negociações com os elementos que se opõem ao plano, entre os quais membros do seu partido, o Likud, e representantes dos colonos judeus. A pressão dos palestinianos e da comunidade internacional será cada vez maior para que Israel retire além de Gaza e inicie conversações para posteriores retiradas da Cisjordânia. Nem tudo será fácil, porém, na medida em Israel insistirá em esperar e ver como decorre a administração de Gaza nas mãos dos palestinianos. Roula Khalaf

Qual o próximo conflito em África? E onde?
A Guiné poderá revelar-se o próximo foco de instabilidade do continente africano. É o cenário que se prevê quando a doença do presidente, o General Lansana Conté, puser termo a vinte anos de poder. As finanças do governo estão de rastos e a inflação é galopante. Com tantos factores a apelar ao conflito, teme-se que o exército tenha pretensões a preencher o vazio de poder. Os maiores perigos espreitam, contudo, do lado de antigos conflitos. Os acordos de paz na Costa do Marfim, Libéria e República Democrática do Congo são extremamente precários e denunciam que nenhum dos três países está devidamente preparado para levar por diante as eleições previstas para este ano. David White

Irá a América Latina virar mais à esquerda?
Sim, mas apenas nas extremidades. A escalada dos preços do petróleo conferiu a Hugo Chávez o poder necessário para prosseguir com a sua autocracia populista, e ao chefe de Estado da Argentina, Néstor Kirchner, a possibilidade de continuar a responsabilizar o FMI e os bancos estrangeiros pelos problemas económicos do seu país. Países mais pequenos poderão, igualmente, atravessar momentos mais conturbados. Na Bolívia, o presidente Carlos Mesa poderá sair fragilizado com os protestos e manifestações que derrubaram o seu antecessor.

A Argentina deverá, contudo, manter-se fiel à contenção das suas políticas monetária e orçamental, que se têm revelado uma ferramenta fundamental para reduzir a inflação em toda a região. No Brasil, Lula da Silva posicionou-se, gradualmente, ao centro desde as eleições de há dois anos e a sua capacidade em estabilizar e revitalizar uma economia que, em 2002, se encontrava à beira do colapso financeiro, pode servir de exemplo à classe política da América Latina.

Por ora, os preços flutuantes das mercadorias têm reduzido a dependência do continente latino-americano dos mercados financeiros internacionais, no entanto, os seus líderes políticos - tanto à esquerda, com Lula da Silva e Kirchner, como à direita, no caso do colombiano Alvaro Uribe - têm vindo a optar por um pragmatismo mais ao centro. Richard Lapper

Será possível chegar a acordo sobre Caxemira?
É improvável que a Índia e o Paquistão encontrem uma solução definitiva, ainda este ano, para o conflito que os opõe no estado de Caxemira. Nova Deli não deverá rever a sua posição face a Caxemira - o único Estado com maioria muçulmana -, que considera ser parte integrante da Índia secular. Para o governo militar paquistanês, o argumento será o mesmo, isto é, que Caxemira foi anexada ilegalmente pela Índia aquando do primeiro conflito entre os dois países, em 1947. Isto não invalida que se preserve o processo de paz agora com um ano e que chegue a um consenso em relação a algumas “medidas simbólicas que consolidem a confiança” entre ambas as partes. Nestas se inclui uma ligação terrestre entre as “duas” Caxemiras e uma redução gradual do número de tropas indianas na região. Será, certamente, um ano de progressos para as relações entre os dois rivais nucleares, embora sem um desenlace extraordinário. Edward Luce

Que cidade acolherá os Jogos Olímpicos de 2012?
Paris ou Londres, sem excluir da corrida Madrid, Moscovo e Nova Iorque. Esta edição será, sem dúvida, uma das mais disputadas. Moscovo deverá ficar de lado por razões de segurança, enquanto Nova Iorque terá de convencer todos os que antipatizam com a administração Bush. Mas é muito provável que a Europa seja o palco dos JO, depois da Ásia em 2008 e da América do Norte (Vancouver) em 2010. Quanto a Madrid, precisaria de uma campanha imbatível para poder rivalizar com os outros candidatos locais, uma vez que já recebeu os JO em 1992. A forma como os adeptos de futebol ingleses foram recebidos na capital espanhola deverá, pois, deitar por terra quaisquer probabilidades.

Apesar de Paris surgir como o candidato mais forte, é possível que Londres tenha ainda uma palavra a dizer se souber despertar o empenho dos seus desportistas e invocar as infraestruturas que a cidade ganharia com o evento, realçando ainda o extraordinário currículo paralímpico do Reino Unido. David Owen

Será 2005 o ano mais quente de sempre?
Independentemente das teorias dos mais cépticos sobre o aquecimento global, as actividades humanas - em especial a queima de combustíveis fósseis - vão continuar a alterar as condições climatéricas. Segundo o Met Office, do Reino Unido, nove dos dez dias mais quentes de sempre ocorreram nos últimos dez anos. Se 2005 vai, ou não, bater o recorde fixado em 1998, dependerá da interacção entre a evolução do aquecimento global e factores a curto prazo, como erupções vulcânicas e a progressão do El Niño no oceano Pacífico. Na minha opinião, 2005 será o segundo ano mais quente de sempre e desejo, muito sinceramente, que seja o mais longo e seco Verão de todos os tempos nos EUA, para envolver as pessoas no debate do aquecimento global. Clive Cookson

Exclusivo DE/Financial Times
Tradução Ana Pina

2005: uma estratégia bolsista

MensagemEnviado: 12/1/2005 0:38
por marafado
2005: uma estratégia bolsista

José Santos Teixeira


Este texto é uma súmula da alocação estratégica que diariamente pratico, como consultor de carteiras de investimentos de três Fundos PPR, os quais, com 15% a 40% de acções, obtiveram em 2004 rentabilidades líquidas entre 7% e 7,8%.

Depois de um ano de 2004 em que as estratégias vencedoras consistiram em privilegiar os mercados da Europa de Leste (Viena, Praga, Budapeste e Varsóvia) e a América Latina (México, Buenos Aires, Santiago e São Paulo), todos com performances superiores a 20%, examinemos uma estratégia de investimento em acções para 2005.

1. A geopolítica e a macro-economia
Constituíram e continuarão a constituir os elementos de incerteza que impedem as acções de serem cotadas próximo do seus valores teóricos.

A situação no Iraque que se “eterniza” tem como consequência:

Uma ameaça constante sobre o preço do petróleo afectado, igualmente, quer pelo aumento da procura, quer por problemas locais.


Um aumento do défice do orçamento americano, só possível porque os credores continuam a emprestar. Até quando, e a que taxas de juro, constituem as grandes incógnitas, expressas diariamente nos mercados financeiros através da cotação do dólar.


Uma quase certeza: as taxas de juro de curto e longo prazo americanas continuarão a subir, moderadamente, ao longo de 2005.

Para combater a nascente inflação americana, para moderar o consumo, para manter o dólar a níveis aceitáveis, para continuar a atrair os capitais de que a economia necessita, para fazer face à insuficiência de poupança americana.


Uma previsão: apesar de submetido a fortes pressões o dólar que poderá perder mais 5% não sofrerá nenhum crash. Pela simples razão que ninguém tem interesse nisso.

2. As perspectivas dos mercados de acções
Existem dois consensos:

As acções estão globalmente baratas e constituem a classe de activos mais atraente para qualquer investidor de médio prazo. Assim o “prémio de risco” das acções ou seja a diferença de rentabilidade entre acções e obrigações é de cerca de 3% a 5% actualmente, conforme os mercados. Nível anormalmente elevado e que deveria levar a uma nítida preferência pelas acções.


Todavia, as condições macro-económicas atrás citadas introduzem nas Bolsas mais importantes elementos de “medo” que impedem tomadas de posição francas a favor das acções pelo que estas poderão, enquanto tal situação durar, evoluir de maneira horizontal com sucessivos períodos de alta e de baixa.


Assim, muitos analistas lembram a década de 1975/1985 em que as Bolsas europeias e americanas se caracterizaram pela relativa estagnação dos índices, pela necessidade de trading para realizar performances positivas e pela importância da escolha acertada de títulos (stock-picking) baseada na qualidade de análise das empresas.


Como conclusão diríamos que se muitos gestores prevêem um ano de 2005 relativamente semelhante ao de 2004, com os mercados a subir entre 5% e 10%, tais mercados só deverão ser “frequentados” por investidores activos que tenham a capacidade de tomar atempada e acertadamente as decisões de compra e venda adequadas. Mercados difíceis, selectivos, “angustiantes” onde o “market timing” definirá a rentabilidade das carteiras.

Inútil, portanto, “comprar o índice”.

3. Que mercados? Que sectores?
Também neste domínio 2005 poderá repetir alguns conceitos válidos em 2004:

A Europa apesar do seu fraco desenvolvimento económico e do nível excessivo do euro é incontornável para um investidor europeu, devendo continuar a ser dada alguma importância aos mercados da Europa de Leste.

Há excelentes empresas europeias que continuarão a melhorar as suas rentabilidades.


Na Ásia, o Japão e as suas empresas retomaram níveis de desempenho e de cotações próprios da segunda economia mundial. Sem esquecer a Ásia Emergente e nomeadamente a Índia.


A decisão mais difícil respeita aos Estados-Unidos, onde tem sido muito difícil bater a baixa do dólar com a subida das cotações.

Considero todavia que os níveis de produtividade das empresas e o dinamismo da economia americana são factores que não podem ser ignorados pelo que a inclusão de 5% a 15% de acções americanas numa carteira de acções é aceitável.


Quanto a sectores a privilegiar parece haver uma nítida preferência pelos operadores telefónicos que depois da correcção de preços de 2001 a 2003 voltam a níveis de vendas, de resultados e de valorização atraentes. E a escolha de empresas é vasta. Deutsch Telekon é, segundo 10 de 18 analistas “a” empresa a ter em carteira em 2005.

Outros sectores de interesse poderão ser a distribuição sobretudo a distribuição especializada, a saúde e as farmacêuticas e as empresas de media.

Dois sectores rentáveis e privilegiados em 2004 parecem actualmente menos interessantes: o da energia dada a baixa do preço do petróleo e o dos serviços às colectividades com preços actuais elevados.

O exercício acima não constitui um mero “exercício de estilo”. É sim a súmula da alocação estratégica que diariamente pratico, como consultor de carteiras de investimentos de três Fundos PPR, os quais, com 15% a 40% de acções, obtiveram em 2004 rentabilidades líquidas entre 7% e 7,8%. O que os colocou nos três primeiros lugares do seu ranking nacional.

Lamento a falta de modéstia, mas espero que os leitores desta coluna juntem ao “agradável”(?) da leitura o “útil” das decisões acertadas de investimento que procuro semanalmente transmitir.