Entender o crédito à habitação.
O que o artigo diz é que os bancos estão desesperados por aumentar as margens e tentam a todo o custo "renegociar" hipotecas. A seu favor, claro.
Sei de um banco que está a "aconselhar" os seus clientes a passar as hipotecas com taxa variável indexada à Euribor para taxa fixa, mais alta que a actual. Segundo o banco isso é vantajoso para o cliente porque "as taxas de juro vão subir muito mais e assim ficam precavidos" ...
Sei de um banco que está a "aconselhar" os seus clientes a passar as hipotecas com taxa variável indexada à Euribor para taxa fixa, mais alta que a actual. Segundo o banco isso é vantajoso para o cliente porque "as taxas de juro vão subir muito mais e assim ficam precavidos" ...
As pessoas são tão ingénuas e tão agarradas aos seus interesses imediatos que um vigarista hábil consegue sempre que um grande número delas se deixe enganar.
Niccolò Machiavelli
http://www.facebook.com/atomez
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Lion, os bancos nunca perdem? é por isso que não vão à falência? vindos de onde vimos, acho a tua frase extraordinária. Onde tens estado nos ultimos tempos?
Eu também partilho da opinião do Lion: os bancos nunca perdem.
De entre os negócios legais, o negócio bancário talvez só seja superado pelos negócios da morte.
Nem sequer a triologia legal álcool/jogo/drogas ( bebidas/casinos/tabaco ) se aproxima, analizando a maioria dos itens que interessam esmiuçar, do negócio ( negócio, mesmo negócio ) bancário. Esta triologia para justificar a legalidade é onerada com impostos altissimos e os bancos não e até sucede o contrário.
Nos ilegais, ombreia com os light ( contrabando, etç ).
O negócio bancário têm impostos importados da economia de risco quando, pela sua particularidade, é negócio de baixissimo risco e isto é para ser amigo, porque possivelmente estamos na zona de risco desprezível.
O problema é que o círculo está blindado e pouquissimos podem aceder ao negócio. O estado não deixa, blindou-o.
Na banca, num universo de mil clientes, o incumprimento por parte de 1 é irrelevante porque antecipadamente foi repercurtido nos restantes 999 e mesmo este incumprimento têm os seus quês... Mal está quem vende e em cada 100 facturados têm dificuldade em receber 30 ( estado à cabeça ) e desses 5 ficarão nos irrecuperáveis, juntando a isto margens irrisórias.
Lembro-me do que há muitos anos me dizia o meu Pai: os bancos só emprestam a quem tem. Alguém que não tenha património, rendimentos estáveis ou fiador seguro experimente pedir um crédito ao banco, mesmo que seja só 500 euros? Se está teso, teso ficará, sem a menor dúvida.
Ah pois, então aquele crédito fácil, tipo crédito telefónico? sim, é fácil mas juros de 30% é roubo ( usura? ) e já diz a Santa Madre Igreja que roubar é pecado, isto é, ou será que os judeus é que estão na génese do negócio?
Percebo bem o subjacente.
Há perdas nos bancos, é verdade.
Em Portugal um pouco já que o estado é amigo e perdulário. Tomara, o estado está na mão dos bancos ou será que o deficit orçamental é tapado com água do tejo? Será que quem pede pode exigir e a verdade é que o estado é quem mais pede.
Nos EUA as perdas são maiores, enormes buracos sem fundo.
Mas não foi o negócio bancário ( negócio, negócio ) que levou a estas perdas, cá e lá. Não foi a ganância, as offshores, a compra de activos que pouco mais são que papel higiénico, o investimento em nada, etç, etç e mais as luvas, bonus por nada, etç, etç?
Como é possível que num negócio que paga a matéria prima ( aos depositantes ) a 1 ou 2% e que depois, sem grande transformação, a vende a 10 ou 15% tal negócio não venha a dar chorudissimos lucros? ainda para mais tem pouca mão-de-obra e a esta na maioria remunera-a mal e explora-a até ao tutano?
O pilha-galinhas é que vai preso? então e os outros?
Cumprimentos,
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Pata-Hari Escreveu:Lion, os bancos nunca perdem? é por isso que não vão à falência? vindos de onde vimos, acho a tua frase extraordinária. Onde tens estado nos ultimos tempos?
Sim, já haviam casos de alteração de condições. Mas havia concorrência. Se o banco quisesse aumentar spreads,o cliente ia direito ao banco do lado.
O cliente do crédito á habitação é um cliente com uma relação longa. Daí a afirmar que é um produto de grande lucro, acho que revela desconhecimento. grande.
Por ultimo, estás a dizer que o PSG é um bancário?
Pata , viste algum banco Português falir? Ou com prejuizos? Sem ser é claro os casos fraudulentos que não tem nada a ver com a banca.
Se estamos em Portugal e este artigo também é sobre a banca Portuguesa não vamos falar sobre a banca estrangeira até porque são realidades completamente distintas.
Se como tu dizes o cliente de credito habitação não é um cliente de grande lucro não percebo a razão deste artigo e da guerra que existiu/existe sobre este tipo de clientes.
Se o PSG não é bancario fez um pobre trabalho de pesquisa, parece mais que se limitou a transcrever um documento enviado por algum banco.
Ps. Estive ligado a banca durante três anos na negociação de créditos.
" Richard's prowess and courage in battle earned him the nickname Coeur De Lion ("heart of the lion")"
Lion_Heart
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Lion, os bancos nunca perdem? é por isso que não vão à falência? vindos de onde vimos, acho a tua frase extraordinária. Onde tens estado nos ultimos tempos?
Sim, já haviam casos de alteração de condições. Mas havia concorrência. Se o banco quisesse aumentar spreads,o cliente ia direito ao banco do lado.
O cliente do crédito á habitação é um cliente com uma relação longa. Daí a afirmar que é um produto de grande lucro, acho que revela desconhecimento. grande.
Por ultimo, estás a dizer que o PSG é um bancário?
Sim, já haviam casos de alteração de condições. Mas havia concorrência. Se o banco quisesse aumentar spreads,o cliente ia direito ao banco do lado.
O cliente do crédito á habitação é um cliente com uma relação longa. Daí a afirmar que é um produto de grande lucro, acho que revela desconhecimento. grande.
Por ultimo, estás a dizer que o PSG é um bancário?
Re: Entender o crédito à habitação.
Pata-Hari Escreveu:Excelente artigo:Pedro Santos Guerreiro
Desempregados, divorciados e hipotecados
psg@negocios.pt
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Tem um crédito à habitação da década de zero? Não lhe toque, tudo o que fizer pode e será usado contra si. Perdeu o emprego, o salário, o marido, a mulher? "Lamentamos mas a sua prestação terá de subir. Volte sempre." E volta sempre.
Tem um crédito à habitação da década de zero? Não lhe toque, tudo o que fizer pode e será usado contra si. Perdeu o emprego, o salário, o marido, a mulher? "Lamentamos mas a sua prestação terá de subir. Volte sempre." E volta sempre.
Criticar a banca é sempre fácil, quase sempre é populista e muitas vezes é justo. Depois da crise financeira, apagada com o extintor dos contribuintes, há mesmo espíritos vingativos em alguns políticos, por vezes como manobra de diversão para os seus próprios fracassos. É por isso que os bancos precisam de inverter a imagem que deixaram na sociedade. Mas, na dúvida, precisam ainda mais de melhorar os seus resultados.
A crise financeira foi um invento dos bancos anglo-saxónicos mas os bancos europeus foram bons aprendizes dos erros alheios. Um dos erros clamorosos foi o da prática dos "spreads" zero vírgula qualquer coisa, uma negação do risco que está hoje a sair cara.
O "spread" que se soma às taxas Euribor é simultaneamente um medidor de risco e o lucro do banco. Ao eliminá-lo quase até ao zero, os bancos estavam, portanto, a abdicar de medir risco no seu cliente e da sua margem de lucro. No início, muitos bancos davam com uma mão (a taxa baixa) o que tiravam com a outra (as comissões altas). Mas como os governos lhes foram proibindo as comissões abusivas, as cláusulas leoninas, a impossibilidade de transferência de contratos, essa face oculta do empréstimo foi sendo extinta.
Foi um comportamento predatório contra si mesmos: hoje, grande parte do balanço dos bancos comerciais está amarrado a créditos à habitação de dezenas de anos com "spreads" baixos - e nada pode fazer para contrariá-lo. Os contratos estão assinados, os "direitos adquiridos" são dos clientes.
Excepto os clientes que precisem de alterar condições contratuais do seu crédito. Uma necessidade do cliente é um pretexto para o banco: o "spread" sobe. O "spread" sobe? Então o cliente não altera nada. Certo?
Errado: há clientes que não têm alternativa. A reportagem de hoje do Negócios mostra casos de desemprego que obrigam a dilatar o prazo do empréstimo. E de divórcios em que o contrato tem de passar de dois para um titular. Neste caso, a taxa de esforço (parte do rendimento afecta ao pagamento das prestações) pode até continuar a ser cumprida, mas mesmo assim a taxa sobe. A oportunidade torna-se oportunismo.
A injustiça está, pois, em que só os aflitos sofrem as revisões penalizadoras dos contratos. Os próprios bancos, que confessam que o desemprego e o divórcio são as principais causas para o crédito malparado na habitação, estão, pois, a contribuir para o ciclo negativo dessas pessoas, ao agravar-lhes a prestação.
Os bancos garantem que aprenderam a lição e que os juros que cobram jamais serão zero, o que cumprirão escrupulosamente até à próxima crise. Nos novos créditos, não há "spreads" invisíveis, o que por enquanto ainda é indolor, dado que as Euribor estão nos mínimos. Quando a economia europeia arribar, as taxas subirão e os bancos portugueses terão novos problemas de malparado.
Acabou o tempo do crédito ao preço da chuva. Mas mesmo hoje só chove em cima das cabeças de alguns clientes. É precisamente a esses que, cumprindo a famosa definição de Mark Twain, o banqueiro pede agora o chapéu-de-chuva de volta.
psg@negocios.pt
Não considero este um excelente artigo, alias ,acho que é mais uma opinião de um bancário para justificar a escalada brutal dos spreads bancários.
E explico: a banca é como os casinos , NUNCA perde .
Por cada cliente que não paga os outros noventa e nove pagam. Ao contrario da maioria dos negocios onde o preço não pode variar muito, a banca pode dar-se a luxo de imputar nos seus clientes os prejuizos. Senão vejamos , o ano 2009 foi um ano de "crash" , prejuizos, despedimentos e etc, menos na banca , os lucros continuaram.
Vamos analisar o artigo:
"Excepto os clientes que precisem de alterar condições contratuais do seu crédito. Uma necessidade do cliente é um pretexto para o banco: o "spread" sobe. O "spread" sobe? Então o cliente não altera nada. Certo?
Errado: há clientes que não têm alternativa. A reportagem de hoje do Negócios mostra casos de desemprego que obrigam a dilatar o prazo do empréstimo. E de divórcios em que o contrato tem de passar de dois para um titular. Neste caso, a taxa de esforço (parte do rendimento afecta ao pagamento das prestações) pode até continuar a ser cumprida, mas mesmo assim a taxa sobe. A oportunidade torna-se oportunismo. "
Ja existia casos em que o cliente não tinha alternativa , por ex. nos divorcios. Um juiz decidia que determinado imovel e por comum acordo ficava para uma das partes do ex-casal, que se comprometia a pagar o restante credito. Ora, dizem muitos de voces , pronto basta ir ao banco , levar a documentação , alterar o crédito e livrar uma das parte do encargo e do onus, certo? Errado, a banca reserva-se o direito de desonerar o ex-marido ou mulher, e se o quiser simplesmentene não o faz. E não o costuma fazer. Claro que tudo o resto servia como serve agora de desculpa para aumentar o "spread" e dar mais lucro a banca. Mesmo que o cliente esteja em dificuldades , ex: desemprego.
"Foi um comportamento predatório contra si mesmos: hoje, grande parte do balanço dos bancos comerciais está amarrado a créditos à habitação de dezenas de anos com "spreads" baixos - e nada pode fazer para contrariá-lo. Os contratos estão assinados, os "direitos adquiridos" são dos clientes. "
Tera sido mesmo um comportamento predatorio? Eu nao acredito nisso, acho mais que foi um comportamento para ganhar quota de mercado. O banco sabe que um cliente de credito hipotecario é o "maior" cliente do mundo, que se tudo correr bem ficam por la 30 ou 40 anos , logo são 30 ou 40 anos para "depenar" o cliente. Os direitos podem ter sido adquiridos mas não e por essa razão que muitos bancos tentam alterar essas condições pressionando os clientes para tal.
"O "spread" que se soma às taxas Euribor é simultaneamente um medidor de risco e o lucro do banco. Ao eliminá-lo quase até ao zero, os bancos estavam, portanto, a abdicar de medir risco no seu cliente e da sua margem de lucro. No início, muitos bancos davam com uma mão (a taxa baixa) o que tiravam com a outra (as comissões altas). Mas como os governos lhes foram proibindo as comissões abusivas, as cláusulas leoninas, a impossibilidade de transferência de contratos, essa face oculta do empréstimo foi sendo extinta. "
Mas será que os Governos proibiram mesmo? Não me parece , alias acho que hoje as comissões são maiores que nunca.
O "spread" baixo, não implica custos baixos ou até mesmo prejuizo para os bancos.
Ora vejamos , normalmente o "spread" baixo vinha com um camião de cross-selling associado , ex: cartoes visa , seguros, ppr, domiciliações , emprestimos pessoais, depositos a prazo e etc.
Ora se somarmos as comissões, despesas e custos com esse cross selling mais o "spread" , os lucros são enormes.
A bnaca tem dos melhores negócios do mundo e dos menos regulados , portanto sempre fez , faz e fara o que quiser. Não se esqueçam que a banca tem acesso e mexe nas contas de cada um sem lhe pedir autorização, quem mais pode fazer isso?
A banca nunca deu nada a ninguém , portanto quando leio artigos desta natureza só os entendo como uma forma para desculpar o abuso que se faz hoje em dia nos "spreads".
E como disse no inicio a Banca NUNCA perde.
" Richard's prowess and courage in battle earned him the nickname Coeur De Lion ("heart of the lion")"
Lion_Heart
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Re: Entender o crédito à habitação.
É verdade...
...que houve uma má ou até mesmo inexistente avaliação do risco das pessoas/entidades a quem eram concedidos os empréstimos. Não há dúvidas.
...que actualmente são os mais entaladados e os mais necessitados que mais sofrem as consequências, mesmo que por vezes a sua situação não o justifique.
...que em tempos de vacas gordas foi precisamente a ausência de avaliação de risco que permitiu aos bancos exponenciar os seus resultados. A expansão do crédito e do consequente enriquecimento dos bancos foi feito à custa da má ou inexistente avaliação de risco (permitiu conceder crédito a quem não deveriam).
...que agora, quando a ausência de crescimento económico faz tudo e mais alguma coisa cair que nem um baralho de cartas, ambos (bancos e devedores) estão entalados. Um por não conseguir pagar a divida, outro por não conseguir recebê-la (mesmo com garantias)!
Na questão do crédito mal parado a culpa até pode ser dos bancos (aliciaram tudo e todos com o crédito barato) mas a factura vai ser paga por ambos (banco e devedores). Sim, os bancos também terão perdas em dividas incobráveis, precisamente pelos excessos que praticaram.
Em suma, muito do que a economia "cresceu" (em forma de bolha) deveu-se a uma expansão enorme do crédito, quando, na realidade, a economia não crescia/produzia a um ritmo suficientemente capaz de transformar tamanho crédito em riqueza produzida.
Agora, num período em que a economia não cresce de todo, torna-se impossível "empurrar com a barriga" os elevados níveis de "mau" crédito. Posto isto, só se pode concluir que esta bolha tem que esvaziar, e que para tal, os ganhos do passado serão as perdas do presente.
É simples, tudo o que não está em equilibrio, para se equilibrar, tem que ceder por algum lado.
...que houve uma má ou até mesmo inexistente avaliação do risco das pessoas/entidades a quem eram concedidos os empréstimos. Não há dúvidas.
...que actualmente são os mais entaladados e os mais necessitados que mais sofrem as consequências, mesmo que por vezes a sua situação não o justifique.
...que em tempos de vacas gordas foi precisamente a ausência de avaliação de risco que permitiu aos bancos exponenciar os seus resultados. A expansão do crédito e do consequente enriquecimento dos bancos foi feito à custa da má ou inexistente avaliação de risco (permitiu conceder crédito a quem não deveriam).
...que agora, quando a ausência de crescimento económico faz tudo e mais alguma coisa cair que nem um baralho de cartas, ambos (bancos e devedores) estão entalados. Um por não conseguir pagar a divida, outro por não conseguir recebê-la (mesmo com garantias)!
Na questão do crédito mal parado a culpa até pode ser dos bancos (aliciaram tudo e todos com o crédito barato) mas a factura vai ser paga por ambos (banco e devedores). Sim, os bancos também terão perdas em dividas incobráveis, precisamente pelos excessos que praticaram.
Em suma, muito do que a economia "cresceu" (em forma de bolha) deveu-se a uma expansão enorme do crédito, quando, na realidade, a economia não crescia/produzia a um ritmo suficientemente capaz de transformar tamanho crédito em riqueza produzida.
Agora, num período em que a economia não cresce de todo, torna-se impossível "empurrar com a barriga" os elevados níveis de "mau" crédito. Posto isto, só se pode concluir que esta bolha tem que esvaziar, e que para tal, os ganhos do passado serão as perdas do presente.
É simples, tudo o que não está em equilibrio, para se equilibrar, tem que ceder por algum lado.
Entender o crédito à habitação.
Excelente artigo:
Pedro Santos Guerreiro
Desempregados, divorciados e hipotecados
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Tem um crédito à habitação da década de zero? Não lhe toque, tudo o que fizer pode e será usado contra si. Perdeu o emprego, o salário, o marido, a mulher? "Lamentamos mas a sua prestação terá de subir. Volte sempre." E volta sempre.
Tem um crédito à habitação da década de zero? Não lhe toque, tudo o que fizer pode e será usado contra si. Perdeu o emprego, o salário, o marido, a mulher? "Lamentamos mas a sua prestação terá de subir. Volte sempre." E volta sempre.
Criticar a banca é sempre fácil, quase sempre é populista e muitas vezes é justo. Depois da crise financeira, apagada com o extintor dos contribuintes, há mesmo espíritos vingativos em alguns políticos, por vezes como manobra de diversão para os seus próprios fracassos. É por isso que os bancos precisam de inverter a imagem que deixaram na sociedade. Mas, na dúvida, precisam ainda mais de melhorar os seus resultados.
A crise financeira foi um invento dos bancos anglo-saxónicos mas os bancos europeus foram bons aprendizes dos erros alheios. Um dos erros clamorosos foi o da prática dos "spreads" zero vírgula qualquer coisa, uma negação do risco que está hoje a sair cara.
O "spread" que se soma às taxas Euribor é simultaneamente um medidor de risco e o lucro do banco. Ao eliminá-lo quase até ao zero, os bancos estavam, portanto, a abdicar de medir risco no seu cliente e da sua margem de lucro. No início, muitos bancos davam com uma mão (a taxa baixa) o que tiravam com a outra (as comissões altas). Mas como os governos lhes foram proibindo as comissões abusivas, as cláusulas leoninas, a impossibilidade de transferência de contratos, essa face oculta do empréstimo foi sendo extinta.
Foi um comportamento predatório contra si mesmos: hoje, grande parte do balanço dos bancos comerciais está amarrado a créditos à habitação de dezenas de anos com "spreads" baixos - e nada pode fazer para contrariá-lo. Os contratos estão assinados, os "direitos adquiridos" são dos clientes.
Excepto os clientes que precisem de alterar condições contratuais do seu crédito. Uma necessidade do cliente é um pretexto para o banco: o "spread" sobe. O "spread" sobe? Então o cliente não altera nada. Certo?
Errado: há clientes que não têm alternativa. A reportagem de hoje do Negócios mostra casos de desemprego que obrigam a dilatar o prazo do empréstimo. E de divórcios em que o contrato tem de passar de dois para um titular. Neste caso, a taxa de esforço (parte do rendimento afecta ao pagamento das prestações) pode até continuar a ser cumprida, mas mesmo assim a taxa sobe. A oportunidade torna-se oportunismo.
A injustiça está, pois, em que só os aflitos sofrem as revisões penalizadoras dos contratos. Os próprios bancos, que confessam que o desemprego e o divórcio são as principais causas para o crédito malparado na habitação, estão, pois, a contribuir para o ciclo negativo dessas pessoas, ao agravar-lhes a prestação.
Os bancos garantem que aprenderam a lição e que os juros que cobram jamais serão zero, o que cumprirão escrupulosamente até à próxima crise. Nos novos créditos, não há "spreads" invisíveis, o que por enquanto ainda é indolor, dado que as Euribor estão nos mínimos. Quando a economia europeia arribar, as taxas subirão e os bancos portugueses terão novos problemas de malparado.
Acabou o tempo do crédito ao preço da chuva. Mas mesmo hoje só chove em cima das cabeças de alguns clientes. É precisamente a esses que, cumprindo a famosa definição de Mark Twain, o banqueiro pede agora o chapéu-de-chuva de volta.
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