Off Topic - Norte visto por Miguel E. Cardoso (Lisboeta)
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luis.live Escreveu:se um nortenho escrevesse num comentário , bem de lisboa, nao era um bairrista, era um candidato á forca, mas um alfacinha escrever bem do norte , é normal...
é a opiniao dele, eu respeito, mas nao concordo , que um alfacinha se vergue desta maneira ao norte, porque os nortenhos também nao se vergam aos sulistas.
a questao é que , os naturais do norte , sao bairristas, e nao escrevem estas coisas,e alguns senhores aqui do sul , sao uns vendidos...
Luis.live, respeito a tua forma de estar na vida.
A escolha é tua e é uma liberdade que te assiste. Agora tenho de dizer que os teus posts são dos posts mais bairristas que eu consigo conceber...
No Norte também há gente assim como tu?
Naturalmente que sim.
Mas tu só estás a demonstrar que no Sul há bairrismo do mais exponencial que se pode conceber...
FLOP - Fundamental Laws Of Profit
1. Mais vale perder um ganho que ganhar uma perda, a menos que se cumpra a Segunda Lei.
2. A expectativa de ganho deve superar a expectativa de perda, onde a expectativa mede a
__.amplitude média do ganho/perda contra a respectiva probabilidade.
3. A Primeira Lei não é mesmo necessária mas com Três Leis isto fica definitivamente mais giro.
luis.live Escreveu:é a opiniao dele, eu respeito, mas nao concordo , que um alfacinha se vergue desta maneira ao norte, porque os nortenhos também nao se vergam aos sulistas.
a questao é que , os naturais do norte , sao bairristas, e nao escrevem estas coisas,e alguns senhores aqui do sul , sao uns vendidos...
Luis, não há que se vergar ou deixar de vergar. Na minha opinião é uma tolice fazer comparações de coisas tão diferentes e só causa mau estar porque sabemos que há rivalidade entre as regiões que se exarcerbou nos últimos 20 anos por causa do futebol.
Eu por gostar do Norte, ser do centro e morar no sul (Lisboa) sou um vendido? Traí alguma região?
Não penses dessa maneira. Acho que deves defender a tua cidade e onde te sentes bem e não és obrigado a gostar de outras regiões, mas também não podes censurar outros por gostarem mais de outras regiões do que aquela onde vivem...
No fundo não passa tudo de polémica desnecessária, porque opiniões destas é como discutir o sexo dos anjos...

Um abraço
Jiboia
vá para o Norte!!!! Nunca disse nada de jeito!!!
"...Lisboa é bonita e estranha mas é apenas uma cidade. O Alentejo é especial mas ibérico, a Madeira é encantadora mas inglesa e os Açores são um caso à parte. Em qualquer caso, os lisboetas não falam nem no Centro nem no Sul - falam em Lisboa. Os alentejanos nem sequer falam do Algarve - falam do Alentejo. As ilhas falam em si mesmas e naquela entidade incompreensível a que chamam, qual hipermercado de mil misturadas, Continente...".
Peço desculpa..... mas um Alfacinha não diz que Lisboa é apenas ....... uma cidade!!! Lisboa é única para os Lisboetas e atenção que eu sou Alentejano e lá todos falam em Lisboa....e não do norte...
AMO-TE LISBOA!!!!
Peço desculpa..... mas um Alfacinha não diz que Lisboa é apenas ....... uma cidade!!! Lisboa é única para os Lisboetas e atenção que eu sou Alentejano e lá todos falam em Lisboa....e não do norte...
AMO-TE LISBOA!!!!
Os nossos filhos são a nossa eternidade. Robert Debré
Estou feliz. Não tenho queixas. Às vezes choro. Milton Dacosta
A saúde, como a fortuna, deixa de favorecer aos que abusam dela. Saint-Évremont
Estou feliz. Não tenho queixas. Às vezes choro. Milton Dacosta
A saúde, como a fortuna, deixa de favorecer aos que abusam dela. Saint-Évremont
O que é isso interessa face ao que eu escrevi?
Para nada uma vez que eu não disse em parte nenhuma que os do Sul é que eram isto ou aquilo!
O problema não está naturalmente no texto do MEC mas em que não consegue ler uma coisa destas e ficar impávido e sereno. Se alguém depois de ler uma coisa destas fica incomodado, então o problema está aí e se existe regionalismo ou bairrismo então ele reside precisamente aí. Pouco importa a região do país a que pertence e a forma como essa pessoa reage não classifica a região a que pertence...
Para nada uma vez que eu não disse em parte nenhuma que os do Sul é que eram isto ou aquilo!
O problema não está naturalmente no texto do MEC mas em que não consegue ler uma coisa destas e ficar impávido e sereno. Se alguém depois de ler uma coisa destas fica incomodado, então o problema está aí e se existe regionalismo ou bairrismo então ele reside precisamente aí. Pouco importa a região do país a que pertence e a forma como essa pessoa reage não classifica a região a que pertence...
FLOP - Fundamental Laws Of Profit
1. Mais vale perder um ganho que ganhar uma perda, a menos que se cumpra a Segunda Lei.
2. A expectativa de ganho deve superar a expectativa de perda, onde a expectativa mede a
__.amplitude média do ganho/perda contra a respectiva probabilidade.
3. A Primeira Lei não é mesmo necessária mas com Três Leis isto fica definitivamente mais giro.
MarcoAntonio Escreveu:Se um Nortenho escrevesse uma coisa destas, era regionalista ou bairrista. Como é um Sulista, é um traidor...
O pecado mesmo é falar bem do Norte.
se um nortenho escrevesse num comentário , bem de lisboa, nao era um bairrista, era um candidato á forca, mas um alfacinha escrever bem do norte , é normal...
é a opiniao dele, eu respeito, mas nao concordo , que um alfacinha se vergue desta maneira ao norte, porque os nortenhos também nao se vergam aos sulistas.
a questao é que , os naturais do norte , sao bairristas, e nao escrevem estas coisas,e alguns senhores aqui do sul , sao uns vendidos...
Sou do SL BENFICA com muito orgulho...
Esta dicotomia Norte/Sul dá pano para mangas e muitas vezes chatices desnecessárias.
Eu sou do Centro, vivo na capital e vou com frequência ao Porto e Norte de Portugal. Conheço muito bem o meu país e gosto muito dele.
Portugal tem coisas que não cabem na cabeça de ninguém. Pois tem. Mas também outras que mais nenhum país tem. E são essas pequenas coisas que no fundo são os prazeres da vida que me fazem gostar de cá morar e de saber apreciar as coisas genuínas que temos.
O escrever sobre o Norte, o Centro ou o Sul comparando-os tornou-se hoje uma mania que quanto a mim pouco tem de útil. Há coisas boas e más em todas as regiões. Compará-las não faz de uma região melhor que outra. Há diferenças. Portugal é tão pequeno e tão diferente que é por isso que é tão rico em História, tradições e costumes.
Pessoalmente há coisas no Norte que me fascinam e outras que me desagradam, sendo as primeiras muito mais que as segundas, mas não vejo necessidade de o expôr. Antes vou lá e desfruto de tudo quanto me agrada na região e faço por lá voltar quando posso, porque me sinto lá bem. Não preciso de dizer aos do Centro ou do Sul que o Norte é que é bom. Cada um que veja por si e fique onde se sente bem...
Jiboia
Eu sou do Centro, vivo na capital e vou com frequência ao Porto e Norte de Portugal. Conheço muito bem o meu país e gosto muito dele.
Portugal tem coisas que não cabem na cabeça de ninguém. Pois tem. Mas também outras que mais nenhum país tem. E são essas pequenas coisas que no fundo são os prazeres da vida que me fazem gostar de cá morar e de saber apreciar as coisas genuínas que temos.
O escrever sobre o Norte, o Centro ou o Sul comparando-os tornou-se hoje uma mania que quanto a mim pouco tem de útil. Há coisas boas e más em todas as regiões. Compará-las não faz de uma região melhor que outra. Há diferenças. Portugal é tão pequeno e tão diferente que é por isso que é tão rico em História, tradições e costumes.
Pessoalmente há coisas no Norte que me fascinam e outras que me desagradam, sendo as primeiras muito mais que as segundas, mas não vejo necessidade de o expôr. Antes vou lá e desfruto de tudo quanto me agrada na região e faço por lá voltar quando posso, porque me sinto lá bem. Não preciso de dizer aos do Centro ou do Sul que o Norte é que é bom. Cada um que veja por si e fique onde se sente bem...
Jiboia
Editado pela última vez por Jiboia Cega em 27/2/2009 17:59, num total de 1 vez.
Se um Nortenho escrevesse uma coisa destas, era regionalista ou bairrista. Como é um Sulista, é um traidor...
O pecado mesmo é falar bem do Norte.

O pecado mesmo é falar bem do Norte.

FLOP - Fundamental Laws Of Profit
1. Mais vale perder um ganho que ganhar uma perda, a menos que se cumpra a Segunda Lei.
2. A expectativa de ganho deve superar a expectativa de perda, onde a expectativa mede a
__.amplitude média do ganho/perda contra a respectiva probabilidade.
3. A Primeira Lei não é mesmo necessária mas com Três Leis isto fica definitivamente mais giro.
e no Norte nao há naturais do norte a escrever este tipo de textos. infelizmente em lisboa de vez em quando aparecem uns "traidores". eu só acho piada, que este tipo de pessoas que escreve estas coisas, vive em lisboa. nao seria lógico viver no norte?, se gostam assim tanto do norte e vivem dos livros e crónicas que escrevem, tanto podem viver em lisboa como no norte, ou nao?
eu adoro o norte, sempre que posso vou até lá, mas sou incapaz escrever este tipo de coisas. desde logo , porque tenho muito orgulho na cidade , que me viu nascer, amo lisboa, e nao há terra como a nossa, e lisboa é a minha terra....
eu adoro o norte, sempre que posso vou até lá, mas sou incapaz escrever este tipo de coisas. desde logo , porque tenho muito orgulho na cidade , que me viu nascer, amo lisboa, e nao há terra como a nossa, e lisboa é a minha terra....
Sou do SL BENFICA com muito orgulho...
Off Topic - Norte visto por Miguel E. Cardoso (Lisboeta)
Primeiro, as verdades.
O Norte é mais Português que Portugal.
As minhotas são as raparigas mais bonitas do País.
O Minho é a nossa província mais estragada e continua a ser a mais bela.
As festas da Nossa Senhora da Agonia são as maiores e mais impressionantes que já se viram.
Viana do Castelo é uma cidade clara. Não esconde nada. Não há uma Viana secreta. Não há outra Viana do lado de lá. Em Viana do Castelo está tudo à vista. A luz mostra tudo o que há para ver. É uma cidade verde-branca.
Verde-rio e verde-mar, mas branca. Em Agosto até o verde mais escuro, que se vê nas árvores antigas do Monte de Santa Luzia, parece tornar-se branco ao olhar. Até o granito das casas.
Mais verdades.
No Norte a comida é melhor.
O vinho é melhor.
O serviço é melhor.
Os preços são mais baixos.
Não é difícil entrar ao calhas numa taberna, comer muito bem e pagar uma ninharia.
Estas são as verdades do Norte de Portugal.
Mas há uma verdade maior.
É que só o Norte existe. O Sul não existe.
As partes mais bonitas de Portugal, o Alentejo, os Açores, a Madeira, Lisboa, et caetera, existem sozinhas. O Sul é solto. Não se junta.
Não se diz que se é do Sul como se diz que se é do Norte.
No Norte dizem-se e orgulham-se de se dizer nortenhos. Quem é que se identifica como sulista?
No Norte, as pessoas falam mais no Norte do que todos os portugueses juntos falam de Portugal inteiro.
Os nortenhos não falam do Norte como se o Norte fosse um segundo país.
Não haja enganos.
Não falam do Norte para separá-lo de Portugal.
Falam do Norte apenas para separá-lo do resto de Portugal.
Para um nortenho, há o Norte e há o Resto. É a soma de um e de outro que constitui Portugal.
Mas o Norte é onde Portugal começa.
Depois do Norte, Portugal limita-se a continuar, a correr por ali abaixo.
Deus nos livre, mas se se perdesse o resto do país e só ficasse o Norte, Portugal continuaria a existir. Como país inteiro. Pátria mesmo, por muito pequenina. No Norte.
Em contrapartida, sem o Norte, Portugal seria uma mera região da Europa.
Mais ou menos peninsular, ou insular.
É esta a verdade.
Lisboa é bonita e estranha mas é apenas uma cidade. O Alentejo é especial mas ibérico, a Madeira é encantadora mas inglesa e os Açores são um caso à parte. Em qualquer caso, os lisboetas não falam nem no Centro nem no Sul - falam em Lisboa. Os alentejanos nem sequer falam do Algarve - falam do Alentejo. As ilhas falam em si mesmas e naquela entidade incompreensível a que chamam, qual hipermercado de mil misturadas, Continente.
No Norte, Portugal tira de si a sua ideia e ganha corpo. Está muito estragado, mas é um estragado português, semi-arrependido, como quem não quer a coisa.
O Norte cheira a dinheiro e a alecrim.
O asseio não é asséptico - cheira a cunhas, a conhecimentos e a arranjinho.
Tem esse defeito e essa verdade.
Em contrapartida, a conservação fantástica de (algum) Alentejo é impecável, porque os alentejanos são mais frios e conservadores (menos portugueses) nessas coisas.
O Norte é feminino.
O Minho é uma menina. Tem a doçura agreste, a timidez insolente da mulher portuguesa. Como um brinco doirado que luz numa orelha pequenina, o Norte dá nas vistas sem se dar por isso.
As raparigas do Norte têm belezas perigosas, olhos verdes-impossíveis, daqueles em que os versos, desde o dia em que nascem, se põem a escrever-se sozinhos.
Têm o ar de quem pertence a si própria. Andam de mãos nas ancas. Olham de frente. Pensam em tudo e dizem tudo o que pensam. Confiam, mas não dão confiança. Olho para as raparigas do meu país e acho-as bonitas e honradas, graciosas sem estarem para brincadeiras, bonitas sem serem belas, erguidas pelo nariz, seguras pelo queixo, aprumadas, mas sem vaidade. Acho-as verdadeiras. Acredito nelas. Gosto da vergonha delas, da aneira como coram quando se lhes fala e da maneira como podem puxar de um estalo ou de uma panela, quando se lhes falta ao respeito.
Gosto das pequeninas, com o cabelo puxado atrás das orelhas, e das velhas, de carrapito perfeito, que têm os olhos endurecidos de quem passou a vida a cuidar dos outros. Gosto dos brincos, dos sapatos, das saias. Gosto das burguesas, vestidas à maneira, de braço enlaçado nos homens. Fazem-me todas medo, na maneira calada como conduzem as cerimónias e os maridos, mas gosto delas.
São mulheres que possuem; são mulheres que pertencem. As mulheres do Norte deveriam mandar neste país. Têm o ar de que sabem o que estão a fazer. Em Viana, durante as festas, são as senhoras em toda a parte.
Numa procissão, numa barraca de feira, numa taberna, são elas que decidem silenciosamente.
Trabalham três vezes mais que os homens e não lhes dão importância especial.
Só descomposturas, e mimos, e carinhos.
O Norte é a nossa verdade.
Ao princípio irritava-me que todos os nortenhos tivessem tanto orgulho no Norte, porque me parecia que o orgulho era aleatório. Gostavam do Norte só porque eram do Norte. Assim também eu. Ansiava por encontrar um nortenho que preferisse Coimbra ou o Algarve, da maneira que eu, lisboeta, prefiro o Norte. Afinal, Portugal é um caso muito sério e compete a cada português escolher, de cabeça fria e coração quente, os seus pedaços e pormenores.
Depois percebi.
Os nortenhos, antes de nascer, já escolheram. Já nascem escolhidos.
Não escolhem a terra onde nascem, seja Ponte de Lima ou Amarante, e apesar de as defenderem acerrimamente, põem acima dessas terras a terra maior que é o "O Norte".
Defendem o "Norte" em Portugal como os Portugueses haviam de defender Portugal no mundo. Este sacrifício colectivo, em que cada um adia a sua pertença particular - o nome da sua terrinha - para poder pertencer a uma terra maior, é comovente.
No Porto, dizem que as pessoas de Viana são melhores do que as do Porto. Em Viana, dizem que as festas de Viana não são tão autênticas como as de Ponte de Lima. Em Ponte de Lima dizem que a vila de Amarante ainda é mais bonita.
O Norte não tem nome próprio. Se o tem não o diz. Quem sabe se é mais Minho ou Trás-os- Montes, se é litoral ou interior, português ou galego? Parece vago. Mas não é. Basta olhar para aquelas caras e para aquelas casas, para as árvores, para os muros, ouvir aquelas vozes, sentir aquelas mãos em cima de nós, com a terra a tremer de tanto tambor e o céu em fogo, para adivinhar.
O nome do Norte é Portugal. Portugal, como nome de terra, como nome de nós todos, é um nome do Norte. Não é só o nome do Porto. É a maneira que têm e dizer "Portugal" e "Portugueses". No Norte dizem-no a toda a hora, com a maior das naturalidades. Sem complexos e sem patrioteirismos. Como se fosse só um nome. Como "Norte". Como se fosse assim que chamassem uns pelos outros. Porque é que não é assim que nos chamamos todos?».
Miguel Esteves Cardoso
O Norte é mais Português que Portugal.
As minhotas são as raparigas mais bonitas do País.
O Minho é a nossa província mais estragada e continua a ser a mais bela.
As festas da Nossa Senhora da Agonia são as maiores e mais impressionantes que já se viram.
Viana do Castelo é uma cidade clara. Não esconde nada. Não há uma Viana secreta. Não há outra Viana do lado de lá. Em Viana do Castelo está tudo à vista. A luz mostra tudo o que há para ver. É uma cidade verde-branca.
Verde-rio e verde-mar, mas branca. Em Agosto até o verde mais escuro, que se vê nas árvores antigas do Monte de Santa Luzia, parece tornar-se branco ao olhar. Até o granito das casas.
Mais verdades.
No Norte a comida é melhor.
O vinho é melhor.
O serviço é melhor.
Os preços são mais baixos.
Não é difícil entrar ao calhas numa taberna, comer muito bem e pagar uma ninharia.
Estas são as verdades do Norte de Portugal.
Mas há uma verdade maior.
É que só o Norte existe. O Sul não existe.
As partes mais bonitas de Portugal, o Alentejo, os Açores, a Madeira, Lisboa, et caetera, existem sozinhas. O Sul é solto. Não se junta.
Não se diz que se é do Sul como se diz que se é do Norte.
No Norte dizem-se e orgulham-se de se dizer nortenhos. Quem é que se identifica como sulista?
No Norte, as pessoas falam mais no Norte do que todos os portugueses juntos falam de Portugal inteiro.
Os nortenhos não falam do Norte como se o Norte fosse um segundo país.
Não haja enganos.
Não falam do Norte para separá-lo de Portugal.
Falam do Norte apenas para separá-lo do resto de Portugal.
Para um nortenho, há o Norte e há o Resto. É a soma de um e de outro que constitui Portugal.
Mas o Norte é onde Portugal começa.
Depois do Norte, Portugal limita-se a continuar, a correr por ali abaixo.
Deus nos livre, mas se se perdesse o resto do país e só ficasse o Norte, Portugal continuaria a existir. Como país inteiro. Pátria mesmo, por muito pequenina. No Norte.
Em contrapartida, sem o Norte, Portugal seria uma mera região da Europa.
Mais ou menos peninsular, ou insular.
É esta a verdade.
Lisboa é bonita e estranha mas é apenas uma cidade. O Alentejo é especial mas ibérico, a Madeira é encantadora mas inglesa e os Açores são um caso à parte. Em qualquer caso, os lisboetas não falam nem no Centro nem no Sul - falam em Lisboa. Os alentejanos nem sequer falam do Algarve - falam do Alentejo. As ilhas falam em si mesmas e naquela entidade incompreensível a que chamam, qual hipermercado de mil misturadas, Continente.
No Norte, Portugal tira de si a sua ideia e ganha corpo. Está muito estragado, mas é um estragado português, semi-arrependido, como quem não quer a coisa.
O Norte cheira a dinheiro e a alecrim.
O asseio não é asséptico - cheira a cunhas, a conhecimentos e a arranjinho.
Tem esse defeito e essa verdade.
Em contrapartida, a conservação fantástica de (algum) Alentejo é impecável, porque os alentejanos são mais frios e conservadores (menos portugueses) nessas coisas.
O Norte é feminino.
O Minho é uma menina. Tem a doçura agreste, a timidez insolente da mulher portuguesa. Como um brinco doirado que luz numa orelha pequenina, o Norte dá nas vistas sem se dar por isso.
As raparigas do Norte têm belezas perigosas, olhos verdes-impossíveis, daqueles em que os versos, desde o dia em que nascem, se põem a escrever-se sozinhos.
Têm o ar de quem pertence a si própria. Andam de mãos nas ancas. Olham de frente. Pensam em tudo e dizem tudo o que pensam. Confiam, mas não dão confiança. Olho para as raparigas do meu país e acho-as bonitas e honradas, graciosas sem estarem para brincadeiras, bonitas sem serem belas, erguidas pelo nariz, seguras pelo queixo, aprumadas, mas sem vaidade. Acho-as verdadeiras. Acredito nelas. Gosto da vergonha delas, da aneira como coram quando se lhes fala e da maneira como podem puxar de um estalo ou de uma panela, quando se lhes falta ao respeito.
Gosto das pequeninas, com o cabelo puxado atrás das orelhas, e das velhas, de carrapito perfeito, que têm os olhos endurecidos de quem passou a vida a cuidar dos outros. Gosto dos brincos, dos sapatos, das saias. Gosto das burguesas, vestidas à maneira, de braço enlaçado nos homens. Fazem-me todas medo, na maneira calada como conduzem as cerimónias e os maridos, mas gosto delas.
São mulheres que possuem; são mulheres que pertencem. As mulheres do Norte deveriam mandar neste país. Têm o ar de que sabem o que estão a fazer. Em Viana, durante as festas, são as senhoras em toda a parte.
Numa procissão, numa barraca de feira, numa taberna, são elas que decidem silenciosamente.
Trabalham três vezes mais que os homens e não lhes dão importância especial.
Só descomposturas, e mimos, e carinhos.
O Norte é a nossa verdade.
Ao princípio irritava-me que todos os nortenhos tivessem tanto orgulho no Norte, porque me parecia que o orgulho era aleatório. Gostavam do Norte só porque eram do Norte. Assim também eu. Ansiava por encontrar um nortenho que preferisse Coimbra ou o Algarve, da maneira que eu, lisboeta, prefiro o Norte. Afinal, Portugal é um caso muito sério e compete a cada português escolher, de cabeça fria e coração quente, os seus pedaços e pormenores.
Depois percebi.
Os nortenhos, antes de nascer, já escolheram. Já nascem escolhidos.
Não escolhem a terra onde nascem, seja Ponte de Lima ou Amarante, e apesar de as defenderem acerrimamente, põem acima dessas terras a terra maior que é o "O Norte".
Defendem o "Norte" em Portugal como os Portugueses haviam de defender Portugal no mundo. Este sacrifício colectivo, em que cada um adia a sua pertença particular - o nome da sua terrinha - para poder pertencer a uma terra maior, é comovente.
No Porto, dizem que as pessoas de Viana são melhores do que as do Porto. Em Viana, dizem que as festas de Viana não são tão autênticas como as de Ponte de Lima. Em Ponte de Lima dizem que a vila de Amarante ainda é mais bonita.
O Norte não tem nome próprio. Se o tem não o diz. Quem sabe se é mais Minho ou Trás-os- Montes, se é litoral ou interior, português ou galego? Parece vago. Mas não é. Basta olhar para aquelas caras e para aquelas casas, para as árvores, para os muros, ouvir aquelas vozes, sentir aquelas mãos em cima de nós, com a terra a tremer de tanto tambor e o céu em fogo, para adivinhar.
O nome do Norte é Portugal. Portugal, como nome de terra, como nome de nós todos, é um nome do Norte. Não é só o nome do Porto. É a maneira que têm e dizer "Portugal" e "Portugueses". No Norte dizem-no a toda a hora, com a maior das naturalidades. Sem complexos e sem patrioteirismos. Como se fosse só um nome. Como "Norte". Como se fosse assim que chamassem uns pelos outros. Porque é que não é assim que nos chamamos todos?».
Miguel Esteves Cardoso
"Sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco o muito que temos." Shakespeare
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