Outros sites Medialivre
Caldeirão da Bolsa

Descongelar a concessão de crédito

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Descongelar a concessão de crédito

por Açor3 » 16/3/2009 19:38

Douglas Diamond
Descongelar a concessão de crédito

--------------------------------------------------------------------------------


Existe pouco entusiasmo político para dar novos apoios ao sistema bancário. Uma das razões está relacionada com o facto dos bancos que foram inicialmente socorridos não terem aumentado os seus empréstimos. E, sem eles, é muito...


Existe pouco entusiasmo político para dar novos apoios ao sistema bancário. Uma das razões está relacionada com o facto dos bancos que foram inicialmente socorridos não terem aumentado os seus empréstimos. E, sem eles, é muito pouco provável que os estímulos monetários e orçamentais sejam eficazes. Para que os bancos voltem a emprestar pode ser necessária ainda mais intervenção.

Para saber porquê, precisamos de entender o que continua a deixar os bancos tão relutantes. Uma possibilidade é que estejam preocupados com o risco de crédito dos seus clientes, embora este tenha que ser extremamente elevado para justificar a total cessação de empréstimos de longo prazo. Uma segunda possibilidade é que os bancos estejam preocupados com a hipótese de não terem recursos suficientes para dar resposta à procura dos seus próprios credores se estes decidirem imobilizar fundos através de empréstimos de longo prazo. Mas os múltiplos mecanismos de crédito disponibilizados por bancos centrais de todo o mundo deveriam acalmar estas preocupações, principalmente para bancos grandes e bem capitalizados. Por outro lado, talvez a relutância dos bancos reflicta o medo de ficarem sem fundos caso as oportunidades de investimento melhorem ainda mais. O CEO do Citicorp praticamente admitiu esta possibilidade quando indicou que era mais barato comprar empréstimos do que fazê-los. E comprar pode tornar-se ainda mais barato!

Consideremos, por exemplo, a possibilidade real de um grande número de instituições financeiras endividadas enfrentar uma corrida aos depósitos, como aconteceu com o Lehman Brothers, e começarem a despejar empréstimos no mercado. Não só o preço desses empréstimos iria cair, se apenas algumas entidades tivessem fundos disponíveis para os comprarem, como a disputa de outras entidades em dificuldades para conseguir empréstimos dificultaria ainda mais a sua obtenção por parte das instituições sem fundos. É compreensível que, mesmo os bancos mais sólidos, prevendo a possibilidade dessas futuras vendas de emergência (de empréstimos, activos financeiros ou instituições), limitem os seus créditos a maturidades muito pequenas e os seus investimentos a valores extremamente líquidos.

Isto pode ainda explicar por que motivo os mercados de alguns activos secaram. Claramente, alguns bancos em dificuldades possuem grandes quantidades de activos garantidos em hipotecas e continuam a conservá-los na esperança que o seu preço aumente no futuro e seja possível salvá-los do colapso. Ao mesmo tempo, os compradores esperam preços ainda mais baixos. Apesar dos preços actuais reflectirem essas expectativas, não são preços aos quais os bancos em dificuldades estejam dispostos a vender. Consequentemente, existe uma oferta excessiva por parte das instituições financeiras, da qual os responsáveis se podem ver livres no caso de terem problemas. Para algumas, os baixos preços podem levá-las à insolvência. Para outras, os baixos preços poderiam ser uma enorme oportunidade de compra, já que os rendimentos potenciais superam largamente os rendimentos dos empréstimos actuais. As exortações políticas no sentido dos bancos concederem crédito podem ter algum impacto, apesar de limitado. Qualquer retoma voluntária da concessão de empréstimos terá necessariamente de ter por base menos medo e mais oportunidades potenciais.

Há algumas formas de reduzir o excesso de oferta. Primeiro, as autoridades podem oferecer-se para comprar activos ilíquidos através de leilões e colocá-los numa entidade governamental, mecanismo semelhante ao que estava previsto no Troubled Asset Relief Program. Isto pode inverter a situação de congelamento do mercado provocado por entidades em dificuldades que não estão dispostas a vender aos actuais preços do mercado. O facto de o governo estar disposto a comprar no futuro (e agora) poderá provocar a subida dos preços actuais, já que reduz a possibilidade de preços mais baixos em futuras vendas de urgência. Além disso, assim que um número suficiente de entidades em dificuldades vender os seus activos, os preços vão subir pois deixará de existir no futuro um potencial excesso de oferta. Os dois efeitos podem provocar um aumento das trocas de activos ilíquidos e desbloquear o crédito, apesar deste resultado poder requerer significativos gastos por parte dos governos.

Uma segunda alternativa é ser o governo a assegurar a estabilidade de partes significativas do sistema financeiro que possuam activos ilíquidos, através da recapitalização regulada das entidades que têm uma possibilidade real de sobrevivência e através da fusão ou do encerramento das que não têm. Para as que encerrarem, isto significará a transferência dos activos ilíquidos para entidades que gradualmente os venderão.

Um dos problemas é que a vontade pública de socorrer entidades financeiras "sombra" - hemorrágicas e não regulamentadas, como os "hedge funds" e as "private equity" - é legitimamente diminuta.

No entanto, isso também poderá levar a um bloqueio da concessão de empréstimos por parte da banca se uma importante proporção dos activos em dificuldade se mantiver na posse de instituições frágeis.

Desta forma, talvez a combinação das duas abordagens resultasse melhor: com as autoridades a comprarem activos ilíquidos, o que poderia ajudar até as entidades desreguladas, ao mesmo tempo que saneavam o sector financeiro regulado, focando-se particularmente nas entidades em risco.

Isto difere substancialmente da abordagem actual (em que é concedido mais capital às entidades bem capitalizadas), o que não resolve o excesso de oferta dos activos ilíquidos detidos pelas entidades em dificuldades. A menos que o sistema financeiro regulado seja sistematicamente auditado, com as entidades mais fracas a serem estabilizadas através de injecções de capital, compra de activos, fusões ou rápida liquidação, o excesso de oferta nas instituições mais débeis vai persistir, restringindo o acesso ao crédito.

Uma das lições da experiência japonesa nos anos 90 diz-nos que quanto mais cedo as autoridades enfrentarem o problema e limparem o sistema financeiro, mais cedo a economia entrará no caminho da recuperação. Quanto mais tempo as autoridades permanecerem paralisadas, à espera que o sistema financeiro recupere por si, mais elevados serão os custos da recuperação.

JN
Na bolsa só se perde dinheiro.Na realidade só certos Iluminados com acesso a informação privilegiada aproveitam-se dos pequenos investidores para lhes sugarem o dinheiro.
Avatar do Utilizador
 
Mensagens: 3639
Registado: 13/6/2004 20:52
Localização: Lisboa

Quem está ligado:
Utilizadores a ver este Fórum: aaugustobb_69, AlfaTrader, lfstorres, m-m, magofir, malakas, MPAM, navaldoc, niceboy, Opcard, Shimazaki_2, StockRider! e 324 visitantes