Bolsa nacional acumula perdas pelo terceiro ano consecutivo

Bolsa nacional acumula perdas pelo terceiro ano consecutivo
«Finalmente acabou!», afirmou John dos Santos, director de «research» do Banif Investimento quando questionado sobre a «performance» dos mercados em 2002. O último ano foi o terceiro consecutivo de perdas, algo que acontece pela primeira vez há muitas décadas.
A tensão no Médio Oriente, a queda de taxas de juro e o excessivo endividamento dos particulares e empresas, a retracção macroeconómica a nível mundial e os efeitos da queda dos gigantes Enron e Worldcom condicionaram o desempenho das principais praças mundiais e limitaram a recuperação dos índices de confiança dos investidores que parecem ter adoptado por recorrer aos profissionais do sector.
Passou-se de uma estratégia de «day trade» para uma de criação de riqueza no médio e longo-prazo. Os analistas realçam a extrema volatilidade dos mercados accionista e obrigacionista.
Carlos Bastardo, director de gestão de activos do Barclays, menciona as variações diárias superiores a 10% dos contratos de futuros do EuroStoxx.
Diogo Cunha, administrador do BIG, fala da queda média dos índices de 30% e da derrapagem do DAX superior a 40%. Os rumores sobre a perda da notação máxima de «rating» da dívida pela Alemanha, «tem que forçosamente fazer-nos pensar que até os fortes têm as suas fraquezas» diz Carlos Bastardo.
Embora os analistas considerem que o ano de 2002 foi negativo, existem vários aspectos que potenciam ganhos no futuro. Carlos Bastardo afirma que «daqui a uns anos, provavelmente, vamos usufruir dos ensinamentos deste período de 'bear market'».
Muitos dos agentes do mercado só tinham vivido num ciclo de «bull market» mas «agora, já têm experiência em ambos os ciclos, pelo que, 'a priori', alguns exageros de actuação serão mais limitados, tanto em momentos de euforia como de pânico».
Entre os analistas reina a convicção de que essa experiência vai determinar a actuação dos intervenientes do mercado nos próximos anos. No ano do euro, Margarida Matos Rosa, directora de gestão de activos do BNP Paribas, afirma que «as reformas efectuadas nas empresas deverão trazer frutos a curto e médio-prazo».
PSI20 acima da média
O ano foi marcado pela fraca correlação do PSI20 com os principais índices da Zona Euro. A Bolsa portuguesa continua a ser vista pelos analistas como um mercado regional, apesar da integração na Euronext.
Contudo, o PSI20 registou um desempenho superior à maioria das Bolsas europeias. O principal índice da Euronext Lisboa perdeu 25,62% devido às quebras do Banco Comercial Português, da Electricidade de Portugal (EDP) [EDP] e da Portugal Telecom (PT).
O banco de Jardim Gonçalves [BCP] registou uma fraca «performance» operacional, razão que provocou a necessidade de um aumento de capital. Por sua vez, as acções da EDP foram penalizadas pela demorada solução para a ONI Way, bem como pelo «desmoronamento» do real.
A moeda brasileira foi também responsável pela quebra da [PTC] Portugal Telecom - o Brasil representa cerca de 25% do seu volume de negócios -, embora a queda tenha sido acentuada pelo fraco desempenho do sector das telecomunicações a nível mundial.
Em terreno positivo, só a PT Multimedia [PTM] , a Brisa [BRISA], a Cofina [COFI], o BES [BESNN] e o BPI [BPIN]. A Cofina, accionista do «Jornal de Negócios» e Negocios.pt, entrou este ano para o conjunto das 20 empresas portuguesas com maior capitalização bolsista.
PT Multimedia com novo balanço
A alienação à Portugal Telecom de 100% da PTM.com, 24,75% das Páginas Amarelas e 50% da Sportinveste (PTM), permitiu à subsidiária PT Multimédia anular a quase totalidade da dívida e evitar um aumento de capital.
Com um balanço quase limpo de todas as dívidas, a PTM melhorou as suas perspectiva de «break-even» dos resultados líquidos, tornando a acção mais atractiva para os investidores.
A empresa que registou o melhor desempenho da Euronext Lisboa procedeu a fusões de participadas, à reduções de pessoal e à redução dos investimentos.
Orey Antunes ganha com OPA
A companhia de transporte marítimo e turismo Orey Antunes registou a maior subida do ano na Bolsa nacional ao valorizar 118,7%. A cotação foi impulsionada devido às duas ofertas públicas de aquisição (OPA) lançadas, uma pela Triângulo Mor e a outra pela SIN.
O resultado final foi favorável à primeira, o que é compreensível pois a sua oferta era de 8,50 euros enquanto a concorrente apenas avançava com 8,05 euros. Com a maioria do capital, a nova administração reestruturou a companhia.
Euro entra em circulação
Para alguns analistas, a entrada em circulação do euro foi o acontecimento mais importante do ano. A materialização de um projecto que visa a criação de uma moeda sólida e de referência a nível internacional levou a moeda europeia para máximos, voltando a superar a paridade em relação ao dólar.
A moeda norte-americana caiu para mínimos de três anos face ao euro em virtude da agudização da situação militar no Iraque.
Ouro procurado como refúgio
O preço do ouro fechou o ano com a maior subida desde 1979, altura em que a forte inflação afastou os investidores dos produtos tradicionais de investimento, que pagavam juros reduzidos.
No último ano, a eminência de um conflito armado no Iraque, a fragilidade do dólar, a alta dos preços do petróleo e a queda dos mercados accionistas favoreceram o ouro na medida em que desempenha um papel de porto de refúgio dos investidores.
Os analistas advertem que, caso se confirme um conflito armado no Iraque, o ouro pode valorizar ainda mais devido à sua imagem de estabilidade e segurança.
Taxas da Fed em mínimos
A crise vivida nas principais economias mundiais, nomeadamente na europeia e norte-americana, levou os bancos centrais a cortarem as suas taxas de referência como medida de fomento económico.
A Reserva Americana (Fed) e o Banco Central Europeu (BCE) não ficaram atrás e procederam à revisão das suas taxas.
Em Dezembro, o BCE promoveu uma redução de 50 pontos base da taxa de referência da Zona Euro para os 2,75%. Anteriormente, já a Fed tinha realizado um corte de 50 pontos para 1,25%, fixando a taxa «overnigth» em mínimos de 40 anos. Estes cortes afastaram alguns investidores dos mercados obrigacionistas.
Petróleo passa os 30 dólares/b>
O preço do barril de petróleo fechou o ano em máximos, ultrapassando a barreira dos 33 dólares [CL1] em nova Iorque e dos 30 dólares em Londres. [CO1].
As cotações do crude e do «brent» foram e vão continuar a ser influenciadas pela eminência de um ataque ao Iraque bem como pela greve que tem afectado a produção petrolífera da Venezuela, sendo de esperar a consumação de novos máximos dos últimos dois anos.
Por Diogo Simão
Fonte: Canal de Negócios 2002/12/31 17:56:25h
«Finalmente acabou!», afirmou John dos Santos, director de «research» do Banif Investimento quando questionado sobre a «performance» dos mercados em 2002. O último ano foi o terceiro consecutivo de perdas, algo que acontece pela primeira vez há muitas décadas.
A tensão no Médio Oriente, a queda de taxas de juro e o excessivo endividamento dos particulares e empresas, a retracção macroeconómica a nível mundial e os efeitos da queda dos gigantes Enron e Worldcom condicionaram o desempenho das principais praças mundiais e limitaram a recuperação dos índices de confiança dos investidores que parecem ter adoptado por recorrer aos profissionais do sector.
Passou-se de uma estratégia de «day trade» para uma de criação de riqueza no médio e longo-prazo. Os analistas realçam a extrema volatilidade dos mercados accionista e obrigacionista.
Carlos Bastardo, director de gestão de activos do Barclays, menciona as variações diárias superiores a 10% dos contratos de futuros do EuroStoxx.
Diogo Cunha, administrador do BIG, fala da queda média dos índices de 30% e da derrapagem do DAX superior a 40%. Os rumores sobre a perda da notação máxima de «rating» da dívida pela Alemanha, «tem que forçosamente fazer-nos pensar que até os fortes têm as suas fraquezas» diz Carlos Bastardo.
Embora os analistas considerem que o ano de 2002 foi negativo, existem vários aspectos que potenciam ganhos no futuro. Carlos Bastardo afirma que «daqui a uns anos, provavelmente, vamos usufruir dos ensinamentos deste período de 'bear market'».
Muitos dos agentes do mercado só tinham vivido num ciclo de «bull market» mas «agora, já têm experiência em ambos os ciclos, pelo que, 'a priori', alguns exageros de actuação serão mais limitados, tanto em momentos de euforia como de pânico».
Entre os analistas reina a convicção de que essa experiência vai determinar a actuação dos intervenientes do mercado nos próximos anos. No ano do euro, Margarida Matos Rosa, directora de gestão de activos do BNP Paribas, afirma que «as reformas efectuadas nas empresas deverão trazer frutos a curto e médio-prazo».
PSI20 acima da média
O ano foi marcado pela fraca correlação do PSI20 com os principais índices da Zona Euro. A Bolsa portuguesa continua a ser vista pelos analistas como um mercado regional, apesar da integração na Euronext.
Contudo, o PSI20 registou um desempenho superior à maioria das Bolsas europeias. O principal índice da Euronext Lisboa perdeu 25,62% devido às quebras do Banco Comercial Português, da Electricidade de Portugal (EDP) [EDP] e da Portugal Telecom (PT).
O banco de Jardim Gonçalves [BCP] registou uma fraca «performance» operacional, razão que provocou a necessidade de um aumento de capital. Por sua vez, as acções da EDP foram penalizadas pela demorada solução para a ONI Way, bem como pelo «desmoronamento» do real.
A moeda brasileira foi também responsável pela quebra da [PTC] Portugal Telecom - o Brasil representa cerca de 25% do seu volume de negócios -, embora a queda tenha sido acentuada pelo fraco desempenho do sector das telecomunicações a nível mundial.
Em terreno positivo, só a PT Multimedia [PTM] , a Brisa [BRISA], a Cofina [COFI], o BES [BESNN] e o BPI [BPIN]. A Cofina, accionista do «Jornal de Negócios» e Negocios.pt, entrou este ano para o conjunto das 20 empresas portuguesas com maior capitalização bolsista.
PT Multimedia com novo balanço
A alienação à Portugal Telecom de 100% da PTM.com, 24,75% das Páginas Amarelas e 50% da Sportinveste (PTM), permitiu à subsidiária PT Multimédia anular a quase totalidade da dívida e evitar um aumento de capital.
Com um balanço quase limpo de todas as dívidas, a PTM melhorou as suas perspectiva de «break-even» dos resultados líquidos, tornando a acção mais atractiva para os investidores.
A empresa que registou o melhor desempenho da Euronext Lisboa procedeu a fusões de participadas, à reduções de pessoal e à redução dos investimentos.
Orey Antunes ganha com OPA
A companhia de transporte marítimo e turismo Orey Antunes registou a maior subida do ano na Bolsa nacional ao valorizar 118,7%. A cotação foi impulsionada devido às duas ofertas públicas de aquisição (OPA) lançadas, uma pela Triângulo Mor e a outra pela SIN.
O resultado final foi favorável à primeira, o que é compreensível pois a sua oferta era de 8,50 euros enquanto a concorrente apenas avançava com 8,05 euros. Com a maioria do capital, a nova administração reestruturou a companhia.
Euro entra em circulação
Para alguns analistas, a entrada em circulação do euro foi o acontecimento mais importante do ano. A materialização de um projecto que visa a criação de uma moeda sólida e de referência a nível internacional levou a moeda europeia para máximos, voltando a superar a paridade em relação ao dólar.
A moeda norte-americana caiu para mínimos de três anos face ao euro em virtude da agudização da situação militar no Iraque.
Ouro procurado como refúgio
O preço do ouro fechou o ano com a maior subida desde 1979, altura em que a forte inflação afastou os investidores dos produtos tradicionais de investimento, que pagavam juros reduzidos.
No último ano, a eminência de um conflito armado no Iraque, a fragilidade do dólar, a alta dos preços do petróleo e a queda dos mercados accionistas favoreceram o ouro na medida em que desempenha um papel de porto de refúgio dos investidores.
Os analistas advertem que, caso se confirme um conflito armado no Iraque, o ouro pode valorizar ainda mais devido à sua imagem de estabilidade e segurança.
Taxas da Fed em mínimos
A crise vivida nas principais economias mundiais, nomeadamente na europeia e norte-americana, levou os bancos centrais a cortarem as suas taxas de referência como medida de fomento económico.
A Reserva Americana (Fed) e o Banco Central Europeu (BCE) não ficaram atrás e procederam à revisão das suas taxas.
Em Dezembro, o BCE promoveu uma redução de 50 pontos base da taxa de referência da Zona Euro para os 2,75%. Anteriormente, já a Fed tinha realizado um corte de 50 pontos para 1,25%, fixando a taxa «overnigth» em mínimos de 40 anos. Estes cortes afastaram alguns investidores dos mercados obrigacionistas.
Petróleo passa os 30 dólares/b>
O preço do barril de petróleo fechou o ano em máximos, ultrapassando a barreira dos 33 dólares [CL1] em nova Iorque e dos 30 dólares em Londres. [CO1].
As cotações do crude e do «brent» foram e vão continuar a ser influenciadas pela eminência de um ataque ao Iraque bem como pela greve que tem afectado a produção petrolífera da Venezuela, sendo de esperar a consumação de novos máximos dos últimos dois anos.
Por Diogo Simão
Fonte: Canal de Negócios 2002/12/31 17:56:25h