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Re: Off Topic_Porto excelente!!!

MensagemEnviado: 14/2/2016 17:27
por Dr Tretas
Desculpem só um pequeno OT, por falar na Casa da Música, lá perto, no Jardim da Boavista, há uma estátua que homenageia os Heróis da Guerra Peninsular. O curioso é que passei lá há uns tempos e lembrei-me do Campeonato Nacional de Futebol deste ano ao olhar para a tal estátua :mrgreen:

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Re: Off Topic_Porto excelente!!!

MensagemEnviado: 14/2/2016 13:23
por Marco Martins
Realço novamente este tópico... pois seria interessante ver novamente em cima da mesa a possibilidade de haver uma regionalização...

Concordo que o todo faz a força... mas o todo também é o conjunto de pequenos todos... e a regionalização não nos impede de lutar por um país unido... contudo, dá-nos a liberdade de ter mais independência local, se calhar ter impostos diferentes e custos diferentes, desde que o contributo para o bolo todo seja partilhado...

Não faz sentido continuar a contribuir para que Lisboa seja 35% do país, quando apenas corresponde a menos de 10% da área do país (embora esta visão não possa somente ser vista de forma simplista com estes indicadores)... no entanto acho que deveria haver novamente discussão pública, afinal de contas os melhores políticos e políticas de cada região, poderão depois ser tidos como exemplo a replicar...

Caro Novato....

MensagemEnviado: 15/5/2004 3:32
por Money Mouse
...para "novato" não está nada mal, o M.S.T. qd escreveu isto foi com segundas intenções, talvez acordar o povo portuense para a "vida" combatendo o comodismo. Ainda ele não falou da casa da música (tb não vou falar senão passava a ser a "história" que iria substituir o antigo "Metro" do Porto.

Parabens pelo post e pela analogia

MensagemEnviado: 14/5/2004 23:49
por azarento
:clap:

Off Topic_Porto excelente!!!

MensagemEnviado: 14/5/2004 23:33
por novato
Desculpem, mas não resisti a postar este texto pela qualidade da argumentação,


"O Porto, Sousa Tavares, a Depressão Daquele e a Manipulação Deste
Por RICARDO CRUZ
Sexta-feira, 16 de Abril de 2004

Miguel Sousa Tavares (M.S.T.) é um dos cronistas que é raro deixar de ler, quase sempre com apreço. Mas a nódoa veio ao pano, com a prosa que apresentou no PÚBLICO de 13 de Fevereiro, "O Porto deprimido".

Como M.S.T., nasci no Porto e aqui incrustei raízes. Como ele, o meu fervor clubístico verte desde sempre pelo FC Porto. Mas, a destoar, não fui um dos três milhões de portugueses que, desde 1970, partiram para Lisboa. Não obstante, gosto da capital. Pela família e amigos que lá tenho. Pelo Bairro Alto e a Baixa pombalina. Por esse prazer insubstituível que é, pelo entardecer de um dia de Verão, fazer a marginal de Belém ao Guincho.

Acaso duvidasse da sinceridade com que M.S.T. assume a sua "atitude sobranceira" perante o Porto, a incerteza ter-se-ia dissipado. É que, a par de algumas verdades, prevalece o tom paternalista, superficial, com resvalo para a manipulação e a pesporrência. Chique será, num erudito lisboeta, integrar o "top" de "doentes" pelo FCP. Cortina de fumo. Porque nem o Porto é o FCP, nem o FCP é a cidade. E ainda bem. Para o Porto. E para o desporto.

Vamos ao concreto, a tese da depressão. Um Porto deprimido, "de oportunidade perdida em oportunidade perdida". Para M.S.T., o Porto tem tido (muitas, parece) oportunidades; e tem-nas perdido. Todas. O mal está nos portuenses. Por "sua culpa", pela "sua natureza", fracassam. Perdulários...

E que oportunidades? O Metro, "inacreditável epopeia". Mas, para os que sabem do que falam, o Metro do Porto arrancou antes dos prazos. É um "case-study" que Bucareste, Montreal ou Londres acompanham com admiração. Um investimento que Bruxelas não se tem coibido de elogiar. Razão de orgulho para Portugal. M.S.T. lá saberá. Mas o "Expresso" de 28/02, a pretexto dos transportes da capital, titulava: "Lisboa copia Porto".

M.S.T. dispara: "Nos últimos anos nenhuma grande empresa sediada no Porto se impôs no país e ganhou credibilidade externa." Boquiaberto fico. Sem alongar, pelo menos o grupo Sonae, nascido e com centro de decisão no Porto, é apenas o maior empregador privado nacional. Presente em 15 países, 50 mil trabalhadores, impôs-se. No país, e no mundo. Há melhor exemplo? Mais, é o berço do PÚBLICO, marco de excelência no jornalismo. Ou seja, há uma empresa nortenha que, afinal, dá palco a quem vê no FCP o único caso de "qualidade e profissionalismo que destoa da mediocridade lamurienta".

A Exponor, "um fiasco", M.S.T. "dixit". Só que... a maioria associa à Exponor o dinamismo na promoção de empresas de todo o país. Sendo verdade que não se transformou num "Sillicon Valley" - faltará aclarar se vez alguma teve essa pretensão -, não teria sido mau que M.S.T. enunciasse bons exemplos. Caso os haja. São, ainda, as "absurdas e eternas" obras no aeroporto, mesmo que os responsáveis únicos sejam o poder central e uma empresa pública, a ANA.

Depois, o pior. É de bradar aos céus sugerir que o mérito do Plano de Pormenor das Antas advém de este ter sido concebido por um arquitecto de Lisboa, "enquanto os arquitectos do Porto se esforçam por tapar a vista do Tejo à cidade de Lisboa". Se Manuel Salgado fez excelente trabalho, ainda bem! É de Lisboa? Melhor! Isso prova que o Porto não partilha do provincianismo da comparação. M.S.T. pode reprovar o projecto de Siza Vieira para Alcântara. Mas só por motivos inconfessáveis se ignorará o seu mérito no Chiado ou na Expo-98, ou o seu legado imortal para o mundo das artes.

De Miguel Cadilhe, M.S.T. reclama ser "manifestação de pura inveja ouvir o ex-ministro queixar-se da realização da Expo-98 em Lisboa". Estaria "distraído". Que se saiba, Cadilhe jamais censurou a Expo-98 por esta ter tido Lisboa como palco. Criticou, isso sim, a duvidosa reprodutividade de investimentos como o Euro 2004, a Expo ou a Porto 2001. Fossem em Lisboa ou nas Berlengas. Mas não surpreende a sibilina distorção das palavras de Cadilhe, não se tratasse de um dos governantes mais competentes que o país conheceu - o que incomodará quem reza que tudo o que o Porto teria a dar à nação se esgotou com Sá Carneiro.

M.S.T. lembra que o BCP "engoliu o BPA", deslocalizando o seu centro de decisão. Só que, para quem tem fé na economia de mercado, a decisão, ainda que custe, é soberana. Mas... poder atrai poder. E o sector privado não escapou à sucção da capital, tal como três milhões de portugueses em três décadas.

Ao Estado competiria contrariar essa tendência. A hipercentralização do poder público em Lisboa é absurda. Só que, para M.S.T., isso "é simbólico, não é o mais importante". Estamos em aberto desacordo. É aviltante. Sugere atraso cultural e défice de cidadania. Não há um ministério, uma direcção-geral, fora da capital. Centenas de institutos públicos, 99 por cento em Lisboa. "O país é pequeno!", diz-se. Sim, é pequeno para os que têm que ir a Lisboa carimbar um papel. Para os que são forçados a abandonar raízes. Mas, "a contrario", é mais distante que Marte quando se instala a Agência Portuguesa para o Investimento na sua segunda cidade. Acaso alentejanos, transmontanos ou algarvios são menos dotados ou têm impostos de favor? Uma descentralização genuína faria muito mais pelas regiões do que subsídios para rotundas e piscinas, com que se entretém o pagode e se divide para reinar. O poder central deseja-a? Não. Isso explica porquê a outrora urgentíssima revisão da lei eleitoral foi engavetada.

E não é tudo. Instituições insuspeitas clamam que o rei vai nu. É a Comissão Europeia: "O problema é que os fundos foram concentrados de forma excessiva na região de Lisboa." É a Universidade Católica: o nível de vida em Lisboa, 3,5 vezes superior ao do Tâmega, até já supera o de Madrid. Pior, a ONU desvenda que 38,5 por cento da população vive na região de Lisboa, nível que em 2015 ascenderá a 45,3 por cento, isto é, mais 700 mil pessoas! Nos últimos 20 anos, só há paralelo na Guatemala, Congo-Brazzaville, Panamá ou República Dominicana. Nesse período, porém, Madrid, Bruxelas, Londres, Paris ou Berlim viram cair ou estabilizar o seu peso económico nacional.

Mas, mesmo que sejamos alvo de chacota lá fora, não faltam chicos-espertos a sugerir artimanhas para perpetuar Lisboa como região "muito desfavorecida" no acesso a fundos estruturais. É essa a sul-americana Lisboa que os portugueses abominam. Mas essa não é a Lisboa das pessoas. É a capital de um poder imperial, cego de inveja pelo pobre de camisa lavada. Essa é, explica Miguel Torga, a Lisboa que, detestada por Portugal, lhe retribui na mesma moeda.

Por fim, a vida política e partidária. Manifestamente, o Porto merecia bem melhor. Nisso, estarei com M.S.T., como a maioria dos portuenses. Porém, o fastio perante a vida política trespassa todo o país. Viscoso, escorre de S. Bento até às câmaras, do Minho ao Algarve. Porquê o exclusivo de um enxovalho à política portuense? Terá M.S.T. esquecido lições que o Porto deu, quando rejeitou a regionalização idiota que lhe propuseram em 1998, ou quando, em 2001, contra todas as apostas, varreu de cena uma decrépita concepção de poder autárquico? Depois, imputar à classe política local o iniludível declínio económico do Porto - que consigo arrasta todo o Norte -, só revela ignorância ou intuito de manipulação. Porque esse declínio tem uma causa fundamental: a brutal supressão de emprego qualificado na região, associada à hiperconcentração de centros de decisão na capital.

Em M.S.T., habituei-me a elogiar a procura da verdade. Porquê, então, bazófia tão suburbana? Vamos crer que M.S.T. apenas conhece mal o Porto. Porque o Porto que alguns gostariam de ver deprimido - ou suprimido - é o Porto que está vivo e que, com o país, mostrará que o caminho do futuro é outro que não este. É o Porto das pessoas. Esse é o meu Porto.

Economista, professor universitário