Estranho tempo, este, em que vivemos
Como disse, não sei. Presumo que os "combustíveis e lubrificantes" que refere sejam relativos - grosso modo - às importações de petróleo. O seu consumo não se limita à utilização como combustível em veículos.
P.S. - ...e não esquecer o gás natural ("combustível" também muito usado na industria e produção de energia eléctrica).
P.S. - ...e não esquecer o gás natural ("combustível" também muito usado na industria e produção de energia eléctrica).
"People want to be told what to do so badly that they'll listen to anyone." - Don Draper, Mad Men
Quico Escreveu:
Não sei. Talvez queira mostrar que se está a gastar mesmo o que essencial para o funcionamento da economia - as importações energéticas. O resto das importações está a baixar para o essencial.
Acabei por não entender o que pretendias transmitir.
Em relação à retracção, o consumo de combustíveis também está a baixar, acompanhando a quebra nos restantes items (pelo menos nos combustíveis auto ultrapassa inclusivamente a quebra no resto da economia cifrando-se nos 6%).
FLOP - Fundamental Laws Of Profit
1. Mais vale perder um ganho que ganhar uma perda, a menos que se cumpra a Segunda Lei.
2. A expectativa de ganho deve superar a expectativa de perda, onde a expectativa mede a
__.amplitude média do ganho/perda contra a respectiva probabilidade.
3. A Primeira Lei não é mesmo necessária mas com Três Leis isto fica definitivamente mais giro.
MarcoAntonio Escreveu:A parte de retirarem os combustiveis e lubrificantes - um exercício recorrente, diga-se - chateia-me um bocado. Ao certo o que é que se pretende demonstrar com isso?
Não sei. Talvez queira mostrar que se está a gastar mesmo o que essencial para o funcionamento da economia - as importações energéticas. O resto das importações está a baixar para o essencial.
Concordo em quase tudo excepto nas tiradas - um tanto demagógicas e a colar-se ao discurso de esquerda que tanto critica - relativas à "ganância dos mercados financeiros".
Os mercados financeiros tanto ganham dinheiro com economias em auto-destruição como em economias pujantes. Limitam-se apenas a procurar o lucro onde ele está disponível; se os países ocidentais, durante décadas, passaram a gastar o que não produziam, eles limitam-se a tirar partido desse facto.
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O défice comercial foi menos mau no 4T2011.
Até houve um tópico criado em que referia pela 1ª vez ter sido inferior a 500 milhões num trimestre (-487.2M concretamente).
Este trimestre foi de -644.2M.
Fonte:
http://www.ine.pt/ngt_server/attachfile ... download=y
Este ficheiro é de arrepiar, nem se percebe como durou tanto tempo este festival...
Mas para ajustar isto, o que foi feito é uma migalha...
Até houve um tópico criado em que referia pela 1ª vez ter sido inferior a 500 milhões num trimestre (-487.2M concretamente).
Este trimestre foi de -644.2M.
Fonte:
http://www.ine.pt/ngt_server/attachfile ... download=y
Este ficheiro é de arrepiar, nem se percebe como durou tanto tempo este festival...
Mas para ajustar isto, o que foi feito é uma migalha...
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A parte de retirarem os combustiveis e lubrificantes - um exercício recorrente, diga-se - chateia-me um bocado. Ao certo o que é que se pretende demonstrar com isso?
FLOP - Fundamental Laws Of Profit
1. Mais vale perder um ganho que ganhar uma perda, a menos que se cumpra a Segunda Lei.
2. A expectativa de ganho deve superar a expectativa de perda, onde a expectativa mede a
__.amplitude média do ganho/perda contra a respectiva probabilidade.
3. A Primeira Lei não é mesmo necessária mas com Três Leis isto fica definitivamente mais giro.
O articulista simplifica a situação. Até pode ter razão na argumentação "macro", mas o que fazemos enquanto não acontece o "ajustamento"?
O que se está a ver na balança de pagamentos é um sinal preopcupante de asfixia.
Se estiver em dieta, os melhores resultados são obtidos se não comeres de todo. No entanto, eventualmente morrerás.
Agora estamos metidos num sérissimo sarilho:
Não tenho dúvidas que a economia de alguns Países do euro, nomeadamente Portugal, não aguenta mais 3 meses disto. Se não for injectada liquidez com urgência na economia tudo vai rebentar.. e não sei o que vai sobrar depois. As pessoas ficam sem ordenado? Não pagam impostos? Não pagam os créditos?
A gordura já se foi. Agora estamos a ir ao músculo.
Como te propões resolver este problema mais imediato?
O que se está a ver na balança de pagamentos é um sinal preopcupante de asfixia.
Se estiver em dieta, os melhores resultados são obtidos se não comeres de todo. No entanto, eventualmente morrerás.
Agora estamos metidos num sérissimo sarilho:
Não tenho dúvidas que a economia de alguns Países do euro, nomeadamente Portugal, não aguenta mais 3 meses disto. Se não for injectada liquidez com urgência na economia tudo vai rebentar.. e não sei o que vai sobrar depois. As pessoas ficam sem ordenado? Não pagam impostos? Não pagam os créditos?
A gordura já se foi. Agora estamos a ir ao músculo.
Como te propões resolver este problema mais imediato?
Editado pela última vez por axman em 12/6/2012 18:01, num total de 2 vezes.
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Não posso estar mais em acordo com este artigo, e felicito-o pela excelente forma de expressar tão importantes ideias.
Ontem numa intervenção acerca do tópico "BCP um salto em frente", algumas destas ideias ocorreram-me e a ideia de que grandes orquestrações e segundas intenções se encobrem por detrás de tudo o que vemos nas noticias, e a forma como as opiniões públicas manietam a forma de pensar das pessoas, é no minimo surpreendente. Um exemplo disso é ver pessoas que nem sabiam quem era Angela Merkel, agora referirem-se a ela exactamente nos termos referido no artigo, Nazi, fascista, etc e pior.
É o que eu digo, a Lagarde é que acertou, os europeus têm de unir esforços e colocar os seus politicos fechados numa sala e só sairem com um plano bem delineado e sustentável. Wall Street e a City de perdidos que estão não fazem mais do que deitar gasolina na fogueira.
A. Geraldes.
Ontem numa intervenção acerca do tópico "BCP um salto em frente", algumas destas ideias ocorreram-me e a ideia de que grandes orquestrações e segundas intenções se encobrem por detrás de tudo o que vemos nas noticias, e a forma como as opiniões públicas manietam a forma de pensar das pessoas, é no minimo surpreendente. Um exemplo disso é ver pessoas que nem sabiam quem era Angela Merkel, agora referirem-se a ela exactamente nos termos referido no artigo, Nazi, fascista, etc e pior.
É o que eu digo, a Lagarde é que acertou, os europeus têm de unir esforços e colocar os seus politicos fechados numa sala e só sairem com um plano bem delineado e sustentável. Wall Street e a City de perdidos que estão não fazem mais do que deitar gasolina na fogueira.
A. Geraldes.
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Boas,
Obrigado por trazeres este artigo até aqui ao forum.
Tem uma qualidade muito melhor ao que estou habituado do jornalismo português.
Gostei particularmente desta parte:
"...um sector que têm um objectivo nobre – disponibilizar às empresas dinheiro para desenvolverem negócios sustentáveis, que foi poupado por quem não sabe aplicá-lo em larga escala noutras actividades – mas que perdeu esse objectivo de vista e se transformou em financiador de ineficiências públicas e privadas para seu próprio benefício.
..."
E como é que isto se resolve, alguém diz?
Nacionalizações?
É que de facto este problema não pode continuar...
Há empresas a crescer mais de 100% ano que não tem crédito porque é preciso renovar (ou alimentar o sistema pinguinhas) de empresas sem qualquer futuro, mas das quais é preciso evitar provisões a todo o custo!
E depois queixam-se que não há emprego?
Estão à espera que essas empresas, praticamente falidas, onde está metido a massa quase toda, andem a contratar?
Ainda por cima a banca anda a fomentar, para as pequenas empresas, créditos de curto prazo (via contas caucionadas), para investimentos de médio/longo prazo.
Mal seja necessáro, é a estas que vão retirar os plafonds, e se for preciso para usarem esta liquidez a financiar coisas ineficientes.
Ai ai
(suspiro)
Saudações & Bons Investimentos
Obrigado por trazeres este artigo até aqui ao forum.
Tem uma qualidade muito melhor ao que estou habituado do jornalismo português.
Gostei particularmente desta parte:
"...um sector que têm um objectivo nobre – disponibilizar às empresas dinheiro para desenvolverem negócios sustentáveis, que foi poupado por quem não sabe aplicá-lo em larga escala noutras actividades – mas que perdeu esse objectivo de vista e se transformou em financiador de ineficiências públicas e privadas para seu próprio benefício.
..."
E como é que isto se resolve, alguém diz?
Nacionalizações?
É que de facto este problema não pode continuar...
Há empresas a crescer mais de 100% ano que não tem crédito porque é preciso renovar (ou alimentar o sistema pinguinhas) de empresas sem qualquer futuro, mas das quais é preciso evitar provisões a todo o custo!
E depois queixam-se que não há emprego?
Estão à espera que essas empresas, praticamente falidas, onde está metido a massa quase toda, andem a contratar?
Ainda por cima a banca anda a fomentar, para as pequenas empresas, créditos de curto prazo (via contas caucionadas), para investimentos de médio/longo prazo.
Mal seja necessáro, é a estas que vão retirar os plafonds, e se for preciso para usarem esta liquidez a financiar coisas ineficientes.
Ai ai
(suspiro)
Saudações & Bons Investimentos
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Estranho tempo, este, em que vivemos
Nunca esperei viver num tempo em que Wall Street e a City tivessem poder suficiente para orientar a opinião pública do mundo ocidental, desenvolvido, a seu favor, depois de terem inquinado o mundo com uma desregulação quase completa da finança. Mas é o que está acontecer.
Milhões de cidadãos na Europa e nos Estados Unidos estão a ser levados a tomar posições que favorecem objectivamente os mercados financeiros e, em particular, os agentes mais gananciosos da especulação, que em lugar de serem punidos pelos graves erros que cometeram estão a ser beneficiados, em prejuízo do cidadão trabalhador e contribuinte. Em especial, alguma esquerda, a área política que sempre defendeu o trabalho honesto como modo de vida e a solidariedade do estado para quem realmente precisa, está a contribuir para o contrário do que apregoa.
A influente revista The Economist, publicação com sede em Londres, crítica declarada do projecto do Euro desde o seu início, volta esta semana à carga contra a senhora Merkel, com uma capa muito sugestiva. Um desenho de um navio de mercadorias com o nome de Economia Mundial afunda-se em pleno oceano enquanto alguém grita da torre de comando – Podemos ligar agora os motores, senhora Merkel?
No artigo que resume o tema de capa, o articulista que nunca assina é muito claro – apenas a chanceler alemã tem a chave para recuperar a economia mundial e não está a querer usá-la.
A tese é a mesma de sempre – Berlim tem de mudar o foco da austeridade para o crescimento económico. A mesma conversa da Administração Americana e de todos os investidores, jornalistas e analistas que, do outro lado do Atlântico ou do Canal da Mancha criticam a Europa do Euro. Os mesmos que nunca viram a crise do sub-prime a aproximar-se e a financeirização da economia ocidental a dar cabo dessa mesma economia, a empurrar as empresas industriais para outras zonas do globo e a deixar um rasto de dívida insustentável em todos os recantos da nossa civilização.
Sejamos claros.
Defender mais gastos orçamentais para estimular a economia é defender a aposta na continuidade de uma procura interna baseada em dinheiro que o países não têm, que a economia não gera, que tem pouca ou nenhuma utilidade económica porque não é investimento orientado para uma procura espontânea mas sim induzida, logo insustentável e que, em rigor, vai aumentar ainda mais a dívida externa. Vai aumentar ainda mais o risco da banca, do Estado, das empresas em geral. Vai aumentar as taxas, e o montante absoluto de juros efectivamente pagos a quem nos empresta o dinheiro.
Esta formulação é válida para Portugal, para Espanha, para tália, para a França, para A Bélgica, para a Holanda – sim para a aparentemente rica Holanda, também altamente endividada – para o reino Unido e para os Estados Unidos.
O que Angela Merkel está a querer fazer, em larga escala, é cortar a dependência viciosa e fatal das economias em que vivemos em relação aos grandes bancos que nos intoxicaram de crédito. (Sim, os banqueiros fizeram o que os políticos lhes permitiram, ou lhes pediram, e por isso foram recompensados. Aliás, a recompensa surge muito frequentemente sob a forma de cargos nos governos, na banca internacional, nos governos outra vez, na banca… etc. Neste dossier, o expoente máximo é mesmo Washington).
O que Angela Merkel quer fazer é proteger o chefe de família trabalhador, cumpridor, pagador de impostos, sóbrio solidário e pouco endividado – o mesmo que as esquerdas juram defender.
Como escrevemos no artigo anterior (A Tragédia a acontecer e quase ninguém a ver…de novo), os mesmos financeiros que agora se guiam por algoritmos para continuar a ganhar com a queda dos devedores, depois de terem ganho biliões com a sua subida vertiginosa e alavancada, os mesmos que pulavam de conferência em conferência para denegrir o papel do Estado e exigir a sua saída da economia, são os mesmos que chamam o estado para resolver os problemas dos seus bancos quando a concessão irresponsável de crédito corre mal.
A reacção em forte alta dos mercados financeiros, esta segunda-feira de manhã na primeira sessão após o resgate público anunciado no Sábado aos bancos espanhóis é bem a prova desta hipocrisia. Num ápice, um problema de 100 mil milhões de euros que estava nos balanços dos bancos espanhóis passou para os bolsos dos contribuintes de Espanha. E passará para os bolsos dos alemães se o país vizinho não puder pagar, situação que não é improvável. Mas os mercados financeiros aplaudiram – têm o problema dos senhor que neles mandam – os sacrossantos accionistas – resolvido.
Mas como dissemos, o problema apenas transitou de uns protagonistas para outros, mantém-se em Espanha e em, última instância, na Zona Euro. E por isso, os juros da dívida pública espanhola, que inicialmente desceram levados pela mesma euforia, já estão de novo a subir.
Parar com a alavancagem insustentável dos Estados, da banca, das empresas e das famílias é o objectivo de Berlim. Devia ser o objectivo de todos nós. Devíamos deixar de ser reféns de um sector que têm um objectivo nobre – disponibilizar às empresas dinheiro para desenvolverem negócios sustentáveis, que foi poupado por quem não sabe aplicá-lo em larga escala noutras actividades – mas que perdeu esse objectivo de vista e se transformou em financiador de ineficiências públicas e privadas para seu próprio benefício.
Continuar com programas de estímulo orçamental com recurso a crédito para financiar actividades que não têm procura natural nem são sustentáveis; deixar de fazer a mudança estrutural da economia de serviços de ficção em que nos transformámos; impedir que nos viremos para a indústria, para a produção de bens concretos mas que dão menos lucro a curto prazo; isso sim, é continuar o desastre económico em que temos vivido.
Mas é o que quer Wall Street e a City: que os contribuintes europeus paguem os desmandos dos bancos em risco; que os contribuintes europeus paguem as dívidas dos países que por culpa própria se endividaram; e que os governos europeus dos países que ainda não se endividaram perigosamente, como a Alemanha, gastem mais e se endividem ainda mais.
Assim se manteria o nível de rendimentos da City e de Wall Street. E assim se evitaria que a armadilha sobre a qual os maiores bancos de investimento do mundo estão sentados, o mercado OTC – Over the counter – ou mercado não regulamentado de derivados, fosse desactivada. Pois essa armadilha vai ter de ser desactivada. É um brinquedo demasiado caro e perigoso para o Mundo.
E aqui está como uma inocente defesa de mais investimento pelos Governos para evitar o agravamento da crise e dos despedimentos, uma simples crítica à austeridade e aos seus efeitos, se está a transformar na mais forte estratégia de defesa dos especuladores dos mercados financeiros.
Para quem pensa que não há esperança na austeridade, leia bem o boletim desta segunda-feira do Instituto Nacional de Estatística sobre o Comércio Internacional de Portugal:
Nos primeiros quatro meses do ano, a taxa de cobertura das importações pelas exportações já vai em 81,8 por cento! Há quantas décadas não acontecia isto?
E se retirarmos os combustíveis e lubrificantes da conta – a dependência do petróleo, o saldo da balança comercial já é positivo em 150 milhões de euros só nestes meses!
De facto, o que estava a matar a nossa economia não era só o défice público – eram também os centros comerciais!
É para acabar com esta notável mudança da nossa economia que os críticos da Austeridade lutam? É para continuar com a irresponsável aplicação de dinheiro e favorecimento injustificado de quem o empresta?
Estranhos tempos estes em que vivemos… em que a líder de um país que trabalhou e poupou enquanto todos os outros gastavam e se divertiam é acusada de estar a afundar a economia mundial!
Estranhos tempos estes em que Angela Merkel age seguindo os princípios da esquerda para defender os interesses das populações e é apontada como fascista, enquanto as esquerdas acabam por defender os ilegítimos interesses do neo-liberalismo que comanda a alta finança e criou a sociedade mais desigual de que há memória, concentrando a riqueza em um por cento e deixando as dívidas nas mãos de 99 por cento dos cidadãos!
José Gomes Ferreira
http://sicnoticias.sapo.pt/opinionMaker ... ue-vivemos
Milhões de cidadãos na Europa e nos Estados Unidos estão a ser levados a tomar posições que favorecem objectivamente os mercados financeiros e, em particular, os agentes mais gananciosos da especulação, que em lugar de serem punidos pelos graves erros que cometeram estão a ser beneficiados, em prejuízo do cidadão trabalhador e contribuinte. Em especial, alguma esquerda, a área política que sempre defendeu o trabalho honesto como modo de vida e a solidariedade do estado para quem realmente precisa, está a contribuir para o contrário do que apregoa.
A influente revista The Economist, publicação com sede em Londres, crítica declarada do projecto do Euro desde o seu início, volta esta semana à carga contra a senhora Merkel, com uma capa muito sugestiva. Um desenho de um navio de mercadorias com o nome de Economia Mundial afunda-se em pleno oceano enquanto alguém grita da torre de comando – Podemos ligar agora os motores, senhora Merkel?
No artigo que resume o tema de capa, o articulista que nunca assina é muito claro – apenas a chanceler alemã tem a chave para recuperar a economia mundial e não está a querer usá-la.
A tese é a mesma de sempre – Berlim tem de mudar o foco da austeridade para o crescimento económico. A mesma conversa da Administração Americana e de todos os investidores, jornalistas e analistas que, do outro lado do Atlântico ou do Canal da Mancha criticam a Europa do Euro. Os mesmos que nunca viram a crise do sub-prime a aproximar-se e a financeirização da economia ocidental a dar cabo dessa mesma economia, a empurrar as empresas industriais para outras zonas do globo e a deixar um rasto de dívida insustentável em todos os recantos da nossa civilização.
Sejamos claros.
Defender mais gastos orçamentais para estimular a economia é defender a aposta na continuidade de uma procura interna baseada em dinheiro que o países não têm, que a economia não gera, que tem pouca ou nenhuma utilidade económica porque não é investimento orientado para uma procura espontânea mas sim induzida, logo insustentável e que, em rigor, vai aumentar ainda mais a dívida externa. Vai aumentar ainda mais o risco da banca, do Estado, das empresas em geral. Vai aumentar as taxas, e o montante absoluto de juros efectivamente pagos a quem nos empresta o dinheiro.
Esta formulação é válida para Portugal, para Espanha, para tália, para a França, para A Bélgica, para a Holanda – sim para a aparentemente rica Holanda, também altamente endividada – para o reino Unido e para os Estados Unidos.
O que Angela Merkel está a querer fazer, em larga escala, é cortar a dependência viciosa e fatal das economias em que vivemos em relação aos grandes bancos que nos intoxicaram de crédito. (Sim, os banqueiros fizeram o que os políticos lhes permitiram, ou lhes pediram, e por isso foram recompensados. Aliás, a recompensa surge muito frequentemente sob a forma de cargos nos governos, na banca internacional, nos governos outra vez, na banca… etc. Neste dossier, o expoente máximo é mesmo Washington).
O que Angela Merkel quer fazer é proteger o chefe de família trabalhador, cumpridor, pagador de impostos, sóbrio solidário e pouco endividado – o mesmo que as esquerdas juram defender.
Como escrevemos no artigo anterior (A Tragédia a acontecer e quase ninguém a ver…de novo), os mesmos financeiros que agora se guiam por algoritmos para continuar a ganhar com a queda dos devedores, depois de terem ganho biliões com a sua subida vertiginosa e alavancada, os mesmos que pulavam de conferência em conferência para denegrir o papel do Estado e exigir a sua saída da economia, são os mesmos que chamam o estado para resolver os problemas dos seus bancos quando a concessão irresponsável de crédito corre mal.
A reacção em forte alta dos mercados financeiros, esta segunda-feira de manhã na primeira sessão após o resgate público anunciado no Sábado aos bancos espanhóis é bem a prova desta hipocrisia. Num ápice, um problema de 100 mil milhões de euros que estava nos balanços dos bancos espanhóis passou para os bolsos dos contribuintes de Espanha. E passará para os bolsos dos alemães se o país vizinho não puder pagar, situação que não é improvável. Mas os mercados financeiros aplaudiram – têm o problema dos senhor que neles mandam – os sacrossantos accionistas – resolvido.
Mas como dissemos, o problema apenas transitou de uns protagonistas para outros, mantém-se em Espanha e em, última instância, na Zona Euro. E por isso, os juros da dívida pública espanhola, que inicialmente desceram levados pela mesma euforia, já estão de novo a subir.
Parar com a alavancagem insustentável dos Estados, da banca, das empresas e das famílias é o objectivo de Berlim. Devia ser o objectivo de todos nós. Devíamos deixar de ser reféns de um sector que têm um objectivo nobre – disponibilizar às empresas dinheiro para desenvolverem negócios sustentáveis, que foi poupado por quem não sabe aplicá-lo em larga escala noutras actividades – mas que perdeu esse objectivo de vista e se transformou em financiador de ineficiências públicas e privadas para seu próprio benefício.
Continuar com programas de estímulo orçamental com recurso a crédito para financiar actividades que não têm procura natural nem são sustentáveis; deixar de fazer a mudança estrutural da economia de serviços de ficção em que nos transformámos; impedir que nos viremos para a indústria, para a produção de bens concretos mas que dão menos lucro a curto prazo; isso sim, é continuar o desastre económico em que temos vivido.
Mas é o que quer Wall Street e a City: que os contribuintes europeus paguem os desmandos dos bancos em risco; que os contribuintes europeus paguem as dívidas dos países que por culpa própria se endividaram; e que os governos europeus dos países que ainda não se endividaram perigosamente, como a Alemanha, gastem mais e se endividem ainda mais.
Assim se manteria o nível de rendimentos da City e de Wall Street. E assim se evitaria que a armadilha sobre a qual os maiores bancos de investimento do mundo estão sentados, o mercado OTC – Over the counter – ou mercado não regulamentado de derivados, fosse desactivada. Pois essa armadilha vai ter de ser desactivada. É um brinquedo demasiado caro e perigoso para o Mundo.
E aqui está como uma inocente defesa de mais investimento pelos Governos para evitar o agravamento da crise e dos despedimentos, uma simples crítica à austeridade e aos seus efeitos, se está a transformar na mais forte estratégia de defesa dos especuladores dos mercados financeiros.
Para quem pensa que não há esperança na austeridade, leia bem o boletim desta segunda-feira do Instituto Nacional de Estatística sobre o Comércio Internacional de Portugal:
Nos primeiros quatro meses do ano, a taxa de cobertura das importações pelas exportações já vai em 81,8 por cento! Há quantas décadas não acontecia isto?
E se retirarmos os combustíveis e lubrificantes da conta – a dependência do petróleo, o saldo da balança comercial já é positivo em 150 milhões de euros só nestes meses!
De facto, o que estava a matar a nossa economia não era só o défice público – eram também os centros comerciais!
É para acabar com esta notável mudança da nossa economia que os críticos da Austeridade lutam? É para continuar com a irresponsável aplicação de dinheiro e favorecimento injustificado de quem o empresta?
Estranhos tempos estes em que vivemos… em que a líder de um país que trabalhou e poupou enquanto todos os outros gastavam e se divertiam é acusada de estar a afundar a economia mundial!
Estranhos tempos estes em que Angela Merkel age seguindo os princípios da esquerda para defender os interesses das populações e é apontada como fascista, enquanto as esquerdas acabam por defender os ilegítimos interesses do neo-liberalismo que comanda a alta finança e criou a sociedade mais desigual de que há memória, concentrando a riqueza em um por cento e deixando as dívidas nas mãos de 99 por cento dos cidadãos!
José Gomes Ferreira
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