Caldeirão da Bolsa

Bagão esteve para sair do Governo

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

Bagão esteve para sair do Governo

por marafado » 16/1/2005 2:16

Bagão esteve para sair do Governo
Grande Plano com Santana Lopes

José Leite Pereira, António José Teixeira e Isabel Teixeira da Mota

A poucas semanas das eleições, o primeiro-ministro e líder do PSD recebeu o JN no seu gabinete de S. Bento e aceitou falar demoradamente sobre a crise política e as propostas que vai apresentar aos eleitores.

[Jornal de Notícias] Já compreendeu a razão que levou o presidente da República a dissolver o Parlamento?

[Pedro Santana Lopes] Isso talvez seja como a pescada, que antes de ser já o era. Já tinha compreendido antes de compreender. Era uma hipótese que existia desde que foi dada posse ao Governo. Desde que o presidente da República disse, na tomada de posse, que iria manter o Governo sob vigilância para além da fiscalização democrática comum, deu uma lupa mais intensa, de capacidade maior, a todo o país. O Governo passou a estar sob fiscalização. A ida do primeiro-ministro para presidente da Comissão Europeia, que é uma boa causa, tenho a certeza de que na Bélgica ou na Holanda não causaria eleições. Em Portugal, essa falta de hábito, chamemos-lhe assim, leva a mais agitação.

Reafirma que o presidente lhe disse por três vezes que não dissolveria o Parlamento?

O presidente não contrariou isso... Basta conferir os acontecimentos daquele dia para se perceber que houve uma alteração de segunda para terça-feira. Era para ir para a Turquia e, na altura, o meu assessor diplomático não sabia se mantinhamos a visita. Quando saí de Belém, informei-o dizendo que podia manter a visita à Turquia. E combinei com o senhor presidente manter a visita. O senhor presidente disse-me, nessa conversa, expressamente que não estava em causa a dissolução do Parlamento. Até o termo usado foi: o que o senhor primeiro-ministro deverá fazer é um reajustamento do seu núcleo duro. Ipsis verbis.

É verdade que não lhe permitiu uma remodelação mais alargada do Governo?

É. Não estava na minha intenção. Vou revelar agora algo que nunca contei. Tem a ver com aquela cerimónia da posse. A célebre cerimónia adiada. Eu tive um problema complicado, de que hoje em dia posso falar com mais à vontade, porque já está ultrapassado, e de que o senhor presidente da República foi informado. O senhor ministro das Finanças não esteve bem de saúde. Como sabem, chegou a esperar no hospital 24 horas. Foi público, por isso não estou a cometer nenhuma inconfidência. A falta de certeza quanto à continuidade de um ministro como o das Finanças preocupou-me muito naquela altura, até porque o mais importante é cuidar da saúde de uma pessoa que é um bom amigo, para além de ser um grande ministro das Finanças. E se há pessoa que sabe que a posse não foi adiada por qualquer das razões extraordinárias que se atribuíram é o senhor presidente da República. Tive que ponderar diversas possibilidades, conversei com diversas pessoas. Posso neste momento revelar, não é público, mas o professor António Borges esteve no meu gabinete. Outras pessoas estiveram aqui...Não fiz convites mas conversei, sem dizer o que se passava. Enfim, os termos em que o senhor presidente da República me pôs a questão foram exactamente: uma remodelação mais ampla está fora de questão. Até a expressão que usou foi a de que o ministro que se demitiu, Henrique Chaves, fazia parte do "núcleo duro", portanto apenas o núcleo duro era mexido, mas até me disse: "Pense com tempo". Foi isso que se passou.

Pouco antes disso, Dias Loureiro tinha-o aconselhado a demitir-se, forçando eleições antecipadas. Não está arrependido de não ter seguido o conselho?

Não. Eu passei a tarde do dia em que o presidente anunciou ao país, em Julho, que não dissolvia o Parlamento, a preparar eleições na sede da S. Caetano à Lapa. Não era que estivesse muito convencido de que o presidente fosse por essa via. Por mim, não me importava nada de ir para eleições.

É verdade que esteve para ser vice-primeiro-ministro, se Durão tivesse continuado?

Não. Nunca. Falava muito com Durão Barroso sobre o país. Ele tinha a gentileza de me ouvir sobre muitos assuntos, mas não. Sabíamos ambos que era uma hipótese impossível eu deixar a Câmara de Lisboa, a não ser nestas circunstâncias.

Voltemos à imagem da pescada. Tendo o presidente da República viabilizado um Governo da mesma maioria para suceder ao de Durão Barroso, quando diz que "antes de ser já o era" ficou com a ideia de que, além dessa vigilância, o presidente iria aproveitar alguma oportunidade para interromper a legislatura?

Não por má fé. Ainda hoje a minha relação pessoal com o senhor presidente é sinceramente cordial e afável e que procuro não seja afectada por isto. A minha experiência em política dizia-me isto: teríamos, no máximo, eleições legislativas em Outubro de 2005, coincidindo com as autárquicas. Nunca acreditei totalmente - ou sempre duvidei muito, para ser mais rigoroso - que a legislatura chegasse ao fim. Algo se passaria seguramente. Semanas antes, o senhor presidente disse-me que não dissolveria o Parlamento e disse expressamente para eu governar com estabilidade e com tranquilidade. Deu-me até conselhos, inputs positivos, de que eu não tenho nada a dizer nesse campo. A não ser discordar de atitudes, como por exemplo quando recebeu o célebre comentador de televisão antes de falar comigo.

Acha que o Governo, a Maioria, o primeiro-ministro, deram algum contributo para que a crise se instalasse e houvesse um ambiente propício à interrupção da legislatura?

Com este caso ou no geral?

No geral, uma vez que este caso começa na declaração de um ministro.

Tenho uma explicação para isso - acho que é muito difícil numa casa que é abanada de fora todos os dias a família estar calma lá dentro. Julgo que é publicamente consensual que este Governo não teve um dia sequer de estado de graça. Quando há crise de legitimidade, isso transforma-se em défice de autoridade. Eu não podia tomar nenhuma atitude, porque tinha de fora a ameaça permanente de que se houvesse instabilidade dentro, aconteceria algo.

Digo isto porque as figuras de estilo que utilizou - a incubadora, a ambulância -, remetem para a ideia de que dentro da maioria, do Governo, do PSD, houve sempre contributos de instabilidade.

A ambulância... O termo não é meu. Foi o engenheiro José Sócrates que o utilizou. Disse que é feio disparar sobre uma ambulância. O da incubadora é meu.

Mas sofreu por causa dos seus "irmãos", dos seus "familiares" políticos?

Ah sim! Isso houve muito, de dentro.

É o reconhecimento de que o Governo não estava em condições? Disse também que teve pouco tempo para se preparar para ser primeiro-ministro...

A questão não é de preparação para ser primeiro-ministro, da minha preparação - embora também seja. O que aconteceu é que é muito complicado formar um Governo sendo contestado ou posto em causa pelo próprio chefe de Estado. Quando este tem dúvidas em dar posse ao novo Governo e depois diz sim... O problema são as dificuldades que entretanto foram criadas, nomeadamente dentro do nosso quadro político. Isso é que é inovador.

Foi-lhe difícil tomar consciência de que iria assumir as funções de primeiro-ministro?

Foi. Era uma opção muito difícil que o meu partido tinha que tomar. Punham-se duas hipóteses. Alguém que já fosse membro do Governo, como a dra. Manuela Ferreira Leite, seria primeiro-ministro, ou, então, alguém que tivesse da parte do partido o reconhecimento de liderança natural para suceder. O meu partido fez esta opção. Eu não a pedi.

Houve alguma hipótese de ficar como líder do partido e Manuela Ferreira Leite assumir-se como primeiro-ministro?

Essa questão foi posta por mim à direcção. Eu disse que estava disposto a servir em qualquer circunstância. Mas o meu partido tem um caldo de cultura contra isso.

Esta foi a melhor opção?

É difícil falar de mim próprio. É natural na democracia portuguesa que o líder do partido seja o chefe do Governo. Ainda agora, da minha parte, não houve a atitude de dizer eu fico. Voltei a pôr a questão ao meu partido quando o presidente decidiu dissolver. Se alguém está disponível e está em melhores condições para disputar as eleições do que eu... Peguei no partido com 29%, agora o partido está com 34%. Com tudo o que se passou, é algo que eu considero até surpreendente.

Quer dizer que faz uma avaliação muito negativa de todo este tempo?

Não. Para Portugal é uma avaliação positiva, com opções corajosas. Agora, da situação política faço uma avaliação negativa porque degenerou numa instabilidade muito profunda para o país, que não será fácil recuperar.

Que avaliação lhe chega do Portugal profundo? Acha que há um sentimento de desilusão ou de apoio?

Chegam-me os dois sentimentos. Mas a minha convicção profunda é a de que os portugueses pensam que foi de mais. Há o sentimento de revolta por tudo o que se passou. Os portugueses não gostam de ver atacar muito seja quem for. Faz parte da nossa ideossincrasia.

Está arrependido de ter convidado Pôncio Monteiro?

Se voltasse atrás, fazia o mesmo, mas estou arrependido pelo que aconteceu. Acho que há um clima muito exacerbado no Porto. A decisão do convite foi minha e da direcção do meu partido.

Era suposto que Pôncio Monteiro fizesse campanha com Rui Rio?

Não. Ele disse-me que tinha esse problema.

Perguntou a Rui Rio?

Não. Só ao dr. Aguiar Branco e à direcção do meu partido, que expressamente concordou. Caso contrário, não o tinha convidado. Para mim, havia uma questão: o cabeça de lista eu não o mudava. Mas havia pessoas na Distrital do Porto que defendiam que Pôncio Monteiro tinha de fivcar. houvesse o que houvesse.

Mas isso é que criou problemas a Rui Rio

Claro, o problema era esse. Houve uma possibilidade de Pôncio Monteiro ser o cabeça de lista por outro círculo eleitoral. Mas as televisões já estavam em casa dele e, por minha opção, quem lhe falou foi o secretário-geral.

Ficou no Porto com um problema ainda maior do que aquele que tinha.

Não sei. Fui ao Porto e fui muito bem recebido. O dr. Rui Rio traçou um caminho e hoje não há dúvida de que não há promiscuidade entre a autarquia e o FCP. Rui Rio é o meu presidente da Câmara do Porto, a quem devo solidariedade. Estou convencido de que pode ganhar as eleições.

Considera que tem uma lista boa?

A minha prioridade foi a escolha de cabeças de lista. O resto...são pessoas propostas pelas bases. Era muito bom para a vida democrática portuguesa haver círculos uninominais. Evitava tudo isto. A classe política precisa de renovação. Mas consegui uma renovação grande ao nível de cabeças- de-listas. Depois havia deputados que era injusto saírem, como Montalvão Machado, Gonçalo Capitão, Teresa Morais...

Faz falta um pacto para resolver o problema das finanças públicas?

Sim. Mas deveria envolver administração pública, produtividade, competitividade. Se eu formar Governo, terei um vice-primeiro-ministro para a competitividade.

Um vice-primeiro-ministro transversal?

Sim, que inclui outras pastas, como a Educação e a Saúde. Estamos muito melhores do que há 20 anos. Por isso, quando decretei o fim da austeridade era a isso que me referia, à necessidade de optimismo.

O governador do Banco de Portugal disse que era preciso mais austeridade.

Austeridade nesse sentido, sim. Estamos de acordo.

Vítor Constâncio defende até, eventualmente, o crescimento dos impostos indirectos...

Os bancos centrais são sempre pessimistas.

Na hipótese de voltar a ser primeiro-ministro, quem será o seu ministro das Finanças?

Não posso dizer ainda. Vou apresentar o meu programa de Governo no dia 21 e só depois vou apresentar a estrutura do meu Governo.

Não vai querer saber qual a equipa das Finanças do PS?

Hum! Eu compreendo que seja importante...Mas é uma questão de prudência.

Vai ter porta-vozes para as diversas áreas?

Sim, mas não significa que sejam os ministros.

Conhece a proposta de Miguel Cadilhe sobre a necessidade da reforma do Estado e da Administração Pública?

Conheço. Não profundamente, mas conheço. É uma das questões que se colocam.

Cadilhe propunha a redução da despesa corrente em cerca de 7% ao ano num cenário de inflação baixa e PIB a crescer. É possível?

No quadro actual, é impossível. Temos a despesa corrente a crescer 1,2% ao ano. Seria impraticável, a não ser alterando o quadro legal.

O que se pode fazer?

Alterações legislativas que permitam gradualmente - porque é impossível fazer rupturas - ir reduzindo o peso da Administração Pública aos 11% até 2010. É a nossa proposta. Neste momento, é cerca de 15%. do PIB. Rupturas numa sociedade como a portuguesa é ímpossível fazer.

É possível fazer cortes na Educação e Saúde?

É impossível. Ainda o sector onde é mais fácil é o da Educação. Estamos a trabalhar na possibilidade de entrega da responsabilidade da gestão aos professores mantendo a responsabilidade pública, mas sem despesa pública.

Na Saúde pode utilizar-se o mesmo esquema?

Aí não vou tão longe, apesar de defender que quem mais pode, mais deve pagar. Sou defensor de que deve existir um forte Serviço Nacional de Saúde.

Tem algum cálculo do número de funcionários públicos suportável?

Tenho, mas não vou dizer.

Mas defende que se deve manter o número actual de funcionários?

Não. Penso que se devem criar esquemas de mobilidade laboral.

O IVA deve aumentar?

Não. Não considero necessário, com franqueza.

Vai haver diminuição do IRC?

Para já não é esse o caminho que vou seguir. A baixa do IRC só vale a pena se puder ser significativa. Compreendo a posição do dr. Miguel Frasquilho. Gosto muito até dessa posição, mas não sei se posso fazer uma descida tão significativa.

Vai fazer uma proposta de calendário para os referendos, nomeadamente sobre o Tratado Europeu?

Neste momento, sou muito céptico em relação a um referendo sobre Europa.

Está a dizer que o referendo sobre a Europa pode ser eliminado por vontade do PSD?

Não por vontade do PSD. A consulta estava para ter lugar se não tivesse havido dissolução. Nós lutámos por ela.

Quer um referendo sobre a interrupção da gravidez?

Falarei sobre isso mais para diante. A nossa disposição é na legislatura seguinte. É o que é natural.

Sobre a regionalização, deve haver referendo?

A questão pode voltar a ser equacionada em Portugal. No programa eleitoral algo haverá sobre a matéria, não em defesa da regionalização, mas de uma descentralização regionalizada. Aproveitar os serviços desconcentrados do Estado nas CCDR, que já são eleitas.

Vamos ao caso Morais Sarmento. Por que é ficou incomodado?

Atribuíram-me essa palavra, mas foi da jornalista da RTP que me perguntou: "Não acha um incómodo?" Com certeza que é um incómodo nos termos em que chegam as notícias, mas disse que primeiro queria falar com o ministro. Mal cheguei a Lisboa e falei com o ministro, fiz sair uma nota do meu gabinete.

A sua declaração foi vista como equívoca, no mínimo, não lhe parece?

A versão que me chegou quando estava em Paris foi tal... Não consegui falar com Morais Sarmento durante muito tempo.

Estava inteirado dos termos da viagem?

Dos propósitos, sim; dos termos não.

Havia uma mensagem confidencial, formal, sobre os interesses da Galp em São Tomé?

Formal, não. O interesse da Galp era já conhecido e o ministro foi lá reafirmá-lo. Obviamente, não dei nenhum contributo para este assunto.

É-me alheio. Os termos da deslocação, de facto, também não os conheci. Em princípio, os ministros vão na carreira normal. O Falcon utilizado foi um privado e por isso o circuito não foi o mesmo.

Não se podiam aproveitar linhas internacionais?

Isso é outra matéria de que eu não quero falar.

Justificava-se Morais Sarmento pôr o lugar à disposição?

Foi o critério dele, não vou comentar. Mas se estivesse no lugar dele agia do mesmo modo porque foi um tema suficientemente glosado. O ministro viu que a sua honra foi posta em causa. Agora ele não pôs em causa o comportamento inexcedível que eu tive com ele. Por isso fico estupefacto com a história que saiu no dia seguinte.

Não havia razão para o ministro da Economia ficar estupefacto com um negócio que ele não sabia que existia?

Acho que isso é justificável pela distância. Eu não vou atirar mais achas para essa fogueira. O ministro pediu-me autorização para ir a São Tomé. Para vos ser franco nem sabia que era nesse fim-de-semana... Agora, acho que é um ministro notável, é um colaborador privilegiado, com uma folha de serviços notável, por isso custa-me ver como foi atingido. Custa-me ver inventadas notícias de divergências. Se há colaborador leal é ele.

O ministro ficou satisfeito com as suas declarações?

Disse-me que não tinha nada a apontar. A minha declaração foi sem maldade nenhuma. O dr. Morais Sarmento saiu daqui depois de conversarmos e deu-me um grande abraço antes de ir para a Gomes Teixeira fazer a conferência de Imprensa. Há é colaboradores que são mais papistas que o papa... Não temos nenhuma divergência. Mas só depois das eleições é que este tipo de coisas vai normalizar.

Quer dizer que uma campanha pela vitimização poderá surtir os seu efeitos?

Não. Está na altura é de debatermos os temas e as soluções que há para os portugueses. É um facto que no nosso sector político houve um contributo para tudo o que se passou. Por exemplo, o caso do comentador da TVI foi uma ficção. Eu nunca falei com o dr. Paes do Amaral, nunca mandei falar com ele, o ministro Gomes da Silva, então, nunca o viu na vida. Forjou-se toda a situação.

Acha normal que um ministro faça queixa de um comentador à Alta Autoridade para a Comunicação Social?

Ele não fez queixa do comentador. O que ele disse é que a AACS deveria zelar pela existência de contraditório, de pluralismo naquela estação de televisão. Não é normal haver um partido maioritário, um Governo maioritário, e uma estação de televisão onde não haja uma única pessoa que defenda os seus pontos de vista.

Não acha que as pessoas olham para essa queixa e pensam que isso já acontecia na televisão há anos?

Acontecia, mas o tom era completamente diferente. O meu antecessor não tinha da parte do comentador Marcelo Rebelo de Sousa a mesma violência no tom. Eu sempre assumi que era um político que fazia comentários. Não passava a comentador dizendo agora já não sou político e, depois, Cristo descia à terra e voltava a ser político. E a questão está aí. A pessoa em causa foi tratada como um colega vosso. Não é! Não é um jornalista, não é um comentador. Quem não percebeu, não percebeu porque não quis.

Falou com Marcelo Rebelo de Sousa?

Falei quando tomei posse, mas não me foi devolvida a chamada. Falei a todos os anteriores presidentes do partido. Quase todos atenderam. Houve dois que não o fizeram.

O outro foi Cavaco Silva?

Sim. Eu estava aqui, nesta sala, quando soube que o professor Marcelo se tinha demitido. Estava aqui o dr. Ricardo Salgado. Tinhamos acabado de falar da pessoa em causa e admitido até uma possibilidade que não tinha nada a ver com uma ruptura. São amigos, é público. Mas nada tinha a ver com a TVI.

Foi abordada a possibilidade de haver alguma intermediação através de Ricardo Salgado?

Isso já são confidências. Mas obviamente que... Eu sempre manifestei disponibilidade para conversar. Houve vários amigos comuns que se propuseram para o fazer e da minha parte nada tinha contra, quando aconteceu aquela demissão...

Cavaco Silva desiludiu-o por não deixar a sua fotografia num cartaz de campanha do PSD?

Só se desilude quem tem ilusões. Eu não tinha ilusões.

Contava que ele tivesse essa reacção?

Contava.

Mas o cartaz estava feito.

Estava porque o professor Cavaco Silva não estava cá e portanto isso era complicado. Não havia precedentes de se pedir essa autorização a ninguém, mas como estamos numa situação sui generis decidimos comunicar previamente às pessoas. Foi muito bom não se ter feito a colagem.

Qual era a ideia do cartaz?

São os cinco líderes do PSD que foram primeiros-ministros. A nossa orientação era a de demonstrar a coragem das reformas. Mostrar o partido como alavanca de mudanças. Não me admirou a reacção.

Reconhece que houve falhas de governação?

Houve umas reais, que em circunstâncias normais não aconteceriam, e não acontecerão se tudo correr como desejo...

Fala com os ministros todos os dias?

Sim. Quase todos os dias, com alguns.

Houve muitas declarações contraditórias.

Quais? Em relação às do ministro das Finanças? Não foi verdade. Foi ficção a propósito da descida do IRS. O ministro disse que não podia baixar a receita do IRS, sempre o disse. Aconteceram casos durante estes meses que não têm nada a ver com a minha falta de coordenação. Aquele caso da cara do ministro Paulo Portas na tomada de posse, foi o primeiro de vários casos. Pareceu uma confusão tal que parecia que o ministro não sabia que iria ficar com os Assuntos do Mar. É completamente falso. Ele sabia. A única coisa que estava em aberto era a designação.

Foi quase a única gafe do PP.

O CDS passou a ser, agora, a fonte de todas as virtudes. Já tive isso na campanha de Lisboa. O dr. Paulo Portas era o herói da Esquerda.

Há poucos dias, o dr. Lobo Xavier dizia que "o CDS era alheio à crise"...

Também é político-comentador! Se o CDS, enquanto partido, tiver essa atitude não me parece bem. O PSD, nas piores alturas, nunca disse isso. Espero que haja muita memória. E por isso não tenho feito nenhuma referência, mas espero que os devidos limites sejam sempre observados.

Ficou desiludido do PP não integrar a plataforma eleitoral?

Não. Não quis foi ser eu a fechar as portas.

Pediu a coligação.

Essa é outra coisa que se disse, que não vale a pena contrariar. Não chegámos sequer a negociar nada. Falámos sobre vantagens e desvantagens.

Seria o mais natural uma coligação.

Não. O mais natural é os dois partidos concorrerem separados. Prefiro, até pela minha maneira de fazer campanha. É salutar para os dois partidos que nenhum dependa excessivamente do outro.

Mas o resultado do CDS-PP não é conseguido à custa do PSD?

Não. O dr. Paulo Portas conseguiu ir buscar eleitorado a outros partidos que não o PSD. Mas claro que vai haver alguma disputa entre os dois partidos, vamos ver como corre.

O PSD parece mais desmoralizado do que o CDS-PP para a campanha. Viu-se na elaboração das listas de deputados.

É a diferença entre um pequeno partido e um grande partido.

Defende a redução de número de deputados?

Sim. E gostava de fazer esse acordo no primeiro ano da legislatura. 200 deputados acho que é razoavel.

Os círculos uninominais não vão dificultar a formação de maiorias absolutas?

Têm vantagens e têm essa desvantagem. Um primeiro passo poderia ser o de fazer círculos uninominais nas grandes áreas metropolitanas de Lisboa e Porto.

O que diz da preocupação do presidente da República quanto à formação de maiorias absolutas?

Compreendo a preocupação do senhor presidente da República, mas não quero mais problemas...

Várias opiniões foram no sentido de que o presidente estava a ajudar o PS. Ficou com essa ideia?

Não. Acho que está preocupado com a decisão que tomou.

O presidente da República tem poderes a mais?

O poder de dissolução não pode ser usado assim. O poder de dissolução é parlamentar. Só em França e Portugal é usado pelo chefe de Estado.

Não é esse o único poder que resta ao presidente da República?

É, mas então tem de haver consequências políticas se o presidente dissolver. Eu já disse que não tirarei vingança política do resultado. Mas se o presidente dissolve e sai a mesma maioria, então isso tem que ter consequências políticas, porque é uma decisão demasiado grave.

Vai pedir uma maioria absoluta?

Não. Quem a pede, raramente a tem. Cavaco Silva conseguiu as duas maiorias absolutas em tempos em que ainda se faziam campanhas sem televisões privadas, rádios privadas. Era um quadro político completamente diferente

Mais domesticado.

Não digo isso!

Acha que hoje a Comunicação Social tem poder excessivo?

Não. Tem o poder que tem. Defendo até que a Comunicação Social deveria estar num órgão que tenha relação com o funcionamento do Estado.

O país precisa de uma maioria absoluta?

Precisa de um Governo com estabilidade. É desejável para o país a existência de um apoio parlamentar maioritário que pode ser, ou não, de um só partido. Mas se o meu partido tiver uma maioria absoluta, eu fico contente.

Quantos debates fará?

Com o engenheiro Sócrates, pretendo fazer três. Um sobre economia, outro sobre política interna e outro sobre política externa. E estou disposto a debater com os líderes dos partidos da Oposição.

Estas eleições são um referendo à sua continuidade?

Não. Uma grande derrota seria mau para qualquer um dos lados. Uma derrota pequena, menos bem. Uma vitória ficaria bem, muito bem.

Nota que, no PSD, custa acreditar que vai ganhar?

Noto, noto. As pessoas querem campanha e estão a reagir estranhamente por eu não estar já em campanha. Só vou no princípio do mês de Fevereiro.

O primeiro-ministro revelou que a solução para a Casa da Música no Porto está prestes a ser resolvida e garantiu que o prazo para a inauguração deverá ser respeitado. Santana Lopes afirmou que esteve a trabalhar sobre o projecto com a ministra da Cultura e ficou decidida a transformação da Casa da Música numa fundação. Inicialmente esteve pensada a possibilidade de ficar nas mãos da Fundação de Serralves.
 
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