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Caldeirão da Bolsa

Vítor Bento: A saga dos ‘ratings’

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Re: Vítor Bento: A saga dos ‘ratings’

por JMHP » 7/7/2011 10:41

LTCM Escreveu:Seja qual for a razão isto nunca se esquece:

As agências de rating continuavam a manter as classificações de AAA, AA, A+ minutos antes do colapso da AIG, Lehman Brothers e Bear Stearns.


Convém não esquecer que essas agências foram as mesmas que nos atribuíram ratings muito acima da nossa realidade económica e que por via disso durante uma década usufruímos de crédito para investir, crescer e desenvolver o país que jamais seria possível e sem paralelo na nossa história.

Não foram as agências que nos empurraram para esta situação, essa responsabilidade é inteira e exclusivamente NOSSA!
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por Elias » 7/7/2011 10:39

E digo mais: hoje as ag~encias de rating são umas bestas, mas vais ver se daqui a uns anos a nossa situação estiver melhor e no nosso rating voltar a ser A, aí as agências são as maiores e aquilo que se passou com o Lehman foi um pormenor :P
 
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Re: Vítor Bento: A saga dos ‘ratings’

por Elias » 7/7/2011 10:38

LTCM Escreveu:Se não são credíveis porque é se são escutadas? Não faço a mínima ideia, mas se são prejudicais aos nossos interesses devem ser generosas para outros.


Podem não ser credíveis do nosso ponto de vista, mas o mercado dá-lhes ouvidos.

LTCM Escreveu:Seja qual for a razão isto nunca se esquece:

As agências de rating continuavam a manter as classificações de AAA, AA, A+ minutos antes do colapso da AIG, Lehman Brothers e Bear Stearns.


A memória das pessoas é curta.

O Sócrates também quebrou a promessa de não aumentar impostos em 2005 e no entanto em 2009 foi reeleito.
 
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Re: Vítor Bento: A saga dos ‘ratings’

por LTCM » 7/7/2011 10:34

Vítor Bento Escreveu:autoridades só se envolverão em mais ajudas, desde que os credores privados também participem e aceitem perder parte do valor investido.

Nó Cego, publicado há quase um ano: "Seria de toda a justiça que os credores fossem chamados a pagar parte da factura, já que a sua irresponsabilidade creditícia também contribuiu para a presente situação".

cerrar os dentes até que os resultados comecem a manifestar-se.


Até lá... cerrar os dentes!



O ex-futuro ministro das finanças pode dizer o que quiser, ou que lhe mandam dizer, mas a credibilidade das agências é uma falácia.
Se não são credíveis porque é se são escutadas? Não faço a mínima ideia, mas se são prejudicais aos nossos interesses devem ser generosas para outros.

Seja qual for a razão isto nunca se esquece:

As agências de rating continuavam a manter as classificações de AAA, AA, A+ minutos antes do colapso da AIG, Lehman Brothers e Bear Stearns.
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***
"A soberania e o respeito de Portugal impõem que neste lugar se erga um Forte, e isso é obra e serviço dos homens de El-Rei nosso senhor e, como tal, por mais duro, por mais difícil e por mais trabalhoso que isso dê, (...) é serviço de Portugal. E tem que se cumprir."
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por MNFV » 7/7/2011 10:01

Mudam-se os governos, alteram-se as opiniões. No governo PS as agencias de rating tinham toda a razão, agora o melhor é ignorá-las.

A avestruz também meteu a cabeça na areia para se esconder dos leões, e...
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por Tridion » 7/7/2011 9:59

Grande análise, deveria ter sido o nosso ministro das finanças, mas com esta clarividência de raciocínio é normal que não quisesse :mrgreen:
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por urukai » 7/7/2011 9:53

Não podia estar mais de acordo.

As agências de rating têm todo o direito de existirem e emitirem as suas opiniões em termos de rating. A decisão de as ouvirmos e regermos as nossas acções pelos seus ratings depende só de nós.
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Vítor Bento: A saga dos ‘ratings’

por Elias » 7/7/2011 9:04

Excelente artigo do Vítor Bento sobre a questão dos ratings


Vítor Bento: A saga dos ‘ratings’

Vitor Bento
07/07/11 07:54
economico

A situação que a Eurolândia hoje tem pela frente é excepcional e tem de ser tratada como tal.

Mais uma decisão inesperada de uma agência de ‘rating'. Mais uma grande comoção nacional. Mais uma falta de serenidade analítica. E mais uma vez erra-se o alvo do problema.

A decisão da Moody's é inconveniente? É. Suscita uma sensação de injustiça, quando o Governo - e não só - se mostra totalmente empenhado em cumprir e ultrapassar os objectivos acordados com a ‘troika', tendo já mostrado esse empenho através de decisões difíceis? Sim. Mas centrar a discussão nestes aspectos e maldizer as agências de ‘rating' por estas consequências é atirar ao alvo errado.

As agências de ‘rating' regem-se por regras próprias e a sua missão é oferecer aos investidores uma classificação de risco dos devedores, para os orientar nas decisões de investimento. Ninguém é obrigado a seguir as suas classificações, mas é um facto que muitos investidores se orientam voluntariamente por elas e isso tem consequências para o acesso dos devedores ao mercado.

A reestruturação da dívida grega está a ser abertamente discutida, com o "estímulo" das autoridades europeias, e com a perspectiva de o seu resultado implicar perdas para os credores. Esta reestruturação, que acompanha o aumento da ajuda comunitária, está a ser activamente promovida pelas autoridades europeias, sinalizando que estas autoridades só se envolverão em mais ajudas, desde que os credores privados também participem e aceitem perder parte do valor investido. Neste quadro - que constitui, de facto, uma novidade - surpreende que as agências de ‘rating', tendo em conta a sua missão, alertem que aumentou o risco dos investimentos em devedores soberanos em situação problemática? Dificilmente...

É justo que os credores privados, que foram investidores irresponsáveis no passado, também paguem os custos do ajustamento dos países em dificuldades (para as quais contribuíram com a sua irresponsabilidade)? A minha opinião sobre isto está expressa no Nó Cego, publicado há quase um ano: "Seria de toda a justiça que os credores fossem chamados a pagar parte da factura, já que a sua irresponsabilidade creditícia também contribuiu para a presente situação". Mas as agências de ‘rating' não se pronunciam sobre justiça (moral).

Pronunciam-se sobre riscos de investimento e é um facto que o risco de perda destes investimentos aumentou (o que não quer dizer que esse risco se materialize necessariamente).

Podemos achar que a decisão agora publicada é exagerada, injusta, precipitada, etc. Mas, como disse, este não é o ponto essencial que deveríamos estar a discutir, porque esse tem pouco para discutir. O problema não está nas agências de ‘rating', está nas autoridades!

Se se acha que as decisões das agências são inconvenientes e dificultam, desnecessária e desmesuradamente, os processos políticos (e financeiros) de ajustamento, porque é que as autoridades lhes dão a importância que dão e lhes permitem condicionar as suas próprias políticas. Mais concretamente, porque é que o BCE condiciona a sua política de financiamento à avaliação das agências de ‘rating', em vez de usar a sua própria avaliação e/ou a das demais autoridades de supervisão? Porque é que, para o BCE, o ‘rating' da dívida dos países membros do euro tem mais valor do que o juízo dos órgãos comunitários? Porque é que, para o Sistema Europeu de Bancos Centrais, o juízo das agências de ‘rating' é mais importante do que o dos supervisores financeiros, a maioria dos quais integra directamente aquele Sistema?

Mesmo que tenha parecido justificável montar o sistema em cima de avaliações independentes produzidas pelas agências de ‘rating', a situação que a Eurolândia hoje tem pela frente é uma situação excepcional e, como tal, tem que ser tratada num quadro de excepcionalidade. E uma das primeiras medidas que deveria fazer parte desse quadro de excepcionalidade deveria ser precisamente tirar as agências de rating da equação dos decisores políticos (onde se inclui o BCE).

Agora quanto a nós, Portugal. A decisão é inconveniente, como já disse. Mas não adianta desperdiçar energia a discuti-la, porque tal não terá consequências. E muito menos deixarmo-nos desmoralizar. O que temos é que concentrar a energia em fazer o que é preciso ser feito - estabilizar as finanças e promover a competitividade e o crescimento - e cerrar os dentes até que os resultados comecem a manifestar-se. Pois só quando isso acontecer é que poderemos esperar que os juízos externos comecem a mudar.

Temos um Governo determinado em cumprir (e ultrapassar) o programa de ajustamento acordado com a ‘troika'; temos o principal partido da oposição comprometido com o mesmo programa e disposto a uma atitude responsável; temos a compreensão da sociedade que, recentemente, votou esmagadoramente nos partidos que tinham subscrito o programa de ajustamento, apesar de todos os cantos de sereia da campanha. Existe, pois, uma vontade colectiva de lidar com o problema com a dureza que ele requer, coisa que nunca existiu na Grécia. Isto é uma diferença assinalável e essa diferença vai acabar por se materializar em resultados.

Há que manter a convicção e a determinação; ter paciência e ter esperança. E daqui por seis meses vamos ver se temos resultados ou não. Se os tivermos, vamos ver que as coisas poderão começar a dar a volta. Até lá... cerrar os dentes!

Este artigo foi originalmente publicado no blog da Sedes www.sedes.pt/blog/

Vítor Bento, Economista e presidente da SIBS
 
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