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Caldeirão da Bolsa

Que lições a tirar, para os EUA, da crise nipónica dos anos

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Que lições a tirar, para os EUA, da crise nipónica dos anos

por RuiAndrade » 18/11/2008 9:39

Que lições a tirar, para os EUA, da crise nipónica dos anos 90?



A derrocada do sector imobiliário norte-americano e o consequente colapso do mercado de crédito, colocaram a economia dos EUA numa situação recessiva de contornos não totalmente dissimilares da experiência traumática por que passou o Japão nos anos 90. Assim, nesta nota propomo-nos fazer uma análise comparativa entre os dois episódios e tentar retirar lições do primeiro para o segundo.

As semelhanças incidiram nas causas...


Em ambos os casos, uma das principais causas foi a formação de uma "bolha especulativa" no mercado imobiliário, impulsionada por reduzidos níveis de taxas de juro e elevados níveis de endividamento dos agentes económicos. Ambos os contextos expuseram famílias, empresas de promoção imobiliária, construtoras e bancos à reversão da tendência de valorização dos activos imobiliários que viria a seguir, originando uma quase paralisia do sector financeiro e uma forte retracção do crédito bancário e dos mercados de capitais.

...assim como nas terapêuticas

As autoridades de cada país adoptaram políticas monetárias, financeiras e orçamentais com vários elementos comuns. Em termos de política monetária, tanto o Banco do Japão como a Reserva Federal reduziram de forma drástica as suas taxas directoras durante os dois primeiros anos após o pico dos preços das casas. Por outro lado, ambos os Bancos Centrais adoptaram políticas de injecção massiva de liquidez no sistema financeiro de forma a minimizar as situações de insolvência no sector financeiro. Também ao nível da política orçamental, existe um paralelismo entre a injecção maciça de fundos do Governo japonês na economia, através de obras públicas e benefícios fiscais, e os planos que o Tesouro norte-americano tem vindo a apresentar, bem como aqueles que se esperam da nova Administração de Barack Obama, quando esta tomar posse em Janeiro próximo.

As diferenças residem na intensidade da "bolha especulativa"...


No Japão, a "bolha especulativa" revestiu-se também duma forte intensidade na magnitude da valorização accionista nas vésperas da respectiva crise. Contudo, se nos EUA a valorização dos mercados accionistas não era considerada extrema à data do início da queda dos preços imobiliários, já o mesmo não se pode dizer do mercado de crédito titulado, sobretudo associado a empréstimos hipotecários. Quando este sofreu um enorme revés com a desvalorização dos activos imobiliários, a banca norte-americana, com forte exposição ao sector, foi gravemente afectada.

...nas taxas de poupança e no contexto económico global

Outra diferença reside na taxa de poupança aquando do esvaziamento das respectivas "bolhas", que era relativamente elevada no Japão e praticamente nula nos EUA. A maior frugalidade das famílias japonesas conferiu-lhes margem de manobra para fazer face à degradação do mercado de trabalho e ao aperto das condições de acesso ao crédito. Essa não é uma vantagem que os consumidores americanos terão, o que terá implicações potencialmente adversas para a evolução do consumo privado. Finalmente, existe uma grande diferença entre o contexto económico global de grande dinamismo da década de 90 e a situação recessiva que hoje em dia caracteriza a economia Mundial, o que se traduz num elemento adicional de restrictividade da procura.

Implicações e lições

A principal incógnita é a duração e severidade da crise económica nos EUA. A favor duma duração mais reduzida pesa o facto das autoridades americanas terem sido muito mais lestas a criar mecanismos de apoio ao sector financeiro do que as japonesas. A desfavor, pesa a diminuta taxa de poupança das famílias norte-americanas. Num cenário de estagnação prolongada existe a probabilidade de que, tal como no Japão, venha a formar-se um processo de deflação. Ao nível dos mercados financeiros, caso a crise japonesa da década de 90 se venha efectivamente a mostrar uma referência fiel para os desenvolvimentos económicos nos EUA, podemos esperar um potencial limitado de valorização dos mercados accionistas e uma forte queda das yields das obrigações Governamentais americanas. Assim, desta análise, consideramos que podemos retirar dois ensinamentos da experiência japonesa para a situação actual dos EUA: (i) perante situações extremas, a lógica do rápido retorno à normalidade não se aplica universalmente, como a extensão do período de fraqueza económica e deflação no Japão bem demonstra; (ii) a terapêutica normalmente utilizada para tirar uma economia de recessão, mesmo que aplicada em doses elevadas, não oferece garantia de sucesso.

As semelhanças entre a crise nipónica de 90 e a crise subprime evidenciam riscos de recessão e deflação prolongadas para os EUA.

PIB japonês nunca recuperou o dinamismo... 2º Grafico"PIB JAP"



...e a deflação persiste até hoje 1º Grafico "DEF"


Bloomberg e Research Mercados Financeiros Mib.

Nota: O momento "0" faz referência ao pico dos preços das casas em ambas as economias (1990 no caso do Japão e 2006 no caso dos EUA) e cada unidade do eixo das abcissas corresponde a um ano.
"In Millennium investment banking"
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