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MensagemEnviado: 30/12/2004 23:07
por marafado
Índice em destaque
PSI20 forma bandeirola de alta
O PSI20 encontrou-se nas últimas sessões num período de consolidação do movimento de alta iniciado em Dezembro, após o reencontro com a tendência ascendente de curto prazo (TAcp), tendo ao que tudo indica delineado uma formação do tipo bandeirola de alta.





Acção em destaque
PT Multimédia confirma triângulo
A PT Multimédia não teve uma evolução tão negativa quanto seria de prever caso fosse confirmada a bandeirola de baixa que avançamos na nossa anterior análise. Esta formação não se confirmou, pois este título entrou posteriormente num período de consolidação do movimento de baixa, abaixo do importante nível dos 18 euros.

MensagemEnviado: 30/12/2004 23:06
por marafado
Colaboração JPMorgan
Perspectivas globais para os mercados em 2005
China e EUA continuarão a apresentar maior dinamismo económico que a zona euro e o Japão. As acções vão continuar a proporcionar retornos mais elevados que as obrigações.

30-12-2004, Carlos Varela

A economia mundial aproxima-se do fim do ano com alguns aspectos bastante díspares. A actividade abrandou indubitavelmente e o fraco ritmo irá prolongar-se pelo início de 2005. A taxa de variação do leading indicators da OCDE caiu pelo oitavo mês consecutivo e o equivalente nos Estados Unidos desceu pelo quinto mês consecutivo. Prenúncios de um crescimento mais fraco nos próximos meses. O PIB real mundial deverá registar uma subida de 3,5% em 2005, depois dos 5,0% registados este ano, com o ímpeto do abrandamento a ser sentido nos próximos dois ou três trimestres.
O padrão de crescimento está muito polarizado, reflectindo o papel desempenhado pela procura interna em cada região. Os EUA e a China demonstram uma boa resistência em contraste com as economias da área do euro e do Japão, onde tanto as empresas como os consumidores recuaram perante o declínio no crescimento das exportações. As boas notícias chegaram sob a forma de uma queda de 22% no preço do petróleo, em relação ao máximo registado em Outubro, e da sustentação nas taxas de juro a longo prazo. Ambos os factores vão suportar a procura no decurso do próximo ano. De facto, a recente força do Baltic Freight Index e os preços das mercadorias não-petrolíferas sugerem um grau de confiança sobre o alcance de qualquer desaceleração durante 2005.
O desempenho do consumo nos EUA continua a confundir os fatalistas. O crescimento do rendimento das famílias abrandou nos últimos meses, mas o crescimento do emprego, a uma média de 150 a 170 mil postos de trabalho por mês, deverá ainda causar um crescimento real anual nos rendimentos de 3%.

Melhores condições económicas nos Estados Unidos e China
Outra vantagem significativa surgiu sob a forma de um aumento dos preços do imobiliário. Em média, o preço das casas nos EUA cresceu quase 13% ao ano até ao terceiro trimestre e 4,6% no próprio terceiro trimestre. Baixas taxas de juro de crédito hipotecário e uma disponibilidade menos flexível sugerem que este suporte pode continuar durante algum tempo. O consumo privado cresceu 3% ao ano, o que deve permitir que o crescimento do PIB dos EUA permaneça ligeiramente acima da tendência nos próximos dois trimestres.
Na China, o rendimento industrial e as vendas a retalho continuaram a crescer a um ritmo de 14 a 15% ao longo do ano, apesar do crédito ter encarecido. Pensamos que, em 2005, o crescimento pode ser mais rápido que a actual previsão de 7,5% a 8,0%.

Área do euro e Japão com pouca dinâmica de crescimento
Aárea do euro tem demonstrado pouca ou nenhuma dinâmica independente de crescimento, com as preocupações sobre desemprego e pensões a aumentarem a poupança das famílias. A contínua subida do euro para novos máximos face ao dólar tem contribuído para corroer ainda mais o sentimento empresarial, numa altura em que o aumento da liquidez interna tem tido um impacto limitado na actividade real. O crescimento alcançará escassamente a tendência (menos que 2% por ano) nos próximos dois trimestres, a julgar pelo que temos visto no indicador de confiança económica do IFO e a série que analisa os gestores de compras.
No Japão, a revitalização da indústria tem sido evasiva, em resultado de um prolongado ajuste no inventário de alta tecnologia. Não acreditamos que o Japão vá mergulhar numa recessão, partindo do princípio que o crescimento chinês não entrará em colapso e tendo em conta o nível elevado de cash flows nas empresas. Contudo, existe actualmente uma melhor apreciação sobre o quão prolongado será o período de ajuste a uma actividade comercial regional mais lenta, com o crescimento anual a situar-se, provavelmente, abaixo dos 2% nos próximos trimestres. Outras regiões do mundo emergente permanecem reféns da procura interna norte-americana e chinesa, bem como de quaisquer alterações na política daí decorrentes.
Os mercados continuarão a desgastar-se com a necessidade de ajustes cambiais em 2005. Com a conclusão das eleições presidenciais e para o Congresso nos EUA e os preços do petróleo em declínio, as preocupações viram-se agora para o dólar USD e para uma possível acção das autoridades chinesas sobre a sua moeda (RMB). Esta questão deve pairar sobre os mercados, com um possível afastamento da actual taxa de câmbio fixa ao longo de 2005. Os bancos centrais asiáticos deverão ser menos agressivos nas suas intervenções, sobretudo se surgirem na região preocupações com a inflação.

Risco de uma queda descontrolada do dólar
Na área do G3, o risco principal deve ser o de uma queda no dólar USD se transformar em debandada. A nossa preocupação é que uma demonstração inicial de inflação possa fazer parar a confortável disposição através da qual a Ásia financia o actual défice dos EUA.
No que respeita ao panorama das taxas de juro, a questão parece mais clara. A retirada “medida” da acomodação monetária por parte da Reserva Federal irá continuar com a taxa dos Fundos Federais orientada para atingir os 2,5% até Fevereiro e os 3% até ao final da Primavera. Qualquer alteração nas taxas de juro da área do euro parece improvável a curto prazo, com o status quo a ser mantido no Banco do Japão.
Os activos de risco já usufruíram de uma retoma, com as avaliações nos mercados de capitais a estarem agora mais de acordo com a história. A excepção é o Japão. Parece realmente que o arrastamento para 2005 do ritmo de resultados negativos já foi descontado.
O foco dos investidores centra-se agora em zonas de maior valor e no que poderá acontecer com a liquidez. A opção situa-se entre se as empresas irão proporcionar cash aos investidores ou se o vão gastar em fusões e aquisições. Com a Reserva Federal a parecer disposta a aumentar as taxas altas, o crescimento da liquidez no bloco do dólar USD pode começar a abrandar. Por sua vez, tal pode afectar as posições valorizadas em dólares, em matérias-primas e nas acções de mercados emergentes. Apesar de tudo, perante a perspectiva positiva em acções a curto prazo, especialmente fora dos EUA, estamos satisfeitos por permanecermos investidos nestes mercados. Prevemos uma recuperação retardada nos capitais japoneses ao longo dos próximos meses, à medida que a economia estabiliza.
O aumento dos rendimentos das obrigações deverá restringir os resultados dos mercados accionistas em 2005. No Estados Unidos, deverão acumular-se as provas de inflação, à medida que a economia se aproxima do emprego total. Tal deverá desencadear um aumento nos rendimentos reais em relação aos níveis actuais. Deste modo, os prémios de risco podem continuar em declínio. Contudo, tal ocorrerá na ausência de um re-rating em acções, à medida que a taxa sem risco aumenta. A partir de uma perspectiva relativa, as acções deverão ultrapassar o desempenho das obrigações durante a maior parte de 2005.

MensagemEnviado: 30/12/2004 23:05
por marafado
30-12-2004
Acções em destaque em Portugal

PTM dispara 5% com share buyback
O ano termina no mercado nacional com uma boa notícia - a PT Multimédia anunciou que irá realizar, no decorrer do próximo ano, um programa de recompra de acções, que se deverá estender até 10% do seu capital. Os investidores parecem ter gostado da notícia, na medida em que as acções da empresa dispararam cerca de 4,62%.






30-12-2004

...e no estrangeiro

Natal em cheio faz Amazon subir 14%
A maior retalhista online do mundo teve um Natal em cheio. A época natalícia foi fulgurante para a Amazon, com muitos compradores a socorrerem-se da variada gama de produtos oferecidos no seu site para resolverem aos presentes de última hora. A empresa anunciou que registou a época festiva com maior afluência da sua história, tendo quebrado um recorde diário com mais de 2,8 milhões de produtos encomendados do mundo inteiro.

MensagemEnviado: 30/12/2004 23:04
por marafado
Apostar em dividendos e acções de qualidade
Analistas esperam subidas ligeiras em 2005
Não se espere que 2005 seja um ano bolsista mais fácil do que os últimos 12 meses. Os analistas estimam parcas subidas para os principais índices. A solução para ganhar em 2005 é investir em empresas com alto dividend yield ou com programas de share buyback e em acções de qualidade.

30-12-2004, Mafalda Anjos

Se achou que 2004 foi um ano difícil para investir, não espere melhor sorte nos próximos 12 meses. O Semanário Económico analisou as estratégias recomendadas pelo Credit Suisse First Boston, Merrill Lynch, Goldman Sachs, JP Morgan, Deutsche Bank, UBS, Société Générale e numa coisa todas parecem ser consentâneas: os ganhos que se esperam para 2005 serão modestos. Subidas anuais de dois dígitos como se verificou na década de 90 e em 2003 é coisa que os investidores não deverão esperar nos próximos tempos.
Desde logo, porque o bull market está, segundo os analistas, a esgotar-se. Os mercados sobem já há 22 meses, com os principais índices a acumularem ganhos superiores a 45% desde Março de 2003.
As estimativas apontadas para os principais índices accionistas internacionais revelam ganhos moderados. A Société Générale (SG) aponta uma valor alvo para o final de 2005 de 3000 pontos para o EuroStoxx 50 e de 4320 pontos para o DAX alemão, o que incorpora face aos valores actuais potenciais de valorização de, respectivamente 1,59% e 1,37%. Para o S&P 500, a SG aponta mesmo um valor alvo de 1190 pontos, abaixo dos valores a que o índice norte-americano transacciona actualmente. Mais optimista está por exemplo a JP Morgan, que estima um ganho superior a 5% para este índice em 2005 e de quase 8% para o índice alemão.
Um dos factores que condicionará os mercados prende-se com o provável abrandamento do crescimento económico global em 2005. Os economistas da Merrill Lynch prevêem que o Produto Global cresça a uma taxa de 3,1%, a descer dos 4% em 2004. Este abrandamento afectará todas as principais regiões, com particular incidência na Europa, cujo crescimento deverá estagnar, na opinião da Merrill Lynch.

Apostar em dividendos e share buybacks
Esta situação tem, como é evidente, efeitos perversos para os investidores nos mercados accionistas. Apesar de as contas das empresas estarem saudáveis e os lucros terem estado a crescer a bom ritmo, as empresas têm sido, e bem, cautelosas na forma como estão a gastar a liquidez que conseguiram acumular. Em consequência disso, os balanços estão a registar crescimentos significativos do free cash flow (fundos libertos) e a opção pela qual os gestores estão optar é reembolsar os accionistas através do pagamento de dividendos ou de planos de recompra de acções. O Credit Suisse recomenda apostar em empresas com um elevada taxa de free cash flow e com baixa volatilidade da margem de liquidez. O banco suiço recomenda também a aposta em empresas em que o rendimento dos dividendos (dividend yield) seja inferior à sua taxa de crédito, critério onde aliás destaca a Portugal Telecom.
Por outro lado, a recomendação de várias casas de investimento vai para as empresas ditas de qualidade, entendidas como aquelas que têm uma excelente notação de risco de crédito, as que se comportam melhor em anos de abrandamento do crescimento económico e dos lucros. Seguindo este critério, o Credit Suisse destaca empresas como a Total fina, a Colgate, a Sanofi ou a Atlas Copco.
Nas 30 acções globais reunidas por este banco como as melhores apostas para 2005, destacam-se mais de 10 empresas britânicas. Aliás, a Société Générale diz que 2005 será o ano para as acções do Reino Unido, com risco médio, alto retorno potencial e baixo risco cambial, bem como uma política monetária que oferece suporte real para o mercado accionista. Já que o mercado norte-americano, com baixa volatilidade e risco cambial, oferece pouco retorno.

Viva o luxo!
Um dos sectores recomendados pelo Credit Suisse para 2005 é o dos bens de luxo. Apostar neste segmento é, como se diz na gíria popular, matar dois coelhos de uma só cajadada. Por um lado, os investidores apostam na revalorização da moedas asiáticas, o que faz aumentar o poder de compra dos asiáticos tanto nos mercados interno como externo. A LVMH, por exemplo, tem mais de 30% da sua facturação proveniente da Ásia. Por outro lado, esta é, para estes analistas, uma forma de ganhar com a espantosa expansão da economia chinesa.

Oportunidades vindas de Leste
No seu estudo para 2005 denominado “Year Ahead”, a Merrill Lynch reserva um capítulo para as oportunidades criadas com o alargamento da União Europeia, afirmando que pela sua importância, “este tema merece um espaço no portefólio dos investidores em 2005”. A expansão da União Europeia está a fazer aumentar a procura doméstica nos novos Estados Membros, o que cria boas oportunidades para as empresas ocidentais com exposição àqueles mercados, sobretudo as alemãs.
Estes analistas acreditam que o impacto do alargamento ocorrido há oito meses se traduzirá num choque que obrigará a uma reforma económica e a reestruturações nas empresas que trarão frutos no futuro. O seu conselho para lucrar com esta tendência é apostar em empresas alemãs que estejam a reestruturar-se para se expandir para a Europa de Leste.

Atenção às quedas no mercado de obrigações
Num estudo sobre as perspectivas para o mercado de dívida europeu em 2005, a UBS escreve que quem no futuro olhe para a curva da dívida em 2004 ficará com a impressão de que o investimento foi simples e claro como a água. No entanto, na verdade, este foi tudo menos um ano fácil para as obrigações, apesar de, ao contrário do antecipado por todos, ter sido um ano de ganhos. “2004 foi um dos mais confusos espectáculos a que assistiu o investidor no mercado de dívida”, pode ler-se neste relatório. Para 2005 espera-se que seja um ano bearish para o mercado obrigaccionista, sobretudo nos Estados Unidos, com a Europa a acompanhar mais tarde esta tendência. O tema determinante continuará a ser, naturalmente, a questão da evolução do crosse euro-dólar.

Dólar continuará a resvalar
Um factor determinante para o comportamento dos mercados accionistas é a desvalorização do dólar, uma tendência que é, segundo os analistas, para continuar pelo menos nos primeiros meses de 2005. Por um lado, porque interessa ao Estados Unidos manter a sua moeda fraca de forma a controlar os famosos e gigantescos défices gémeos. Por outro, porque os banco centrais internacionais ainda não se consertaram de forma a controlar a desvalorização da moeda norte-americana. A Merrill Lynch espera que o dólar permaneça fraco até meio do ano, altura em que a moeda norte-americana deverá atingir o fundo. As previsões dos valores médios para o primeiro trimestre de 2005 apontam para um valor de 1,39 euros face ao dólar, atingindo no último trimestre os 1,36 euros. Já a JP Morgan espera que o dólar continue a subir até ao último trimestre do ano, apontando 1,34 como o valor alvo para Dezembro de 2005.

MensagemEnviado: 30/12/2004 23:03
por marafado
30-12-2004
Análise de Bolsa

PTM brilha com anúncio de share buyback
A passagem do Natal e a antecipação do ano novo ditaram uma semana de fraca liquidez na praça nacional. A Euronext Lisboa encerrou quase sempre perto da linha de água, o que se traduziu numa fraca valorização. No período compreendido entre 22 e 29 de Dezembro, o PSI-20 sofreu uma valorização praticamente nula de 0,03%.

MensagemEnviado: 30/12/2004 23:02
por marafado
A grande farra
Desde a introdução do euro que os aforradores têm sido os prejudicados, conhecendo sucessivamente taxas reais negativas.

30-12-2004, Mário Vigário

Será seguramente lacuna minha, mas apenas me lembro de no último ano ter lido ou ouvido publicamente dois economistas debater o problema de fundo da nossa economia - a sobrevalorização da moeda.
Não estamos a falar da desvalorização do dólar norte-americano. Esse fenómeno dura há apenas dois anos, e tem afectado de forma menor países como a Alemanha do que países exportadores de produtos de menor valor acrescentado como a Itália e Espanha, cuja quebra recente das exportações reflecte em grande parte a perda de competitividade face a países como a China, que têm a sua divisa indexada à moeda norte-americana. A nossa moeda é o escudo, ou a taxa de câmbio real se preferirmos, e convém começar a recordá-lo à medida que esta se continua sucessivamente a valorizar desde a década de noventa. Isto porque, como o Prof. Manuel Pinho ilustrou recentemente num seu artigo, o mesmo não aconteceu com países como a Espanha, Irlanda ou até mesmo a Grécia nos anos mais recentes.
Convém recordar também que a evolução dramática dos nossos défices não nos permite tecer qualquer comentário crítico face aos famosos “twins” norte-americanos. Como é possível que o escudo esteja a valorizar face ao dólar com esse argumento, quando a maior diferença entre os dois países se pode resumir por práticas contabilísticas que em conceito são muito próximas das que no sector privado vimos alguns gestores irem para a cadeia nos Estados Unidos?
A resposta simples que consiste na credibilidade emprestada do euro não nos deve nem pode continuar a anestesiar por muito mais tempo. A moeda única é um projecto muito ambicioso e importante, mas também pioneiro e com uma história muitíssimo curta. Como o caso da reunificação da Alemanha tem demonstrado, o aumento da heterogeneidade de zonas económicas necessita de uma homogeneidade política que a Europa nunca vai ter. Até a (des)honrosa excepção feita para o cumprimento dos objectivos de política fiscal é potenciadora de uma má afectação de recursos ao longo das gerações. Se todos os países, a começar pelos mais importantes, arranjam soluções de recurso perversas para justificar o cumprimento de objectivos, para quê mantê-los? Veja-se o caso português, em que não se resolveu o défice de forma estrutural, e através da transferência de activos dos fundos de pensões para a Caixa Geral de Aposentações se está a regredir na solução do grave problema do financiamento da segurança social, transferindo o ónus para as gerações vindouras.
Desde a introdução do euro que os aforradores têm sido os grandes prejudicados, conhecendo sucessivamente taxas reais negativas. Por outro lado, a fortíssima descida das taxas de juro na última década provocou um aumento do rendimento disponível nas famílias que talvez não tenha paralelo no século, pois uma parte muito significativa era alocado a crédito para habitação própria. É com esse “subsídio” que todos andamos a trocar de carros e casas, ajudando à espiral crescente dos preços da habitação, tornando-nos todos mais ricos. E se o endividamento se tem sido proveitoso para as famílias, é pena para o país que o aumento da função utilidade destas se tenha centrado no consumo privado (com grande componente importada), que tem desequilibrado as contas externas. A gestão dos ciclos eleitorais é talvez o maior desafio que hoje se põe à sociedade na encruzilhada em que a economia portuguesa se encontra. Porque a terapia é longa e reside em grande parte na contracção da procura, o interesse nacional necessita de um consenso e um de pacto de regime entre os dois maiores partidos políticos sobre estas questões.
É tempo de acabar com a farra. As boas notícias são que o preço do dinheiro pode continuar muito barato para nós portugueses, que neste momento não o merecemos. Se já estivéssemos fora do euro, com o estado das nossas contas públicas, provavelmente estaríamos a financiar as nossas casas a 10%. As más notícias são que não podemos pedir mais para consumir. Só para investir, e isto aplica-se a todos, a começar pelo Estado.

MensagemEnviado: 30/12/2004 22:57
por marafado
30-12-2004
Inquérito a gestores, empresários e economistas revela pessimismo

Mais um ano a marcar passo
Um inquérito do “Semanário Económico” aos principais empresários, gestores e economistas nacionais mostra que o pessimismo está instalado. A economia vai continuar estagnada em 2005, e os problemas só se resolverão com um Pacto de Regime. É preciso reformar a Função Pública e reduzir o peso do Estado na Economia. As empresas planeiam continuar a cortar custos.

MensagemEnviado: 30/12/2004 22:54
por marafado
Entrevista a Francisco Oliveira
Sonaecom, Impresa, Jerónimo Martins, Sonae e Portugal Telecom são as apostas para 2005
Francisco Oliveira foi o gestor de acções portugueses que maior retorno conseguiu “tirar” das acções da Bolsa de Lisboa este ano. O “seu” fundo Barclays Acções Portugal bateu o índice PSI-20 e a concorrência com uma valorização de 23,43% nos últimos 12 meses. Aqui ficam, em discurso directo, as escolhas que levaram ao sucesso em 2004 e as perspectivas para 2005.

30-12-2004, André Veríssimo

Os retornos do mercado português em 2005 serão melhores que em 2004?
Este ano foi bastante bom, quer em termos de desempenho do índice [PSI-20], quer dos fundos de acções nacionais. Espero que 2005 seja melhor, apesar de começarmos o ano com alguma instabilidade, com um Governo de gestão até meados de Fevereiro. Isso pode provocar alguma expectativa por parte dos investidores e das empresas que têm mais negócios com o Estado.

Mas pode paralisar o mercado?
Não. Já andamos com modificações no Governo desde que Durão Barroso saiu e o mercado não parou. Os indicadores de confiança dos consumidores nos primeiros meses vão ser muito importantes. Se a confiança aumentar, terá um efeito dinamizador.

O sector de media teve em excelente comportamento este ano. Vai continuar em 2005?
Penso que sim. É um sector que continuará a ter um grande fluxo de notícias. Tem reorganizado a estrturura accionista. Tem adoptado estratégias de diferenciação com criação de valor para os accionistas. É um sector que vai crescer muito. Temos a Cofina, que está a separar a parte industrial da de media. Temos a história da Lusomundo Media, que também vai ser interessante.

Em que outros sectores aposta?
Gosto do sector de retalho. Existe alguma expectativa em relação à atribuição de novas licenças. A Jerónimo Martins está a fazer um trabalho que vai dar frutos. É o caso do investimento planeado para a dinamização da rede. Destacava também o bom trabalho feito pela Sonae, que levou a cabo uma restruturação interna e externa. À pouco tempo fez a aquisição da participação da Carrefour no Modelo, o que demonstra uma vontade de consolidar a sua actividade principal. Está ainda a fazer a cisão da Sonae Indústria. A Sonaecom é um activo que também está a criar valor.

Mais sectores a destacar?
As telecomunicações. Se compararmos a performance da Portugal Telecom com a das suas pares europeias em termos de PER [rácio entre lucros e cotação] e de EBITDA, vemos que está a ficar atractiva. Isto apesar de estar a perder alguma margem no Brasil. A venda da Lusomundo Media pode também ser um click, conforme os valores envolvidos no negócio.

Talvez não esteja tão atractivo, mas é impossível não falar da banca, dado o seu peso na Bolsa. Quais as perspectivas para o sector no próximo ano?
Acho que temos que começar a olhar para o que se passa lá fora. Veja-se a aquisição do Abbey National pelo Santander. A dimensão do mercado é muito diferente, mas acho que podem haver movimentos de consolidação em Portugal. Lá fora temos assistido a movimentações na banca e nos sistemas de informação. Em Portugal, os sistemas de informação já começaram a mexer com a ParaRede. O sector da banca tem estado mais parado. Mas há bancos no mercado que são atractivos.

Essa consolidação será entre os bancos portugueses ou uma aquisição por um banco estrangeiro?
Acho que pode haver aumento de participações de bancos estrangeiros em bancos portugueses. Uma consolidação interna parece-me improvável.
Uma aposta em títulos da banca seria sobretudo especulativa?
É uma aposta especulativa, mas procurando dentro do sector as acções que estão atractivas. É o caso do BPI, o eterno candidato à consolidação. O BCP tem feito um importante esforço de restruturação e reorganização. A partir de Janeiro entram em vigor as novas normas internacionais de contabilidade, o que terá um impacto nos resultados. Aqui, o BPI será o mais beneficiado.

A EDP também é um título incontornável...
O que falta é a Comissão Europeia permitir o negócio do gás. O que pelos vistos não vai acontecer. No recente investor day apresentaram um crescimento de 35% do EBITDA e de 7% a 8% do dividendo até 2007. É uma acção que é importante ter em carteira pela criação de valor que tem. Podem haver movimentos por parte dos investidores ao longo do ano até à questão do gás estar resolvida. O título está um pouco condicionado por causa disso. Mas o valor está lá.

No início deste ano, dizia-se que à medida que os meses avançavam seria conveniente privilegiar títulos mais defensivos. Na conjuntura actual faz sentido optar por esta estratégia?
O que aprendi ao longo destes anos é que a atitude muda muito depressa. Há tanta informação, o fluxo de notícias é tão grande, que podemos estar numa atitude mais defensiva e termos que procurar empresas com maior risco. As restruturações de algumas empresas portuguesas levou-os a abandonar posições mais defensivas para nelas investir. No início do ano vamos entrar defensivos, cautelosos, mas em algumas empresas, e com a existência de restruturações, vamos entrar em empresas menos defensivas.

A Brisa, uma empresa tipicamente defensiva, teve um bom desempenho em 2004. Acha que as empresas defensivas vão continuar a ter uma boa performance?
Acho que sim. São empresa sensíveis às variações nas taxas de juro. Penso que é necessário ter em atenção quando as taxas subirem na Europa. Mas é uma empresa boa para ter em carteira e tem algum potencial de valorização. A EDP é outra empresa defensiva. Mas prefiro a Brisa pelo seu potencial de valorização. A EDP teria de estar investido porque de um momento para o outro a questão do gás pode-se resolver e é preciso apanhar o comboio.

Na última revisão do PSI-20, entraram duas empresas de tecnologia para o principal índice da bolsa de Lisboa. Este sector também tem pernas para andar?
Penso que sim. É um sector que sofreu imenso no início do milénio com a bolha especulativa. Os investidores deixaram de acreditar nessas empresas. Mas é um sector que quer mudar, que quer inovar, quer crescer, quer consolidar...

As acções da ParaRede valorizaram muito este ano, embora esteja ainda muito longe dos máximos registados durante a bolha. Existe potencial para mais ganhos?
Enquanto houver movimentos de restruturação que criem valor... A ParaRede está a fazer aquisições e quer ganhar quota de mercado.

Falou já de algumas acções que considera terem qualidade. Mas quais são as suas principais apostas para 2005?
Nos media, a Sonaecom e a Impresa. Estão ambas a fazer um bom trabalho de restruturação. No retalho, a Jerónimo Martins e a Sonaecom. Nas telecomunicações escolho a Portugal Telecom. Mas estaria bastante observante em relação aos resultados finais do Brasil. Prestaria também atenção ao impacto do Optimus Home na linha fixa, embora não se espere que venha a ser substancial. Por fim, será importante o impacto que a venda da Lusomundo Media poderá ter na Portugal Telecom e na PT Multimédia.



“Primeiros três meses vão definir o ano”
As empresas de media, telecomunicações e holdings estão entre as com maior peso no fundo que gere. Esta estratégia é para manter?
É para manter. Mas internamente em cada sector as empresas em que apostamos podem variar. Depende das histórias individuais. Estaria muito atento ao que se vai passar nos primeiros três meses de 2005. Acho que vão definir a performance no resto do ano.

Pelas medidas que as empresas deverão anunciar no primeiro trimestre?
Exactamente. Este ano também se desenhou nos primeiros meses. As apostas feitas no início do ano ditaram em boa parte a performance do fundo. Com o mercado na expectativa, as empresas que derem boas notícias vão-se evidenciar e serão recompensadas pelo mercado.

Que outros segredos pode contar sobre o sucesso do fundo em 2004?
O nosso mercado é prejudicado por ter algumas acções com muito pouca liquidez. O que às vezes inibe os investidores. Mas quando olhamos para essas empresas e “descascamos” o balanço vemos que têm valor intrínseco. O que fizemos este ano foi olhar para algumas dessas empresas e acreditar que iam dar a volta ao mau momento que atravessaram. E essas apostas correram bem.

Que apostas foram essas?
Correu-nos particularmente bem a ParaRede. A Ibersol e a Cofina foram também boas apostas. Pelo facto de serem títulos com fraca liquidez temos que fazer o investimento com alguma antecipação. E correu bem. Depois, foi o aumento e a redução da exposição às blue chips que nos permitiu ganhar alguma diferenciação. A estratégia é montada com alguma antecipação. E é o que estamos a fazer este ano. O trabalho não começa no dia 1 de Janeiro. O nosso trabalho é procurar constantemente valor no mercado.

Bilhete de identidade
Francisco Oliveira é há três anos gestor de acções portuguesas. Sob sua responsabilidade estão o Barclays Premier Acções Portugal e o Barclays Fundo Poupança Acções. Os melhores do mercado em 2004 na sua classe. É ainda responsável pelo research de empresas de tecnologia, media e telecomunicações.
Antes da gestão de fundos, geriu patrimónios durante cinco anos, também no Barclays, para onde entrou em 1997. A carreira começou dois anos antes no já extinto Banco Fonsecas & Burney.
Francisco Oliveira, de 32 anos, é licenciado em Gestão de Empresas pela Escola Superior de Gestão de Santarém. Tem uma pós-graduação em Gestão de Instituições Financeiras da Universidade Católica. É ainda autor de uma tese em Contabilidade e Administração Financeira no ISCAL.




















Fich

As doze grandes questões para o ano de 2005

MensagemEnviado: 30/12/2004 22:52
por marafado
As doze grandes questões para o ano de 2005
Esquecer rapidamente 2004 é uma das tarefas para os próximos 12 meses. A procura de estabilidade política irá marcar a primeira metade de 2005. Um ano onde se espera que a economia recupere, que não exista consolidação orçamental, que o dólar continue “barato” e o petróleo “caro”, e que existam poucos, muito poucos negócios.

30-12-2004, Semanário Económico

1 - Vamos realmente sair da crise económica?
O ano 2004 foi o ano de todas as frustrações. Para que não aconteça o mesmo em 2005 é necessário que as expectativas não sejam muito elevadas. A projecção de crescimento inscrita pelo actual governo no Orçamento do Estado para 2005 (OE2005) é de 2,4%. É aconselhável que este seja considerado um cenário optimista, uma vez que as incertezas são muitas.
Depois da economia portuguesa ter registado uma evolução negativa do seu Produto Interno Bruto (PIB) por mais de dois trimestre consecutivos em 2002 e 2003, este parecia ser o ano de viragem. As esperanças acabaram por ser defraudadas. O PIB ainda cresceu na primeira metade do ano mas, de acordo com os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), voltou a apresentar uma evolução negativa no terceiro trimestre. Falta conhecer os números do período entre Outubro e Dezembro, mas os indicadores avançados e de clima económico são tudo menos animadores. Segundo várias previsões, o crescimento no final deste ano deverá ser de 1%. Saltar para 2,4% num ano em que não haverá um Governo operacional no primeiro semestre, e em que a retoma europeia está longe de ser certa é, portanto, um cenário (bastante) optimista.
Preocupante é também o modelo de crescimento da economia nacional, que tem assentado fundamentalmente na procura interna, isto é no consumo e investimento privados. Estes dificilmente poderiam crescer mais, até porque têm de ser, em grande parte, alimentados por importações e financiados por empréstimos.
Como a maioria dos economistas tem feito notar, Portugal tem de conseguir ser mais competitivo nos mercados internacionais, fazendo crescer as suas exportações a um ritmo substancialmente superior ao das importações. A este respeito os dados mais recentes divulgados pelo INE são desanimadores. No boletim do INE relativo às contas trimestrais de Julho a Setembro pode ler-se que as exportações de bens e serviços perderam ritmo face ao segundo trimestre, tendo aumentado apenas 4,5% em volume, em termos homólogos (ou seja face ao mesmo trimestre de 2003). O mau momento registou-se tanto nos serviços, (onde o Euro-2004 poderia ser a explicação) como na indústria. Por seu turno, as importações que também perderam ritmo, registaram ainda assim um crescimento homólogo de 6,5% no terceiro trimestre. Significa isto que o abrandamento das importações não foi suficiente para compensar a desaceleração das exportações, ou seja, que as exportações líquidas (subtraídas das importações) tiveram um contributo negativo para o crescimento. O cenário torna-se mais grave quando consideramos que o volume das exportações é muito inferior ao das importações. Quer isto dizer que mesmo que as exportações cresçam acima das importações, o contributo das exportações líquidas para o crescimento poderá ser negativo. É exactamente isso que o cenário optimista do OE2005 contempla: exportações e importações a aumentarem, respectivamente, 6,2% e 5,6%, mas as exportações líquidas a subtraírem 0,2% ao crescimento da economia. Para alterar esta situação caberá aos empresários portugueses serem mais dinâmicos, e ao Estado incentivar especialmente os sectores de bens transaccionáveis. Para o próximo ano, as previsões médias das principais instituições internacionais apontam para uma taxa de crescimento de 2% mas, a julgar por algumas recentes revisões em baixa, as más notícias podem ainda não ter acabado. Expectativas baixas parecem mesmo ser o segredo para não entrar em depressão, pelo menos psicológica.

2 - A estabilidade política vai regressar?
Um dos poucos temas que reúne consenso entre partidos do Governo e forças da oposição. Foi em nome da estabilidade que Jorge Sampaio dissolveu o Parlamento e será em nome da estabilidade que, em 2005, os partidos vão fazer campanha.
No novo ano, os portugueses serão três vezes chamados às urnas. As eleições legislativas, a 20 de Fevereiro, vão ditar o rumo do País para os próximos quatro anos.
As sondagens apontam para uma vitória socialista, mas a incerteza do resultado perspectiva vários cenários. Entusiasmado pelas sondagens, José Sócrates elevou a fasquia ao apelar à maioria absoluta. Se os portugueses acederem ao pedido, o líder do PS alcança uma esmagadora vitória que lhe dará legitimidade para pôr mãos à obra sem recorrer a terceiros. Perante um cenário de maioria relativa, a vitória de Sócrates saberá a pouco e o novo Executivo andará na “corda bamba”. Duas hipóteses emergem: ou o PS forma coligação com um partido de esquerda ou cria-se um pacto de regime entre PS e PSD.
A primeira já foi rejeitada, mas não pode ser considerada carta fora do baralho. A segunda parece muito pouco provável, mesmo que estejam em causa matérias de interesse nacional. Em última hipótese, Sócrates pode utilizar a arma que Guterres nunca quis: recusar-se a formar Governo sem maioria absoluta e arrastar o País para novo sufrágio. A estabilidade ficará ameaçada.
Mas quem mais tem a perder em 2005 será Santana Lopes. No caso de derrota, os críticos internos do partido tudo farão para tomar o seu lugar e a esperança que ainda alimenta sobre uma possível candidatura à Presidência da República dissipar-se-á. Santana joga nas próximas eleições o seu presente e o seu futuro.

3 - Quais serão os novos protagonistas da cena política?
Espera-se que 2005 seja o ano do regresso de alguns bastiões da política nacional.
No PS, o ano termina com o regresso do “filho pródigo”, António Vitorino, que depois de cinco anos em Bruxelas voltou para coordenar o programa de Governo socialista. Fontes do partido já o colocam na pasta dos Negócios Estrangeiros. No caso de uma pouco provável derrota nas urnas, é um importante candidato a secretário-geral.
2005 perfila-se ser um ano de convulsões dentro do PSD. A já contestada liderança de Santana Lopes promete aquecer com uma derrota eleitoral. Do voto popular irá emergir a continuidade do presidente ou a aposta na alternativa. No congresso de Barcelos, Marques Mendes foi a única voz crítica à rota que o partido estava a traçar. Manuela Ferreira Leite nunca escondeu a sua antipatia por Santana Lopes e no último mês foi a vez de António Borges. O economista está disponível para “fazer uma profundíssima renovação no PSD”.
Legislativas à parte, 2005 será também o ano em que Cavaco Silva irá quebrar o tabu das Presidenciais. A pouco e pouco o antigo primeiro-ministro tem regressado à cena política. Estará de volta? A resposta está prometida para o Verão.



4 - Será o ano de consolidação orçamental?
“Se não houver solução, o país entra mais cedo numa situação de défice excessivo”. As palavras são de Vítor Constâncio, governador do Banco de Portugal, à saída de uma reunião com o Presidente da República após ser conhecido o chumbo do Eurostat à operação de lease and lease back de imóveis do Estado preparada por Bagão Félix para conseguir cumprir o Pacto de Estabilidade e Crescimento. Vítor Constâncio mostrava assim a sua preocupação em relação à situação orçamental portuguesa e a expectativa de que, em 2005, os problemas continuem a verificar-se.
Este ano, o Ministro das Finanças teve que recorrer a receitas extraordinárias de quase 3 mil milhões de euros para conseguir manter o défice orçamental abaixo dos 3% do PIB. A solução passou pela incorporação dos fundos de pensões de quatro empresas públicas - ANA, NAV, Casa da Moeda e Caixa Geral de Depósitos. Ao todo, Bagão Félix foi obrigado a encontrar quase o dobro das receitas extraordinárias inicialmente previstas pela sua antecessora Manuela Ferreira Leite. Para 2005, o Orçamento do Estado (OE) apresentado por Bagão Félix prevê o recurso a 1,85 mil milhões de euros em receitas extraordinárias, o que corresponde a 1,4% do PIB. Este é um cenário optimista, uma vez que a maioria dos analistas considera que as previsões de receitas inscritas no OE2005 estão empoladas.
Sobre o défice do próximo ano Vitor Constâncio afirmou na mesma altura: “o Orçamento do Estado para 2005 não contém medidas suficientes para baixar o défice”, o qual só pode ser combatido com “medidas difíceis e penosas”.
Em fase de eleições legislativas e autárquicas e com o novo Governo a entrar em funções a meio do ano, é pouco provável que 2005 possa ser um ano de consolidação. É bem mais provável que voltem a ser as manobras contabilísticas a equilibrar as contas a apresentar em Bruxelas.


5 - O dólar vai continuar a depreciar-se?
O dólar deverá continuar a depreciar em 2005. É que para haver qualquer alteração no preço da nota verde seria necessário que as razões para a sua descida se alterassem de forma evidente. Tal não parece provável.
Os Estados Unidos da América estão a gastar mais do o que o que ganham, seja ao nível das famílias e empresas, seja ao nível do Estado. Estas são as razões para os já famosos défices gémeos, que é como quem diz, externo e orçamental (5,6% e 5% do PIB, respectivamente). Ambos máximos históricos.
Apesar da equipa de George W. Bush garantir que quer um dólar forte, o facto é que se verifica uma grande distância entre o discurso e a prática. E percebe-se porquê: a depreciação do dólar “ajuda” ambos os défices.
Por um lado, a Administração Bush está a gastar mais do que arrecada em impostos e contribuições. Significa isso que acumula défices orçamentais, os quais financia através de emissão de dívida pública. Em relação a este desequilíbrio W. Bush não parece muito preocupado, tendo mesmo prometido em campanha eleitoral futuras descidas de impostos. Neste contexto a desvalorização é bem vinda uma vez que diminui o valor das dívidas dos EUA face aos estrangeiros que compraram Treasuries.
Por outro lado, os EUA gostam muito de produtos importados. Isto faz com que as suas importações ultrapassem em larga medida as exportações. Como resultado, a maior economia mundo tem vindo a acumular défices comerciais. Também aqui uma desvalorização do dólar é bem vinda, uma vez que torna as suas exportações mais competitivas, por oposição aos produtos importados que chegam mais caros aos consumidores norte-americanos.
Como estes são desequilíbrios estruturais que levam tempo a corrigir, e uma vez que não há sinais evidentes de preocupação por parte dos EUA, não parece haver grande margem de manobra para uma inversão da tendência de descida do dólar.
Neste problema deve também ser equacionado o facto de uma depreciação demasiado forte ameaçar o lugar do dólar enquanto moeda de referência. Um preço que os EUA não vão querer pagar.


6 - Os mercados de capitais continuarão a ganhar?
Se há ponto em que as casas de investimento ecoam a uma só voz, é certamente neste: os ganhos em 2005 serão apenas modestos. É bom que os investidores esqueçam por alguns anos os ganhos de dois dígitos e se habituem a parcas subidas dos mercados accionistas, talvez até ainda abaixo do que foi registado em 2004. Até 28 de Dezembro, os principais índices de referência acumulam subidas anuais ligeiras quando comparadas com os ganhos a que a década de 90 nos habituou. O índice global MSCI World avança 9%, o índice industrial norte-americano Dow Jones sobe escassos 4%, enquanto o tecnológico Nasdaq trepa 10,65%. Na Europa, o EuroStoxx50, que reúne as 50 maiores empresas europeias, sobe 7%, e o índice português PSI-20 avança 12,78%.
Vários factores contribuem para este cenário de mornas previsões. Instabilidade a nível da macroeconomia internacional, com os défices gémeos nos Estados Unidos e o abrandamento económico na Europa a ensombrarem as previsões para o próximo ano, receios da permanência dos altos níveis do preço do petróleo, que subiu cerca de 30% em 2004 registando máximos históricos sucessivos, a inversão do ciclo de taxas de juro nos Estados Unidos e a continuação da queda do dólar nos mercados cambiais dificultam o caminho a trilhar em 2005 para os investidores.
Nos mercados accionistas, o mote para ganhar em 2005 é apostar em empresas de “qualidade”, com boa notação de risco de crédito. Esqueça as small caps endividadas, as histórias de reestruturação duvidosas, as pechinchas desconhecidas que o amigo lhe recomendou. A estratégia unanimemente considerada vencedora é olhar para as grandes empresas de balanços saudáveis e muito free cash flow (fundos libertos), e de preferência, com muito dinheiro para reembolsar os accionistas que nelas apostam através do pagamento de dividendos ou de planos de recompra de acções que fazem disparar o preço das acções. Uma forma de compensar os ganhos modestos conseguidos através da subida dos mercados é investir em empresas com dividend yields superiores a 3%, onde os ganhos são mais seguros.


7 - As taxas de juro na Europa vão começar a subir?
No próximo ano vão regressar os aumentos das taxas de juro na Europa. O Banco Central Europeu tem adiado o início do ciclo de subida dos juros nos últimos meses, devido à forte valorização do euro contra o dólar nos mercados cambiais e às reduzidas pressões inflacionistas que actualmente se verificam, apesar do aumento do preço do petróleo nos mercados internacionais.
Os responsáveis da autoridade monetária europeia estão preocupados com o impacto negativo que a queda do dólar poderá ter na ainda frágil retoma da economia europeia e têm tentado evitar ao máximo optar pela subida do preço do dinheiro. No entanto os analistas de mercado apontam para uma subida no segundo semestre do ano. Existem no entanto alguns especialistas que defendem que se as exportações europeias evoluírem negativamente, a instituição liderada por Jean Claude Trichet poderá vir a reduzir as taxas a que empresta dinheiro aos bancos da zona euro. Esta não é no entanto a hipótese considerada central, até porque a autoridade monetária norte-americana dá sinais ao mercado de que manterá a sua política de aumento gradual da sua taxa de juro de referência.
Voltando ao cenário central, as previsões dos especialistas apontam para que o primeiro aumento da taxa de refinanciamento do Banco Central Europeu possa ser de 25 a 50 pontos base, dependendo da evolução da economia europeia ao longo da primeira metade de 2005.
Se as projecções se concretizarem, a taxa de juro da zona euro poderá voltar a aproximar-se da taxa de refinanciamento nos EUA, a qual aumentou de 1% para 2,25% depois da Reserva Federal norte-americana ter aumentado por cinco vezes a sua taxa de referência ao longo de 2005. Recorde-se que este ano o BCE não alterou a sua taxa central, que está actualmente nos 2%.


8 - O preço do petróleo vai voltar abaixo dos 40 dolares?
Os tempos do petróleo barato acabaram. Esta é uma ideia à qual as economias industrializadas e os seus consumidores vão ter de se habituar.
O preço do barril de petróleo no mercado internacional poderá até baixar os 40 dólares, embora em termos médios não se espere que seja transaccionado muito abaixo desse valor.
Esta semana o preço do barril era de 39 dólares em Londres e de 41,47 em Nova Iorque (o crude transaccionado nos EUA necessita de menos refinação, sendo por isso mais caro).
O objectivo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), que junta onze dos maiores produtores (os quais detém cerca de 75% das reservas conhecidas) é que o seu cabaz de sete crudes possa ser transaccionado abaixo dos 35 dólares - valor a que estava de resto a ser transaccionado esta semana.
A diferença entre o preço da OPEP e o praticado no mercado é explicada pelas margens dos intermediários e pelo facto dos crudes transaccionados em Londres e Nova Iorque serem das qualidades mais elevadas (especialmente nos EUA).
Mas, a variável mais relevante na equação que determinará a evolução do preço do petróleo é a procura mundial. Até à década de 90, o poder da OPEP para controlar o preço do petróleo era grande, uma vez que produzia aquém das suas capacidades. A realidade actual não é bem esta.
Com a crescente integração na ordem económica mundial de grandes economias como a China e a Índia, especialmente desde a sua aproximação à Organização Mundial de Comércio, a procura de petróleo tem vindo a aumentar significativamente. De tal forma que durante 2004 a OPEP esteve por diversas vezes a produzir muito próximo do limite das suas capacidades. A alta no preço do petróleo resulta assim essencialmente do excesso de procura face às capacidades de oferta.
Neste contexto, e considerando que a China e a Índia ainda consomem, por habitante, muito menos petróleo do que a Europa ou os EUA, será de esperar que a pressão de alta continue em 2005. Para perceber o que será o próximo ano, ajudará a avaliação das condições de mercado que sairá da próxima reunião da OPEP no final de Janeiro.

9 - A Constituição Europeia sobreviverá a 2005?
Depois de um longo processo de aprovação do Tratado que institui a Constituição Europeia, que os Vinte e Cinco assinaram a 29 de Outubro em Roma, segue-se agora o penoso processo de ratificação. “Penoso” porque onze países da União Europeia (UE) optaram por ratificar o Tratado, através de referendo, sendo cada um deles na melhor das hipóteses um susto e na pior o funeral da Constituição Europeia. Em particular são as consultas populares em França e no Reino Unido, marcadas para o segundo semestre de 2005, que deixam maiores dúvidas.
A Constituição marcou um ponto quando os socialistas franceses, num referendo interno, decidiram dar o apoio à sua ratificação na futura campanha. Em Londres, o caso é mais complicado. Os britânicos, com uma maioria de eurocépticos congénitos, continuam a dizer “não” a esta Constituição em sucessivas sondagens e o Partido Trabalhista mantém-se muito afastado da posição pró-europeia de Tony Blair. Só com a ratificação dos Vinte e Cinco, à primeira, é que o Tratado entra em vigor no dia 1 de Novembro de 2006. Caso contrário, o Tratado de Nice, pouco funcional numa UE alargada, continuará a vigorar e as reformas previstas na Constituição – que no essencial cria a figura de um presidente permanente do Conselho, de um ministro dos Negócios Estrangeiros da UE, reforça os poderes do Parlamento, reduz a voto por unanimidade e modifica o sistema de votação por maioria qualificada – ficam na gaveta. Depois do parlamento lituano e húngaro já terem ratificado a Constituição, todas as atenções estão viradas para o primeiro país que convocou o referendo: Espanha, dia 20 de Fevereiro. O Luxemburgo é o seguinte , no dia 10 de Julho. O referendo em Portugal, que estava previsto para Abril ou Maio de 2005, será no mínimo adiado não só pela realização das legislativas, como também por o Tribunal Constitucional (TC) ter chumbado a pergunta, formulada pelo PS e PSD/CDS. O episódio é quase uma repetição do chumbo do TC à pergunta para o referendo sobre o Tratado de Amesterdão (1998) que acabou por ser aprovado depois em São Bento.


10 -Quanto perderá Portugal em fundos europeus?
As primeiras estimativas do governo português apontam para uma perda de 10% de fundos comunitários no quadro financeiro de 2007-2013. Mas a factura pode ser muito mais pesada para Portugal até Junho de 2005, data prevista para o fim das negociações do próximo Quadro Comunitário de Apoio (QCA).
A fragilidade de Lisboa, que enfrenta a etapa crucial do debate com um governo demissionário, agrava o cenário já marcado pelas exigências do Reino Unido, Holanda, Suécia, Áustria, Alemanha e França (grupo dos Seis) de limitar o orçamento europeu a 1% do PIB, contra os actuais 1,24% e concentrar a política regional nos dez novos estados, em detrimento dos veteranos, como Portugal, Grécia e Espanha. A proposta do Grupo dos Seis corta as projecções orçamentais da Comissão 2007-13 de 1025 mil milhões de euros para 815 mil milhões de euros. E esta é só a face mais simpática dos Seis. O Reino Unido, Suécia e Holanda querem ir ainda mais longe e mudar as regras de acesso aos fundos, para que os países com um rendimento per capita superior a 75% da média europeia sejam excluídos dos fundos estruturais. Portugal escaparia por uma décima, segundo as estatísticas de 2003, mas Espanha e Grécia perderiam o acesso ao grosso dos fundos comunitários.
A tentativa de cortar na política regional mostra que os contribuintes líquidos (que pagam mais do que o que recebem da UE) querem financiar a agenda política e o alargamento à custa de poupança nos fundos comunitários. Os beneficiários líquidos, como Portugal, reagiram com a criação do “grupo da coesão”, cuja proposta base é o aumento do orçamento e a distribuição “equitativa” dos fundos entre novos e velhos membros. Só que este grupo, que chegou a ter 16 países, começa a dar sinais de cisão, com o abandono de Malta e Estónia e um incómodo latente da Polónia, principal beneficiária de fundos no IV QCA. Os novos países sabem que o apoio aos Seis lhes traria maiores dividendos que a proposta de dividir 50-50 os fundos entre novos e velhos estados.
O calendário das negociações do QCA, que em princípio devia ser concluído durante a presidência luxemburguesa, pode ser baralhado pelas eleições britânicas no primeiro semestre de 2005.


11 -Como reagirá o sector têxtil à invasão chinesa?
Depois de 1 de Janeiro de 2005 a moda internacional será dominada pelos padrões orientais, data a partir da qual o mundo assistirá à liberalização do comércio de têxteis e vestuário. Apesar de as cabaias e os fatos cinzentos à Mao entrarem de vez em quando nas passerelles, desta vez o Ocidente olha com muita desconfiança para a indústria têxtil do Extremo Oriente. Portugal é um dos países que receiam a invasão dos têxteis e vestuário chineses, que no início de 2005 deixam de estar sujeitos a quotas e contingentes ao entrar no mercado europeu. Os direitos aduaneiros, que variam entre os 7% e 9% na União Europeia (UE) e EUA respectivamente, podem manter-se. Mas serão insuficientes para travar as exportações têxteis chinesas que em dois anos passaram de uma quota de 9% para 65% nos EUA e cresceram 18% na Europa.
Depois do falhanço do lobby têxtil para adiar a liberalização para 2008, vários estados, entre os quais Portugal, vêem chegar ao fim o “balão de oxigénio” que protegia uma indústria decadente que em dez anos não conseguiu libertar-se de ser rentável à custa de trabalho barato. O sector emprega cerca de 200 mil pessoas em Portugal, representa entre 3,5 e 4% do PIB nacional e contribui para 17% das exportações totais. Mas 2005 será mais um ano do declínio destes números – com novas vagas de deslocalização ou fecho puro e simples das fábricas – que traduzem o peso do sector têxtil em Portugal. As associações têxteis nacionais apontam para a perda de 100 mil postos de trabalho no País, sobretudo em sectores que nada acrescentam em design, logística ou serviço. É o caso das confecções nacionais e o têxtil-lar de baixo preço que a concorrer com a China não tem hipóteses.
Em dez anos, depois dos membros da Organização Mundial do Comércio (OMC) terem iniciado o processo de liberalização, a reestruturação da indústria nacional custou já entre 80 e 90 mil empregos. Ainda assim, à semelhança do que também acontece com a Lituânia, Portugal continua a ser um dos países mais especializados da UE nos têxteis. No entanto, ambos os países estão isolados no contexto da UE, onde o sector têxtil, dependente de mão-de-obra intensiva, há muito que deixou de ter um grande peso na estrutura produtiva.
Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a produção e o emprego na indústria têxtil na Europa caiu 8,5% entre 2001 e 2002, mas a queda do sector é anterior ao aparecimento da China. “As mudanças tecnológicas, a evolução do custo de produção e a deslocalização fabril para a zona euro-mediterrânea” explicam também a contracção da indústria europeia, refere o FMI. A indústria têxtil factura 227 mil milhões de euros por ano e emprega ainda 2,7 milhões de pessoas na Europa alargada.


12 - Quais serão os grandes negócios para 2005?
Energia
É aguardada para o primeiro semestre de 2005 a aquisição da Gás de Portugal (GDP), sub-holding da Galp Energia para os negócios do gás, pela Eni e outro parceiro que não a EDP, como inicialmente previsto no figurino apresentado em Bruxelas. A saída da Eni da Galp Energia está condicionada à concretização deste negócio, no âmbito do Plano de Reestruturação do Sector Energético que Álvaro Barreto deu oficialmente como extinto, a 6 de Dezembro. Com o anúncio de que o negócio do gás fica na Galp, enquanto o Governo PSD/CDS estiver em gestão, foram prorrogados os prazos para a saída da Eni da Galp e entrada na Gás de Portugal, com os mesmos 49% inicialmente previstos no plano concebido por João Talone. A operação estava prevista terminar no fim de Dezembro. Esse prazo acabou por ser alargado até à entrada em funções do novo Governo, o que não acontecerá antes de Abril, tendo em conta que as eleições legislativas foram marcadas para dia 20 de Fevereiro de 2005.
Ao mesmo tempo o velho acordo parassocial entre o Estado e a Eni, que dava a esta o direito de reforçar na Galp caso não houvesse dispersão de capital, com a respectiva redução da posição do Estado caduca no fim de Junho do próximo ano, o que obriga a que haja uma solução definida antes dessa data.
Telecomunicações
A luta pelo fim do monopólio da Portugal Telecom no cabo e no cobre vai continuar. Resta saber se a Oni vai conseguir ter acesso ao cobre e o Grupo Sonae ao cabo, tal como pretende Paulo Azevedo, presidente da Optimus. Mais uma decisão política que terá de passar pelo executivo que sair das próximas eleições antecipadas. Grandes negócios no sector das telecomunicações não são esperados. As operadores vão continuar a lutar por maiores quotas de mercado na UMTS - cuja cobertura deverá chegar próximo de 70% da população portuguesa - e na banda larga.
Media
A concentração dos media é aguardada para 2005. O pontapé de saída para o movimento de aquisições poderá ser dado pela Lusomundo Media através de um rearranjo accionista da empresa, que é detida em 81% pela PT Multimedia e em 19% pela Cofina. Além dos potenciais compradores que se perfilam para uma tomada de posição na empresa de media do grupo PT, como a Impresa e Cofina, o Grupo SGC poderá protagonizar no próximo ano a entrada no capital da Lusomundo Media. O dossier está a ser analisado por João Pereira Coutinho, líder da SGC, tendo um eventual negócio ainda em 2004 ficado em stand-by devido à actual situação política provocada pela decisão do Presidente da República de dissolver o Parlamento. Caso a opção do grupo PT de Miguel Horta e Costa recaia sobre um grupo económico que não tenha presença no sector da comunicação social, está aberta a porta à associação com um grupo estrangeiro de media.
Banca& Seguros
Negócios na banca em 2005 só se forem inesperados. Ou mesmo inevitáveis. O grau de concentração na banca portuguesa é já considerável, mas as eternas ameaças de ofertas públicas de aquisição hostis não deverão cessar. Veja-se o recente “desentendimento” entre os líderes do Millennium BCP e do Banco Português de Investimento. E os bancos espanhóis continuam a anunciar a sua pretensão de crescerem mais em Portugal.
Mas a questão da possível privatização da Caixa Geral de Depósitos, mesmo que apenas parcial, pode voltar à ordem do dia. Tudo por uma questão de Estado: as contas públicas continuam em desequilíbrio e não há forma de as equilibrar sem a recorrência a receitas extraordinárias.
Já no sector segurador, os grupos Millennium BCP, de Jardim Gonçalves, e CGD já têm a luz verde da entidade de supervisão para avançar com a compra da Império-Bonança pela Caixa e o negócio será concretizado em 2005, se a Autoridade da Concorrência também não se opuser. Outro negócio que se deverá concretizar é a venda de parte da Tranquilidade, ou mesmo a compra de outra seguradora por parte da companhia do Grupo Espírito Santo.
Construção
A Mota-Engil quer comprar uma empresa espanhola de média dimensão, para fazer uma parceria estratégica para a Península Ibérica, o que deverá concretizar em 2005. Entretanto, o grupo liderado por António Mota está a ponderar a abertura do seu capital social, através da cedência de participações da família Mota a parceiros institucionais ou da realização de um aumento de capital. No que diz respeito à existência de portagens nas SCUTS, a existirem, espera-se uma luta de concessionários por este serviço. Em termos gerais, os negócios de reabilitação do parque imobiliário deverão crescer acentuadamente com a nova Lei do Arrendamento.
Aviação
O ano deverá começar com o anúncio formal das condições de um negócio que marcará o sector da aviação em Portugal: O Grupo Espírito Santo prepara-se para entrar no capital social da TAP, liderada por Fernando Pinto, que, por sua vez, ‘absorve’ a Portugália Ailines, a companhia privada pertencente ao grupo financeiro de Ricardo Salgado. Por outro lado, assistir-se-á a uma aproximação cada vez maior da SATA, a companhia de aviação dos Açores, à sua congénere do Continente. A partilha dos serviços de back-office será mais um passo nesse sentido, a juntar aos acordos de code-share com os quais inauguram os novos horários para os Açores já a 1 de Janeiro.
Privatizações
Quanto a privatizações, se o provável Orçamento rectificativo a realizar pelo vencedor das eleições legislativas antecipadas de Fevereiro nada alterar nesta matéria, o Estado deverá continuar a diminuir o seu peso na Economia, nomeadamente com a aceleração da política de privatizações como a EDP, Galp e Rede Eléctrica Nacional (REN), com defesa de modelos alternativos ao controlo da maioria do capital, nomeadamente através de acordos parassociais.
Segundo o Orçamento do Estado para 2005, o valor que o Estado espera arrecadar com privatizações ascende a mil milhões de euros - destes, 370 milhões serão aplicados na amortização de dívida pública. O documento defende também a prossecução da política de privatização da TAP, procurando as parcerias estratégicas que viabilizem a sua reestruturação empresarial. E para atingir o objectivo do “aumento da eficiência e eficácia das empresas” públicas de transporte em geral, o actual Governo defende “a possibilidade da entrada de competências e capital privados” nas mesmas, assim como “programas de reestruturação” e da “contratualização do serviço público”. Tudo está dependente do resultado das eleições.