Estratagemas e estratégias
Pedro Marques Pereira
Num país vergado ao pessimismo, a bolsa continua a ser uma das poucas fontes geradoras de boas notícias.
Depois de dois anos de sólidas subidas, o mercado lisboeta entrou de rompante no novo ano, com o índice de referência, o PSI-20, a subir, e vários títulos a baterem recordes ou a regressarem a níveis que não atingiam há vários anos.
À primeira vista, com a economia encostada às cordas, o buraco nas contas públicas e a credibilidade da classe política próxima do zero, o único motivo aparente para a subida da bolsa nacional parece ser a “irracionalidade exuberante” dos investidores, para parafrasear o presidente da Reserva Federal norte-americana, Alan Greenspan. Se as bolsas reflectem a economia e o país onde se integram, não deveriam estar a cair?
Não necessariamente. Uma análise mais cuidada revela uma explicação bem mais simples: as empresas terminaram o trabalho de casa que os políticos não tiveram sequer coragem de iniciar.
Quando, no início de 2000, rebentou a bolha das empresas de novas tecnologias, que arrastou as bolsas para um dos períodos mais negros da história recente – e o PSI-20 para quedas de 13% em 2000, 25% em 2001 e 26% em 2002 – as empresas foram obrigadas a aplicar tratamentos de choque, reduzindo milhares de postos de trabalho, cortando custos e pagando dívidas. Em paralelo, traçaram novos planos de negócio adaptados aos novos tempos.
Pelo contrário, os governos fingiram que as vacas continuavam gordas e esperaram que passasse a tempestade. Desde 2001, quando Portugal ganhou o título do primeiro país a violar o Pacto de Estabilidade e Crescimento, passou a inventar expedientes para fingir que reduzia custos. Nem se preocupou em delinear uma estratégia.
Os resultados estão à vista: concluídas as reestruturações, as empresas recuperaram a confiança dos investidores e foram recompensadas com a subida das acções. O País, esse, continua perdido num túnel labiríntico sem luz à vista. E, pior ainda – como mostram as dúvidas hoje levantadas nas nossas primeiras páginas sobre a solução encontrada para tapar o buraco nas contas deste ano – os Governos não aprendem nada com as empresas. Continuam claramente a confundir estratagemas com estratégia.
pmpereira@economicasgps.com