Os resultados da Sonae deverão parecer bons, mas estaram incluidos as mais valias da Portucel, não esquecer.
$Sonae Indústria Preparada para a Autonomização
Por ROSA SOARES
Terça-feira, 02 de Novembro de 2004
Nos últimos anos, a Sonae Indústria foi um sorvedouro de dinheiro. Os investimentos até 2002 ascenderam a mais 1100 milhões de euros, e os resultados demoravam a aparecer. Este ano, a situação está bem melhor. Os resultados trimestrais, divulgados ontem ao mercado, consolidam a recuperação do negócio de painéis de madeira, de que a empresa é líder mundial.
A Sonae Indústria apresentou lucros de 26,7 milhões de euros (mais 85,8 por cento do que nos primeiros nove meses do ano passado) e um EBITDA ("cash-flow" operacional) de 171 milhões de euros, uma melhoria de 58 por cento face a 2003. As vendas aumentaram oito por cento, para 1157 milhões de euros.
A par da melhoria dos indicadores operacionais, a empresa diminuiu e reestruturou a dívida, melhorando ainda o nível de capitais próprios, pelo que está facilitada a decisão sobre a operação de cisão da área industrial, em estudo desde 2002. Esta operação visa criar uma estrutura autónoma da Sonae SGPS, se bem que, pelo menos numa fase inicial, a estrutura accionista da Sonae Indústria seja idêntica à da Sonae SGPS.
Carlos Moreira da Silva, presidente executivo da empresa, apresentou, em Março deste ano, um conjunto de medidas necessárias à preparação da empresa para a cisão da actividade, a decidir pelos accionistas, como o gestor gosta de salvaguardar. Em declarações ao PÚBLICO, disse que está "tudo feito". "Só falta fechar as contas anuais", garante, explicando que parte do alcance das medidas já tomadas, como a operação de aumento de capital de 500 para 700 milhões de euros, realizada em Outubro, só será visível nas contas anuais. E, em resultado do trabalho realizado, sempre vai adiantando que, no final do ano, a dívida da empresa deverá situar-se nos 650 milhões de euros e os capitais próprios nos 550 milhões de euros, o que considera ser "um bom estado".
Moreira da Silva assegura que as operações realizadas permitiram desagregar a quase totalidade da dívida da Sonae SGPS, um passo necessário para a autonomização da empresa. Neste momento, esclareceu, "restam 140 milhões de euros de dívida subordinada, que será resolvida mais à frente". Sobre o futuro da Gescartão, agora no universo da Sonae Indústria, o gestor apenas reafirma a informação prestada no prospecto do aumento de capital, de que a intenção é a de que saia do portefólio da Sonae Indústria para a Sonae SGPS. Sobre a sua venda, uma possibilidade aventada no mercado, escusou-se a fazer qualquer comentário.
No balanço das actividades até Setembro, a Sonae Indústria destaca que o aumento das exportações para o Médio e Extremo-Oriente permitiu compensar o decréscimo da procura na Europa. A empresa salienta ainda a confirmação da sustentabilidade na Alemanha, Península Ibérica, África do Sul e Canadá, a par da recuperação da actividade no Brasil.
Em relação ao futuro, as perspectivas estão condicionadas pela evolução do preço do petróleo. Moreira da Silva salvaguarda, no entanto, que, "desde que esta tendência não afecte as perspectivas de médio prazo da economia mundial", a Sonae Indústria será capaz de continuar a melhorar o desempenho da empresa, consolidando a sua liderança mundial.