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Caldeirão da Bolsa

Rogoff:: Muito bom artigo acerca da distribuição de riqueza

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Rogoff:: Muito bom artigo acerca da distribuição de riqueza

por Pata-Hari » 11/3/2011 8:18

Excelente artigo...

A imprevisibilidade da desigualdade
10 Março2011 | 11:00
Kenneth Rogoff - © Project Syndicate, 2008. www.project-syndicate.org Partilhar20
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À medida que continuam a desenrolar-se os eventos dramáticos no norte de África, muitos observadores fora do mundo árabe afirmam de forma presunçosa, que estes acontecimentos têm a ver com a corrupção e com a repressão política. Mas o elevado desemprego, a evidente desigualdade e o aumento dos preços dos bens essenciais são também um factor importante. Assim, os observadores não deviam perguntar até que ponto irão propagar-se efeitos semelhantes na região; mas que tipo de mudanças poderão ocorrer nos seus países face a semelhantes, se não mais extremas, pressões económicas.

Em cada país, a desigualdade de rendimentos, riqueza e oportunidades é possivelmente maior do que em qualquer outra altura do último século. Na Europa, Ásia e a Américas, as empresas estão cheias de liquidez à medida que sua procura implacável por eficiência continua a gerar enormes lucros. No entanto, os trabalhos recebem uma percentagem cada vez mais pequena, devido ao elevado desemprego, à diminuição das horas de trabalho e aos salários estagnados.

Paradoxalmente, as medidas de desigualdade de rendimentos e riqueza entre países estão a cair, devido ao crescimento robusto e contínuo dos mercados emergentes. Mas a maioria das pessoas preocupam-se mais com a situação dos seus vizinhos do que com a dos cidadãos de terras distantes.

Para os mais ricos, as coisas estão a correr bem. Os mercados bolsistas estão a recuperar. Muitos países estão a assistir a um crescimento vigoroso dos preços das casas, das propriedades comerciais ou de ambos. A subida dos preços das matérias-primas estão a gerar enormes receitas para os proprietários de minas e de campos petrolíferos, apesar do aumento dos preços dos alimentos básico estar a despoletar distúrbios sociais e mesmo revoluções no mundo em desenvolvimento. A internet e o sector financeiro continuam a criar novos milionários e multimilionários a um ritmo assombroso.

Ainda assim, a elevada e prolongada taxa de desemprego continua a afectar muitos trabalhadores menos qualificados como uma praga. Por exemplo, em Espanha, um país que atravessa uma crise financeira, a taxa de desemprego já excede os 20%. Não ajuda o facto de o Governo estar a ser forçado a implementar novas medidas de austeridade para enfrentar a precária situação da dívida pública.

De facto, dado os níveis recorde da dívida pública de muitos países, poucos governos têm margem de manobra suficiente para resolver a desigualdade através de uma maior redistribuição do rendimento. Países como o Brasil têm níveis de transferência de pagamentos dos ricos para os pobres tão elevados que novas medidas poderiam minar a estabilidade orçamental e a credibilidade anti-inflacionista.

Países como a China e a Rússia, com uma desigualdade de rendimentos igualmente alta, têm mais possibilidade de realizar uma maior redistribuição de rendimentos. Mas os líderes de ambos os países têm-se mostrado relutantes em tomar medidas audazes por receio de destabilizar o crescimento. A Alemanha deve preocupar-se, não só, com a vulnerabilidade dos seus cidadãos mas também com recursos necessários para resgatar os seus vizinhos do sul da Europa.

As causas da crescente desigualdade são fáceis de perceber e não é necessário expô-las aqui. Vivemos numa era em que a globalização expande o mercado para indivíduos ultra-talentosos mas diminuiu o rendimento dos empregados comuns. Por outro lado, a concorrência entre países por indivíduos qualificados e indústrias rentáveis limita a capacidade do governo em manter taxas de imposto elevadas sobre os mais ricos. A mobilidade social é, assim, afectada porque os indivíduos mais ricos proporcionam aos seus filhos uma educação privada e ajuda pós escolar, enquanto, em muitos países, os mais pobres não conseguem sequer manter os seus filhos na escola.
No século XIX, Karl Marx observou maravilhosamente as tendências da desigualdade e concluiu que o capitalismo não podia sustentar-se politicamente de maneira indefinida. Eventualmente, os trabalhadores iriam revoltar-se e derrubar o sistema.

À excepção de Cuba, da Coreia do Norte e de poucas universidades de esquerda em todo o mundo, já ninguém leva Marx a sério. Ao contrário das suas previsões, o capitalismo gerou níveis de vida cada vez mais altos durante mais de um século, enquanto as tentativas de implementar sistemas radicalmente diferentes fracassaram.

No entanto, numa altura em que a desigualdade atinge níveis semelhantes aos de há 100 anos, o status quo tem que ser vulnerável. A instabilidade pode expressar-se em qualquer lugar. Foi apenas há pouco mais de quarto décadas que os distúrbios urbanos e manifestações maciças sacudiram o mundo desenvolvido, provocando reformas sociais e políticas de amplo alcance.

É verdade que os problemas do Egipto e da Tunísia são muito mais profundos do que os de outros países. A corrupção e a incapacidade de realizar importantes reformas políticas tornaram-se falhas graves. Ainda assim, é errado supor que a desigualdade é estável desde que surja da inovação e do crescimento.

Como irão desenvolver-se, exactamente, as mudanças e que forma irá assumir o novo modelo social? É difícil especular mas na maioria dos países o processo será Pacífico e democrático.

O que é evidente é que a desigualdade não é apenas uma questão de longo prazo. As preocupações com o impacto da desigualdade de rendimento estão já a afectar as políticas orçamentais e monetárias nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, à medida que tentam abandonar as políticas de hiper-estimulação económica adoptadas durante a crise financeira.

Mais importante. É muito provável que as capacidades dos países para fazer frente às crescentes tensões sociais geradas pela enorme desigualdade separem os vencedores dos perdedores na próxima ronda de globalização. [b]A desigualdade é a grande imprevisibilidade da próxima década de crescimento global e não apenas no Norte de África. [/b]

Kenneth Rogoff é professor de Economia e Política Pública na Universidade de Harvard e é antigo economista chefe do Fundo Monetário Internacional.

Direitos de Autor: Project Syndicate, 2011.
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