David ataca Golias
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David ataca Golias
OPINIÃO Publicado 7 Fevereiro 2006 13:59
Sérgio Figueiredo
David ataca Golias
sf@mediafin.pt
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É uma OPA, o que já é muito raro em Portugal. É hostil, o que a torna ainda mais insólito para os nossos brandos costumes. E, sabendo que o caçador é quatro vezes mais pequeno que a caça, estamos, definitivamente, perante um extraordinário acto de ousadia.
Belmiro, pois claro!, o maior empresário português dá-nos, antes de tudo o resto, uma bela lição de vida. Uma lição que serve a todos, mas especialmente a quem ainda não percebeu onde se formam os verdadeiros campeões nacionais: no mercado – não nos corredores dos Ministérios.
Longe de um desfecho, esta operação tem de ser apoiada. Porque a ambição deve ser louvada.
E o risco – aquele gesto que deveria ser normal num acto de aquisição, pôr o dinheiro à frente das cunhas – deve ser incentivado.
São 16 mil milhões de euros, quase 10% do PIB, a maior empresa cotada nacional, é tudo isto que Belmiro de Azevedo coloca em jogo.
A OPA que avance, o mercado que determine o fim desta ambição, que se revelem agora os predadores que andaram anos na sombra.
Belmiro, ao tomar a iniciativa, abriu uma Caixa de Pandora. Pode perder no final. Pode ter iniciado uma corrida que, pelas próprias pernas, não tem capacidade para acompanhar.
Pode sucumbir aos obstáculos. Mas tomou a iniciativa – e isso conta muito. Não garante a vitória, mas confere-lhe a vantagem de condicionar os outros. É uma grande vantagem, uma reviravolta completa. Até ontem a dúvida era se a Sonae conseguia comprar a ONI!?
O primeiro teste da OPA da Sonae sobre a PT é ao próprio Belmiro de Azevedo. Um teste de concorrência. Um teste de coerência.
Durante anos e anos, foi a Sonae o rival mais inconformado com a posição dominante da Portugal Telecom. Foi a Sonae quem mais exigiu a separação de redes. Foi a Sonae quem levou a litigância a Bruxelas.
Sabemos que a ambição de qualquer empresário é tornar-se monopolista. E que todos são muito amigos da concorrência, excepto no seu próprio negócio.
Mas, aqui, é elementar: a Sonae fica ou com a rede fixa ou opta pela rede cabo da PT. Não há volta a dar. Todos os pareceres dos seus advogados voltam-se contra si.
E esse é o primeiro esclarecimento que Belmiro deve ao mercado: é a PT que interessa, ou o alvo final é a PTM?
Assim, o que fará com os outros activos? Vende a rede fixa em bolsa ou em ajuste directo? E a quem? À France Telecom, sua parceira de sempre na Optimus? E na rede móvel é improvável que a Autoridade da Concorrência permita a concentração com a TMN. Segundo esclarecimento a fazer: qual das duas cai? E como? E a quem?
Por fim, fica em suspenso a grande operação internacional da PT – que é, também, a maior operação de internacionalização jamais feita por uma empresa portuguesa: a Vivo, no Brasil.
A «joint-venture» com Telefónica tem os dias contados. A PT entrega o Brasil aos espanhóis ou os espanhóis contra-atacam a PT e derrubam a Sonae.
Mas quem enfrenta o primeiro teste, aquele que tudo determina, é sem dúvida o Governo.
Sócrates está, neste momento, numa bifurcação. Se opta por vetar a iniciativa de Belmiro, escolhe o caminho mais estreito.
É sobre ele que recai o ónus da prova. A prova de que o interesse nacional estava em causa - o que não é fácil, quando a OPA é lançada pelo maior grupo privado nacional.
Tem de provar que o bloqueio é do interesse da empresa -- o que é ingrato, porque está a tratar todos os accionistas como uns incapazes, uns pobres tolos que precisam que o Governo os impeça de cometer o disparate de vender.
E tem de explicar ao mundo como é que o «novo Portugal», amigo do investimento estrangeiro, faz uso da sua «golden share» para proteger uma minoria de accionistas nacionais.
Evidentemente que também se trata de um teste ao BES e aos outros privados portugueses. Que têm, eles próprios, a oportunidade de se unir, de reagir e lançar uma contra-OPA.
Se acenarem com a «ofensiva francesa», omitem deliberadamente duas coisas. A «ameaça espanhola», à qual a PT, citando Ricardo Salgado, está «extremamente vulnerável». E a falta de vontade, ou capacidade, de gerir a companhia com as próprias mãos.
É, por fim, um teste ao CA e, em especial, ao «chairman». Ernâni Lopes tem a derradeira chance de provar que está ali para defender os accionistas. Todos,Não aqueles que o indicaram.
Sérgio Figueiredo
David ataca Golias
sf@mediafin.pt
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É uma OPA, o que já é muito raro em Portugal. É hostil, o que a torna ainda mais insólito para os nossos brandos costumes. E, sabendo que o caçador é quatro vezes mais pequeno que a caça, estamos, definitivamente, perante um extraordinário acto de ousadia.
Belmiro, pois claro!, o maior empresário português dá-nos, antes de tudo o resto, uma bela lição de vida. Uma lição que serve a todos, mas especialmente a quem ainda não percebeu onde se formam os verdadeiros campeões nacionais: no mercado – não nos corredores dos Ministérios.
Longe de um desfecho, esta operação tem de ser apoiada. Porque a ambição deve ser louvada.
E o risco – aquele gesto que deveria ser normal num acto de aquisição, pôr o dinheiro à frente das cunhas – deve ser incentivado.
São 16 mil milhões de euros, quase 10% do PIB, a maior empresa cotada nacional, é tudo isto que Belmiro de Azevedo coloca em jogo.
A OPA que avance, o mercado que determine o fim desta ambição, que se revelem agora os predadores que andaram anos na sombra.
Belmiro, ao tomar a iniciativa, abriu uma Caixa de Pandora. Pode perder no final. Pode ter iniciado uma corrida que, pelas próprias pernas, não tem capacidade para acompanhar.
Pode sucumbir aos obstáculos. Mas tomou a iniciativa – e isso conta muito. Não garante a vitória, mas confere-lhe a vantagem de condicionar os outros. É uma grande vantagem, uma reviravolta completa. Até ontem a dúvida era se a Sonae conseguia comprar a ONI!?
O primeiro teste da OPA da Sonae sobre a PT é ao próprio Belmiro de Azevedo. Um teste de concorrência. Um teste de coerência.
Durante anos e anos, foi a Sonae o rival mais inconformado com a posição dominante da Portugal Telecom. Foi a Sonae quem mais exigiu a separação de redes. Foi a Sonae quem levou a litigância a Bruxelas.
Sabemos que a ambição de qualquer empresário é tornar-se monopolista. E que todos são muito amigos da concorrência, excepto no seu próprio negócio.
Mas, aqui, é elementar: a Sonae fica ou com a rede fixa ou opta pela rede cabo da PT. Não há volta a dar. Todos os pareceres dos seus advogados voltam-se contra si.
E esse é o primeiro esclarecimento que Belmiro deve ao mercado: é a PT que interessa, ou o alvo final é a PTM?
Assim, o que fará com os outros activos? Vende a rede fixa em bolsa ou em ajuste directo? E a quem? À France Telecom, sua parceira de sempre na Optimus? E na rede móvel é improvável que a Autoridade da Concorrência permita a concentração com a TMN. Segundo esclarecimento a fazer: qual das duas cai? E como? E a quem?
Por fim, fica em suspenso a grande operação internacional da PT – que é, também, a maior operação de internacionalização jamais feita por uma empresa portuguesa: a Vivo, no Brasil.
A «joint-venture» com Telefónica tem os dias contados. A PT entrega o Brasil aos espanhóis ou os espanhóis contra-atacam a PT e derrubam a Sonae.
Mas quem enfrenta o primeiro teste, aquele que tudo determina, é sem dúvida o Governo.
Sócrates está, neste momento, numa bifurcação. Se opta por vetar a iniciativa de Belmiro, escolhe o caminho mais estreito.
É sobre ele que recai o ónus da prova. A prova de que o interesse nacional estava em causa - o que não é fácil, quando a OPA é lançada pelo maior grupo privado nacional.
Tem de provar que o bloqueio é do interesse da empresa -- o que é ingrato, porque está a tratar todos os accionistas como uns incapazes, uns pobres tolos que precisam que o Governo os impeça de cometer o disparate de vender.
E tem de explicar ao mundo como é que o «novo Portugal», amigo do investimento estrangeiro, faz uso da sua «golden share» para proteger uma minoria de accionistas nacionais.
Evidentemente que também se trata de um teste ao BES e aos outros privados portugueses. Que têm, eles próprios, a oportunidade de se unir, de reagir e lançar uma contra-OPA.
Se acenarem com a «ofensiva francesa», omitem deliberadamente duas coisas. A «ameaça espanhola», à qual a PT, citando Ricardo Salgado, está «extremamente vulnerável». E a falta de vontade, ou capacidade, de gerir a companhia com as próprias mãos.
É, por fim, um teste ao CA e, em especial, ao «chairman». Ernâni Lopes tem a derradeira chance de provar que está ali para defender os accionistas. Todos,Não aqueles que o indicaram.
As decisões fáceis podem fazer-nos parecer bons,mas tomar decisões difíceis e assumi-las faz-nos melhores.
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