Efeito do Halloween nos mercados.
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Efeito do Halloween nos mercados.
Newsletter Activo bank7:
Provavelmente um grupo de crianças já lhe bateu à porta na noite de 31 de Outubro, gritando a célebre expressão: “Doçura ou Travessura?”. Ou, numa tradição mais portuguesa: “Pão por Deus”.
O Halloween é um evento muito popular nos países anglo-saxónicos, embora seja cada vez mais seguido em todo o mundo. A tradição tem origem em celebrações pagãs dos antigos celtas, nomeadamente nas festividades de Samhain (“Fim do Verão”), nas quais se fazia o culto dos mortos. Mais tarde, também os cristãos passaram a celebrar nesta altura a sua homenagem aos mortos. Em 837, o Papa Gregório IV ordenou que a festa de Todos os Santos fosse celebrada universalmente no dia 1 de Novembro. Acredita-se que o nome Halloween resulte da designação inglesa para a Vigília de Todos os Santos (All Hallow’s Eve), a qual se celebra no dia anterior.
Alguns costumes locais europeus relacionados com o Dia de Todos os Santos terão dado origem ao hábito de bater de porta em porta na noite anterior, bem como à utilização da célebre abóbora iluminada (que se baseará no folclore irlandês). Numa noite em que os fantasmas andam à solta, há que estar mascarado como eles para não se ser levado pelas almas do outro mundo.
O dia 31 de Outubro também é conhecido como o “Dia das Bruxas”, em especial nos países de origem hispânica. Segundo a lenda, as bruxas reuniam-se duas vezes por ano, na mudança das estações (a 30 de Abril e a 31 de Outubro), numa festividade presidida pelo próprio Diabo!
O efeito Halloween nos mercados financeiros
Da mesma forma que é sinónimo de guloseimas para as crianças, o dia 31 de Outubro é tradicionalmente o início da época mais “doce” para os accionistas, na medida em que uma parte significativa do seu retorno anual se tende a concentrar historicamente nos 6 meses entre Novembro e Abril. Este efeito sazonal é habitualmente designado como “efeito Halloween”, ou também sell in May and go away (“vende em Maio e vai-te embora”), um adágio com origem desconhecida, mas citado pela primeira vez no jornal Financial Times em 1964.
Se incluirmos o mais recente período de Maio a Outubro, que foi o mais negativo desde a Grande Depressão, concluímos que mais de 90% dos ganhos obtidos no mercado accionista norte-americano desde 1950 foram registados nos 6 meses entre Novembro e Abril.
Fonte: Yahoo Finance; ActivoBank7
O efeito Halloween é igualmente forte nos restantes mercados internacionais. De acordo com um estudo de 2002*, o semestre de Novembro a Abril é significativamente mais rentável do que o de Maio a Outubro em 36 dos 37 países (desenvolvidos e emergentes) observados desde 1970, sendo o efeito particularmente expressivo na Europa. Note-se que foi encontrada evidência deste padrão no Reino Unido desde pelo menos 1694!
Aliás, alguns dos mais importantes períodos de instabilidade nos mercados foram vividos no semestre entre Maio e Outubro:
• O Pânico de 1873**, que deu origem à Longa Depressão, teve início num crash na bolsa de Viena em 9 de Maio, que se alastrou aos EUA em Setembro;
• O Crash de Wall Street de 1929, que antecedeu a Grande Depressão, teve lugar a 28 e 29 de Outubro;
• O Crash de Wall Street de 1987 (a maior quebra diária de sempre) registou-se a 19 de Outubro;
• A Crise Asiática de 1997 teve início a 2 de Julho, com a desvalorização da divisa tailandesa;
• A Crise Russa de 1998 teve início a 17 de Agosto, data em que as autoridades anunciaram o incumprimento da sua dívida externa;
• Os ataques terroristas às torres do World Trade Center tiveram lugar a 11 de Setembro de 2001;
• A falência do banco Lehman Brothers, que exacerbou a Crise Financeira de 2008, foi anunciada a 15 de Setembro.
Note-se igualmente que, em anteriores ciclos de mercado nos EUA, os valores mínimos foram atingidos no mês de Outubro: foi o caso de 1987, 1990, 1998 e 2002. A história dirá se Outubro de 2008 irá continuar a tendência.
Como se explica o efeito Halloween?
O já referido estudo* analisou vários factores para explicar esta anomalia. Serão os retornos médios mais elevados no período de Novembro a Abril uma compensação por um risco mais elevado? Concluiu-se que o nível de risco (volatilidade) é idêntico durante todo o ano. Estará o efeito relacionado com variações de taxa de juro ou volumes de transacção? Também aqui parece não haver evidência. Terá a ver com as férias de Verão? Na realidade, o efeito é o mesmo nos países do hemisfério sul, onde os meses de Maio a Outubro correspondem ao Inverno ...
Este padrão sazonal, como outros, tem sido várias vezes citado ao longo dos anos, o que torna a sua eventual persistência algo paradoxal e difícil de explicar, não sendo compatível com a teoria dos mercados eficientes, de acordo com a qual as cotações das empresas deveriam incorporar toda a informação disponível sobre as mesmas, não havendo lugar a oportunidades de arbitragem.
Refira-se que um outro estudo*** defende que, se excluirmos as desvalorizações extremas no período de Maio a Outubro, como as ocorridas em 2008, 2002, 2001, 1987 ou 1974, o efeito Halloween desaparece, pelo menos no mercado norte-americano.
Em conclusão
No mais recente período de Maio a Outubro, os mercados accionistas globais registaram perdas médias superiores a 30%, num cenário de crise financeira internacional sem precedentes desde a Grande Depressão. Será que a mudança das estações associada a celebrações pagãs e a lendas populares nos trará ventos mais favoráveis nos próximos 6 meses?
A verdade é que ninguém parece conseguir explicar o efeito Halloween, não sendo possível antecipar se o mesmo irá continuar a observar-se no futuro, ou pelo menos na mesma proporção. Resta-nos formular um voto: o de que os próximos meses nos tragam mais “doçuras” do que “travessuras”!
* Sven Bouman e Ben Jacobsen - «The Halloween Indicator, ‘Sell in May and Go Away’: Another Puzzle», American Economic Review, 2002
** ActivoBank7 Newsletter nº 363 - «O Pânico de 1873: lições da Longa Depressão», 20 de Outubro de 2008
*** Edwin D. Maberly e Raylene M. Pierce - «Stock Market Efficiency Withstands another Challenge: Solving the “Sell in May/Buy after Halloween” Puzzle», Econ Journal Watch, 2004
ActivoBank7
Provavelmente um grupo de crianças já lhe bateu à porta na noite de 31 de Outubro, gritando a célebre expressão: “Doçura ou Travessura?”. Ou, numa tradição mais portuguesa: “Pão por Deus”.
O Halloween é um evento muito popular nos países anglo-saxónicos, embora seja cada vez mais seguido em todo o mundo. A tradição tem origem em celebrações pagãs dos antigos celtas, nomeadamente nas festividades de Samhain (“Fim do Verão”), nas quais se fazia o culto dos mortos. Mais tarde, também os cristãos passaram a celebrar nesta altura a sua homenagem aos mortos. Em 837, o Papa Gregório IV ordenou que a festa de Todos os Santos fosse celebrada universalmente no dia 1 de Novembro. Acredita-se que o nome Halloween resulte da designação inglesa para a Vigília de Todos os Santos (All Hallow’s Eve), a qual se celebra no dia anterior.
Alguns costumes locais europeus relacionados com o Dia de Todos os Santos terão dado origem ao hábito de bater de porta em porta na noite anterior, bem como à utilização da célebre abóbora iluminada (que se baseará no folclore irlandês). Numa noite em que os fantasmas andam à solta, há que estar mascarado como eles para não se ser levado pelas almas do outro mundo.
O dia 31 de Outubro também é conhecido como o “Dia das Bruxas”, em especial nos países de origem hispânica. Segundo a lenda, as bruxas reuniam-se duas vezes por ano, na mudança das estações (a 30 de Abril e a 31 de Outubro), numa festividade presidida pelo próprio Diabo!
O efeito Halloween nos mercados financeiros
Da mesma forma que é sinónimo de guloseimas para as crianças, o dia 31 de Outubro é tradicionalmente o início da época mais “doce” para os accionistas, na medida em que uma parte significativa do seu retorno anual se tende a concentrar historicamente nos 6 meses entre Novembro e Abril. Este efeito sazonal é habitualmente designado como “efeito Halloween”, ou também sell in May and go away (“vende em Maio e vai-te embora”), um adágio com origem desconhecida, mas citado pela primeira vez no jornal Financial Times em 1964.
Se incluirmos o mais recente período de Maio a Outubro, que foi o mais negativo desde a Grande Depressão, concluímos que mais de 90% dos ganhos obtidos no mercado accionista norte-americano desde 1950 foram registados nos 6 meses entre Novembro e Abril.
Fonte: Yahoo Finance; ActivoBank7
O efeito Halloween é igualmente forte nos restantes mercados internacionais. De acordo com um estudo de 2002*, o semestre de Novembro a Abril é significativamente mais rentável do que o de Maio a Outubro em 36 dos 37 países (desenvolvidos e emergentes) observados desde 1970, sendo o efeito particularmente expressivo na Europa. Note-se que foi encontrada evidência deste padrão no Reino Unido desde pelo menos 1694!
Aliás, alguns dos mais importantes períodos de instabilidade nos mercados foram vividos no semestre entre Maio e Outubro:
• O Pânico de 1873**, que deu origem à Longa Depressão, teve início num crash na bolsa de Viena em 9 de Maio, que se alastrou aos EUA em Setembro;
• O Crash de Wall Street de 1929, que antecedeu a Grande Depressão, teve lugar a 28 e 29 de Outubro;
• O Crash de Wall Street de 1987 (a maior quebra diária de sempre) registou-se a 19 de Outubro;
• A Crise Asiática de 1997 teve início a 2 de Julho, com a desvalorização da divisa tailandesa;
• A Crise Russa de 1998 teve início a 17 de Agosto, data em que as autoridades anunciaram o incumprimento da sua dívida externa;
• Os ataques terroristas às torres do World Trade Center tiveram lugar a 11 de Setembro de 2001;
• A falência do banco Lehman Brothers, que exacerbou a Crise Financeira de 2008, foi anunciada a 15 de Setembro.
Note-se igualmente que, em anteriores ciclos de mercado nos EUA, os valores mínimos foram atingidos no mês de Outubro: foi o caso de 1987, 1990, 1998 e 2002. A história dirá se Outubro de 2008 irá continuar a tendência.
Como se explica o efeito Halloween?
O já referido estudo* analisou vários factores para explicar esta anomalia. Serão os retornos médios mais elevados no período de Novembro a Abril uma compensação por um risco mais elevado? Concluiu-se que o nível de risco (volatilidade) é idêntico durante todo o ano. Estará o efeito relacionado com variações de taxa de juro ou volumes de transacção? Também aqui parece não haver evidência. Terá a ver com as férias de Verão? Na realidade, o efeito é o mesmo nos países do hemisfério sul, onde os meses de Maio a Outubro correspondem ao Inverno ...
Este padrão sazonal, como outros, tem sido várias vezes citado ao longo dos anos, o que torna a sua eventual persistência algo paradoxal e difícil de explicar, não sendo compatível com a teoria dos mercados eficientes, de acordo com a qual as cotações das empresas deveriam incorporar toda a informação disponível sobre as mesmas, não havendo lugar a oportunidades de arbitragem.
Refira-se que um outro estudo*** defende que, se excluirmos as desvalorizações extremas no período de Maio a Outubro, como as ocorridas em 2008, 2002, 2001, 1987 ou 1974, o efeito Halloween desaparece, pelo menos no mercado norte-americano.
Em conclusão
No mais recente período de Maio a Outubro, os mercados accionistas globais registaram perdas médias superiores a 30%, num cenário de crise financeira internacional sem precedentes desde a Grande Depressão. Será que a mudança das estações associada a celebrações pagãs e a lendas populares nos trará ventos mais favoráveis nos próximos 6 meses?
A verdade é que ninguém parece conseguir explicar o efeito Halloween, não sendo possível antecipar se o mesmo irá continuar a observar-se no futuro, ou pelo menos na mesma proporção. Resta-nos formular um voto: o de que os próximos meses nos tragam mais “doçuras” do que “travessuras”!
* Sven Bouman e Ben Jacobsen - «The Halloween Indicator, ‘Sell in May and Go Away’: Another Puzzle», American Economic Review, 2002
** ActivoBank7 Newsletter nº 363 - «O Pânico de 1873: lições da Longa Depressão», 20 de Outubro de 2008
*** Edwin D. Maberly e Raylene M. Pierce - «Stock Market Efficiency Withstands another Challenge: Solving the “Sell in May/Buy after Halloween” Puzzle», Econ Journal Watch, 2004
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"O Barings pode concluir que não é, na realidade, muito difícil fazer dinheiro no negócio dos bens imobiliários" Peter Baring - Presidente do Banco Barings
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