Este é o primeiro de uma série de "posts" que tenciono disponibilizar a todos quantos frequentam o "Caldeirão".
A continuação dos mesmos dependerá do interesse geral que me for permitido constatar.
Por tal, algum feed-back seria bem-vindo, seja no sentido de prosseguir com a iniciativa, seja no sentido de a abandonar.
Um abraço a todos.
NA BOLSA, COMO NA VIDA, TOLOS (PATOS) SÃO OS OUTROS
À memória do meu velho amigo Cipriano Martins, que esteve presente na minha aproximação decisiva aos mercados de capitais.
Dedico ainda estes apontamentos a todos os companheiros de especulação.
Um agradecimento especial à minha amiga e conterrânea Su, que com o seu comentário me incentivou a esta publicação.
Prefácio
A todos quantos entendam que “as coisas não acontecem apenas aos outros”, aqui deixo o registo da minha inscrição no “clube dos tolos” (ou, como mais “softly” lhes chamamos, “patos”).
Darei por muito bem empregue o meu tempo se conseguir passar a mensagem do que é, neste momento, para mim um grande lema:
Deixei de ter preferências nos mercados de risco quanto à posição mais agradável de me situar: o lado dos “Bull” ou o dos “Bear”.
Passei apenas a considerar um, e só um, lado: O lado certo!
Vale a pena relembrar o que diz “Jesse Livermore” em “Reminiscences of a Stock Operator” (uma verdadeira referência para quem quer ser um especulador bem sucedido):
Leva um longo tempo para que um homem aprenda todas a lições que pode tirar dos seus erros. Dizem que tudo tem seus dois lados. Mas há apenas um lado no mercado de acções; e não é o lado dos “bull” ou dos “bear”, mas o lado certo.
O oásis
Naquela tarde de Setembro de 1987, o meu amigo Cipriano falava-me euforicamente, numa linguagem que eu mal entendia, de algo que me parecia um verdadeiro oásis financeiro.
Falava-se de CISF, Caima, Marconi, Lisnave, para referir os nomes mais sonantes.
Não havia órgão de comunicação social que não referisse a bolsa. Havia uma completa euforia envolvente, de tal ordem que não era importante o título que se escolhia para especular. Todos eles eram negócio garantido e de grande rentabilidade.
Aos bancos chegavam ordens de compra de X contos de acções. Não importava o quê. Acções simplesmente. Acções literalmente adquiridas ao quilo.
Ou, para variar, como foi citado na imprensa, alguém que mal conhecia o nome das empresas, dá ao banco uma ordem de compra de 1.000 contos de “chispe” (deturpação de CISF).
Para deixar a imagem mais próxima da realidade eufórica do mercado na época, em finais de Agosto de 1987 a Caima cotava-se a 85.500$00 (426,47 €). Não consigo confirmação para o preço que vou citar, mas, se a memória não me trai, ainda antes de Outubro desse ano já se cotava acima dos 300.000$00 (1.496,39 €). Era o único papel, suponho, para o qual era permitido dar ordem de aquisição para uma unidade.
Em boa verdade não me era totalmente estranho ouvir falar de bolsa. Afinal era algo com que me familiarizara nos bancos de escola por força do meu percurso académico.
Tinha-me, no entanto, habituado a que isso era negócio de “alta cavalaria”. Nada que fosse acessível a um comum mortal como eu.
Contrariando essa ideia pré-fabricada, tudo estava ali ao meu alcance. Poderia, ainda que numa posição mais humilde, sentar-me à mesa dos poderosos.
E, afinal, tudo era tão fácil: compra-se hoje por X, e amanhã se vende por X+Y. É só facturar. Um mercado perfeitamente fascinante em que os preços estão em permanente ascensão. Um mercado totalmente destituído de risco.
Uma visita ao “site”
http://www.finbolsa.com/cottour2.asp poderá dar a ideia do calor que se fazia sentir no mercado nessa época.
Cedo me apercebi que nem tudo eram rosas. O célebre discurso do “gato por lebre” do então nosso Primeiro Ministro Cavaco alertava para o fim desses dias auspiciosos. Pela primeira vez na vida ouvi falar na palavra tremenda: CRASH!
Como “tolo” que se preza, não me amedrontei. E em boa verdade, nem fui mal sucedido nessa altura. Encontro hoje para isso a explicação no facto de não estar ao meu alcance um modo de negociação tão agressiva como os hoje facilitados pelas modernas tecnologias.
E dessa fase vou terminar com um episódio que envolveu a Penina (entretanto, suponho, retirada de cotação).
Mantive durante algum tempo uma envolvente idílio com esse papel, que se traduzia na compra e venda do mesmo numero de unidades do dito (num dia compra, noutro vende, uma vez cumprida a pausa para a exigida liquidação física).
Curiosamente era um papel com muito pouca liquidez. Mas a realidade era inquestionável: Sempre que estava do lado comprador, havia um vendedor para satisfazer a quantidade comprada, e vice-versa. No dia de cada negócio constava que a quantidade total transaccionada correspondia à do meu negócio.
Daqui agradeço, embora com atraso, quem me proporcionou alguns cobres de ganho nesses negócios que encerraram essa minha rápida passagem pela bolsa.
O bichinho dos mercados entrou em hibernação. Mais tarde voltarei, desta feita como um “tolo licenciado”.
Próximo capítulo:
Como me tornei um “tolo” (ou “pato”) de sucesso