A minha visão sobre a situação actual (Deja vu?)
A minha visão sobre a situação actual (Deja vu?)
Fui bombardeado com mails e MP`s (cerca de 30) sobre o que aconteceu esta noite e qual a minha visão sobre o mercado. Vou ser muito curto e voltar a transcrever um artigo meu passado que reflecte melhor o que penso do que quaisquer palavras novas que escreva.
Não tivesse a SEC (A CMVM lá dos States) anunciado medidas extraordinárias (sobre as quais se centra o meu artigo antigo) e eu estaria aqui verdadeiramente entusiasmado com a vela de inversão de ontem e o "gap" fabuloso de hoje. Em termos teóricos, estariam todas as condições criadas para termos atingido um fundo em "V": Quedas violentas, volumes fantásticos, falências de bancos, pessimismo extremo e uma inversão "intraday" de sonho num verdadeiro "washout".
Infelizmente, há um elemento extra que contribuiuu para isso e distorceu, por completo, o movimento normal dos mercados: A Proibição, por parte da SEC (bem como das autoridades britânicas), das posições curtas sobre as acções financeiras. Naturalmente que isto provocou aquilo que se designa por "Short squeeze", ou seja, todos os que detêm posições curtas têm que correr para fechar as suas posições (comprando acções ou futuros ou CFD`s), provocando uma pressão compradora absolutamente incrível e provocando subidas históricas.
Não é virgem esta decisão. Após longos anos de "Bear Market", no Japão, a decisão foi semelhante e a reacção também. Obviamente que, durante alguns tempos, é muito difícil atirar este mercado abaixo. Infelizmente, como tudo o que é artificial, chegará uma altura em que este efeito artificial termina e as acções voltam ao seu rumo normal.
Não gosto de ser profeta e acho essencial manter sempre a flexibilidade mental que me permita corrigir as minhas análises erradas de forma a não remar contra a corrente. Contudo, vou deixar aqui um artigo que escrevi há alguns anos e que, no meu entender, é um bom "guia" (em termos gráficos) do que pode eventualmente suceder nesta situação semelhante (subida violenta,, manutenção da tendência de subida por mais algum tempo e depois o retorno à tendência predominante antes da "mão mágica" ter feito a sua aparição nos mercados).
A morte dos últimos bodes expiatórios
Cada vez mais leio opiniões de muitos investidores defendendo que uma grande parte das quedas que têm assolado os mercados mundiais, nos últimos 30 meses, se deve aos detentores de posições curtas. Julgo ser a altura de deixar aqui a minha opinião sobre essa matéria.
Para aqueles que estão menos familiarizados com estas questões, recordo que os detentores de posições curtas (vou usar o termo inglês “short”, de forma a tornar menos denso este artigo) se posicionam de forma inversa aos accionistas “normais”, vendendo primeiro e comprando depois, de forma a tentar obter ganhos com a queda dos mercados (perdendo, obviamente, se as cotações subirem).
Uma vez que quem está “short” beneficia das quedas dos mercados, começa a ser comum ouvir que é pelo facto de importantes investidores estarem “shorts” que os mercados caem há longos meses para cá. Eu, pessoalmente, discordo completamente desta ideia que começa a conquistar cada vez mais adeptos!
Na minha opinião, o facto de se poder “shortar” só traz vantagens ao mercado. Por um lado, permite um preço de equilíbrio entre compradores e vendedores mais justo (se em Portugal se pudesse “shortar” warrants, os preços deles seriam bem mais justos!). Por outro lado, os “shorts” dotam o mercado de uma maior liquidez, para benefício dos investidores que enfrentam “spreads” mais pequenos e das corretoras que vêem as suas comissões crescerem.
O grande argumento de quem acusa os “shorts” de serem os grandes responsáveis pelas quedas dos mercados mundiais é de que a pressão vendedora que exercem é tão forte que os mercados são, naturalmente, empurrados para baixo. Contudo, esquecem-se de um pormenor muito importante que é o facto dessas posições terem que ser fechadas. Quando isso acontece, a sua pressão deixa de ser vendedora para passar a ser compradora.
É por isso que as maiores subidas ocorrem em “bear markets”. Geralmente as subidas são violentas e curtas e resultam, sobretudo, dos “shorts” a apressarem-se a fechar posições, o que dá explosividade ao movimento de subida. A título de curiosidade, das maiores 10 subidas da história do Nasdaq, 8 registaram-se nos últimos 30 meses. Sintomático...
Uma situação muito curiosa ocorreu, durante este ano, no mercado japonês. Depois de 20 anos de “bear market” (sim, ouviram bem... 20 anos!), as autoridades nipónicas tentaram inverter a tendência de queda, anunciando medidas que tornam muito difíceis (eu diria praticamente impossível) efectuar “shorts” sobre acções japonesas.
O momento escolhido para anunciar esta polémica medida não foi, no meu ponto de vista, inocente. A decisão foi anunciada em Fevereiro deste ano, depois do mercado ter testado os mínimos de Setembro, criando a ilusão de que se tinha formado um duplo fundo perfeito.
A reacção que se seguiu foi explosiva. Como podem ver no gráfico, o Nikkei (o principal índice japonês), depois dessa decisão, subiu cerca de 30% em pouco mais de um mês!
Os “shorts” entraram em pânico e atropelaram-se para fechar as suas posições, exercendo uma pressão compradora muito violenta, o que criou um clima de euforia no mercado nipónico e a convicção de que, finalmente, o terrível “bear market” tinha chegado ao fim. As autoridades japonesas esfregavam as mãos de contentes...
Contudo, estes movimentos artificiais estão sempre condenados a fracassarem, mais cedo ou mais tarde. O tempo encarrega-se de colocar no sítio aquilo que foi tirado do lugar de uma forma artificial. E foi isso que aconteceu no Nikkei. Os compradores começaram a perder força e os vendedores voltaram ao mercado em força. O resultado foi que, anteontem, o mercado japonês atingiu o nível mais baixo dos últimos 20 anos!
Ou seja, não foi o facto de terem tornado a vida difícil aos “shorts” (hoje em dia é quase impossível “shortar” acções japonesas) que o mercado recuperou de uma forma consistente. Caíam assim por terra os argumentos daqueles que defendiam que os “shorts” impediam a recuperação do mercado japonês.
No fundo, esta ira contra os “shorts” não é mais do que descarregar a frustração dos nossos insucessos sobre alguém. Em tempos foi sobre a CMVM, noutros tempos sobre o Governo, agora os bodes expiatórios são os “shorts”.
Acho que é tempo de percebermos que a culpa não é dos outros, nem muito menos dos mercados. É tempo de olharmos para dentro de nós e vermos onde é que erramos e porque é que perdemos dinheiro.
Nós não podemos controlar o mercado, mas podemos controlar a nossa forma de negociar.
Um abraço,
Ulisses
Não tivesse a SEC (A CMVM lá dos States) anunciado medidas extraordinárias (sobre as quais se centra o meu artigo antigo) e eu estaria aqui verdadeiramente entusiasmado com a vela de inversão de ontem e o "gap" fabuloso de hoje. Em termos teóricos, estariam todas as condições criadas para termos atingido um fundo em "V": Quedas violentas, volumes fantásticos, falências de bancos, pessimismo extremo e uma inversão "intraday" de sonho num verdadeiro "washout".
Infelizmente, há um elemento extra que contribuiuu para isso e distorceu, por completo, o movimento normal dos mercados: A Proibição, por parte da SEC (bem como das autoridades britânicas), das posições curtas sobre as acções financeiras. Naturalmente que isto provocou aquilo que se designa por "Short squeeze", ou seja, todos os que detêm posições curtas têm que correr para fechar as suas posições (comprando acções ou futuros ou CFD`s), provocando uma pressão compradora absolutamente incrível e provocando subidas históricas.
Não é virgem esta decisão. Após longos anos de "Bear Market", no Japão, a decisão foi semelhante e a reacção também. Obviamente que, durante alguns tempos, é muito difícil atirar este mercado abaixo. Infelizmente, como tudo o que é artificial, chegará uma altura em que este efeito artificial termina e as acções voltam ao seu rumo normal.
Não gosto de ser profeta e acho essencial manter sempre a flexibilidade mental que me permita corrigir as minhas análises erradas de forma a não remar contra a corrente. Contudo, vou deixar aqui um artigo que escrevi há alguns anos e que, no meu entender, é um bom "guia" (em termos gráficos) do que pode eventualmente suceder nesta situação semelhante (subida violenta,, manutenção da tendência de subida por mais algum tempo e depois o retorno à tendência predominante antes da "mão mágica" ter feito a sua aparição nos mercados).
A morte dos últimos bodes expiatórios
Cada vez mais leio opiniões de muitos investidores defendendo que uma grande parte das quedas que têm assolado os mercados mundiais, nos últimos 30 meses, se deve aos detentores de posições curtas. Julgo ser a altura de deixar aqui a minha opinião sobre essa matéria.
Para aqueles que estão menos familiarizados com estas questões, recordo que os detentores de posições curtas (vou usar o termo inglês “short”, de forma a tornar menos denso este artigo) se posicionam de forma inversa aos accionistas “normais”, vendendo primeiro e comprando depois, de forma a tentar obter ganhos com a queda dos mercados (perdendo, obviamente, se as cotações subirem).
Uma vez que quem está “short” beneficia das quedas dos mercados, começa a ser comum ouvir que é pelo facto de importantes investidores estarem “shorts” que os mercados caem há longos meses para cá. Eu, pessoalmente, discordo completamente desta ideia que começa a conquistar cada vez mais adeptos!
Na minha opinião, o facto de se poder “shortar” só traz vantagens ao mercado. Por um lado, permite um preço de equilíbrio entre compradores e vendedores mais justo (se em Portugal se pudesse “shortar” warrants, os preços deles seriam bem mais justos!). Por outro lado, os “shorts” dotam o mercado de uma maior liquidez, para benefício dos investidores que enfrentam “spreads” mais pequenos e das corretoras que vêem as suas comissões crescerem.
O grande argumento de quem acusa os “shorts” de serem os grandes responsáveis pelas quedas dos mercados mundiais é de que a pressão vendedora que exercem é tão forte que os mercados são, naturalmente, empurrados para baixo. Contudo, esquecem-se de um pormenor muito importante que é o facto dessas posições terem que ser fechadas. Quando isso acontece, a sua pressão deixa de ser vendedora para passar a ser compradora.
É por isso que as maiores subidas ocorrem em “bear markets”. Geralmente as subidas são violentas e curtas e resultam, sobretudo, dos “shorts” a apressarem-se a fechar posições, o que dá explosividade ao movimento de subida. A título de curiosidade, das maiores 10 subidas da história do Nasdaq, 8 registaram-se nos últimos 30 meses. Sintomático...
Uma situação muito curiosa ocorreu, durante este ano, no mercado japonês. Depois de 20 anos de “bear market” (sim, ouviram bem... 20 anos!), as autoridades nipónicas tentaram inverter a tendência de queda, anunciando medidas que tornam muito difíceis (eu diria praticamente impossível) efectuar “shorts” sobre acções japonesas.
O momento escolhido para anunciar esta polémica medida não foi, no meu ponto de vista, inocente. A decisão foi anunciada em Fevereiro deste ano, depois do mercado ter testado os mínimos de Setembro, criando a ilusão de que se tinha formado um duplo fundo perfeito.
A reacção que se seguiu foi explosiva. Como podem ver no gráfico, o Nikkei (o principal índice japonês), depois dessa decisão, subiu cerca de 30% em pouco mais de um mês!
Os “shorts” entraram em pânico e atropelaram-se para fechar as suas posições, exercendo uma pressão compradora muito violenta, o que criou um clima de euforia no mercado nipónico e a convicção de que, finalmente, o terrível “bear market” tinha chegado ao fim. As autoridades japonesas esfregavam as mãos de contentes...
Contudo, estes movimentos artificiais estão sempre condenados a fracassarem, mais cedo ou mais tarde. O tempo encarrega-se de colocar no sítio aquilo que foi tirado do lugar de uma forma artificial. E foi isso que aconteceu no Nikkei. Os compradores começaram a perder força e os vendedores voltaram ao mercado em força. O resultado foi que, anteontem, o mercado japonês atingiu o nível mais baixo dos últimos 20 anos!
Ou seja, não foi o facto de terem tornado a vida difícil aos “shorts” (hoje em dia é quase impossível “shortar” acções japonesas) que o mercado recuperou de uma forma consistente. Caíam assim por terra os argumentos daqueles que defendiam que os “shorts” impediam a recuperação do mercado japonês.
No fundo, esta ira contra os “shorts” não é mais do que descarregar a frustração dos nossos insucessos sobre alguém. Em tempos foi sobre a CMVM, noutros tempos sobre o Governo, agora os bodes expiatórios são os “shorts”.
Acho que é tempo de percebermos que a culpa não é dos outros, nem muito menos dos mercados. É tempo de olharmos para dentro de nós e vermos onde é que erramos e porque é que perdemos dinheiro.
Nós não podemos controlar o mercado, mas podemos controlar a nossa forma de negociar.
Um abraço,
Ulisses
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