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Caldeirão da Bolsa

Quatro burlas à portuguesa

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por Açor3 » 4/3/2009 14:19

Heróis do "merchandising"
As grandes burlas têm um fascínio, que as leva invariavelmente para as telas de cinema. Com a distanciamento que o tempo traz, limando as arestas aos factos, os seus autores ganham, para muitos, fama de heróis. Esta estranha sedução pelos burlões ajuda a explicar a proliferação de objectos a eles ligados, antigos e novos, vendidos pela Internet fora. Outro motivo: o negócio.

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André Veríssimo
averissimo@negocios.pt


As grandes burlas têm um fascínio, que as leva invariavelmente para as telas de cinema. Com a distanciamento que o tempo traz, limando as arestas aos factos, os seus autores ganham, para muitos, fama de heróis. Esta estranha sedução pelos burlões ajuda a explicar a proliferação de objectos a eles ligados, antigos e novos, vendidos pela Internet fora. Outro motivo: o negócio.

O “site” de leilões “online” eBay é ponto de encontro obrigatório. O artigo mais caro à venda é virtual. Por 500 mil dólares, Joyce Rogers vende o domínio “www.madoffwallstreet” a quem deseje nele alojar uma página “ideal para advogados que actuam em nome das vítimas”. O endereço está há 13 dias à venda e ninguém ainda lhe pegou.

É também possível encontrar o “merchandising” da praxe, como canecas, tapetes de rato, e “t-shirts”, tudo com a cara ou o logo da empresa Bernard L. Madoff Investment Securities LLC. Entre a “memorabilia”, encontram-se antigos objectos da empresa. É o caso das toalhas de praia, vendidas a pouco mais de 100 dólares ou um boné de baseball, por 99 dólares.

Antes de Madoff, foi o francês Jérôme Kerviel, o corretor que provocou uma perda de 4,9 mil milhões de euros na Société Général, a dar o mote a uma verdadeira indústria de merchandising. A história está já a ser adaptada a filme e correm notícias de que o papel principal será desempenhado pelo próprio Kerviel.

O autor da última fraude mediática, Allen Stanford, “vale” apenas um azulejo.


JN
Na bolsa só se perde dinheiro.Na realidade só certos Iluminados com acesso a informação privilegiada aproveitam-se dos pequenos investidores para lhes sugarem o dinheiro.
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por Açor3 » 4/3/2009 14:18

Perfil do burlão
Sob a capa de um cidadão comum
À primeira vista, o típico burlão não é muito diferente do cidadão comum. Tem entre 36 e 55 anos, gosta de assumir riscos, é inteligente, não-conformista, egoísta, ambicioso, trabalhador, stressado, esbanjador e inquiridor. É habitualmente bastante solícito, bem educado e parece estar acima de qualquer suspeita. Todos confiam nele. Mais de 77% dos burlões têm estudos universitários e 85% são homens.

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Carla Pedro
cpedro@negocios.pt


À primeira vista, o típico burlão não é muito diferente do cidadão comum. Tem entre 36 e 55 anos, gosta de assumir riscos, é inteligente, não-conformista, egoísta, ambicioso, trabalhador, stressado, esbanjador e inquiridor. É habitualmente bastante solícito, bem educado e parece estar acima de qualquer suspeita. Todos confiam nele. Mais de 77% dos burlões têm estudos universitários e 85% são homens.

São estas as principais conclusões da maioria das investigações dedicadas ao tema, como o estudo da auditora e consultora KPMG - "Profile of a fraudster, Survey 2007", que analisou 360 casos diferentes de fraudes - e o relatório da Associação norte-americana de Especialistas em Detecção de Fraudes (ACFE).

Em situações de crise, os clientes começam a pedir o dinheiro de volta. Todos ao mesmo tempo. E é nessa altura que o burlão começa a ficar entre a espada e a parede. As desculpas mais comuns para não restituírem o dinheiro são problemas de saúde ou dificuldades em contactar com terceiros elementos, salienta Robert Hunter, CEO da Allen &Overy's Trust, Asset Tracing e Fraud Group num artigo publicado na "Times Online".

O "website" do FBI "desmonta" as fraudes mais comuns e dá sugestões para que os potenciais lesados estejam de sobreaviso. Entre as burlas citadas, encontramos os esquemas piramidais, esquemas de Ponzi, fraude com seguros de saúde e as famosas "Cartas da Nigéria" (em que se recebe um "email" a oferecer a oportunidade de dividir uma percentagem de milhões de dólares com um presumível responsável governamental que está a tentar fazer sair dinheiro do país), entre muitos outros.

"Tendemos a achar que as mentiras do burlão deveriam ser facilmente detectáveis, especialmente quando ditas cara a cara. Mas a verdade é que muitos estudos demonstram que estamos longe de sermos tão bons a identificar fraudes como pensamos", diz Robert Hunter. "Junte-se a isto o facto de o burlão ser, na maioria das vezes, um fantasista, pronto a actuar de acordo com as suas próprias mentiras. Essa pode ser uma postura extremamente convincente", refere o mesmo responsável na "Times Online".

No filme "Catch me if you can", de Steven Spielberg, o jovem Frank Abagnale Jr. é um impostor que consegue enganar meio mundo. Consegue ser médico, piloto e até advogado. Pelo meio, vai amealhando dinheiro de cheques falsificados. Foi apanhado, mas o crime acabou por compensar. Quem melhor para compreender a mente de um vigarista senão outro vigarista? O FBI contratou-o para identificar casos de burla.

Predisposição genética para a fraude

Sabe que a tendência para se aproveitar dos outros já pode vir do berço? Segundo uma nova teoria dos biólobos evolucionistas, a propensão para ludibriar os outros pode já vir de nascença. É isso mesmo. Segundo a "Times Online", este ramo da Biologia advoga que a selacção natural faz com que uma pequena proporção de população tenha uma predisposição genética para se aproveitar da confiança que os outros depositam neles.


JN
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Quatro burlas à portuguesa

por Açor3 » 4/3/2009 14:17

Quatro burlas à portuguesa
Muitos dos esquemas de burla ou fraude praticados em Portugal inspiram-se em esquemas conhecidos. Mas também há histórias de crimes inovadores, como o perpetuado por Artur Alves dos Reis.

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João Andrade Costa


Muitos dos esquemas de burla ou fraude praticados em Portugal inspiram-se em esquemas conhecidos. Mas também há histórias de crimes inovadores, como o perpetuado por Artur Alves dos Reis.

As notas de 500 escudos de Alves dos Reis

Em 1925 o sistema financeiro português sofria uma das maiores burlas de sempre. Artur Alves dos Reis conseguiu contornar o sistema de supervisão, ingénuo e sem os meios que hoje lhe conhecemos, falsificando um contrato do Banco de Portugal para conseguir 290 mil contos em notas de 500 escudos, qualquer coisa como o equivalente a 2,6% do PIB da altura.

Com um currículo extenso de actividades fraudulentas, Alves dos Reis iniciou a sua carreira de "burlão" com apenas 19 anos, em Angola, onde conseguiu um cargo de funcionário público depois de forjar uma licenciatura em engenharia por Oxford.

A pouco e pouco consegue enriquecer e estabelecer contactos que lhe seriam muito úteis para perpetuar a fraude das notas de 500 escudos. Em 1924 é preso por desfalque e durante os cerca de 50 dias que esteve preso prepara o seu maior golpe: a falsificação de um contrato do Banco de Portugal. Todo o processo foi minuciosamente preparado por si com a ajuda de alguns cúmplices.

Alves dos Reis preparou um contrato fictício do Banco de Portugal, que lhe permitiu conseguir notas de 500 escudos falsas, mas impressas pela empresa que imprimia as notas de escudos na época, o que conferia ao dinheiro uma grande autenticidade. A extraordinária capacidade financeira permitiu-lhe fundar o Banco Angola e Metrópole, e de quase controlar a autoridade monetária portuguesa.

No seu julgamento, no qual foi condenado a 25 anos de prisão, Alves dos Reis reconheceu o seu esquema de falsificação, descrevendo a sua actuação como patriótica e guiada para o desenvolvimento de Angola.

Generosa e amiga do povo termina em Branca... rota

De famílias humildes e com uma formação escolar básica, Maria Branca dos Santos foi autora do maior e mais conhecido esquema Ponzi montado em Portugal.

Inicia a sua carreira de "banqueira do povo" no final dos anos 50, recebendo depósitos aos quais acrescia um juro mensal de 10% - 120% ao ano, muito acima do praticado pelas instituições bancárias. A sua actividade consistia num esquema de pirâmide em que utilizava o dinheiro dos mais recentes depositantes para pagar os juros aos clientes mais antigos.

Considerava-se generosa e quando o seu esquema de Ponzi foi descoberto, afirmou que o seu único intuito era ajudar aqueles que menos tinham. No entanto, entre os clientes de Dona Branca contavam-se clientes de todos os sectores da sociedade.

O ruir do seu império teve início em Março de 1983, quando o Jornal "Tal & Qual" publicou uma reportagem onde dava a conhecer o esquema de pirâmide. A investigação jornalística chamou não só à atenção das autoridades, mas sobretudo dos clientes da Banqueira do Povo, que com receio de perder os seus juros, corriam em massa aos seus escritórios para levantar os seus depósitos.

A corrida aos depósitos atingiu tais proporções que muitos clientes de Dona Branca não conseguiram reaver nem o dinheiro, muito menos os juros. No final de 1984, depois uma investigação movida pelas autoridades, Maria Branca dos Santos é presa onde fica à espera de julgamento. No final da década de 80 Dona Branca, juntamente com mais 68 arguidos, foi condenada a pena de prisão por burla agravada, emissão de cheques sem cobertura, entre outros crimes económicos.

Especulação na bolsa terminou em dívidas milionárias

A década de 80 demonstrou-se pródiga para a bolsa de Lisboa e para muitos dos seus corretores. Pedro Caldeira, um dos profissionais mais influentes da praça portuguesa, acompanhou os anos de ouro da especulação, mas acabou por ser arrastado com o fim de um ciclo de euforia bolsista. Mergulhado em dívidas e numa série acusações de crimes financeiros, acabou ilibado pelo tribunal ao virar do século.

Caldeira entra na bolsa em 1973 e no início da década de 80 inicia a sua ascensão. É nomeado corretor oficial da bolsa e passa a dirigir o escritório de Valentim Lourenço. Entre 1985 e 1987, Caldeira aproveita o "boom" da bolsa para efectuar negócios de milhões de contos e consolidar a sua carteira de clientes. Por esta altura chegou a deter uma quota de mercado de 12%.

No entanto, em 1987, o "crash" bolsista desvenda uma dívida do corretor de 1,9 milhões de contos. O declínio de Pedro Caldeira tem início em 1988, quando fica inibido de exercer as suas funções durante três meses.

Após cumprir a pena, Caldeira ainda tenta recuperar o prestígio de outros tempos, mas a obrigação de pagar a dívida leva-o a contrair vários empréstimos. Em Julho de 1992 foge para os Estados Unidos, deixando para trás uma dívida de cerca de 2,5 milhões de contos. A Interpol lança um mandato de captura e o corretor é preso em Atlanta, EUA.

Posteriormente regressa a Portugal, onde é julgado pela prática de 65 crimes de burla agravada e 17 crimes de abuso de confiança, e ainda pelo uso indevido de 2,5 milhões de contos. Contudo, em 2000, o Ministério Público não consegue provar as acusações, sendo Pedro Caldeira unicamente condenado ao pagamento de pedidos cíveis.

Selos prometiam juros de 6%

A empresa filatélica Afinsa protagonizou um dos crimes económicos mais conhecidos em Portugal e Espanha no século XXI. Esta empresa, uma das mais conceituadas no seu sector a nível mundial, vendia produtos de investimento em selos e prometia aos seus clientes rendimentos elevados, utilizando um esquema de pirâmide em que clientes mais recentes pagavam os rendimentos e juros aos clientes mais antigos.

Foi criada no início da década de 80 por Albertino Figueiredo e os investidores eram atraídos pela Afinsa devido aos juros avultados, 6%, que a empresa prometia a quem investisse em selos raros, que ela própria avaliava.

Em Março de 2006, as autoridades espanholas desencadearam uma investigação à Afinsa e ao Forúm Filatélico, encontrando indícios da prática de branqueamento de capitais, delitos contra o Ministério das Finanças, administração desleal e falsificação de documentos.

A investigação policial levou à prisão preventiva de vários responsáveis da Afinsa e do Forúm Filatélico, entre os quais Albertino Figueiredo e o seu filho, Carlos Figueiredo Escriba, estando entre as acusações a compra em 2003 de um lote de selos por 60 milhões de euros - um preço já considerado excessivo para os selos em causa - para vendê-los em seguida por 700 milhões aos seus clientes.

Ao todo, o buraco gerado pela Afinsa e pelo Forúm Filatélico ronda os 1,82 mil milhões de euros e envolve mais de 190 mil clientes e entidades, na maioria portugueses e espanhóis.

Na altura em que tiveram início as investigações, os responsáveis pelas duas empresas afirmaram que as intervenções judiciais contra as companhias foram premeditadas e danosas.


JN
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