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Caldeirão da Bolsa

Os bancos vão ter de perder dinheiro

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por Automech » 27/7/2011 9:30

fooman Escreveu:Ao contrário de outras opiniões, eu acho que está na altura de começarmos a perceber que também é necessário destruir (casas, prédios, condomínios, estádios) para se poder andar para a frente!


Em relação aos estádios, eu percebo a lógica do teu comentário, mas porque é que dizes isto em relação a casas ou prédios Fooman ? Sobretudo sabendo que o mercado de arrendamento é bastante escasso.
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por fooman » 27/7/2011 9:07

Algumas considerações a este post...

1. O Ulrich faz o papel de "calimero", que para mim custa-me a perceber vindo de um CEO que rejeitou uma OPA em condições únicas e irrepetíveis. A sorte deste calimero é que o BPI é uma gotinha de água no universo da Critéria Caixa Corp (dona de 27%) e eles andam demasiados entretidos com outras coisas como, por exemplo, onde irão passar as férias de verão;

2. Em relação ao artigo do PSG, há uma coisa que está esquecida. Portugal é o país da Europa onde é necessário dar mais colateral (garantias) para se ter "direito" a aceder a um empréstimo. Não é como na Irlanda em que o colateral é a casa e nada mais. O nervosismo evidente das banquetas portuguesas tem que ver com o facto de ter que mostrar os livros e permitir que a troika veja as malandrices que estes aprendizes de banqueiro têm feito nos ultimos anos... nesse aspecto, o artigo falha por completo;

3. O problema dos bancos em PT não é o crédito habitação mas sim o crédito comercial, ou seja, as dezenas de milhar de condomínios que os bancos têm em carteira, fruto das execuções e falências das empresas construtoras, cancro deste país à beira-mar plantado. Contra esse mal-parado não há muito a fazer (e penso que a troika vai perceber isso). Ao contrário de outras opiniões, eu acho que está na altura de começarmos a perceber que também é necessário destruir (casas, prédios, condomínios, estádios) para se poder andar para a frente!
 
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por Pata-Hari » 27/7/2011 8:10

Encontrei:

Ulrich: "Enquanto me lembrar, não quero voltar ao mercado"
25 Julho 2011 | 12:55
Maria João Gago - mjgago@negocios.pt

Ana Laranjeiro - alaranjeiro@negocios.pt
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"Enquanto me lembrar do que é que o mercado de capitais me fez, eu não quero voltar ao mercado de capitais", afirmou hoje Fernando Ulrich, presidente do BPI. Veja aqui o vídeo.
"Pensamos que fizemos uma gestão prudente do banco e, a partir de determinada altura, o mercado desapareceu. Não posso voltar a deixar o banco estar nesta situação. Por confiar na estabilidade dos mercados, fiquei exposto", sublinhou o gestor.

"Não quero voltar a ter uma grande carteira de crédito à habitração, nem uma grande carteira de parcerias público-privadas financiadas por obrigações. Se não, de repente, o mercado desaparece e voltamos a ter a situação que temos hoje". avisou o banqueiro, no Fórum Banca organizado pelo Diário Económico.
Tem video: http://www.jornaldenegocios.pt/home.php ... &id=497777
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por Pata-Hari » 27/7/2011 7:51

Ontem houve um artigo interessante (na série dos das declarações do Ulrich), a explicar que a situação de fecho de mercado para a dívida colocou o banco numa situação de vulnerabilidade que ele certamente não deixará que se volte a repetir. Achei interessante (não sei onde está, senão linkava para aqui agora). E aprendo sempre qualquer coisa com os comentários dele - coisa que aprecio.
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por SERRA LAPA » 27/7/2011 0:42

Este Pedro Guerreiro está brilhante.
O homem de facto há já uns largos meses que tem estado " com a mão quente...sempre na mouche".
Embora numa ou noutra posição discorde dele, não deixo de reconhecer a sua capacidade.

Para finalizar deixo apenas uma sugestão, como seria o país com governantes que nos dissessem as verdades, sem estarem hipotecados ao poder económico, que lhes garante os lugares, por influências, junto ao eleitorado através dos orgãos de comunicação social e financiamento das campanhas...
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por rubini » 26/7/2011 21:49

Touché PSG.

Acompanho as crónicas deste senhor faz muito tempo, mas não sei o que se terá passado nos últimos 2 a 3 meses para ele escrever tanta coisa acertada, de forma tão eloquente e com tão poucos dias de intervalo entre cada uma.

O Je agradece e fica contente por haver quem questione o status quo e tudo o que é veiculado como cantiga recorrente pelos senhores do poder.
 
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por artista_ » 26/7/2011 21:34

Atomez Escreveu:Andaram durante décadas a alimentarem-se uns aos outros -- políticos e banqueiros -- mas agora acabou-se a teta...


A teta talvez se tenha acabado, mas o leite derramado seremos nós que temos de o pagar! :|
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por atomez » 26/7/2011 20:59

Estão mesmo a ficar desesperados. Há muitos e muito grandes interesses instalados a ser atingidos.

Andaram durante décadas a alimentarem-se uns aos outros -- políticos e banqueiros -- mas agora acabou-se a teta...

Atenção que é em alturas assim que começam a aparecer "salvadores da nação" com medidas tipo golpe de estado e saída do Euro como "medida patriótica para salvar a independência nacional"... ou melhor, salvá-los a eles de terem de engolir as dívidas e os malparados.

WSJ Escreveu:Portugal Banks Push for Bailout Changes

LISBON—Portugal's banks are pushing for changes in the assistance they are receiving under the €78 billion ($112.13 billion) bailout agreement for the country, saying the agreement doesn't address the serious liquidity problems the sector is facing and will instead lead to a drop in lending that will further hurt the fragile economy.

The request, likely to become official when banks meet with European Union and International Monetary Fund officials next week, relates to €12 billion that the government is required to set aside to help banks increase their capital ratios in times of financial stress.

Bank officials say that the government should simply use that money to pay back what it owes to the sector in loans—an estimated €50 billion. Banks claim they would pump that money into Portugal's economy through loans to the private sector.

"A capitalization line under the bailout shouldn't even exist, and this money should be given to the public sector so it can pay the banks," Banco BPI SA President Fernando Ulrich said in an event Monday.

Peers from Banco Espirito Santo SA, Banco Comercial Português SA and even state-owned Caixa Geral de Depositos have echoed his view.

Banking officials have also said another measure under the EU-IMF program—a €35 billion plan that allows banks to issue government-backed guaranteed bonds—hasn't helped, as investors continue to be wary about investing in the institutions.

The banks' exposure to Portugal's public sector is the main reason why they got sharply hit by the debt crisis despite still being profitable and little exposed to the complex instruments that struck the financial sectors in the U.S. and Europe. Portugal's public sector has ballooned over the years,and instead of lending to companies, banks saw themselves providing loans to public entities. Once public coffers dried up, banks stopped receiving the loan repayments.

Now, the banking sector gets all of its funding—currently €44 billion—from the European Central Bank.

"The amount we have lent to the state is very similar to how much we have borrowed from the ECB," Banco Espirito Santo President Ricardo Salgado said. "The situation we are in is a direct result of the state's indebtedness."

How much banks lend to the economy will be vital to the success of the bailout. EU and IMF officials hope that while Portugal takes austerity measures to immediately control a spiraling budget deficit, it will also take steps to make economic growth sustainable.

The country of less than 11 million people has managed growth of only 1% a year in the past decade. Its economy is now contracting, with a pickup only likely in 2013.

So far, banks have done little to help boost the economy, saying their lending will inevitably fall as they try to become less reliant on external funding to operate. Loan-to-deposit ratios of Portuguese banks are high at around 150%.

While lending to households continues to be stable this year, loans to companies have already fallen, according to the Bank of Portugal.

Knowing that the banks are vital to helping Portugal climb out of its slump, the country's central bank has urged them to sell assets and continue to finance companies, especially exporters that could help balance a current trade deficit.

However, banks remain resistant, saying buyers are scarce, and selling the most valuable assets, including profitable operations in Africa, would hurt their businesses in the long term.

Portugal Finance Minister Vitor Gaspar has said the government is committed to keeping the banking sector stable. All four institutions passed the recent EU-wide stress tests.

Bank officials, however, aren't satisfied, especially because adjustments in their operations will hurt profit and shareholders. On Tuesday, BPI reported a 38% drop in second-quarter net profit on lower lending income. Although its Core Tier 1 ratio rose above the 9% Bank of Portugal has set as a minimum, the bank said it was again forced to seek funding from the ECB, borrowing €1 billion in the quarter, and highlighting the sector's continuous liquidity constraints.

"I'm sorry to say, but the bailout plan for the financial system doesn't any make sense and needs to be re-programmed," Mr. Ulrich said.
As pessoas são tão ingénuas e tão agarradas aos seus interesses imediatos que um vigarista hábil consegue sempre que um grande número delas se deixe enganar.
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por PIKAS » 26/7/2011 19:48

Atomez Escreveu:A coleção de arte do Berardo está avaliada em €316 milhões e é mais que provável que esteja dada como colateral à CGD.



A coleção está como garantia em apenas 75% do seu valor.

Notícia do " Expresso " de 27 de Janeiro de 2009

http://aeiou.expresso.pt/banca-salva-be ... ia=f494258

O estado têm opção de compra de toda a coleção em 2017 por estes mesmos 316 milhões de euros em que está avaliada ( acordo para a constituição da fundação ).

http://213.13.186.1/clippingfileant/imp ... 232327.pdf


Cumprimentos,
 
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por atomez » 26/7/2011 19:25

A coleção de arte do Berardo está avaliada em €316 milhões e é mais que provável que esteja dada como colateral à CGD.
As pessoas são tão ingénuas e tão agarradas aos seus interesses imediatos que um vigarista hábil consegue sempre que um grande número delas se deixe enganar.
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por artista_ » 26/7/2011 17:54

Elias Escreveu:O Berardo tem feito uns investimentos que não me cativam minimamente.

Felizmente, ele é daqueles que "só perde se vender", por isso tá tudo bem :lol:


Eu também gostava que alguém me emprestasse um milhão de euror para comprar acções se a única garantia fossem as próprias acções... comprava já, se alguma vez estivesse a ganhar vendia, se não jamais venderia... nem sei se está alguma coisa sobre isso no contrato, mas na volta até tem direito a ficar com os dividendos quando há distribuição! :mrgreen:
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por Elias » 26/7/2011 17:50

EuroVerde Escreveu:
Elias Escreveu:
Atomez Escreveu:Lá vai o Berardo ter que se desfazer da sua coleção de arte...


A arte até pode marchar toda, mas as acções do BCP é que ninguém o obriga a vender 8-)


LOL
eu acho que isto não faz qualquer sentido. O Estado a CGD perdoa e pronto, põe-se um ponto final neste desastre.

Os bancos perdem algum, BCP e CGD.
E a arte do Berardo fica intacta para outro investimento, arte por arte, não compra arte. :oops:


O Berardo tem feito uns investimentos que não me cativam minimamente.

Felizmente, ele é daqueles que "só perde se vender", por isso tá tudo bem :lol:
 
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por EuroVerde » 26/7/2011 17:48

Elias Escreveu:
Atomez Escreveu:Lá vai o Berardo ter que se desfazer da sua coleção de arte...


A arte até pode marchar toda, mas as acções do BCP é que ninguém o obriga a vender 8-)


LOL
eu acho que isto não faz qualquer sentido. O Estado a CGD perdoa e pronto, põe-se um ponto final neste desastre.

Os bancos perdem algum, BCP e CGD.
E a arte do Berardo fica intacta para outro investimento, arte por arte, não compra arte. :oops:
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por artista_ » 26/7/2011 17:36

m2010 Escreveu:Não gostei do nervosismo bem patente no rosto do CEO do BPI. Nunca o vi assim, tão à deriva.


Tinha de sair mas livrava-se de boa se tem aconselhado os accionistas a venderem ao BCP na OPA... eu sei que mesmo assim provavelmente os grandes não aceitariam, mas pelo menos estaria agora de consciência mais tranquila! Digo eu... mais uma vez! :mrgreen:
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por pepi » 26/7/2011 17:31

m2010 Escreveu:Tentar adivinhar um fundo na banca é igual jogar no casino.

O último, fecha a porta.

Não gostei do nervosismo bem patente no rosto do CEO do BPI. Nunca o vi assim, tão à deriva.

Um abraço.


Curiosamente achei exactamente o mesmo... a disparar em todas as direcções...
 
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por m2010 » 26/7/2011 17:28

Tentar adivinhar um fundo na banca é igual jogar no casino.

O último, fecha a porta.

Não gostei do nervosismo bem patente no rosto do CEO do BPI. Nunca o vi assim, tão à deriva.

Um abraço.
 
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por pepi » 26/7/2011 17:09

Ainda n tinha lido... isto realmente está tudo F0D!D0!!! :twisted:
 
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por Elias » 26/7/2011 16:47

Atomez Escreveu:Lá vai o Berardo ter que se desfazer da sua coleção de arte...


A arte até pode marchar toda, mas as acções do BCP é que ninguém o obriga a vender 8-)
 
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por atomez » 26/7/2011 16:43

Lá vai o Berardo ter que se desfazer da sua coleção de arte...
As pessoas são tão ingénuas e tão agarradas aos seus interesses imediatos que um vigarista hábil consegue sempre que um grande número delas se deixe enganar.
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PSG...

por bboniek33 » 26/7/2011 15:26

Excelente artigo ! Os ulrixes nao querem meter laa mais guito seu (accionista)... querem papel do Estado.

Ee de ir aas laagrimas ver assim os neocons lusos a gritar pela maezinha (a mama estatal) que eles tanto arrenegaram. A velha maaxima " queremos menos Estado" vai parar aa gaveta em que o MS poos o Socialismo...

Andam todos a querer m.amar, os patriotas de aviaario.
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Os bancos vão ter de perder dinheiro

por Automech » 26/7/2011 12:17

Acho que se justifica um tópico isolado para este artigo, em vez de o meter no tópico das opiniões:

Os bancos vão ter de perder dinheiro
26 Julho2011 | 11:56
Pedro Santos Guerreiro

A guerra deixou de ser surda: bancos e Banco de Portugal estão em braço-de-ferro.
A polémica usa nomes técnicos mas a pergunta é simples: devem os bancos pedir capital ao Estado? A questão é vital mas ameaça tornar-se filosófica: será evitável, essa nacionalização temporária? Dificilmente.

Primeiro, os caldos de galinha: não há risco para os depositantes. E não há, precisamente, porque há dinheiro do Estado, da troika, 12 mil milhões para capitalização e 35 mil milhões para liquidez. O risco não é hoje dos depositantes. É dos accionistas. É de quem precisa de crédito.

Decifremos: o Banco de Portugal quer que os bancos vendam carteiras de crédito. Mas como o risco de Portugal é alto, os bancos têm de vender essas carteiras com desconto. Ou seja, com prejuízo. Isso reduz dividendos e aumenta as necessidades de capital. E como dificilmente se encontra quem queira investir num banco português, a alternativa é pedir ao Estado: recorrer aos 12 mil milhões de euros.

Os bancos não querem. Temem saída de capitais. Não querem prejuízos, não querem ficar mais pequenos, não querem perder o controlo do presente e do futuro - e não querem o que uma intervenção estatal obriga: a entrada dos políticos (embora esteja previsto que o Estado seja "accionista silencioso"), limites aos salários das administrações e suspensão de dividendos. As acções desvalorizariam. Para os accionistas de referência, ainda pior, pois sem dividendos não podem pagar as suas próprias dívidas nem amealhar para mais tarde recomprar a posição do Estado. E lá vão os bancos para o controlo estrangeiro.

Na conferência de banca ontem do "Económico", foi este confronto que se tornou visível. O que permanece invisível é que a escolha não existe. É uma questão de tempo. E tempo é dinheiro.

Os bancos nunca estiveram preocupados com as novas regras de malparado e não stressaram com os testes de resistência porque estes não simularam o valor de mercado nos seus balanços da dívida pública dos países aflitos. O medo dos bancos está noutro teste, que arranca depois do Verão: a reavaliação das carteiras de crédito. É disso que Salgado e Ulrich falam quando falam de critérios "fundamentalistas".

Em Setembro, dezenas de técnicos da troika vão entrar nos bancos com uma tarefa que já fizeram na Irlanda: "varrer" os créditos e verificar se os activos que estão dados como garantia são suficientes. Na Irlanda, foram esses critérios "fundamentalistas" que levaram às nacionalizações.

Exemplo: um crédito à habitação de 200 mil euros tem como garantia o imóvel avaliado em 250 mil euros. A troika aplica uma nova métrica e diz que o imóvel vale apenas 170 mil euros. Então, ou o cliente reforça as garantias ("dá" mais património), ou o banco tem de "cobrir" a diferença com provisões. Multiplique este exemplo por milhares de créditos, empresas de imobiliário e construção, PME aflitas: dá uma imparidade enorme. Um buraco. E portanto pede-se intervenção do Estado.

A questão é que o buraco já existe na economia e não vai ser possível apartar a banca: é uma economia que se endividou de mais em consumo, imobiliário e projectos de baixo retorno. O problema está implícito nos bancos, sob a forma de crédito malparado aprazado. Mesmo o pagamento das dívidas do Estado, que aqui defendemos, refresca os bancos mas, do ponto de vista da troika, não muda a "equação" da economia: mantém-se a dívida pública, cria-se mais dívida privada.

Os bancos juram que não. O Banco de Portugal parece convencido de que sim. E, portanto, quer antecipar. Não é para ganhar tempo, é para salvar a economia em vez de salvar os bancos. Se não houver aumentos de capital, a alternativa será tapar a desvalorização das carteiras de crédito, encarecendo ainda mais o crédito às empresas. E as empresas estão a morrer de asfixia financeira. A quebra do investimento a que se assiste é dramática. Sem investimento, a economia não descola, a única coisa que crescerá é o desemprego.

Chegados aqui, é essencial perceber o que é hoje o Banco de Portugal. Já não é o "sindicato" dos bancos, como no passado. É o membro do Banco Central Europeu que tem mais de 40 mil milhões emprestados aos nossos bancos e é o interlocutor do FMI, que passa um terço do cheque da troika. É por isso que o Banco de Portugal tomou o controlo do Ministério das Finanças e, agora, da Caixa. Não é o Banco de Portugal: é a troika. Quem paga é a troika. Quem manda é a troika. E ainda bem. Porque o Governo parece, afinal, enclausurado no passado, desperdiçando a oportunidade de mudança da economia e cismando nos mesmos vícios: falta de corte de despesa, partidarização da Caixa - e falta de comando.

Chegará a hora de vermos as vantagens e as desvantagens das nacionalizações parciais da banca. De repartir culpas. Mas uma trave continua mestra: a economia precisa de uma banca forte. E isso vai, muito provavelmente, exigir uma nacionalização temporária, que mudará para sempre a propriedade e a gestão da banca em Portugal, menos alinhada com o Estado e que lute pela poupança. E mais estrangeira.

Como Sócrates dizia, o mundo mudou. E a banca, que sempre foi visionária, é quem está agora em negação. Vai ter de perder dinheiro. Vai ter de tirar as pequenas e médias empresas do espremedor. Vai ter de deixar de achar que a troika é idiota.

Eis o grande paradoxo: os liberais é que defendem a entrada temporária do Estado nos bancos. Vai ser impossível explicar, mas a ajuda do Estado aos bancos não será a ajuda aos donos dos bancos. Ao contrário do que parece, isso é que vai trazer perdas para os seus accionistas. Por isso é que eles não querem. Por isso é que a economia precisa. Como veremos nos próximos meses.
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