Caldeirão da Bolsa

o efeito de fim de ano

Espaço dedicado a todo o tipo de troca de impressões sobre os mercados financeiros e ao que possa condicionar o desempenho dos mesmos.

o efeito de fim de ano

por TRSM » 30/11/2004 11:56

o efeito de fim de ano

A discussão mantém-se sempre presente entre os defensores dos paradigmas da eficiência e do comportamento aleatório dos mercados (impossíveis de prever) e aqueles que entendem que existe uma parte de cada mercado que, durante mais ou menos tempo, pode ter comportamentos que não se integram naqueles conceitos (aceitando, por exemplo, a existência das designadas anomalias de calendário, como exemplos de ineficiências dos mercados). Entre todos, a distância não é tão grande e as divergências são mais das vezes conciliáveis. Como refere o Prof. Robert Shiller, no seu excelente Irrational Exuberance, (pág 183), apesar de existir um bom número de estudos comprovando as teses da eficiência dos mercados, não se sabe muito bem se esta evidência funciona a favor ou contra a própria tese. Efectivamente, Merton Miller (um dos grandes advogados das teorias da eficiência dos mercados) citado naquela obra, lança uma ponte entre as duas possibilidades, referindo que “... abstraímo-nos de todas estas histórias na construção dos nossos modelos, não porque não possam ser interessantes mas porque poderiam ser tão interessantes que nos desviassem das forças mais profundas dos mercados que devem ser a nossa principal preocupação”. Assim como quem diz que não acredita em bruxas... pero que las hay, hay!

Indice PSI20
Anos Rendibilidade no período
Em Dez Em Jan Em Dez + Jan
1995/96 2,8% 9,7% 12,8%
1996/97 4,1% 12,4% 17,1%
1997/98 5,9% 14,2% 21,0%
1998/99 1,0% 5,6% 6,6%
1999/00 9,9% 3,6% 13,8%
2000/01 -1,6% 7,6% 5,9%
2001/02 0,5% -2,2% -1,7%
2002/03 -3,9% -3,1% -6,9%
2003/04 2,5% 3,9% 6,5%
Média simples 2,4% 5,8% 8,3%
A verdade é que entre uma destas “bruxas” encontra-se o célebre efeito de Janeiro, ou efeito de fim de ano, que consiste numa tendência dos mercados em realizarem ganhos mais significativos no mês de Janeiro que noutros meses do ano (já tratado em Newsletter do ano passado, mas que nesta ocasião importa retomar). Estes ganhos seguem-se, normalmente, a meses de Dezembro menos fortes e geram aquilo a que na teoria financeira se designam de "ganhos anormais". São várias as explicações apresentadas, sendo que aquela que parece ter maior aderência à realidade justifica estes movimentos anormais com as grandes vendas de acções em Dezembro por investidores institucionais para realizarem mais ou menos valias, por questões de planeamento fiscal, e voltarem ao mercado no mês de Janeiro para recomporem as suas carteiras. Assim, a uma tendência vendedora em Dezembro, segue-se uma pressão compradora em Janeiro, com consequências nas respectivas cotações.
No interior deste movimento encontra-se o chamado “Rally de Natal”, com subidas de preços na última semana de Dezembro, em resultado de movimentos de compra de acções num movimento de antecipação do efeito de Janeiro.

Nos quadros mostramos os valores relativos à valorização dos índices PSI20 (Portugal), S&P (EUA) e DJ EuroStoxx (Europa) nos meses de Dezembro e Janeiro de 1995 a 2004, tomando cada um dos meses em separado e conjuntamente. Ainda que não “acreditemos em bruxas”, a verdade é que, para o índice PSI20, os meses de Janeiro têm uma taxa de rendibilidade média bastante superior aos meses de Dezembro. Indice S&P
Anos Rendibilidade no período
Em Dez Em Jan Em Dez + Jan
1995/96 1,7% 3,3% 5,1%
1996/97 -2,2% 6,1% 3,8%
1997/98 1,6% 1,0% 2,6%
1998/99 5,6% 4,1% 10%
1999/00 5,8% -5,1% 0,4%
2000/01 0,4% 3,5% 3,9%
2001/02 0,8% -1,6% -0,8%
2002/03 -6,0% -2,7% -8,6%
2003/04 5,1% 1,7% 6,9%
Média simples 1,4% 1,1% 2,6%

Indice DJ EuroStoxx
Anos Rendibilidade no período
Em Dez Em Jan Em Dez + Jan
1995/96 3,3% 6,6% 10,1%
1996/97 2,0% 8,1% 10,3%
1997/98 5,5% 6,1% 11,9%
1998/99 4,0% 3,6% 7,7%
1999/00 14,6% -4,1% 9,9%
2000/01 -0,8% 1,3% 0,5%
2001/02 3,4% -2,2% 1,1%
2002/03 -10,1% -4,8% -14,4%
2003/04 3,4% 3,2% 6,7%
Média simples 2,8% 2,0% 4,9%
O efeito Dezembro versus Janeiro não é muito visível nos índices S&P e DJ EuroStoxx, em termos médios, ainda que se encontrem alguns anos diferenciais. Porém, a rendibilidade conjunta dos meses de Dezembro e Janeiro é excepcionalmente elevada, comparativamente com as rendibilidades anuais destes mercados, que atingiram em média 11,2% no S&P, e 8,3%, no DJ EuroStoxx, para os anos de 1995 a 2003. Esta abordagem de market timing é seguida em todo o mundo por inúmeros investidores (porventura mais particulares do que institucionais) que, pelos vistos, têm obtido remunerações atractivas neste período especifico.

No artigo seguinte apresentamos as diversas alternativas que se podem seguir, com ou sem alavancagem de posições (o que significa, necessariamente, com maior ou menor nível de risco incorrido) numa estratégia deste tipo, referindo, entre outros aspectos, os respectivos custos de transacção que podem variar em função dos instrumentos seleccionados.


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