Música presidencial
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Música presidencial
Editorial > 2005-08-16 14:00
Música presidencial
Pedro Marques Pereira
Bono Vox, o vocalista dos U-2, foi condecorado por Jorge Sampaio com as insígnias de Oficial da Ordem da Liberdade pelo empenho na “defesa de causas humanitárias e dos direitos humanos”.
Bono tornou-se um dos grandes heróis deste mundo globalizado, alavancando a sua intervenção política no enorme sucesso alcançado no plano musical pela sua banda. No fundo, valeu-se da principal máxima da globalização: “think globally, act locally”. Concentrou-se no plano de intervenção musical, ganhando o peso e prestígio que lhe permitiram ser ouvido quando luta pelas grandes causas globais.
Já Jorge Sampaio, preferiu inverter a ordem das coisas, aproveitando-se do prestígio global de Bono para recuperar pontos perdidos a nível local com o seu silêncio sobre matérias em relação às quais se tem furtado a fazer ouvir a sua voz. É bom saber que Sampaio se preocupa com os atropelos aos Direitos Humanos ou com a fome no mundo. Mas gostaríamos mais de o ver preocupado com a inesperada demissão do ministro das Finanças ao fim de quatro meses de mandato, com a decisão de construir um novo aeroporto e uma rede ferroviária de alta velocidade num momento em que as finanças públicas se encontram em grave penúria, ou com a nomeação puramente política de Armando Vara para a administração da CGD. Ou, ainda, com o eclipse africano do primeiro-ministro enquanto o País se verga uma vez mais às chamas.
Sampaio construiu ao longo dos seus dois mandatos a imagem de um Presidente preocupado com tudo e com nada, por vezes com razão – embora com poucas iniciativas concretas para resolver os problemas que tanto o preocupavam – outras com profundo exagero.
Nas inúmeras crises que abalaram o actual Governo, Sampaio não só primou pela ausência, como contribuiu para abreviar o debate ao receber proto-candidatos à Presidência da República, Cavaco Silva e Mário Soares, protegendo o Governo dos abundantes estilhaços que ainda choviam da desintegração da curta carreira de Campos e Cunha à frente do Ministério das Finanças.
O contraste do silêncio actual de Sampaio com a sua constante preocupação face aos “episódios” que o levaram a encurtar o prazo de validade da da anterior maioria laranja pode ser interpretado de várias formas, nenhuma delas lisonjeira. A primeira é que desistiu de fazer seja o que for para voltar a colocar o País nos eixos, o que o obrigaria a admitir que errou ao trocar uma maioria inoperante por outra que também não se tem distinguido pela eficácia. A segunda é que decidiu levar ao colo o Governo socialista, deixando de ser o presidente de todos os portugueses para passar a ser o de todos os socialistas.
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Pedro Marques Pereira
Bono Vox, o vocalista dos U-2, foi condecorado por Jorge Sampaio com as insígnias de Oficial da Ordem da Liberdade pelo empenho na “defesa de causas humanitárias e dos direitos humanos”.
Bono tornou-se um dos grandes heróis deste mundo globalizado, alavancando a sua intervenção política no enorme sucesso alcançado no plano musical pela sua banda. No fundo, valeu-se da principal máxima da globalização: “think globally, act locally”. Concentrou-se no plano de intervenção musical, ganhando o peso e prestígio que lhe permitiram ser ouvido quando luta pelas grandes causas globais.
Já Jorge Sampaio, preferiu inverter a ordem das coisas, aproveitando-se do prestígio global de Bono para recuperar pontos perdidos a nível local com o seu silêncio sobre matérias em relação às quais se tem furtado a fazer ouvir a sua voz. É bom saber que Sampaio se preocupa com os atropelos aos Direitos Humanos ou com a fome no mundo. Mas gostaríamos mais de o ver preocupado com a inesperada demissão do ministro das Finanças ao fim de quatro meses de mandato, com a decisão de construir um novo aeroporto e uma rede ferroviária de alta velocidade num momento em que as finanças públicas se encontram em grave penúria, ou com a nomeação puramente política de Armando Vara para a administração da CGD. Ou, ainda, com o eclipse africano do primeiro-ministro enquanto o País se verga uma vez mais às chamas.
Sampaio construiu ao longo dos seus dois mandatos a imagem de um Presidente preocupado com tudo e com nada, por vezes com razão – embora com poucas iniciativas concretas para resolver os problemas que tanto o preocupavam – outras com profundo exagero.
Nas inúmeras crises que abalaram o actual Governo, Sampaio não só primou pela ausência, como contribuiu para abreviar o debate ao receber proto-candidatos à Presidência da República, Cavaco Silva e Mário Soares, protegendo o Governo dos abundantes estilhaços que ainda choviam da desintegração da curta carreira de Campos e Cunha à frente do Ministério das Finanças.
O contraste do silêncio actual de Sampaio com a sua constante preocupação face aos “episódios” que o levaram a encurtar o prazo de validade da da anterior maioria laranja pode ser interpretado de várias formas, nenhuma delas lisonjeira. A primeira é que desistiu de fazer seja o que for para voltar a colocar o País nos eixos, o que o obrigaria a admitir que errou ao trocar uma maioria inoperante por outra que também não se tem distinguido pela eficácia. A segunda é que decidiu levar ao colo o Governo socialista, deixando de ser o presidente de todos os portugueses para passar a ser o de todos os socialistas.
As decisões fáceis podem fazer-nos parecer bons,mas tomar decisões difíceis e assumi-las faz-nos melhores.
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