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Caldeirão da Bolsa

Os quatro modelos possíveis para a banca pós-apocalipse

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por Açor3 » 24/2/2009 12:38

Aumentos de capital superam um bilião desde o rebentar da crise do crédito


24/02/2009


As instituições financeiras, a nível mundial, já efectuaram aumentos de capital de mais de um bilião de dólares (787,9 mil milhões de euros) desde que rebentou a crise do crédito, no Verão de 2007. E deverão necessitar de mais fundos, para cobrirem as perdas que, no mesmo período, ascendem já a 1,1 biliões de dólares.

A fasquia do bilião foi quebrada com uma série de operações na Ásia. O Mitsubishi UFJ Financial angariou 450 mil milhões de ienes (3,6 mil milhões de euros) através da venda de dívida no mercado, enquanto o Nomura efectuou o primeiro aumento de capital em dez anos, obtendo 291,2 mil milhões de ienes (2,37 mil milhões de euros).

Contudo, as operações das instituições financeiras asiáticas representam apenas 6,2% do total de capital angariado a nível global, nos últimos 20 meses. Segundo dados compilados pela Bloomberg, as instituições europeias realizaram aumentos de capital de 375 mil milhões (293 mil milhões de euros), enquanto os EUA lideram com 57% do total de capital angariado.

Não pára de aumentar o montante angariado pelo sector financeiro, que tenta fazer face às perdas de 1,1 biliões de dólares. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que tanto as instituições europeias como as norte-americanas necessitem de, pelo menos, mais 500 mil milhões “apenas para evitar que os seus rácios de capital se deteriorem ainda mais”.




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Os quatro modelos possíveis para a banca pós-apocalipse

por Açor3 » 23/2/2009 18:23

João Soares
Os quatro modelos possíveis para a banca pós-apocalipse

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A banca continua a estar no centro do furacão da tempestade económica: em todo o mundo, os anúncios de resultados e novas surpresas sacodem os mercados de capitais.


A banca continua a estar no centro do furacão da tempestade económica: em todo o mundo, os anúncios de resultados e novas surpresas sacodem os mercados de capitais. Em Portugal, os lucros dos três maiores bancos nacionais cotados (BCP, BES e BPI) caíram cerca de 50% face a 2007 (754 milhões de euros em 2008, contra 1.5 mil milhões em 2007). Depois da poeira assentar, o mundo da banca será provavelmente muito diferente do que conhecemos até hoje e Portugal não deverá escapar à onda de mudança.

No curto prazo, a procura por parte de clientes e a oferta de capital (solvência, liquidez e ambiente creditício) serão os motores de sucesso (e, naturalmente, de insucesso) do mercado bancário. Vive-se um modelo bancário influenciado pelos governos (Governance) de "regresso às origens": largar o exotismo (tóxico ou não), assentar numa lógica de depósitos e concessão de crédito, e apoiar as PME e as famílias.

Num horizonte mais lato, a um médio prazo, poderemos ter vários panoramas do que será a banca, em função da evolução das variáveis de políticas de sector (e regulamentação), regulação, estrutura de sector e modelos de negócio de sucesso. Neste médio prazo, poderemos ter quatro cenários, entre dois cenários extremos, de nacionalização total da banca (cenário 1) e de laissez-faire, desregulamentado de economia de mercado (cenário 4). Num gradativo de redução do papel dos Estados, o cenário 2 corresponde à manutenção do cenário de curto prazo, e o cenário 3 corresponde a um modelo "reprivatizado", conduzido pelo aumento de procura.
Em cada um destes cenários, o posicionamento relativo dos bancos pode ser medido em dois eixos: por um lado, o seu grau de exposição geográfica (sendo que a presença em mercados emergentes por parte de bancos ocidentais será alvo de particular escrutínio); por outro, o leque de serviços oferecido, com particular ênfase na vertente de produtos de gestão de patrimónios e do peso da banca de empresas, a par da complexidade da sua oferta.

Os bancos portugueses estariam no quadrante inferior direito, com reduzida presença internacional e um peso relativamente baixo de banca de empresas na sua actividade. Por exemplo, o BCP teria maior exposição geográfica do que a CGD; e o BES e o BPI teriam maior peso relativo da banca de empresas e de gestão de patrimónios. Comparativamente, o Santander teria uma forte presença global, mas estaria ao nível dos bancos portugueses em termos de leque de produtos. No canto superior direito (forte presença internacional e vasto leque de produtos), estariam bancos como o Citi, ou o Deutsche Bank. No quadrante de reduzida presença geográfica e vasto leque de produtos, estariam o Bank of America/Merrill Lynch ou o RBS. Bancos como o HBOS/Lloyds ou o Wells Fargo também estariam no quadrante inferior direito.
Vejamos cada cenário.

O primeiro cenário corresponde à nacionalização do sistema bancário. Poderá acontecer por arrastão se houver um pânico generalizado e os países com bancos com grande exposição geográfica e/ou de produto os nacionalizarem. Para a maior parte do mundo ocidental, será um choque desconhecido nas gerações vivas. Para Portugal, nem por isso: corresponderá a ter o sistema bancário nacionalizado, com os vários bancos praticamente iguais, numa óptica de "utility". Haverá uma re-concentração geográfica nos mercados de origem dos protagonistas pouco globalizados, com uma forte redução da exposição a mercados emergentes (vistos como de maior risco) e consolidação forçada pelos reguladores.

O segundo cenário, influência significativa dos governos, configura uma maior concentração geográfica de cada banco, implicando a venda de activos em múltiplas geografias (com a consequente concentração) e a redução de portefólio de produtos. A maior parte dos grandes bancos convergirá para o centro dos quatro quadrantes, num modelo mais tradicional de regresso às origens da actividade bancária, e a grande corrida será à obtenção de escala local.
O terceiro cenário, "re-privatização", verá o regresso fulgurante do banco universal, com redução de leque de produtos à medida que os bancos se retiram dos produtos mais exóticos, com a existência de especialistas geográficos e/ou de produto. O ritmo do regresso será dependente dos governos, com a escala no mercado de origem a ser o factor-chave de sucesso e de maior consolidação antes da "re-privatização".

O quarto cenário, de liberalização, verá múltiplos modelos de sucesso: teremos os locais universais; os locais "básicos" (e.g., Lloyds/HBOS), apostando em depósitos e no apuramento das decisões de concessão de crédito/pricing do risco; os bancos multi-mercado/multi-produto (e.g., JP Morgan); os especialistas globais mono-produto (e.g., UBS no "Private Banking"); e os bancos universais globais (e.g., Citi, HSBC). Este será o cenário mais similar ao que se conhecia em 2007.

Ainda é cedo para dizer com certeza qual vai ser o modelo prevalecente. Com maior probabilidade, estaremos nos cenários três ou quatro. A chave, para a Bain, está na acção por linha de negócio para cada banco: no Retalho, na Banca de Empresas, na Gestão de Patrimónios e na Banca de Investimentos. Quem ganhará a guerra será quem consiga coordenar estratégias defensivas e ofensivas: defensivas, começando por restaurar a imagem da marca (TIER 1, etc.), reduzir custos (muito por via da redução de complexidade), reforçar a lealdade dos clientes (conseguindo relançar a confiança nas aplicações financeiras - em particular, nos segmentos afluente e de massa mais elevado, que exigiram respostas criativas recentemente), e ajustar a gestão de risco (os novos modelos são surpreendentes); ofensivas, particularmente na clarificação da estratégia e na captura de quota de mercado.

Desde Setembro, os movimentos que temos acompanhado são provas do extraordinário dinamismo e capacidade inventiva de vários bancos que se estão a posicionar como vencedores. A vitória não se conquista depois da poeira assentar.



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