Dr Tretas Escreveu:Stains Escreveu:
também vendi demasiado cedo Corticeira. Agora falta encontrar as novas 'F Ramada' e 'Corticeira'.
há apostas/sugestões p/ acompanhar?
Digo já que não é nada fácil encontrá-las. Podes começar por excluir tudo o que esteja no PSI-20, há demasiados olhos atentos. Em geral são empresas esquecidas, capazes de gerar muito cash-flow quando o negócio está bom, mas que enfrentam duras provas quando a coisa vai má.
Posso ilustrar com uma parte da história da CA. No fim do século XX, com o petróleo quase de graça, a rolhas sintéticas (feitas de derivados do petróleo) ganhavam terreno nos novos mercados vinícolas, em especial EUA, devido ao seu baixo preço. Simultaneamente, os fabricantes de rolhas sintéticas iniciaram uma dura campanha publicitária para desacreditar as rolhas naturais, por exemplo, muitos consumidores americanos na época ignoravam que a cortiça é uma matéria renovável, julgavam eles que os sobreiros eram abatidos.
Mas o seu maior trunfo junto do consumidor era o TCA (tricloroanisole), uma substância química que se forma quando, nos processos antigos, a cortiça era lavada e desinfectada com lixívias contendo cloro. Moléculas naturais presentes na cortiça sofrem alterações, dando origem ao TCA.
Esta substância, embora não tenha em si um odor/sabor forte, actua sobre os sistemas sensoriais modificando a percepção do sabor/odor do vinho, tornado-o desagradável, mesmo em concentrações ínfimas.
Naturalmente, as rolhas sintéticas não sofrem desta contaminação, e isso foi amplamente aproveitado pelos competidores da CA.
Isso para a CA foi uma dura prova, com vendas e lucros irregulares que enviaram a cotação para níveis estagnados. Mas a CA teve a sorte de o petróleo começar a subir, o que fez os sintéticos perderem competitividade. A CA ganhou assim tempo para levar a cabo uma intensa campanha de I&D que culminou com rolhas livres de TCA actualmente produzidas pela empresa, bem como uma campanha de educação dos novos consumidores. Como sabem, a CA tem uma posição dominante a nível mundial, mas há que lutar para a manter. Actualmente, mesmo nos EUA, o consumidor já sabe associar rolhas de cortiça com vinho de qualidade.
E foi assim que uma empresa estagnada, foi salva pelo investimento em I&D, marketing e alguma sorte com o preço do petróleo. O lucro começou a aumentar, e a seu tempo a cotação reagiu (notem que não foi imediato, devido à desatenção da maior parte dos participantes do mercado).
Agora, encontrar e antecipar histórias destas não é nada fácil. Por exemplo, com o meu investimento na Toyota Caetano, as coisas têm corrido relativamente bem mas não espectacularmente, como a F. Ramada e CA. Outra de que se fala por aqui é a Sonae Capital, em que o bull também já vai longo e era relativamente fácil de antecipar quando o imobiliário começou a dar sinais de vida (essa não tenho). A Sonae Indústria, se algum dia conseguir efectivar o turnaround, também tem potencial, a Estoril-Sol também tem adeptos mas muito pouca liquidez.