Caldeirão da Bolsa

Reciclagem da nota verde - algumas observações

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

por djovarius » 20/12/2004 12:44

Muito obrigado pelas vossas palavras de incentivo.

É fácil escrever quando se tem leitores de grande categoria, sendo que muitos de vós também apresentam trabalhos cuja leitura me agrada sobremaneira.

Como prenda de Natal e Ano Novo ainda vai sair um "Olho clínico" sobre comportamentos do EUR/USD.

Um abraço

djovarius
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Excelente artigo

por Américo » 18/12/2004 1:12

Ao ler este artigo, revê-jo nele as minhas ideias empiricas, que desde há uns meses tenho defendido nos fóruns, entre eles no caldeirão.

Ele mostra bem como acontecimentos passados, podem não se repetir da mesma maneira.É por isso que quando vejo nos fóruns a extrapolação de indicies e situações como a do crash de 1929 faço uma "careta".

A subida dos activos americanos,em paralelo com a queda do dólar,trás um novo paradigma aos mercados e que parece paradoxal:«a queda da moeda não significa que o país esteja mais pobre».

Mas atenção: o caso americano é um caso particular dos mercados e só eles poderiam fazer a politica financeira que estão a fazer.

A dependência dos chineses, japoneses e europeus das exportações para a américa, obriga a negócios fracos de um lado para obter compensação de outro.

Talvez este saldo já seja negativo para alguns países, mas o sistema só chegará à rotura se o fluxo das exportações abrandar consideravelmente, ou seja:o consumo americano cair,ou as forças produtivas americanas conseguirem ocupar o lugar dos exportadores.
Temos aqui duas situações com o mesmo efeito mas diversas.
Se o consumo cair forte por via de excesso de endividamento e crise interna, o problema é global e atinge não só a américa como os exportadores.

Se as forças produtivas americanas conseguirem ocupar grande parte do mercado dos exportadores , a crise pode ser só nos exportadores e, desde que o crédito destes em dólares não inunde o mercado devido à sua diluição no tempo.

Esta situação, a verificar-se, iria dar uma machadada nos mercados globais e voltariamos a uma situação de isolamento dos países ou blocos que prefiguraria um clima de guerra e com o dólar em forte alta
Américo
 

Pronto, agradeço ao caldeirão ....

por Xanax » 17/12/2004 20:44

e em particular ao djovarius a minha prenda de natal. Obrigado djo (se te posso tratar assim) por esta prenda de natal, um artigo destes merece moldura, suficientemente explicito, bem escrito e acima de tudo bastante actual/pertinente. Um bom natal para ti e para os teus e que para o ano nos continues a maravilhar com artigos desta indole.
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por arocha » 17/12/2004 19:51

Simplesmente "divinal" Dj - como sempre. Objectiva, esclarecedora e sempre...sempre muito a propósito.
 
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por Dark » 17/12/2004 19:29

Djovarius,

Palavras para quê ? És um artista português e como o da publicidade de fim dos sessenta, usa Pasta Medicinal Couto !

A clareza do que expões face à complexidade do assunto é de louvar.

São posts como o teu, que vão permitir a um leigo como eu pôr em perspectiva os possíveis cenários macro-económicos que muito possivelmente dominarão os mercados nos próximos tempos.

E como tu bem dizes, a solução deverá ser encontrada nos USA mas se calhar terá que ser induzida pelos asiáticos quiçá com uma ajudinha dos Europeus.

Parabéns pelo que escreveste e para finalizar vou deixar aqui um pensamento de Einstein ( o Albert, esse mesmo ) que me assaltou enquanto lia o teu post:

"Nenhuma ideia que não possa exprimir-se claramente por palavras , é uma boa ideia".

Parbéns mais uma vez e como prenda de Natal , não está mal ! :wink:

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por Açor3 » 17/12/2004 19:25

Enfim,como seria de esperar uma análise muito bem cuidada e fundamentada,aliás na tradição das intervenções que o senhor já nos vem habituando.Que grande contributo que o senhor vem prestando neste fórum,particularmente neste mercado da moeda.Bem haja.Um abraço.
Na bolsa só se perde dinheiro.Na realidade só certos Iluminados com acesso a informação privilegiada aproveitam-se dos pequenos investidores para lhes sugarem o dinheiro.
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Reciclagem da nota verde - algumas observações

por djovarius » 17/12/2004 19:15

Ao longo dos dois últimos anos, temos estado juntos aqui no Caldeirão.
Um dos assuntos recorrentes e que ainda não é de fácil assimilação tem sido a valorização dos activos financeiros globais em função da chamada "extrema liquidez" em USD.

Isso ainda hoje passa por ser um conceito complicado para quem, como eu, se acostumou a associar a valorização dos títulos norte-americanos conjuntamente com a moeda de origem dos mesmos e vice-versa.
Foi assim na segunda metade da década de noventa do século XX !! Foi nessa época que muitos de nós começámos a nossa odisseia nos mercados.
Daí que mudar de pressuposto não é fácil e leva-nos inevitavelmente a uma confusão analítica, tanto mais que as respostas clássicas dos compêndios nem sempre nos ajudam a resolver as variadas complexidades dos mercados financeiros.

Mas graças à leitura de analistas independentes, ou de espírito livre e também à nossa própria análise fria e nada enviesado dos acontecimentos, podemos dar conta de algumas realidades que se manifestaram nos mercados.

Ora, se é verdade que nada de novo acontece nos mercados, do ponto de vista puro do "trading", também é verdade que há momentos ou períodos mais ou menos longos em que a dinâmica dos mercados é orientado por pressupostos diversos de um outro período anterior, graças a mudanças no ambiente macro que acabam por influenciar tudo o que acontece ao nível micro económico.

Graças à leitura aturada de escribas como Steve Saville, entre outros, é mais fácil transformar em palavras, as ideias claras e concisas sobre este tema importante:

Qual a real influência da extrema liquidez em dólar nos mercados !?

Uma das questões frequentemente levantada prende-se com a influência das entidades externas aos EUA na cotação do USD, devido à posse cada vez mais gritante de activos financeiros “dolarizados”. Só durante os primeiros nove meses do ano, temos um aumento de 40% de títulos em “mãos” externas.
É possível que sem isso, o USD estivesse ainda mais fraco do que está. Mas, segundo Saville, também é possível que não.
É que se é verdade que foram praticamente assimilados os dólares originados pelo défice em conta corrente, também é real o regresso a “casa” dos mesmos, via compra de papéis dos EUA, especialmente títulos do Tesouro e de Agências. Os dólares não saíram de circulação, antes foram “reciclados”. O que diminuiu imenso foi a oferta desses títulos, absorvidos rapidamente por esses detentores de um excedente de dólares.
Como tal, mesmo que um dos objectivos da compra fosse o suporte da cotação internacional do USD, esse objectivo estará a falhar, como se vê, uma vez que o mercado não fica verdadeiramente “enxugado” de dólares.
Não sendo um objectivo primordial, a compra em massa de activos financeiros está sim a elevar o valor de mercado dos mesmos, contribuindo para o “rally” dos títulos de dívida, sobretudo dos prazos mais longos, o que não aconteceria. Para a América, isso resulta em juros de mercado artificialmente baixos. Por conseguinte, juros mais baixos, atraem esses e a generalidade dos investidores para os activos normalmente de maior risco. Wall Street agradece a deferência.

Só que, tais excessos, alimentam a inflação dos activos, restando saber como isso vai influenciar os índices de preços ao consumidor.

Enquanto isto, o consumidor norte-americano, apesar de cada vez mais endividado, vê o seu valor patrimonial subir, graças ao aumento dos preços, quer dos seus imóveis, quer dos seus valores mobiliários. Como tal, não se espere uma queda do consumo, pelo menos enquanto este clima de preços (bens e serviços) for benigno. É que um património mais valorizado leva a uma confiança acrescida, reflectindo-se no crédito ao consumo, por conseguinte, positivamente, no consumo a níveis elevados.

Daí a opinião ponderada de Stephen Roach da Morgan Stanley que, ao longo dos tempos, sempre considerou a queda do USD como insuficiente para mudar este clima e para devolver ao mundo o equilíbrio necessário. Para ele, os EUA têm de consumir menos e voltar a poupar mais. Mas tal não deverá acontecer enquanto os ditos valores patrimoniais continuarem em alta. Independentemente do volume da queda do USD.
Mais crédito e mais hipotecas = aumento da liquidez monetária.

Isto significa que, por arrasto, uma queda dos activos é a melhor fórmula para o aumento da poupança, contracção do consumo, diminuição do défice comercial e, naturalmente, em conta corrente.

Hoje, os EUA são como alguém que pede ao Banco cada vez mais dinheiro a juros cada vez mais baixos (embora estejamos a chegar a um limite natural). Sucede, porém, que qualquer de nós seria travado pelo Banco, em qualquer ponto desse descalabro.
Os EUA não têm a menor dificuldade em obter os financiamentos necessários no mercado, graças à referida compra de débito por parte dos Bancos Centrais.
Esta tem sido a grande realidade dos últimos dois a três anos.

E quanto aos dólares reciclados?
Pois bem, uma vez canalizados para títulos de dívida, provocam a queda dos juros de mercado, como vimos. E quanto mais cai o USD, mais terão as entidades externas de adquirir títulos na presunção de suporte a essa divisa, gerando mais liquidez. Chega a um ponto (já lá chegámos) em que todos os activos cujo preço é denominado em USD ganham valor face a essa divisa.

Mais interessante é que a liquidez global aumenta bastante, também nos países que mais contribuem para esta charada, como a China e o Japão, pois “imprimem” as suas divisas para adquirirem os dólares, quer via intervenção directa, quer via títulos norte-americanos.

Isto pode durar ainda mais algum tempo, sobretudo se não ocorrerem problemas graves de inflação ao consumidor e se o USD continuar a descer.
Se o USD inverter a tendência e subir fortemente, os EUA perdem os “emprestadores” de último recurso, o que vai obrigar a uma subida das taxas de juro.
O resultado seria uma recessão nos EUA e o regresso a esta situação.
Os EUA estão de mãos atadas, mas a dor de cabeça é dos Asiáticos.

A hipótese de um colapso de crédito nos EUA, com graves consequências globais, só se coloca se todos fecharem as portas aos EUA, fartos da acumulação de dívida. Um cenário que não parece viável, seria um tiro asiático no próprio pé.

Mas pensar que a actual situação vai durar para sempre, com o aumento brutal e alavancado de débitos, não é a melhor opção.

Esta situação ainda não é um beco sem saída.

Mas merece bem o epíteto de armadilha. A armadilha da liquidez.


Um abraço, bom fds

djovarius
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