Salve-se quem puder
Pedro Santos Guerreiro
Ainda A+ dinheiro?
psg@mediafin.pt
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Não é apenas cortar o "rating", é de cortar a respiração. O risco de emprestar a Portugal e a quem lá anda aumentou, o que significa que vamos pagar mais pelo dinheiro que nos emprestam cada vez menos. Nesta escala tipo Estrelas Michelin, Portugal passou de AA- para A+. E essa foi apenas uma das más notícias do dia.
Na Europa, o FMI dramatiza a crise e a Alemanha agrava as suas previsões recessivas. Em Portugal, o ministro Vieira da Silva já assume como vitória chegar ao fim da legislatura 150 mil empregos abaixo do objectivo com que a iniciou, aumentando entretanto o subsídio social de desemprego e criando balcões privados de apoio aos desempregados. O ministro Manuel Pinho tirou o chapéu de vendedor e anda pelo País com uma mala de dinheiro para pagar salários, agora aos trabalhadores da Bordalo Pinheiro, que engrossa uma lista de insolvências para onde hoje entra a segunda maior corticeira do País e de onde tenta sair a Vista Alegre, cuja massa quase falida foi comprada pela Visabeira num negócio difícil de compreender: ou é ingenuidade deles, ou é ingenuidade nossa.
Na banca, regressa o medo. Fala-se de novo em nacionalizações, até do Barclays, e de empréstimos dos Estados. O BPI faz uma razia em 31 preços-alvo de acções portuguesas cotadas em Bolsa, onde as cotações continuam a derreter como cera ao sol, bancos à cabeça. Bancos que, pelo caminho, aproveitam todas as nesgas para aumentar receitas e compensar a perda de rentabilidade que lhes corrói a solidez. Mesmo sendo legal (rever um contrato é fazê-lo de novo) e mesmo havendo justificação técnica (quem pede mais tempo para pagar uma dívida está a assumir maior risco em pagá-la), é eticamente questionável exigir a um endividado aflito, que pede para renegociar um crédito à habitação como quem escreve SOS em Morse, maior "spread". Soa a oportunismo e abuso de poder de quem, num contrato, está em posição de vantagem.
A questão é que os bancos não o estão a fazer por ganância, mas por instinto de sobrevivência. Os maiores bancos portugueses têm, em conjunto, que refinanciar mais de 11 mil milhões de euros às empresas este ano e a redução do "rating" vem na pior altura. Aliás: quando passa a ser necessário dizer que Portugal não corre o risco de deixar de pagar as suas dívidas, é porque se passou a admitir que o problema existe.
Um dos problemas desta crise de excesso de envididamento no passado é que ela está a ser resolvida com mais endividamento para o futuro. Os Estados estão a investir para puxar pela economia, a gastar mais com subsídios sociais, nacionalizações, garantias e fundos a empresas. Pior ainda, a redução de cobrança de impostos decorrente do arrefecimento económico desequilibrará irremediavelmente a balança. E neste jogo deficitário e endividado, Portugal está particularmente mal posicionado, por ter agora um dos piores "ratings" da Zona Euro e por ter uma dívida externa já tão elevada.
É por isso que já se fala na Europa da necessidade de Estados maiores serem solidários com os menores, dando-lhes eles próprios garantias para nivelar o acesso ao crédito por países como Portugal. Depois de os privados se virarem para o Estado, vai o Estado que temos virar-se para o Estado ao lado?
Nunca houve tanta emissão de dívida pública num tão curto espaço de tempo como agora. Os orçamentos estão sobrecarregados para as gerações futuras. Para já, cuidemos das presentes. Certo?...
Ainda A+ dinheiro?
psg@mediafin.pt
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Não é apenas cortar o "rating", é de cortar a respiração. O risco de emprestar a Portugal e a quem lá anda aumentou, o que significa que vamos pagar mais pelo dinheiro que nos emprestam cada vez menos. Nesta escala tipo Estrelas Michelin, Portugal passou de AA- para A+. E essa foi apenas uma das más notícias do dia.
Na Europa, o FMI dramatiza a crise e a Alemanha agrava as suas previsões recessivas. Em Portugal, o ministro Vieira da Silva já assume como vitória chegar ao fim da legislatura 150 mil empregos abaixo do objectivo com que a iniciou, aumentando entretanto o subsídio social de desemprego e criando balcões privados de apoio aos desempregados. O ministro Manuel Pinho tirou o chapéu de vendedor e anda pelo País com uma mala de dinheiro para pagar salários, agora aos trabalhadores da Bordalo Pinheiro, que engrossa uma lista de insolvências para onde hoje entra a segunda maior corticeira do País e de onde tenta sair a Vista Alegre, cuja massa quase falida foi comprada pela Visabeira num negócio difícil de compreender: ou é ingenuidade deles, ou é ingenuidade nossa.
Na banca, regressa o medo. Fala-se de novo em nacionalizações, até do Barclays, e de empréstimos dos Estados. O BPI faz uma razia em 31 preços-alvo de acções portuguesas cotadas em Bolsa, onde as cotações continuam a derreter como cera ao sol, bancos à cabeça. Bancos que, pelo caminho, aproveitam todas as nesgas para aumentar receitas e compensar a perda de rentabilidade que lhes corrói a solidez. Mesmo sendo legal (rever um contrato é fazê-lo de novo) e mesmo havendo justificação técnica (quem pede mais tempo para pagar uma dívida está a assumir maior risco em pagá-la), é eticamente questionável exigir a um endividado aflito, que pede para renegociar um crédito à habitação como quem escreve SOS em Morse, maior "spread". Soa a oportunismo e abuso de poder de quem, num contrato, está em posição de vantagem.
A questão é que os bancos não o estão a fazer por ganância, mas por instinto de sobrevivência. Os maiores bancos portugueses têm, em conjunto, que refinanciar mais de 11 mil milhões de euros às empresas este ano e a redução do "rating" vem na pior altura. Aliás: quando passa a ser necessário dizer que Portugal não corre o risco de deixar de pagar as suas dívidas, é porque se passou a admitir que o problema existe.
Um dos problemas desta crise de excesso de envididamento no passado é que ela está a ser resolvida com mais endividamento para o futuro. Os Estados estão a investir para puxar pela economia, a gastar mais com subsídios sociais, nacionalizações, garantias e fundos a empresas. Pior ainda, a redução de cobrança de impostos decorrente do arrefecimento económico desequilibrará irremediavelmente a balança. E neste jogo deficitário e endividado, Portugal está particularmente mal posicionado, por ter agora um dos piores "ratings" da Zona Euro e por ter uma dívida externa já tão elevada.
É por isso que já se fala na Europa da necessidade de Estados maiores serem solidários com os menores, dando-lhes eles próprios garantias para nivelar o acesso ao crédito por países como Portugal. Depois de os privados se virarem para o Estado, vai o Estado que temos virar-se para o Estado ao lado?
Nunca houve tanta emissão de dívida pública num tão curto espaço de tempo como agora. Os orçamentos estão sobrecarregados para as gerações futuras. Para já, cuidemos das presentes. Certo?...
Na bolsa só se perde dinheiro.Na realidade só certos Iluminados com acesso a informação privilegiada aproveitam-se dos pequenos investidores para lhes sugarem o dinheiro.

http://www.economico.pt/noticias/qimond ... _1717.html
Empresas
Qimonda precisa de mais 300 milhões de euros
Económico
22/01/09 15:38
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A Qimonda, maior exportadora portuguesa, precisa de mais 300 milhões de euros para continuar em actividade, disse fonte da empresa à Reuters.
Contactada pela Reuters, a empresa não fez quaisquer comentários.
Em Dezembro, a fabricante de 'chips' recebeu um pacote de 325 milhões de euros para continuar em actividade: 150 milhões do governo alemão da Saxónia, 100 milhões da Caixa Geral de Depósitos (CGD) e 75 milhões do principal accionista da empresa, a Infineon.
Cumprimentos.
" Existem pessoas tão sumamente pobres que só têm dinheiro "
" Existem pessoas tão sumamente pobres que só têm dinheiro "
Salve-se quem puder
Pedro Santos Guerreiro
Salve-se quem puder
psg@mediafin.pt
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O BPN, o BPP, o sector automóvel, o Finantia, agora a Qimonda, que mais será salvo amanhã? A crise financeira criou um clima revolucionário na Nação, de acudir a tudo e todos, e quem o contesta é tratado como reaccionário.
O BPN, o BPP, o sector automóvel, o Finantia, agora a Qimonda, que mais será salvo amanhã? A crise financeira criou um clima revolucionário na Nação, de acudir a tudo e todos, e quem o contesta é tratado como reaccionário. Mas percebamos, ao menos, o que está a acontecer: o dinheiro não cai do céu nem vai para o céu. É pago pelos contribuintes e parte será perdido.
O empréstimo da Caixa à Qimonda não é, em si mesmo, mau, por uma boa razão: tem garantia de um Estado, estrangeiro, não há risco de não ser cobrado. E a insinuação de que o dinheiro dos portugueses está a entrar na Caixa para salvar alemães é desonesta. A Qimonda é o último dos moicanos na produção de circuitos impressos, a única grande empresa do sector que (ainda) não saiu da Europa para a Ásia. Da falência da Qimonda, Portugal sairia fortemente prejudicado.
Mesmo assim, há que perceber que o empréstimo não salva a Qimonda de coisa nenhuma, não vai financiar um novo plano de negócio, um investimento para produzir mais ou uma inovação que tornará a fábrica mais competitiva: é um cheque para pagar contas, a fornecedores, a funcionários. Se os clientes da Qimonda não voltarem a aumentar as encomendas à fábrica, daqui a uns meses o cheque esgotou-se, foi um balão de oxigénio que adiou a tortura, não mais.
Mas o empréstimo à Qimonda aparece num contexto de intervencionismo compulsivo do Governo. Uma empresa está mal? Salva-se, acode-se, garantem-se empréstimos, deita-se dinheiro para cima dos problemas, o que não os resolve e, na maioria dos casos, apenas os adia.
A apropriação do espectáculo das inaugurações pelo poder político está, também, a torná-lo refém. Foi assim nas Pirites Alentejanas e está a sê-lo na Qimonda, dois investimentos privados que tiveram "inaugurações" este ano por equipas de ministros bem fotografados. Agora que sucumbem, as mesmas equipas que se tornaram parte do sucesso tornam-se parte do fracasso e sentem a necessidade de deitar mão, seja angariando um comprador (os irmãos Martins no caso das minas de Aljustrel, mas só em contrapartida de outras prebendas: as minas do Gavião) ou um banco financiador (a prestimosa Caixa Geral de Depósitos, no caso da Qimonda).
Os planos anti-crise do Governo português têm uma coerência estratégia que pode ser estragada pela inconsistência táctica. Desde o início, ainda isso não era doutrina na Europa, que José Sócrates insiste no investimento público, nas estradas, nas barragens, agora nas escolas, nos hospitais, nas redes de telecomunicações. Pode ou não concordar-se com essa opção económica (e a maior parte dos líderes europeus concorda e está a fazer o mesmo), mas não há hesitação nem desvio: o Governo mantém-se fiel à opção e hoje mesmo este jornal revela que o programa de estradas vai ser aumentado em mais oito concessões. Pode faltar o financiamento, mas não falta decisão.
Mas perante as ameaças de falência, Sócrates reage como se se chamasse Guterres: intervém, salva, injecta, empresta, assim engrossando a fila de espera que começa a formar-se à porta do Palácio de São Bento: têxteis, calçado, agricultores, multinacionais, panificadores... a quem dirá Sócrates que não?
Haverá mortos e feridos nesta crise. A tentação de evitá-lo paga-se caro, no modelo de desenvolvimento do País e em impostos, os de hoje e os de amanhã. O BPN, BPP, sector automóvel, Finantia, Qimonda são todos casos diferentes onde já grassa o erro. Amanhã escreveremos sobre isso.
Salve-se quem puder
psg@mediafin.pt
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O BPN, o BPP, o sector automóvel, o Finantia, agora a Qimonda, que mais será salvo amanhã? A crise financeira criou um clima revolucionário na Nação, de acudir a tudo e todos, e quem o contesta é tratado como reaccionário.
O BPN, o BPP, o sector automóvel, o Finantia, agora a Qimonda, que mais será salvo amanhã? A crise financeira criou um clima revolucionário na Nação, de acudir a tudo e todos, e quem o contesta é tratado como reaccionário. Mas percebamos, ao menos, o que está a acontecer: o dinheiro não cai do céu nem vai para o céu. É pago pelos contribuintes e parte será perdido.
O empréstimo da Caixa à Qimonda não é, em si mesmo, mau, por uma boa razão: tem garantia de um Estado, estrangeiro, não há risco de não ser cobrado. E a insinuação de que o dinheiro dos portugueses está a entrar na Caixa para salvar alemães é desonesta. A Qimonda é o último dos moicanos na produção de circuitos impressos, a única grande empresa do sector que (ainda) não saiu da Europa para a Ásia. Da falência da Qimonda, Portugal sairia fortemente prejudicado.
Mesmo assim, há que perceber que o empréstimo não salva a Qimonda de coisa nenhuma, não vai financiar um novo plano de negócio, um investimento para produzir mais ou uma inovação que tornará a fábrica mais competitiva: é um cheque para pagar contas, a fornecedores, a funcionários. Se os clientes da Qimonda não voltarem a aumentar as encomendas à fábrica, daqui a uns meses o cheque esgotou-se, foi um balão de oxigénio que adiou a tortura, não mais.
Mas o empréstimo à Qimonda aparece num contexto de intervencionismo compulsivo do Governo. Uma empresa está mal? Salva-se, acode-se, garantem-se empréstimos, deita-se dinheiro para cima dos problemas, o que não os resolve e, na maioria dos casos, apenas os adia.
A apropriação do espectáculo das inaugurações pelo poder político está, também, a torná-lo refém. Foi assim nas Pirites Alentejanas e está a sê-lo na Qimonda, dois investimentos privados que tiveram "inaugurações" este ano por equipas de ministros bem fotografados. Agora que sucumbem, as mesmas equipas que se tornaram parte do sucesso tornam-se parte do fracasso e sentem a necessidade de deitar mão, seja angariando um comprador (os irmãos Martins no caso das minas de Aljustrel, mas só em contrapartida de outras prebendas: as minas do Gavião) ou um banco financiador (a prestimosa Caixa Geral de Depósitos, no caso da Qimonda).
Os planos anti-crise do Governo português têm uma coerência estratégia que pode ser estragada pela inconsistência táctica. Desde o início, ainda isso não era doutrina na Europa, que José Sócrates insiste no investimento público, nas estradas, nas barragens, agora nas escolas, nos hospitais, nas redes de telecomunicações. Pode ou não concordar-se com essa opção económica (e a maior parte dos líderes europeus concorda e está a fazer o mesmo), mas não há hesitação nem desvio: o Governo mantém-se fiel à opção e hoje mesmo este jornal revela que o programa de estradas vai ser aumentado em mais oito concessões. Pode faltar o financiamento, mas não falta decisão.
Mas perante as ameaças de falência, Sócrates reage como se se chamasse Guterres: intervém, salva, injecta, empresta, assim engrossando a fila de espera que começa a formar-se à porta do Palácio de São Bento: têxteis, calçado, agricultores, multinacionais, panificadores... a quem dirá Sócrates que não?
Haverá mortos e feridos nesta crise. A tentação de evitá-lo paga-se caro, no modelo de desenvolvimento do País e em impostos, os de hoje e os de amanhã. O BPN, BPP, sector automóvel, Finantia, Qimonda são todos casos diferentes onde já grassa o erro. Amanhã escreveremos sobre isso.
Na bolsa só se perde dinheiro.Na realidade só certos Iluminados com acesso a informação privilegiada aproveitam-se dos pequenos investidores para lhes sugarem o dinheiro.
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