O impacto de Obama para os investidores
1 Mensagem
|Página 1 de 1
O impacto de Obama para os investidores
«Yes We Can»
(“Sim Podemos ” – expressão frequentemente utilizada pelo Presidente eleito dos EUA durante a campanha, e por sete vezes no discurso de aceitação no dia 4 de Novembro de 2008)
O senador Barrack Obama foi eleito na passada semana como o 44º Presidente dos Estados Unidos da América (EUA). Obama é o primeiro afro-americano eleito para o cargo, sendo igualmente um dos Presidentes mais jovens de sempre, tendo beneficiado de uma das campanhas mais mediáticas e mobilizadoras das últimas décadas.
Obama era igualmente o candidato preferido em todo o mundo, por uma larga margem. De acordo com o Colégio Eleitoral Global organizado pela prestigiada revista britânica The Economist, no qual participaram 52.000 dos seus leitores, Obama reunia a preferência de 85% destes “eleitores” globais.
O Presidente eleito herda a mais grave crise financeira das últimas décadas e a mais elevada taxa de desemprego dos últimos 14 anos nos EUA. Os seus desafios na frente económica são muito significativos.
Como se deverão os investidores preparar para a presidência de Obama, que toma posse no próximo dia 20 de Janeiro?
A agenda económica
Neste momento, parece consensual que os países desenvolvidos terão um crescimento quase nulo este ano e negativo em 2009. Os EUA terão sido o primeiro país a entrar em recessão, e serão porventura um dos primeiros a sair dela, tendo presente a pro-actividade das autoridades norte-americanas no estímulo à economia, por via da política monetária (redução das taxas de juro de 5,25% para 1% e sucessivas injecções de liquidez), da política orçamental (cheque fiscal a todas as famílias em Maio) ou por via do ambicioso programa de compra de activos “tóxicos” do sistema financeiro (Emergency Economic Stabilization Act, também conhecido por “plano Paulson”, no valor de 700 mil milhões de dólares).
O primeiro e principal desafio de Obama na primeira fase da sua presidência será, desta forma, minimizar a duração e intensidade da recessão económica nos EUA.
Eis alguns dos principais tópicos que tenderão a constar da sua agenda económica
1. Aumento do défice orçamental
Estando o estímulo monetário praticamente esgotado, a via orçamental deverá ser a principal alternativa utilizada pela nova presidência para dinamizar a economia, apoiando os 10 milhões de desempregados, as famílias que estão em risco de perderem as suas casas e as fragilizadas pequenas e médias empresas.
O facto do Congresso (em particular a Câmara dos Representantes) ser da mesma cor política, poderá facilitar a aprovação das medidas, ainda que não tenha sido conseguida a maioria de 60 lugares no Senado que tornaria as decisões mais céleres.
O previsto estímulo fiscal deverá elevar o défice orçamental para um valor superior a 1 trilião de dólares em 2009.
2. Impostos
Uma das mais significativas promessas eleitoriais de Obama foi a redução dos impostos das classes mais desfavorecidas e um aumento dos impostos dos cidadãos com maiores rendimentos. Refira-se que esta medida só deverá ser concretizada a partir de 2010 (ano em que cessam as reduções fiscais implementadas em 2003), atendendo à actual conjuntura recessionária.
Deverá aumentar igualmente a tributação sobre os dividendos e sobre as mais-valias obtidas em bolsa, o que poderá vir a diminuir a atractividade do mercado accionista para alguns investidores.
3. Comércio
Obama mostrou-se favorável a renegociação do acordo de livre comércio da América do Norte (NAFTA), no sentido de proteger as indústrias norte-americanas.
De uma forma geral, qualquer política proteccionista é negativa para os mercados accionistas a longo prazo, na medida em que constitui um travão ao crescimento económico global e causa pressões inflacionistas por via salarial. Ainda assim, tende a ter um efeito positivo, a curto prazo, para as pequenas e médias empresas (small caps).
4. Trabalho
Obama é favorável à implementação do Employee Free Choice Act, legislação que reforça o poder sindical. Actualmente só 7,3% dos trabalhadores norte-americanos são sindicalizados, percentagem que tenderá a aumentar. Na medida em que pode implicar o aumento dos custos salariais das empresas, esta intervenção poderá igualmente ter um impacto negativo no mercado accionista.
Quais os sectores que mais poderão beneficiar e perder?
Como acontece em qualquer presidência, a política económica de Obama tenderá a originar vencedores e perdedores nos mercados financeiros (embora relações directas e causais sejam sempre difíceis de estabelecer, uma vez que os mercados são condicionados por múltiplos factores).
1. Energia
Um dos objectivos de Obama é o de garantir a independência energética dos EUA no prazo de 10 anos, introduzindo empréstimos bonificados e benefícios fiscais para reduzir a dependência de combustíveis fósseis.
Para este efeito, prevê-se o investimento de 150 mil milhões de dólares na próxima década em energias renováveis, com destaque para a energia solar. A probabilidade da vitória de Obama levou a uma valorização média de 78% das empresas especializadas no sector solar nas 5 sessões de bolsa até ao dia da eleição.
A maior preocupação com as alterações climáticas e o aquecimento global deverá beneficiar as empresas de reciclagem, tratamento de águas, consultoria ambiental e tecnologia para reduzir emissões de carbono.
As empresas petrolíferas deverão perder com a presidência Obama, em especial através de um tratamento fiscal mais desfavorável.
2. Cuidados de saúde
Obama pretende alargar os seguros de saúde aos 46 milhões de cidadãos que não beneficiam actualmente de qualquer cobertura, oferecendo subsídios para este efeito. Esta poderá ser uma oportunidade para algumas seguradoras.
Outro dos objectivos passará por reduzir os custos com cuidados de saúde, o que poderá reduzir as margens comerciais das maiores farmacêuticas, ainda que seja positivo para a indústria de genéricos. Também as empresas de biotecnologia poderão beneficiar do aumento do investimento em actividades científicas defendido por Obama.
3. Infraestruturas
Outra das prioridades de Obama é a criação de empregos (estima-se um número de 2 milhões) na reconstrução de estradas, pontes, portos e aeroportos. A entidade equivalente à nossa Ordem dos Engenheiros nos EUA é de opinião que será necessário o investimento de 1,6 triliões de dólares nos próximos 5 anos para melhorar a qualidade das infraestruturas, o que deverá beneficiar empresas de construção, engenharia e consultoria.
4. Defesa
A opinião pública tende a associar gastos militares com presidências republicanas, mas a verdade é que, nos últimos 30 anos, o orçamento anual da defesa aumentou mais nas presidências democratas (5,9%) do que nas republicanas (5,4%).
Depois de um crescimento de 72% em termos reais do orçamento de defesa nos últimos 8 anos, para suportar as intervenções militares no Afeganistão e Iraque, será de prever um abrandamento nas taxas de crescimento da despesa militar, mas serão pouco prováveis cortes substanciais no orçamento, atendendo à actual incerteza geopolítica. Obama defende uma proposta no sentido de alargar os efectivos do exército e da marinha em 92.000 militares.
5. Comércio a retalho
As acções do sector retalhista poderão ser negativamente afectadas com a subida defendida por Obama para o salário mínimo federal para 9,50 dólares por hora, um incremento de 45% em relação ao valor actual, e com o aumento da sindicalização. Ainda assim, alguns retalhistas poderão beneficiar do previsível aumento do poder de compra das classes mais desfavorecidas.
6. Obrigações municipais
Num contexto de subida de impostos sobre os rendimentos obtidos no mercado de capitais, poderá aumentar a atractividade das obrigações municipais, uma vez que estão isentas de impostos.
Os mercados preferem os presidentes democratas ou republicanos?
As presidências republicanas tendem a ser vistas como mais benéficas para os mercados accionistas, por defenderem políticas económicas mais favoráveis às empresas, como impostos mais baixos.
No entanto, os resultados históricos desde 1926 revelam precisamente o contrário. De acordo com dados da empresa de research Ibbotson Associates, as presidências democratas geraram um retorno médio anual superior à inflação em 9,2%, claramente superior aos 4,6% das presidências republicanas.
Esta diferença é claramente agravada pelo facto das mais graves crises financeiras terem ocorrido em presidências republicanas: a Grande Depressão com o Presidente Hoover (1929-33), o choque petrolífero nas presidências de Nixon e Ford (1969-77) e o fim da bolha tecnológica em 2000-02 e a crise financeira de 2007-08 na presidência de George W. Bush.
As diferenças são ainda mais notórias no desempenho das small caps: a rendibilidade real anualizada média das empresas de pequena e média capitalização foi de 16,5% nas presidências democratas, e de apenas 2,2% nas presidências republicanas.
Já as Obrigações do Tesouro registaram um desempenho real (acima da inflação) muito mais favorável nas presidências republicanas : +4,8% contra –0,4%.
Como se explicam estas diferenças? Um estudo da UCLA* conclui que a diferença não é atribuível a uma compensação por um risco acrescido, já que a volatilidade accionista nas presidências republicanas foi até superior.
Uma das explicações poderá centrar-se no facto dos republicanos estarem normalmente mais enfocados no combate à inflação (o que se traduz em taxas de juro reais cerca de 4% mais altas do que nas presidências democratas, entre 1927 e 1998) e de as presidências democratas serem tradicionalmente mais expansionistas, com grande ênfase na criação de emprego.
Segundo um artigo recente de Paul Krugman (Prémio Nobel da Economia de 2008) no New York Times, as taxas de crescimento do emprego nos EUA foram sempre mais elevadas nas 4 presidências democratas do pós-Guerra (Kennedy, Johnson, Carter e Clinton) do que nas presidências republicanas do mesmo período.
Em conclusão ...
O Presidente eleito Barrack Obama tem inúmeros desafios pela frente. Dentro de portas, irá confrontar-se com a deterioração da economia, o aumento do desemprego, a confiança dos consumidores em mínimos históricos. No exterior, espera-se que reafirme o papel da América como superpotência mundial e que seja um líder respeitado globalmente.
Não são de esperar alterações profundas na política económica dos EUA na primeira fase do mandato de Obama, atendendo à conjuntura adversa. Progressivamente, será de esperar a subida de impostos, o aumento do défice orçamental e da dívida externa, o que colocará a médio prazo algumas pressões sobre a inflação e o dólar.
Ao contrário do que seria de esperar, as presidências democratas tendem a ser favoráveis para os mercados accionistas, num contexto histórico em que são privilegiadas medidas de estímulo à criação de emprego e à redução de taxas de juro. Contudo, devemos ter presente que a evolução dos mercados accionistas resultará sempre mais de factores fundamentais (resultados das empresas, nível de valorizações) e de sentimento (aversão ao risco) do que de decisões políticas.
As expectativas do mundo são altas. É preciso restaurar a confiança. Será que Obama conseguirá implementar a sua agenda de mudança?
* Pedro Santa-Clara e Rossen I. Valkanov, University of California Los Angeles (UCLA), «The Presidential Puzzle: Political Cycles and the Stock Market». Journal of Finance, Vol. 58, pp. 1841-1872, October 2003.
ActivoBank7 Newsletter
(“Sim Podemos ” – expressão frequentemente utilizada pelo Presidente eleito dos EUA durante a campanha, e por sete vezes no discurso de aceitação no dia 4 de Novembro de 2008)
O senador Barrack Obama foi eleito na passada semana como o 44º Presidente dos Estados Unidos da América (EUA). Obama é o primeiro afro-americano eleito para o cargo, sendo igualmente um dos Presidentes mais jovens de sempre, tendo beneficiado de uma das campanhas mais mediáticas e mobilizadoras das últimas décadas.
Obama era igualmente o candidato preferido em todo o mundo, por uma larga margem. De acordo com o Colégio Eleitoral Global organizado pela prestigiada revista britânica The Economist, no qual participaram 52.000 dos seus leitores, Obama reunia a preferência de 85% destes “eleitores” globais.
O Presidente eleito herda a mais grave crise financeira das últimas décadas e a mais elevada taxa de desemprego dos últimos 14 anos nos EUA. Os seus desafios na frente económica são muito significativos.
Como se deverão os investidores preparar para a presidência de Obama, que toma posse no próximo dia 20 de Janeiro?
A agenda económica
Neste momento, parece consensual que os países desenvolvidos terão um crescimento quase nulo este ano e negativo em 2009. Os EUA terão sido o primeiro país a entrar em recessão, e serão porventura um dos primeiros a sair dela, tendo presente a pro-actividade das autoridades norte-americanas no estímulo à economia, por via da política monetária (redução das taxas de juro de 5,25% para 1% e sucessivas injecções de liquidez), da política orçamental (cheque fiscal a todas as famílias em Maio) ou por via do ambicioso programa de compra de activos “tóxicos” do sistema financeiro (Emergency Economic Stabilization Act, também conhecido por “plano Paulson”, no valor de 700 mil milhões de dólares).
O primeiro e principal desafio de Obama na primeira fase da sua presidência será, desta forma, minimizar a duração e intensidade da recessão económica nos EUA.
Eis alguns dos principais tópicos que tenderão a constar da sua agenda económica
1. Aumento do défice orçamental
Estando o estímulo monetário praticamente esgotado, a via orçamental deverá ser a principal alternativa utilizada pela nova presidência para dinamizar a economia, apoiando os 10 milhões de desempregados, as famílias que estão em risco de perderem as suas casas e as fragilizadas pequenas e médias empresas.
O facto do Congresso (em particular a Câmara dos Representantes) ser da mesma cor política, poderá facilitar a aprovação das medidas, ainda que não tenha sido conseguida a maioria de 60 lugares no Senado que tornaria as decisões mais céleres.
O previsto estímulo fiscal deverá elevar o défice orçamental para um valor superior a 1 trilião de dólares em 2009.
2. Impostos
Uma das mais significativas promessas eleitoriais de Obama foi a redução dos impostos das classes mais desfavorecidas e um aumento dos impostos dos cidadãos com maiores rendimentos. Refira-se que esta medida só deverá ser concretizada a partir de 2010 (ano em que cessam as reduções fiscais implementadas em 2003), atendendo à actual conjuntura recessionária.
Deverá aumentar igualmente a tributação sobre os dividendos e sobre as mais-valias obtidas em bolsa, o que poderá vir a diminuir a atractividade do mercado accionista para alguns investidores.
3. Comércio
Obama mostrou-se favorável a renegociação do acordo de livre comércio da América do Norte (NAFTA), no sentido de proteger as indústrias norte-americanas.
De uma forma geral, qualquer política proteccionista é negativa para os mercados accionistas a longo prazo, na medida em que constitui um travão ao crescimento económico global e causa pressões inflacionistas por via salarial. Ainda assim, tende a ter um efeito positivo, a curto prazo, para as pequenas e médias empresas (small caps).
4. Trabalho
Obama é favorável à implementação do Employee Free Choice Act, legislação que reforça o poder sindical. Actualmente só 7,3% dos trabalhadores norte-americanos são sindicalizados, percentagem que tenderá a aumentar. Na medida em que pode implicar o aumento dos custos salariais das empresas, esta intervenção poderá igualmente ter um impacto negativo no mercado accionista.
Quais os sectores que mais poderão beneficiar e perder?
Como acontece em qualquer presidência, a política económica de Obama tenderá a originar vencedores e perdedores nos mercados financeiros (embora relações directas e causais sejam sempre difíceis de estabelecer, uma vez que os mercados são condicionados por múltiplos factores).
1. Energia
Um dos objectivos de Obama é o de garantir a independência energética dos EUA no prazo de 10 anos, introduzindo empréstimos bonificados e benefícios fiscais para reduzir a dependência de combustíveis fósseis.
Para este efeito, prevê-se o investimento de 150 mil milhões de dólares na próxima década em energias renováveis, com destaque para a energia solar. A probabilidade da vitória de Obama levou a uma valorização média de 78% das empresas especializadas no sector solar nas 5 sessões de bolsa até ao dia da eleição.
A maior preocupação com as alterações climáticas e o aquecimento global deverá beneficiar as empresas de reciclagem, tratamento de águas, consultoria ambiental e tecnologia para reduzir emissões de carbono.
As empresas petrolíferas deverão perder com a presidência Obama, em especial através de um tratamento fiscal mais desfavorável.
2. Cuidados de saúde
Obama pretende alargar os seguros de saúde aos 46 milhões de cidadãos que não beneficiam actualmente de qualquer cobertura, oferecendo subsídios para este efeito. Esta poderá ser uma oportunidade para algumas seguradoras.
Outro dos objectivos passará por reduzir os custos com cuidados de saúde, o que poderá reduzir as margens comerciais das maiores farmacêuticas, ainda que seja positivo para a indústria de genéricos. Também as empresas de biotecnologia poderão beneficiar do aumento do investimento em actividades científicas defendido por Obama.
3. Infraestruturas
Outra das prioridades de Obama é a criação de empregos (estima-se um número de 2 milhões) na reconstrução de estradas, pontes, portos e aeroportos. A entidade equivalente à nossa Ordem dos Engenheiros nos EUA é de opinião que será necessário o investimento de 1,6 triliões de dólares nos próximos 5 anos para melhorar a qualidade das infraestruturas, o que deverá beneficiar empresas de construção, engenharia e consultoria.
4. Defesa
A opinião pública tende a associar gastos militares com presidências republicanas, mas a verdade é que, nos últimos 30 anos, o orçamento anual da defesa aumentou mais nas presidências democratas (5,9%) do que nas republicanas (5,4%).
Depois de um crescimento de 72% em termos reais do orçamento de defesa nos últimos 8 anos, para suportar as intervenções militares no Afeganistão e Iraque, será de prever um abrandamento nas taxas de crescimento da despesa militar, mas serão pouco prováveis cortes substanciais no orçamento, atendendo à actual incerteza geopolítica. Obama defende uma proposta no sentido de alargar os efectivos do exército e da marinha em 92.000 militares.
5. Comércio a retalho
As acções do sector retalhista poderão ser negativamente afectadas com a subida defendida por Obama para o salário mínimo federal para 9,50 dólares por hora, um incremento de 45% em relação ao valor actual, e com o aumento da sindicalização. Ainda assim, alguns retalhistas poderão beneficiar do previsível aumento do poder de compra das classes mais desfavorecidas.
6. Obrigações municipais
Num contexto de subida de impostos sobre os rendimentos obtidos no mercado de capitais, poderá aumentar a atractividade das obrigações municipais, uma vez que estão isentas de impostos.
Os mercados preferem os presidentes democratas ou republicanos?
As presidências republicanas tendem a ser vistas como mais benéficas para os mercados accionistas, por defenderem políticas económicas mais favoráveis às empresas, como impostos mais baixos.
No entanto, os resultados históricos desde 1926 revelam precisamente o contrário. De acordo com dados da empresa de research Ibbotson Associates, as presidências democratas geraram um retorno médio anual superior à inflação em 9,2%, claramente superior aos 4,6% das presidências republicanas.
Esta diferença é claramente agravada pelo facto das mais graves crises financeiras terem ocorrido em presidências republicanas: a Grande Depressão com o Presidente Hoover (1929-33), o choque petrolífero nas presidências de Nixon e Ford (1969-77) e o fim da bolha tecnológica em 2000-02 e a crise financeira de 2007-08 na presidência de George W. Bush.
As diferenças são ainda mais notórias no desempenho das small caps: a rendibilidade real anualizada média das empresas de pequena e média capitalização foi de 16,5% nas presidências democratas, e de apenas 2,2% nas presidências republicanas.
Já as Obrigações do Tesouro registaram um desempenho real (acima da inflação) muito mais favorável nas presidências republicanas : +4,8% contra –0,4%.
Como se explicam estas diferenças? Um estudo da UCLA* conclui que a diferença não é atribuível a uma compensação por um risco acrescido, já que a volatilidade accionista nas presidências republicanas foi até superior.
Uma das explicações poderá centrar-se no facto dos republicanos estarem normalmente mais enfocados no combate à inflação (o que se traduz em taxas de juro reais cerca de 4% mais altas do que nas presidências democratas, entre 1927 e 1998) e de as presidências democratas serem tradicionalmente mais expansionistas, com grande ênfase na criação de emprego.
Segundo um artigo recente de Paul Krugman (Prémio Nobel da Economia de 2008) no New York Times, as taxas de crescimento do emprego nos EUA foram sempre mais elevadas nas 4 presidências democratas do pós-Guerra (Kennedy, Johnson, Carter e Clinton) do que nas presidências republicanas do mesmo período.
Em conclusão ...
O Presidente eleito Barrack Obama tem inúmeros desafios pela frente. Dentro de portas, irá confrontar-se com a deterioração da economia, o aumento do desemprego, a confiança dos consumidores em mínimos históricos. No exterior, espera-se que reafirme o papel da América como superpotência mundial e que seja um líder respeitado globalmente.
Não são de esperar alterações profundas na política económica dos EUA na primeira fase do mandato de Obama, atendendo à conjuntura adversa. Progressivamente, será de esperar a subida de impostos, o aumento do défice orçamental e da dívida externa, o que colocará a médio prazo algumas pressões sobre a inflação e o dólar.
Ao contrário do que seria de esperar, as presidências democratas tendem a ser favoráveis para os mercados accionistas, num contexto histórico em que são privilegiadas medidas de estímulo à criação de emprego e à redução de taxas de juro. Contudo, devemos ter presente que a evolução dos mercados accionistas resultará sempre mais de factores fundamentais (resultados das empresas, nível de valorizações) e de sentimento (aversão ao risco) do que de decisões políticas.
As expectativas do mundo são altas. É preciso restaurar a confiança. Será que Obama conseguirá implementar a sua agenda de mudança?
* Pedro Santa-Clara e Rossen I. Valkanov, University of California Los Angeles (UCLA), «The Presidential Puzzle: Political Cycles and the Stock Market». Journal of Finance, Vol. 58, pp. 1841-1872, October 2003.
ActivoBank7 Newsletter
"O Barings pode concluir que não é, na realidade, muito difícil fazer dinheiro no negócio dos bens imobiliários" Peter Baring - Presidente do Banco Barings
1 Mensagem
|Página 1 de 1
Quem está ligado: