Rumo à nova Reforma Fiscal?
Nuno Sampayo Ribeiro*
1. O Ministro da Finanças da Eslováquia, em entrevista ao Diário Económico, disse: ”fizemos uma reforma fiscal porque queremos crescer mais”.
A concepção que advogou assenta no controlo das finanças públicas, em especial na diminuição do deficit; e na defesa da revisão do PEC (desde que tal signifique disciplina orçamental e a redução do deficit) ou da concorrência fiscal (em vez da sua harmonização).
Significativamente, lê o ‘deficit’ orçamental como sinal da ausência de reformas estruturais; e a concorrência fiscal como factor de aceleração das reformas estruturais e institucionais – que entende como pré-condições para maior competitividade.
2. Portugal exige este rumo político. As políticas vigentes, porém, praticam o contrário porquanto: a) as receitas extraordinárias, ao som da fanfarra da ‘retoma’, servem de apeadeiro à redução da Despesa; e b) a opção pró-concorrência fiscal é recusada, muito por má influência de dirigentes do Centro de Estudo Fiscais do Ministério das Finanças que ainda estão atados a concepções que tiveram época no nacionalismo económico.
Acresce que depois da política de ‘escudo forte’, que abriu ‘feridas duradouras’ no tecido industrial, a obtenção de receita continuou a ser o objectivo prioritário da política fiscal por força de uma ineficiente Despesa Pública, muito acima das possibilidades consentidas pela riqueza nacional.
Este insensato estado de coisas repele a criação de riqueza, emprego e poder de compra a partir de Portugal e lança no horizonte convulsões sociais sérias.
3. Sejamos realistas: os ditos ‘critérios de Maastricht’ são muito duros.
Num ciclo recessivo e sujeitos à politica monetária decidida fora de Portugal segundo critérios que são avessos à nossa tradição só existem duas vias de ajustamento em face de deficit excessivo. Uma, em curso, é dolorosa: o desemprego e a compressão do rendimento. A outra, que tarda: o crescimento económico.
Destaco que na união monetária vigente o único meio de intervenção do Estado com potência para estimular o crescimento é a política fiscal. Por esta razão surgiu uma Nova Vaga de reformas fiscais nacionais (’NV’), incluindo a Eslovaca. Destaco, também, que o actual sistema fiscal Português não tem perfil para impulsionar a criação de oportunidades económicas a partir de Portugal. Porquê?
4. Muito porque o modelo resultante da Reforma Fiscal de 88-89 está estruturalmente desadequado em face do Novo Ambiente nacional e internacional porquanto a realidade em que se baseava desapareceu. Cabe perguntar: Qual o rumo a seguir? Claramente: repensar a política fiscal rumo a uma Nova Reforma Fiscal.
5. A política fiscal Portuguesa deve promover com carácter de máxima prioridade a evolução do sistema fiscal, de modo a vocacioná-lo para responder às exigências do Novo Ambiente envolvente marcado por uma dinâmica de concorrência fiscal entre economias nacionais; e de que são factos-simbolo a União Monetária e a NV.
Reafirmo que a evolução que defendo é distinta da utilização do sistema fiscal para regular a conjuntura (em lugar dos câmbios e moeda) como o ‘choque fiscal’ que consistiu numa redução ad hoc da taxa geral do IRC em nome da competitividade da balança comercial (estimular as exportações); ou do recurso aos ditos ‘contratos fiscais’.
Na solução em que insisto, a evolução consistente com o objectivo de colocar o sistema fiscal a apoiar a economia nacional a concorrer em efectiva vantagem comparativa, exige a adopção de Fórmulas Novas de incidência e das taxas de IRS e IRC sobre as operações de e para Portugal quanto ao lucro das empresas, dividendos, mais-valias, poupança e trabalho.
6. Nesta medida representa um desafio acrescido porque requer princípios, soluções e práticas na linha da NV e que contrariam, em muito, a tradição fiscal nacional. Essas soluções têm que incluir opções dirigidas ao investimento intelectual e ao movimento internacional de capitais monetários (e não só ao investimento directo estrangeiro). Em especial, no investimento intelectual é crucial colocar o ênfase no IRS muito mais que no IRC de modo a premiar a iniciativa, a exigência e o esforço pessoal.
7. A sociedade persiste em hábitos desajustados, que vêm impedindo reformas estruturais nas Finanças Públicas. As consequências de não promover a Nova Reforma Fiscal são muito duras, incluindo para a independência económica nacional. Será que não queremos perceber?
*Fiscalista
http://competitividade.com.sapo.pt