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Caldeirão da Bolsa

Os Pobres...

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Os Pobres...

por Açor3 » 18/3/2009 9:06

OS POBRES


Adriano Moreira
Professor universitário
Desde o Concílio Vaticano II que o dever de privilegiar os pobres, sublinhando os novos pobres que já ensombravam o horizonte das sociedades consumistas e afluentes, foi proclamado como imperativo cuja observância deveria ser assumida em conjunto pelos países abreviadamente chamados ricos. Por então já era evidente que esses ricos exportavam capitais, e que os pobres exportavam gente, um facto que viria a tornar-se dramático com a explosiva relação entre fome e descontrolo das migrações.

Por imprevisto desastre financeiro mundial, a situação agravou-se a ponto de o Presidente da Assembleia Geral da ONU, Miguel d'Escoto, proclamar a necessidade e urgência de todos os países conjugarem esforços no sentido de "impedir que os mais vulneráveis - que são os menos responsáveis pela actual situação - sejam as principais vítimas" da pior crise económica mundial desde há muitas décadas. Esta declaração foi uma espécie de prefácio à tarefa que lhe foi incumbida, numa reunião de Catar, em fins do ano passado, no sentido de organizar uma conferência da ONU sobre a crise financeira e o seu impacto no desenvolvimento sustentado. Trata-se de evitar, no conceito assumido pelos responsáveis pela iniciativa, uma "catástrofe humana", com apelo ao seguinte espírito geral: "Esta tarefa exigirá uma enorme atenção, a flexibilidade de todas as partes interessadas, uma noção comum de urgência excepcional e um compromisso no sentido de utilizar todos os recursos - económicos e políticos, morais e religiosos - para encontrar o caminho a seguir." De facto, a ONU já está munida de um dos habituais, e em regra valiosos, relatórios directivos, neste caso o relatório intitulado Environmental Food Crisis: Environment's role in averting future food crises. Não é inspirador de tranquilidade, nem apaziguador de egoísmos, que o Relatório enumere um plano de sete pontos destinados a reduzir "o risco de fome e a insegurança alimentar crescente, no século XX".

Não se trata das previsões pessimistas sobre a relação altamente deficitária entre recursos e população mundial por meados deste século, trata-se do agora urgente de enfrentar a falta de reservas estratégicas alimentares, da eventual incapacidade de financiar as importações externas destinadas a alimentar a população, trata-se da temida deslocação da fronteira da geografia da fome, que Josué de Castro traçou no século passado, para o norte do planeta, cujo território começa a perder parcelas da abundante cidade planetária ali nascida, onde os novos pobres se multiplicam. Apela-se a uma Revolução Verde, versão actualizada de preocupações antigas, com a afirmada certeza de que "se não se aplicar uma gestão mais inteligente e criativa aos sistemas agrícolas do mundo, a crise alimentar de 2008 - que lançou noventa milhões de pessoas para uma situação de fome - poderá pressagiar uma crise ainda maior nos próximos anos". É inevitável que as alterações climáticas, a exigirem, até agora sem grande êxito, o esforço de contenção dos países mais responsáveis, sejam chamadas à explicação das causas do passivo, e da incapacidade de a terra alimentar os cerca de nove mil milhões de pessoas que estarão vivas em 2050. Todavia, o agora da crise exige responsabilidades assumidas para o curto prazo, incluindo a regulação efectiva dos mercados agrícolas, designadamente nacionais.

O respeito pelo esforço dos pequenos agricultores, que sobram, das pequenas, médias, e grandes empresas, exige a entrega de uma responsabilidade política confiável a quem mobilize o regresso convicto a essa actividade, e assegure que a frustração não é a recompensa da confiança depositada nas directivas. É um esforço que implica esquecer passadas decepções, e o abandono de terras, lugares, e colheitas, a favor do regresso a solidariedades comunitárias, a um sentido de responsabilidade participado a favor do bem comum. A falta de reserva estratégica alimentar, e as consequências inevitáveis dessa carência, exigem estarem presentes na previsão governativa do presente.


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