Caldeirão da Bolsa

Um brinde aos défices dos EUA

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

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por Info.... » 12/1/2005 1:40

It's all downhill from here
Commentary: Budget deficits likely to slow U.S. economy

By Dr. Irwin Kellner, CBS MarketWatch
Last Update: 10:21 AM ET Jan. 11, 2005

HEMPSTEAD, N.Y. (CBS.MW) -- The United States economy has most likely already achieved its best growth rates of this three-year expansion and Washington's budget deficit, if anything, will serve to slow it down even more.

Normally, the government's budget deficit can be counted on to stimulate economic activity. At least this is what the conventional wisdom tells us, going back to the teachings of the great economist, John Maynard Keynes.

He said in bad times the government should run a deficit to make up for the lack of spending by the private sector, while in good times it should run a surplus.

These may not be bad times in terms of the economy being in a recession, but to the many people who are having trouble making ends meet because they can't find work these are far from good times.

Keynes didn't pay too much attention to the Federal Reserve, figuring that the central bank would make available whatever funds the economy needed at interest rates that were appropriate for the time.

Today, however, the Fed is not quite as cooperative. Instead of accommodating all the economy's financial needs, the central bank, as you know, is now in the process of removing funds from the economy in an effort to make monetary policy neutral (see my previous column).

When the government runs a deficit in its budget, it has to borrow to make up the difference. And because Washington has the power to tax in order to raise funds, it is always first on line when it comes to tapping the credit markets, leaving states and local governments, businesses and individuals to scramble for the rest.

There is at least one recent example of what happens when rising federal borrowing clashes with a tightening monetary policy.

In the early 1980s, Washington's budget deficit was soaring, ultimately hitting postwar record highs both in absolute dollars, and in relation to the size of the economy. The Fed, under chair Paul Volcker, was in the process of tightening money in order to bring down that era's double-digit rates of inflation.

As a consequence, interest rates soared to levels not seen since the Civil War, plunging the U.S. economy into what ultimately became the worst recession since the 1930s.

On the other hand, there is also recent evidence that shows that when the budget deficit shrinks - either through higher taxes, less spending, or both - it can actually help the economy.

Although he campaigned in 1992 on a platform of more federal stimulus, as soon as he became president, Bill Clinton signed into law a tax increase that that helped turn the long-running budget deficit into a record surplus. Market interest rates came down even though the Fed was actually less accommodative for a while.

The end result was an expansion that set records for longevity - something we are not likely to see, this time around. Indeed, we'll be lucky if we can avoid a recession.
Info....
 

Um brinde aos défices dos EUA

por marafado » 11/1/2005 23:36

Um brinde aos défices dos EUA

Kenneth Rogoff*


Num momento em que a debilidade do dólar pende, qual espada de Dâmocles, sobre a economia global, são muitos os que lamentam a prodigalidade dos Estados Unidos.

Mas será que alguém já ponderou o quanto têm os norte-americanos de se esforçar para que o resto do mundo possa fazer boa figura?
Com o acentuar do ‘gap’ dos défices gémeos norte-americanos, os ministros das Finanças dos países industrializados devem evitar, a todo o custo, que as suas moedas registem subidas abruptas face ao dólar. Mas quando foi a última vez que isso aconteceu? Bem, a resposta é: está a acontecer. Países com uma dívida externa crónica, como o México, Rússia e Coreia do Sul, combatem agora os fluxos financeiros de investidores em busca de uma saída para a queda do dólar.

Regra geral, quando o mundo recupera de uma recessão e as taxas de juros globais sobem, há sempre uma ou outra economia emergente que regista uma expansão extraordinária. Todavia, esse não parece ser o caso desta vez, pelo menos no próximo ano. Isto não impede, contudo, que alguns países se tenham desenvolvido significativamente. O Brasil e a Turquia, por exemplo, têm vindo a adoptar políticas de abertura económica, num processo que resulta numa maior flexibilização das suas estruturas e num crescimento mais duradouro. Poder-se-á, porém, dizer o mesmo em relação ao México, onde o impasse tomou conta das reformas? Ou à Rússia, onde as reformas em curso foram invertidas? O problema é que os imprudentes gastos dos EUA e o acentuar do fosso do défice fazem com que as moedas destes países pareçam um excelente investimento para 2005.

Feito o retrato, não deveria o resto do mundo estar mais grato aos défices dos EUA? Ou pensarão todos que uma economia de 12 biliões de dólares é benemérita ao ponto de gastar acima das suas posses, ano após ano, só para manter a reputação de estabilidade de certos países? Pois bem, não é fácil. Incorrer em dívida quando se tem tanto dinheiro para gastar é obra e implica muito trabalho.

Comecemos pelo consumidor americano, que consome tudo o que há à face da Terra - e que contribui para que os EUA absorvam 25% da produção mundial de petróleo -, muito embora não poupe nada. Graças ao “dourado” sistema financeiro norte-americano, os seus consumidores podem, por exemplo, comprar carros da moda sem recorrer a prestações. A cada ano que passa, o crédito à habitação é cada vez maior e superior ao valor das casas. Mas, mesmo assim, os consumidores norte-americanos gastam tudo. Pior, a reforma chega mais cedo e pouco ou nada fazem para aumentar as suas pensões. Em suma, é preciso ter fibra e energia redobrada para viver a este ritmo.

A situação não pode, contudo, ser apenas imputada aos cidadãos. O governo norte-americano também tem a sua quota-parte de responsabilidade. Quando George W. Bush chegou à presidência, em 2001, foi presenteado com défices excedentários mas, graças a uma engenharia altamente complexa, conseguiu transformá-los num “buraco” de 5 biliões de dólares.

Assim, só pode dizer-se que o mais fácil é reduzir impostos. O difícil é criar legislação que permita associar a despesa a todas as iniciativas governamentais. É certo que a invasão do Iraque muito contribuiu para colocar as finanças do país à beira do colapso, no entanto, as proezas despesistas não se ficaram por aqui. Daí a pergunta: porque é o mundo tão ingrato?
É possível que muitos japoneses e europeus estejam revoltados com os magros retornos dos seus investimentos nos EUA, mas parte do problema reside na desvalorização do dólar, que inferioriza os investimentos em “nota verde” quando traduzidos em euros ou ienes. A outra parte do problema está nas más previsões dos movimentos de mercado (’market timing’). Muitos europeus compraram acções nas bolsas americanas nos picos de 1999 e 2000, e acabaram a vendê-las a preço de saldo depois da queda de 2001.

Foi precisamente o que aconteceu aos japoneses e aos seus investimentos imobiliários, como os preços astronómicos pagos pelo Centro Rockefeller, em Nova Iorque, e pelo Pebble Beach Golf Club, na Califórnia, e que, mais tarde, tiveram de ser vendidos ao “desbarato”. Estes fiascos financeiros até são positivos para os americanos, que assim ficam menos devedores a países terceiros. Infelizmente, é um cenário que não se pode manter indefinidamente. Ou seja, se os estrangeiros não obtiverem, num futuro próximo, maiores retornos sobre os seus investimentos nos EUA - arrastando a dívida norte-americana para níveis insustentáveis -, decerto que os transferirão para outros países na primeira oportunidade. A única certeza no panorama actual é que dólar vai continuar a descer.

Assim, a pergunta que se segue é: até onde pode o dólar descer? Pelos meus cálculos, a moeda norte-americana terá ainda de cair 15% para que o seu défice externo retome o caminho do equilíbrio. Num cenário ideal, as moedas asiáticas valorizariam acima dos 15%, mantendo-se as europeias longe dessa fasquia.

Na realidade, o mais certo é que aconteça o inverso, com o euro a subir acima de 1,5 dólares. É possível que diversos governos tentem resistir à queda do dólar, mas nem os países mais reticentes, como os asiáticos, conseguirão prolongar ad eternum este estado de coisas, muito devido à fluidez dos mercados de capitais. Sublinhe-se, porém, que o actual contentamento do resto do mundo poderá dar lugar a realidades bem mais sombrias, caso a desvalorização do dólar desencadeie uma escalada das taxas de juro e uma desaceleração económica global. Alguns dos países que hoje parecem fortes podem, subitamente, ser confrontados com uma crise financeira que já não julgavam possível.

Todavia, ainda que muitos países consigam evitar o impacto imediato de uma queda acentuada do dólar, terão sempre de se precaver contra um eventual efeito ‘boomerang’. As taxas de câmbio, por exemplo, têm o péssimo hábito de ir muito além dos seus valores de referência, provocando efeitos particularmente nefastos nos países cuja despesa se baseou em estimativas inflacionadas dos rendimentos.

Pois bem, talvez ainda seja cedo para o mundo se congratular com os alucinantes padrões de consumo dos EUA… Mas não podemos ser indiferentes ao ponto de ignorar a generosidade americana, que faz das restantes economias baluartes da sobriedade e moderação. Pelo menos, por ora.

* Professor de Economia e Política Pública em Harvard e antigo economista chefe no FMI

Tradução de Ana Pina
 
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